TWD - Segunda Temporada escrita por Gabs


Capítulo 5
Quatro e Meio


Notas iniciais do capítulo

"Por que só um tiro?"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709394/chapter/5

Daryl e eu guiamos o restante do grupo até a floresta e começamos o nosso caminho de volta, em silencio. Parte de mim queria ter ficado com os outros para conseguir ampliar nosso campo de busca por Sophia, mas outra parte de mim sabia que os três e meio conseguiriam.

Eu apenas não sabia porque Shane quis levar Adrian junto, não faz o mínimo sentido. Eu nunca o vi matar nenhum caminhante, não tinha certeza se ele sabia o que fazer. Mas era bom um pouco de aprendizado na vida, não faz mal.

— Então é isso? – Carol perguntou do nada, parando de andar – Esse é o plano?

Ela se sentou em uma raiz descoberta e nós paramos de andar.

— Acho que o plano é nos dividirmos cada vez mais em grupos menores. – Daryl respondeu, se encostando em uma arvore

— Andando com facas e armas afiadas. – Andrea disse, crispando os lábios e olhou para Lori – Mas você tem uma arma.

— Que foi? Você a quer? – Lori perguntou para ela, enquanto tirava a arma do cós da calça e estendeu para ela – Aqui, toma. Estou cansada dos olhares que você está me dando. Todos vocês.

— Só pode ser brincadeira. – Resmunguei baixo, passando a mão pelo cabelo

Andrea pegou a arma, como se aquilo não fosse o que ela mais queria no mundo inteiro. Lori se sentou na continuação da raiz que Carol estava sentada e suspirou pesado.

— Querida, eu nem posso imaginar pelo que você está passando. – Lori falou olhando para Carol, ignorando meus resmungos – E eu faria qualquer coisa para acabar com isso. Mas você tem que parar de culpar o Rick. Está em seu rosto cada vez que você olha para ele. E quando Sophia correu, ele não hesitou, não foi? Nem por um segundo. Eu não sei se qualquer um de nós teria ido atrás dela do jeito que ele foi ou tomando decisões difíceis que ele teve que tomar ou se qualquer pessoa poderia ter feito isso de forma diferente. – Nós a escutamos em silencio e quando ela parou, continuamos do mesmo jeito – Alguém? – Lori nos encarou – Todos vocês olham para ele e o culpam, mas ele não é perfeito. Se acham que podem fazer isso sem ele, vão em frente. Ninguém está impedindo vocês.

Olhei para o céu e respirei fundo, eu odiava escutar algo que não tinha anda a ver com o que eu estava fazendo. Quem disse que eu estou culpando alguém? Pelo amor, eu só quero ficar sem escutar choro no meu ouvido.

— Nós temos que continuar. – Ouvi Andrea comentando, até que delicadamente

Quando olhei para elas, vi que Andrea tinha devolvido a arma de Lori e uma pequena onda de alivio invadiu o meu corpo. A pior coisa que poderia existir era um civil emocional usando uma arma.

Nós continuamos a andar e desta vez, fiquei ao lado de Daryl, trombando de propósito nossos braços, apenas para passar o tempo. E a cada vez que eu fazia isso ele me olhava, cerrando os olhos, como se quisesse me enforcar por ser tão insolente.

Adorava isso.

Adorava irrita-lo.

— Você vai ter que parar com isso.

Bem na hora que eu ia retruca-lo, um barulho ecoou por toda a floresta. Um barulho conhecido. Sem dúvidas um tiro, de rifle.

Talvez.

— O que foi isso? – Glenn perguntou, elevando o tom de voz

— Vamos continuar. – Falei para ele e para os outros, que estavam parados, olhando ao redor – Temos muito chão para andar.

Eles me obedeceram, claramente relutantes. Desta vez me mantive alerta e séria, porém, muito mais pensativa. Por que eles atiraram? Apenas um único tiro?

— Você ainda está preocupada? – Andrea perguntou, parando de andar novamente

Lori estava um pouco para trás, estava olhando para o caminho de volta.

— É. – Ela respondeu – Aquilo foi um tiro.

