TWD - Segunda Temporada escrita por Gabs


Capítulo 6
Cinco


Notas iniciais do capítulo

"É uma rosa Cherokee, já ouviu falar?"



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Ao acordar no dia seguinte, tomei meu pequeno café da manhã observando Carol e Andrea fazendo o cartaz para Sophia e Dale separando alguns mantimentos para caso ela aparecesse. Quando terminaram, nós voltamos um pouco até a Fairburn Road e procuramos pela caixa de correio Greene, a qual achamos e seguimos viagem.

Quando chegamos na casa da fazenda, o pessoal do nosso grupo se reuniu perto de onde estávamos estacionando, tinha pessoas desconhecidas também, acho que os donos da fazenda. Assim que sai de cima da moto, Daryl se levantou e deu a volta por mim, para pegar sua besta.

— Como ele está? – Dale foi o primeiro a perguntar, olhando para Rick

— Ele vai sobreviver. – Lori respondeu, sorrindo aliviada – Graças a Hershel e a família dele.

— E ao Shane e  o Adrian. – Rick acrescentou – Teríamos perdido Carl se não fosse por eles.

Eu dei uma rápida olhada para o senhor de cabelo branco que ele indicou com a cabeça. Ele vestia roupa social e um suspensório. Atrás dele, estava uma mulher loira. Meu olhar se passou por todos, até eu notar que além de Carl, uma pessoa não estava presente.

Eles estavam falando tanto do Adrian, mas ele não estava aqui.

— E cadê ele? – Perguntei alto, olhando de Rick para Shane

— Gabriela... – Lori falou cautelosamente, me olhando – Adrian morreu quando estava ajudando a conseguir os remédios para o Carl.

Não foi exatamente uma sensação de prazer que eu senti, como sempre imaginei que sentiria se recebesse essa notícia. Um nó se formou em minha garganta e eu passei a mão pelo cabelo, nervosa.

— Que bom que o Carl vai viver. – Comentei, tentando não deixar transparecer minha voz embargada – Realmente.

Respirei fundo algumas vezes e aderi um silencio, enquanto olhava diretamente para Shane, algo nele me fazia acreditar que a morte do meu ex-namorado não era uma casualidade.

Tinha algo ali.

E eu vou descobrir.

— Como Carl levou o tiro? – Dale perguntou e senti hesitação em sua voz, provavelmente por causa de mim

— Acidente de caça. – Rick respondeu depois de alguns segundos – Só isso. Foi só um acidente estúpido.

Depois de ser convencida por Glenn a ir no enterro do outro homem que morreu com Adrian, deixei as coisas acontecerem normalmente. Fiquei entre Daryl e Glenn, com as mãos para trás, mostrando respeito pelo morto da família Greene. Uma menina adolescente loira colocou uma pedra em cima de outras e depois voltou ao seu lugar, assim como o resto dos familiares dele fizeram.

— O senhor seja louvado, pai de nosso senhor, Jesus Cristo. – O senhor de cabelos brancos, Hershel recitou, lendo a bíblia – Nós rezamos para ele, pedindo pelo nosso irmão, Otis. Pelos seus anos vividos, pelo seu caráter em abundância. Otis, que deu sua vida para salvar a de uma criança, agora, mais do que nunca, é nosso ente mais querido. Nós agradecemos senhor, pela paz que ele terá em seus braços. Ele morreu como viveu, em graça. Shane, quer dizer umas palavras?

Olhei de canto de olho para Shane, duvidando que ele falaria alguma coisa, já que sem dúvidas, Otis tinha morrido do mesmo jeito que Adrian.

— Não sou bom nisso. – Shane comentou para eles – Desculpa.

— Foi o último a estar com ele. – A esposa de Otis, Patrícia como Glenn tinha me dito que se chamava falou – Dividiu os últimos momentos dele. Por favor, preciso ouvir. Quero saber que a morte dele teve significado.

— Aproveite e conte como tudo aconteceu. – Falei para Shane – Eu sei que esse enterro simbólico é apenas para o Otis. – Comentei, olhando para Hershel – Mas eu gostaria de saber como meu ex-namorado morreu.

Shane olhou de mim para Patrícia, a qual tinha aceitado minhas palavras.

— Tá bom. – Shane murmurou e depois respirou fundo – Já tínhamos terminado. Quase sem munição. Só nos restou as pistolas. Eu estava mancando, doía muito. O tornozelo todo inchado. “Temos que salvar o garoto”. Sabe, foi isso que Otis disse. Ele me deu a mochila dele enquanto o Adrian me empurrava para frente, me mandando correr. “Ficamos para trás e damos cobertura.”. E quando eu olhei para trás.... Se não fosse por eles, eu nunca teria saído de lá vivo. E isso vale para o Carl também. Foram eles. Eles salvaram nós dois.

Seria uma bela história, se eu não conhecesse Adrian o suficiente para saber que se a vida dele estivesse em jogo, nada mais importava, ele sairia correndo como uma mulherzinha.

Como Shane tem culhões para mentir na minha cara?

Me mantive em silencio o enterro inteiro, pensando e repassando o discurso de Shane na minha cabeça, procurando maneiras para confronta-lo, sem parecer a vilã da história para os demais. Ao ser chamada para uma reunião sobre Sophia, eu compareci, desocupando minha cabeça para começar a pensar melhor sobre o paradeiro da menina. Me escorei no capo do carro antigo e esperei os demais chegarem para a reunião.

— Há quanto tempo a garota está sumida? – Hershel nos perguntou, assim que estávamos todos reunidos

— Hoje é o terceiro dia. – Rick respondeu

— Mapa topográfico do condado. – A mulher que estava em cima do cavalo ontem, Maggie disse, enquanto colocava um mapa no capo do carro – Ele mostra terrenos e elevações.

— Isso é perfeito. – Rick comentou – Agora podemos organizar a procura. Vamos dividir a área toda, e montar grupos de busca.

— Você não. Não hoje. – Hershel disse a ele – Já doou três unidades de sangue. Vai desmaiar em cinco minutos andando no calor que está fazendo hoje. – Ele se virou para Shane e balançou a cabeça negativamente – E se você forçar o seu tornozelo, vai ficar de cama por um mês. Não será bom para ninguém.

— Então será apenas a Gabriela e eu. – Daryl disse e eu concordei com a cabeça – Vamos voltar até o riacho, e começar a procurar de lá.

— Eu ainda posso ser útil. – Shane comentou – Vou de carro pela estrada, pra ver se a Sophia voltou.

— Tá bom. – Rick concordou com a gente – Amanhã então. Vamos fazer isso do jeito certo.

— Significa que não podemos ter pessoas por aí só com facas. – Shane disse a ele – Precisam de treinamento com armas que prometemos.

— Preferia que não andassem armados na minha propriedade. – Hershel nos avisou, assim que viu Rick concordar com Shane – Sobrevivemos até agora sem fazer dela uma base armada. 

— Com todo o respeito, se um bando como aquele acabar vindo pra cá. – O outro policial, Shane, comentou e depois riu pelo nariz

— Olha, somos convidados aqui. – Rick interrompeu Shane, antes que ele falasse mais alguma coisa, enquanto olhava para Hershel – Esta propriedade é sua. E nós vamos respeitar isso.

Rick colocou o seu revolver em cima do mapa e olhou para Shane, o incentivando a colocar o dele também. Assim que o seu amigo colocou a pistola dele junto com o revolver, Rick passou a olhar para mim, mas pareceu se lembrar que eu iria sair e por isso não comentou nada nem para mim e nem para Daryl.

— Vamos por ordem. – Rick mudou de assunto – Primeiro montar acampamento e depois achar a Sophia.

— Odeio ser eu a perguntar isso, mas alguém precisa. – Shane comentou, olhando para ele – E se a encontrarmos e ela tiver sido mordida? Precisamos decidir como vamos resolver isso.