— Todos nós escutamos. – Daryl comentou, olhando para os lados

— Por que um? – Lori perguntou se virando para nos olhar – Por que só um tiro?

— Talvez tenham atirado em um caminhante. – Daryl lhe respondeu, dando de ombros suavemente

— Por favor, não tente me enganar. – Lori lhe disse – Sabe que Rick não arriscaria um tiro para matar um caminhante. Nem o Shane. Fariam isso em silencio.

— Eles já não deviam ter nos alcançado? – Carol nos perguntou

Maravilha, todos estão nervosos e imaginar coisas não é muito bom nessa altura do campeonato.

— Não há nada que possamos fazer mesmo. – Daryl comentou – Não dá pra andar nessa mata atrás de ecos.

— Então, o que vamos fazer? – Lori perguntou em seguida

— O que estamos fazendo. – Respondi rápido, imitando seu tom de voz, mas logo parei para dizer as próximas palavras – Procurar por Sophia, voltando até chegar à estrada.

— Com certeza eles vão nos encontrar no trailer. – Andrea tentou ajudar, o que era raro, vindo dela e então ela se virou para Carol – Sinto muito pelo que você está passando. Eu sei como se sente.

— Eu acho que sim. – Carol deu se ombros, sorrindo fraco – Obrigada. Pensar nela... nesse lugar, e ela sozinha. – Sua voz embargou de novo, estava prestes a começar a chorar novamente – Não saber nada é que está me matando. Eu espero e rezo para que ela não termine como a Amy. – Nós ficamos em silencio e ela percebeu o que tinha dito – Ah, Deus. Foi a pior coisa que eu já disse. – Falou para Andrea, pegando suas mãos

— Todos vamos esperar e rezar com você. – Andrea lhe disse, balançando a cabeça negativamente – Tomara que ajude.

— Vou dizer em que ajuda. – Daryl falou para elas, crispando os lábios enquanto se aproximava de mim e ia até as duas – Não ajuda em nada. É uma perda de tempo ficar esperando e rezando. Nós vamos achar aquela garota, e ela vai estar muito bem. Eu sou o único zen por aqui? Deus do céu.

Um riso escapou pelos meus lábios e eu balancei a cabeça negativamente, essa era sem dúvidas a melhor coisa que ele já falou em todo o tempo que nos conhecíamos.

Nós voltamos a andar, desta vez eu fui um pouco mais a frente, liderando o caminho. Às vezes, trocava algumas palavras de conforto com Carol e pequenas e inofensivas piadas com Glenn, referentes a floresta e ursos. Sem dúvidas, fazia mais de uma ou duas horas que estávamos caminhando de volta à estrada. E não parecia chegar nunca.

— Pode me ensinar a falar algo em português? – Glenn perguntou e como eu era a única descendente de brasileiros ali soube que a pergunta era para mim

— O que quer aprender? – Perguntei, dando uma olhada para trás, em sua direção

— Qualquer coisa. – Glenn deu de ombros, parecia meio pensativo – Ah, já sei. Como se diz o meu nome?

— Do mesmo jeito que se fala em Inglês. – Respondi risonha – Nomes próprios não mudam. Só vai mudar o sotaque. Mas dá para traduzir alguns nomes, por exemplo: John vira João ou algo assim.

Glenn tentou repetir o nome “João” algumas vezes e desistiu, dizendo que tentaríamos mais tarde.

— Está muito longe? – Andrea perguntou, um pouco mais atrás, ofegante

— Não muito. – Daryl respondeu a ela, olhando para frente – Talvez um quilômetro, nós estamos perto.

— Podia estar mais perto. – Andrea reclamou

— Só reclama. – Comentei com Daryl, um pouco baixo – Acha que Rick reclamaria se deixássemos ela para trás?

— Não me tente. – Daryl resmungou de volta, dando uma olhada em mim

Dei um soquinho amigável no ombro dele e ri baixo, meio que tampando a boca com a outra mão. Quando Daryl ia retrucar alguma coisa, nós escutamos um grito feminino e conhecido.

— Andrea? – Lori gritou assustada

Olhei ao redor e quando percebi que ela não estava perto, corri em direção aos gritos, sacando minha faca de combate. Pelo barulho de galhos quebrando, percebi que os outros também estavam correndo atrás de mim.

Droga, minha consciência ficou pesada.

Quando chegamos perto dos gritos dela, mal tivemos tempo de matar o caminhante que estava atacando Andrea antes de uma mulher, montada em um cavalo aparecer, salvando-a.

— Lori? – A mulher estranha chamou – Lori Grimes?

— Eu sou Lori. – A esposa de Rick se identificou

— O Rick me mandou. – A mulher lhe disse – Você tem que vir agora.

— O que? – Lori perguntou confusa

— Houve um acidente. – A mulher contou – Carl foi baleado. Ele ainda está vivo, mas você tem que vir agora. Rick precisa de você. Apenas venha.

— Não conhecemos essa garota. – Daryl falou, ao ver que Lori estava deixando sua mochila no chão, para subir no cavalo – Você não pode subir nesse cavalo.

— Rick disse que há outros na estrada, naquele grande engarrafamento. – A mulher disse, agora olhando para nós, enquanto Lori subia no cavalo

— Ahan. – Glenn respondeu meio bobo

— Podem voltar até Fairburn Road. – A mulher falou, depois da confirmação dele – Fica perto da nossa fazenda. Vocês irão ver a caixa de correio. O nome é Greene. 

A mulher desconhecida deu meia volta com o cavalo e o colocou para correr, se afastando com Lori em sua garupa. Olhei confusa para os outros e um grunhido nos chamou atenção. O caminhante se sentou, ainda estava vivo.

— Cala boca. – Daryl resmungou, acertando a cabeça do caminhante com uma flecha

Ele saiu andando e por isso peguei sua flecha de volta, Daryl estava nervoso e eu sabia o porquê. Estávamos nos dividindo ainda mais.  

Quando chegamos na estrada, eu fui logo me sentar no capo de um dos carros perto do trailer, enquanto os outros contavam o que tinha acontecido para voltarmos com menos cinco pessoas.

— Tiro? – Dale perguntou assustado – O que vocês querem dizer com “Tiro”?

— Eu não sei, Dale. – Glenn respondeu – Não estávamos lá. Só o que sei é que uma garota apareceu de cavalo como um zorro e levou a Lori.

— E vocês dois deixaram? – Dale perguntou abismado, olhando de mim para Daryl

— Quer sair do nosso pé, velhote? – Daryl perguntou grosseiramente – Rick a enviou. Ela sabia o nome da Lori e do Carl.

— E eu ouvi gritos. – Dale comentou, olhando para Andrea – Você que gritou?

— Ela foi atacada por um caminhante. – Glenn explicou, ao ver que Andrea não estava nem um pouco com vontade de falar e por isso saiu de perto de nós – Foi por muito pouco.

— Andrea, você está bem? – Dale perguntou alto, preocupado

Ela se virou, antes de entrar no trailer e balançou a cabeça negativamente olhando com raiva para Dale. Eu desci do carro e fui pegar uma nova garrafa de água no chão, a abri em seguida, tomando pequenos goles. Voltei para perto do grupo e me deitei no capo de um dos carros abandonados.

Estava cansada.

Procurei com o olhar T-Dog e o achei, ele estava me parecendo muito mal. Estava encostado na parte traseira do trailer, longe da gente.

— Quando é que vamos para Fairburn Road? – Perguntei a eles – Temos que sair antes do sol de pôr, vai ser melhor para dirigir sem chamar atenção para as luzes do carro.

— Então temos que sair agora. – Glenn comentou, olhando para cada um de nós

— Não vou fazer isso. – Carol negou – Não podemos ir embora assim.

— Carol, o grupo se dividiu. – Dale falou para ela, estava encostado em seu trailer – Estamos espalhados e fracos.  

— E se ela voltar, e não estivermos aqui? – Carol perguntou – Isso pode acontecer.