— Faça o que tiver que ser feito. – Rick disse, deixando bem claro do que se tratava

— E a mãe dela? – Maggie perguntou franzindo o cenho, enquanto olhava para Rick – O que vão dizer a ela?

— Diremos a verdade. – Respondi por Rick e olhei de canto de olho para Shane – Porque a mentira uma hora vem à tona e depois teremos que encarar as consequências.

Daryl me encarou e balançou a cabeça negativamente, de um jeito leve que nem parecia que ele tinha feito alguma coisa.

Ótimo, ele já tinha percebido minhas indiretas.

— Vou juntar todas as armas. – Shane avisou à Rick, pareceu não ligar para o que eu tinha dito – Que ninguém ande armado até fazermos um estande de tiro. Vou deixar alguém com rifle para ficar vigiando. Dale tem experiência.

— Meu pessoal se sentiria a salvo, com menos vontade de se armar. – Rick falou para Hershel, depois de um breve silencio – Obrigado. – Agradeceu, depois que o dono da fazenda afirmou com a cabeça

Suspirei e quando passei por Rick, lhe dei um pequeno tapa no ombro, antes de seguir Daryl e atravessar o espaço que o nosso grupo estava montando as barracas. Juntei minhas mãos fingindo estar orando quando passei por Glenn e dei uma olhada obvia na única barraca camuflada do acampamento, a minha, que estava desmontada. Com uma careta e um xingo, soube que ele armaria a minha barraca também.

— Nos encontramos aqui em cinco minutos. – Daryl me avisou

Concordei e nós nos separamos, fui até minha mochila que estava do lado de fora do trailer e peguei mais munição para a minha pistola. Aproveitei e rasguei a outra manga da minha camiseta camuflada e guardei, para o caso de precisar dela mais tarde em um torniquete ou algo assim. Como de costume, cheguei no ponto de encontro poucos minutos atrasada e pela expressão facial de Daryl estava tudo bem.

— Daryl, Gabriela. – Ouvimos a voz de Rick nos chamando e paramos quando percebemos que ele estava vindo na nossa direção – Vocês vão ficar bem sozinhos?

— Claro. – Respondi por Daryl, dando de ombros – Cuidaremos das costas um do outro. Voltamos antes de anoitecer.

— Olhem, - Rick disse novamente – temos uma base. Podemos organizar essa busca do jeito certo agora.

— Você tem um ponto ou só está falando? – Daryl perguntou para ele

— Meu ponto é que não precisa disso. – Rick falou em seguida – Vocês dois não nos devem nada.

— E os meus outros planos dançaram. – Daryl retrucou ironicamente, dando continuando o caminho que estávamos fazendo

Fiz uma cara de quem não sabia de nada par Rick e segui o homem que carregava a besta para todo lado que fosse. Nós caminhamos em silencio boa parte do caminho pela mata, ficamos atentos aos sons e barulhos. Incrivelmente, não achamos nenhum caminhante durante os pequenos quilômetros caminhados até acharmos uma casa de fazenda.

Seria bonita se estivesse bem cuidada, imagino que nos velhos tempos, era uma linda casa de família.

— Espera um pouco aí. – Daryl disse, me impedindo de andar em direção a casa – Por que até agora você não soltou algum comentário malicioso ou fez alguma piada sem graça?

— Você sabe. – Falei, olhando-o como se aquela conversa fosse tediosa e depois soltei um riso nervoso – Aquele fodido se fazendo de vítima lá atrás, não tenho paciência pra isso. Que história de merda aquela lá, todo mundo sabe que Adrian Jones correria e nem olharia para trás se a vida dele estivesse em perigo.

— O que você vai fazer? – Daryl me perguntou, enquanto começávamos a caminhar em direção a casa abandonada – Vai continuar soltando comentários de duplo sentido quando ele estiver perto? – Notei um tom de crítica em sua voz, mas resolvi relevar

— Shane vai ter que me encarar uma hora. – Comentei, pensando na possibilidade de poder bater nele com uma boa razão – Ele vai ficar de saco cheio da minha atitude e quando vier falar comigo, não vou precisar de uma arma pra causar estrago.