— Se Sophia achar o caminho de volta e estivermos longe... isso seria horrível. – Andrea comentou, colocando a mão na cintura

— Tá bom. – Daryl aceitou, balançando a cabeça positivamente – Mas temos que planejar isso. Ficamos até amanhã de manhã e depois vamos embora. Vai dar tempo para nós fazermos um grande cartaz e deixar alguns suprimentos para ela. Nós vamos ficar aqui essa noite. – Daryl indicou com a mão eu e ele – Ficamos no trailer.

— Tudo bem por mim. – Concordei balançando a cabeça positivamente  

— Se o trailer vai ficar, eu também fico. – Dale comentou

— Obrigada. – Carol sorriu grata – Obrigada aos três.

Nós fizemos um aceno com a cabeça, mostrando que ela não tinha que agradecer por isso. Daryl e eu teríamos que ficar de qualquer jeito, aquela era a nossa tarefa, somos responsáveis pela busca da filha de Carol.

— Eu fico. – Andrea anunciou

— Bom, se todos vão ficar, - Glenn começou a dizer, nos olhando - então eu posso ficar, está tudo bem.

— Não, amigo. – Neguei, olhando para ele – Você vai ter que ir, leve a caminhonete da Carol.

— Eu? – Glenn me olhou perplexo – Mas por que sempre eu?

— Ei. – Eu desci do capo do carro e caminhei até ele, e assim que cheguei perto o suficiente, coloquei minhas mãos em seus ombros – Isso é importante. Você tem que achar essa fazenda Greene e o nosso pessoal. Temos que saber o que está acontecendo. E principalmente, você vai ter que levar o T-Dog com você, até eles.

— Isso não é uma opção. – Daryl negou, me olhando como se eu estivesse louca ou algo parecido

— Ela tem razão. – Dale concordou comigo – Aquele corte dele está piorando muito. Ele está com uma infecção séria. Leve-o até aquela fazenda. Veja se eles têm antibióticos. Se eles não tiverem, T-Dog vai morrer. É sério.

Daryl saiu de perto de nós e caminhou até sua moto, ele pegou um pano e olhou diretamente para Dale. Antes de voltar até a gente, ele tirou um saco de remédios de dentro do compartimento de carga da motocicleta.

— Não jogue seus panos sujos na motocicleta do meu irmão. – Daryl jogou o pano em direção a Dale e colocou o saco de remédios em cima do capo de um carro próximo – Por que esperou até agora para falar disso? – Ele remexeu os remédios – Tenho os remédios do meu irmão. Metanfetamina. Ecstasy. Não precisamos disso.... Tem uns analgésicos muito bons. – Jogou um potinho de remédio para Glenn e depois voltou a remexer os remédios de dentro do saco – Doxiciclina e nem é genérico. É de primeira. – Garantiu, assim que jogou o potinho para Dale – O Merle pegou gonorreia uma vez.

— A vontade de te beijar passou quando você falou da gonorreia do seu irmão. – Falei para ele e o vi dar de ombros, enquanto voltava a guardar o saco de remédios na moto – Podia emitir esses fatos da gente.

— E deixar de ver esse seu rostinho se contorcer? – Daryl perguntou me olhando

Balancei a cabeça, tentando não rir e lhe mostrei o dedo do meio. Está aí um Daryl Dixon que eu gostava, o que retornava minhas brincadeiras.

Antes da noite chegar, Glenn já tinha partido com T-Dog em direção a fazenda dos Greene. Minha janta foi a metade de uma lata de feijão e água para acompanhar.

O pior foi para dormir, ou tentar, no caso. Carol não parava de chorar e isso estava me irritando num nível tão profundo que tive que sair do trailer, dando a desculpa que dormiria em um outro lugar. Lá fora, Dale estava de guarda e me perguntou para onde eu estava indo. Apenas lhe respondi com um “Respirar um ar puro” antes de sair pela mata, levando comigo uma lanterna, minha pistola no coldre e minha faca de combate. Eu sabia muito bem que a escuridão não era uma das nossas aliadas, mas fazer o que. Era melhor do que arriscar um ataque de nervoso e acabar acertando a cabeça da mulher na parede.

Mais ou menos depois de cinco minutos andando, notei algo. Tinha outra pessoa andando com uma lanterna pela floresta. Podia ser qualquer um, já que agora, eu sabia que não éramos os únicos vivos ao redor. Tinha mais gente, como aquela menina no cavalo e eu não sabia se podíamos confiar neles. Apaguei a minha lanterna e logo peguei a minha pistola, me movendo para de trás de uma arvore, a luz da lanterna parecia cada vez menor e era apenas uma questão de segundos até a pessoa trombar comigo.

— Estou te vendo. – Uma voz muito conhecida avisou, em tom de alerta

— Se eu soubesse que era você, - Falei alto, de um jeito que ele reconhecesse a minha voz - não tinha nem me preparado para o bote.

— Gabriela?

Guardei minha pistola e acendi novamente a minha lanterna, enquanto saia de trás da arvore. A lanterna de Daryl estava apontada para mim, para o meu rosto. Fechei um pouco meus olhos e tentei ver se ele ainda estava apontando a besta para mim, mas não dava.

— Dá para abaixar isso? – Perguntei resmungando, colocando a mão sob os olhos – Está me cegando, sério.

— Você tem ideia que eu ia atirar uma flecha em você? – Ele perguntou bravo, tirando a luz do meu rosto e se aproximando – Você não estava dormindo em outro lugar?

— Se eu dissesse que ia sair vocês iam vir atrás. – Reclamei – E eu realmente não quero chutar a cara de ninguém agora.

Ele respirou alto em resposta e eu aceitei o fato de que ele não iria embora, com certeza estava com o mesmo problema que eu, em relação a não conseguir dormir. Nós caminhamos em silencio por um tempo, até que ele o quebrou, quando apontou a lanterna no meu rosto por alguns segundos.

— Conheço esse olhar. – Daryl me disse, balançando a cabeça negativamente enquanto me olhava erguer as sobrancelhas, perguntando silenciosamente o que ele queria dizer com isso – Você está com sono.

— Pode apostar que sim. – Concordei com ele, rindo – Ontem à noite foi a pior noite da minha vida, e olha que eu já dormi em guerras, sei do que estou falando. - Respirei fundo - Ei, Daryl. – O chamei, apontando minha lanterna para o seu rosto por alguns segundos, só para eu poder vê-lo – Você dá quanto tempo até encontrarmos a menina? Aposto que ela deve estar em uma fazenda, escondida.

— Foi o que eu pensei. – Ele me disse, me olhando por alguns segundos – Nós acabamos de começar a procurar, não se apresse muito. Essas não são as montanhas do Tibete. É a Georgia. As pessoas se perdem e elas sobrevivem.

— Uh, - Falei, trombando nossos braços – estou sentindo uma história por trás desse comentário. Vamos me conte.

— Eu era mais novo que ela quando me perdi. – Ele me contou, enquanto apontava a lanterna para o chão, vendo aonde pisava – Nove dias na floresta comendo frutas limpando e minha bunda com urtiga.

— Certo, não vou perguntar se sua bunda ficava coçando. – Comentei risonha, olhando para ele – Em vez disso, minha pergunta é: Alguém te achou?

— Meu velho estava fora numa farra com uma garçonete. – Daryl comentou, depois de soltar um riso fraco – Merle estava preso de novo no reformatório. Nem sabia que eu tinha sumido. Mas consegui voltar depois.

Essa, era sem dúvida a primeira conversa de verdade que estávamos tendo.

— Qual foi a primeira coisa que você fez quando chegou em casa? – Perguntei a ele, mordendo meus lábios para não deixar meu sorriso aparecer

— Fui direto para a cozinha e fiz um sanduíche. – Ele respondeu, balançando a cabeça negativamente – Não foi tão ruim assim. Só minha bunda que coçava pra caramba.

— Sabia que coçava. – Falei rindo, olhando para ele – E meu amigo, essa é uma história horrível, meio engraçada, mas só por causa da urtiga.

— Bem, - Ele riu um pouco, junto comigo – a única diferença é que a Sophia tem pessoas procurando por ela. Eu chamo isso de vantagem.

— Tem razão. – Concordei, respirando fundo – Então, quanto tempo sua bunda ficou coçando?