— Pensei que quisesse o Jones morto. – Daryl comentou, me olhando de canto de olho

— Não sei mais o que eu quero. – Confessei, olhando dele para a casa, que estava cada vez mais próxima agora – Talvez eu só queira achar a menina e ir para o Fort Benning, minha casa.

Nós chegamos até a porta dos fundos da casa e eu deixei ele fazer as honras. Daryl chutou a porta, mas ela já estava entreaberta. Enquanto ele chegava o primeiro cômodo, eu chequei o próximo, com a faca em mãos, em caso de ter algum caminhante por perto. Ele passou por mim e chegou os outros cômodos mais à frente, enquanto eu passava em frente a escada e entrava numa espécie de cozinha. Aquela casa estava muito bagunçada. Algo no lixo me chamou atenção, tinha uma lata de sardinha aberta, bem no topo da pilha de lixo. Chamei Daryl com um barulho e assim que ele me olhou, indiquei o lixo e peguei a lata de sardinha com a mão livre, logo derramei o olho de peixe que tinha lá dentro. Não estava cheirando mal. Daryl estreitou os olhos para algo atrás de mim e eu me virei, jogando a lata de volta no lixo. Tinha um armário ali, com a porta entreaberta.

Depois de limpar a mão na calça, eu me aproximei cautelosamente do armário, com Daryl atrás de mim e me posicionei para abri-lo, mas sem antes chegar se ele estava pronto para atirar, se necessário. Abri a porta e me deparei com nada lá dentro, desci meu olhar pelas prateleiras e em baixo, tinha um lugar grande suficiente para alguém pequeno passar a noite, pois ali tinha um travesseiro e um cobertor. 

Daryl e eu nos olhamos brevemente e saímos da casa, pela mesma porta que entramos, a dos fundos.

— Sophia. – Daryl berrou, assim que saímos – Sophia.

O lugar estava abandonado e muito calmo. Daryl se aproximou de algumas flores e se abaixou. Eu me aproximei dele e também encarei as flores. Eram brancas, bonitas.

— Que flores são essas? – Perguntei, mostrando interesse no meu tom de voz

— São rosas. – Daryl me corrigiu – É uma rosa Cherokee, já ouviu falar?

— Não. – Neguei, balançando a cabeça negativamente e me sentei, no chão, perto dele

— A história é que quando os soldados americanos estavam tirando os índios de suas terras na trilha das lágrimas. Mães cherokee ficaram de luto e chorando tanto porque estavam perdendo seus filhos ao longo do caminho com falta de condições, doenças, e de fome. Muitos deles desapareceram. Então, os anciãos, fizeram uma oração. Pediram um sinal para elevar espíritos das mães. Para dar força a elas. Esperança. No dia seguinte, essa rosa começou a crescer bem onde as lágrimas das mães caíram. – Ele me contou, se sentando também e colhendo uma das rosas – Eu não sou tão tolo para pensar que há alguma flor desabrochando para o meu irmão. Mas acredito que essa floresceu para a menina, Sophia.

— É a segunda história que você me conta. – Comentei – Dois a zero pra você.

— Você está fazendo pontos? – Daryl resmungou para mim

— Não. – Respondi rindo – Bem, talvez.

Ele balançou a cabeça negativamente e se levantou, depois, me ajudou a me levantar e nós fizemos o caminho de volta para a fazenda. Conversando sobre coisas idiotas e sem sentido na maior parte do tempo.

Mas era divertido.  

Quando chegamos de volta na fazenda, Daryl foi direto entregar a rosa para Carol enquanto eu fui guardar a minha arma com Rick, e aproveitei para ver como Carl estava e lhe desejei melhoras. Com a ajuda de Maggie, consegui um banheiro para tomar um banho frio. No jantar, de roupa limpa e cabelo lavado eu me sentei ao lado de Glenn na fogueira, notei que ele estava um pouco estranho, mas não comentei nada pois ele estava falando normalmente.

Essa noite, eu tive uma breve visita de um caipira arrogante na minha barraca, mas ele não ficou para dormir.


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