Ele deu risada e me empurrou  pelo meu ombro, meio que me mandando calar a boca. Nós nos concentramos em caminhar sem fazer barulho mais uma vez e ficamos quietos, apenas escutando os sons ao redor, os quais não eram muitos.

Quando eu ia comentar alguma coisa para deixa-lo com vergonha, nós escutamos um barulho vindo da nossa direita e apontamos nossas lanternas para lá, junto com nossas armas. Ele me olhou e eu assenti com a cabeça, indo na frente, indecisa entre guardar a faca e usar a pistola, mas no fim continuei com a faca de combate.

Era silenciosa.    

Ao seguir o barulho, nós nos deparamos com um pequeno acampamento abandonado e ao passar pela barraca, olhamos diretamente para algo pendurado na arvore, o qual estava fazendo barulho com as folhas.

Um caminhante.

— Mas que diabos? – Daryl murmurou e se aproximou mais da arvore

— Está vendo alguma coisa? – Perguntei a ele, enquanto apontava a minha lanterna para o caminhante enforcado, suas pernas estavam comidas, tinham apenas ossos ensanguentados

— É, olha só. – Daryl me disse – “Fui mordido. Estou com febre. O mundo se perdeu. Desisto”. O imbecil não sabia que tinha que atirar na própria cabeça. Ele se transformou num grande pedaço de isca. E que bagunça.

— Não sei se sinto pena por ele ou... – Parei de falar subitamente e me aproximei mais da arvore – Essa roupa dele parece ser de uso militar, não parece?

— Não sei, está escuro. – Daryl respondeu sarcasticamente, olhando do caminhante para mim

— Que porra, eu não consigo ver se tem algo escrito na camiseta dele. Me dá uma mão aqui. – Me virei para Daryl, enquanto guardava minha faca no coldre – Me levanta.

— Você não está falando sério. – Daryl me olhou perplexo – É um caminhante, Gabriela. O que importa se era ou não do exército?

Eu não respondi, apenas fiquei olhando fixamente para ele, séria. Daryl resmungou alto e arrumou a besta nas costas, enquanto se aproximava de mim, me entregou sua lanterna e fez um gesto para eu ficar de costas para ele, o que eu fiz. Ele me segurou pela cintura e me levantou o máximo que conseguiu. Com os poucos segundos que tive, apontei a lanterna para a roupa do caminhante e relaxei, quando percebi que era apenas uma jaqueta marrom.

Nenhuma relação com o exército, aparentemente.

— Obrigada. – Agradeci, quando meus pés estavam no chão novamente – É que nós, o exército, não costumamos deixar ninguém para trás.... Se ele fosse um dos meus, céus...

— Não é. Vamos voltar. – Daryl me disse, pegando a lanterna dele de volta

— Espera aí, - Falei franzindo o cenho – já que eu não posso atirar com minha pistola, você vai ter que acabar com o sofrimento do coitado.

— Ele não vai ferir ninguém. – Daryl comentou, apontando novamente a lanterna para o caminhante e depois me olhou – Não vou gastar uma flecha com isso. Ele fez uma escolha. Resolveu desistir. Vamos deixa-lo aí.

— Então eu gasto a flecha por você. – Falei para ele, estendendo a mão, pedindo a besta

— Você não sabe usar uma besta. – Daryl disse, me olhando como se não fosse me dar nada

— Então atire você. – Resmunguei, me aproximando dele – Daryl, eu não vou embora até aquele cara estiver realmente morto.

— Você é um pé no saco. – Daryl me disse, crispando os lábios – Sai da frente.

Satisfeita, dei alguns passos para o lado enquanto ele pegava a besta das costas e o observei atirar uma flecha na cabeça do caminhante. Matando-o de vez. Ele resmungou algo como “Desperdício de flecha” quando passei por ele para vasculhar a barraca bem montada do caminhante. Não achei nada de interessante, a não ser silencio. Coisa que não tínhamos no trailer.

— Será que podemos ficar aqui um pouco? – Perguntei me virando para o Daryl – Eu só não quero voltar lá agora e ficar escutando a Carol chorando.

— Você vai ter que voltar uma hora. – Ele me disse, mas mesmo assim afirmou com a cabeça, dizendo que poderíamos ficar alguns minutos ali

Eu me sentei no chão, perto da barraca e passei a mão pelo rosto, cansada.

— Queria tomar um banho. – Desabafei, enquanto fazia uma cara de desgosto ao notar o estado das minhas roupas – De espuma.

— Boa sorte em achar uma banheira. – Daryl murmurou, enquanto se sentava do meu lado e esticava as pernas – Posso ir até lá e tirar a minha flecha, pelo menos?

— Não agora, só quando estivermos indo. – Respondi, olhando para ele – E então, nenhuma vingança por eu ter rido da sua bunda coçando?

— Estou pensando em uma, não esquenta. – Daryl comentou me olhando de canto de olho  

— Se tem uma coisa que eu não estou, é quente.

Meio que em um ato de impulsividade, eu me aproximei ainda mais dele, o que o fez me olhar, desconfiado. Mas eu não fiz brincadeiras ou algo do tipo, apenas o peguei pelo cabelo em sua nuca e o puxei para mim, até nossos lábios se tocarem.

Ele podia ter parado, mas não parou.

Levando isso em consideração, sem desgrudar nossos lábios, consegui a proeza de me sentar em seu colo e segurar em sua camisa com a outra mão livre. Daryl a princípio esperou para ver o que mais eu iria fazer e então aprofundou o beijo, enquanto passava seus braços pela minha cintura e me puxava ainda mais para ele, até estarmos tão perto um do outro que parecêssemos um.

— O que deu em você? – Daryl me perguntou baixo, quando nos separamos um pouco para recuperar o folego

— Só estou esquentando as coisas.

— Essa foi ruim.

— Eu sei.

Depois de rirmos da minha piada idiota, nós nos beijamos de novo, mais forte. Movi minhas mãos para sua camiseta e achei os botões, os quais eu os desabotoei sem pressa, enquanto sentia suas mãos passearem por debaixo da minha camiseta. Quando tirei sua camiseta, me lembrei de algo muito importante e me separei um pouco dele.

— Não temos camisinha. – Anunciei, meio ofegante

— Se for por causa da Doxiciclina, eu já disse. – Daryl resmungou juntando novamente nossas bocas – Era do Merle, não minha.

— Eu acho que eu vi uma carteira dentro da barraca. – Comentei, me distanciando novamente dele – Vocês homens adoram guardar camisinhas em carteira, talvez tenha alguma lá.

— Qual é. – Ele reclamou, assim que eu me levantei de seu colo

Entrei novamente na barraca e procurei pela carteira e a achei, em baixo do travesseiro. Eu a abri e junto com a camisinha, tinha alguns cartões de crédito.

— Achei. – Avisei para Daryl – Vem aqui pra dentro.

Não precisei pedir duas vezes. Quando entrou, Daryl trouxe com ele sua camiseta e sua besta, deixando as duas de lado antes de fechar a entrada da barraca. Bom, pelo menos teríamos um pouco mais de segurança. Enquanto ele tirava a calça, eu me ocupei em desamarrar meus coldres e deixar minhas armas perto da besta dele. Daryl me ajudou a me despir e logo em seguida me jogou em cima da dos cobertores que estavam no chão, formando convenientemente uma cama.

Sabe, quando sai hoje para tomar um ar. Não pensei que acabaria de um jeito tão inusitado e tão bom ao mesmo tempo.

Quando retornamos a estrada, depois de algumas horas, todo o meu estresse pareceu ir embora e eu estava preparada para dormir, mais cansada do que antes. Ao ver Carol entrando no trailer, uma pontada de peso na consciência me atingiu, éramos para supostamente estar procurando a filha dela e ao invés disso estávamos nos divertindo.

Dale nos recepcionou perto do trailer e respondemos todas as suas perguntas silenciosas com um aceno negativo com a cabeça. Na nossa ida e volta, não achamos nenhum rastro da menina. Mas como Daryl disse mais cedo, tínhamos acabado de começar a busca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "TWD - Segunda Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.