TWD - Segunda Temporada escrita por Gabs


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

"Foi minha única opção"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709394/chapter/3

Nós continuamos a nossa caminhada, durante um pequeno trajeto, percebi que meu olhar não estava apenas passeando pelo chão, às vezes, sem querer ele se prendia em uma parte do corpo de Daryl, as costas, os músculos de seus braços e a bunda. Céus, sou uma pervertida sem ao menos me dar conta.

O barulho de folhas nos deixou alertas e imediatamente nos abaixamos, empunhando as armas. Esperamos alguns segundos até o barulho se repetir e então Rick apontou para frente, indicando que iriamos nos aproximar. Com cuidado, nós nos aproximamos mais um pouco e da onde estávamos, podíamos ver um caminhante andando pelas arvores. Quando me mexi, Daryl segurou o meu braço e fez um sinal para cada um de nós, avisando que Rick e ele iriam pelos lados e eu iria pela frente, sendo assim a isca.

Resolvi não discutir e me movimentei ligeiramente, enquanto os outros dois faziam o mesmo. Desci o barranco e avistei o caminhante mais à frente e assobiei para ele. O Caminhante se virou para mim e soltou um grito rouco, logo antes de uma flecha atravessar sua testa. Me aproximei da coisa morta junto com os outros dois e olhei para os lados, enquanto Daryl pegava de volta sua flecha.

— Sophia? – Gritei, na esperança de ouvir um grito de volta

Rick tirou luvas do bolso da calça e se abaixou, enquanto as vestia. Ele examinou o caminhante.

— O que está procurando? – Daryl lhe perguntou, pendendo a cabeça para o lado, apenas para enxergar a cena melhor

— Pele em baixo das unhas. – Rick respondeu, olhando para nós dois

Nós nos inclinamos para o caminhante enquanto Rick o virava de barriga para cima e examinava a boca dele.

— Ele se alimentou há pouco. - Rick nos avisou e abriu a boca do caminhante, para nos mostrar - Tem carne nos dentes dele. – Ele puxou um pedaço de carne da boca do caminhante e eu fiz uma careta

Aquilo era nojento, mas necessário.

— É. – Daryl concordou, olhando mais de perto - Que tipo de carne?

— Só tem um jeito de saber com certeza. – Rick comentou, olhando de Daryl para mim enquanto pegava sua faca do cós da calça.

Rick abriu a camiseta do caminhante e respirou fundo.

— Deixa. – Daryl disse, me entregando a besta – Eu faço isso. Quantos você já matou e tirou a pele e entranhas afinal? E a minha faca é mais afiada.

Enquanto segurava a besta de Daryl, percebi o quanto ela era pesada, tenho certeza de se eu atirasse, iria voar para trás com o recuo da arma. Balancei minha cabeça e foquei meu olhar neles, Daryl estava se arrumando para abrir a barriga do caminhante e Rick se afastou um pouco. Meu rosto se contorceu em nojo quando Daryl finalmente começou a abrir a barriga do ser que um dia foi uma pessoa. Rick e eu trocamos um olhar nauseado por alguns segundos antes de Daryl terminar o trabalho.

— Adoro quando saímos e abrimos os caminhantes. – Comentei enjoada, dando uma olhada em Rick – Isso me lembra quando nos conhecemos, em Atlanta. Bons tempos.

Rick deu uma risada nasal e me olhou de canto de olho. Daryl não sabia, mas nós já nos lambuzamos de tripas para andar entre os mortos.

— Agora vem a parte feia. – Daryl comentou nos olhando, antes de voltar a mexer no caminhante

— Pensei que já estávamos na parte feia. – Resmunguei para eles

Depois de deixar a faca de lado, Daryl meteu as mãos dentro da barriga do caminhante e começou a mexer lá dentro. Se eu já não tivesse visto coisas muito piores em missões de guerra no exército, teria vomitado.

Certeza.

— É, ele teve uma refeição grande há pouco tempo. – Daryl nos contou, remexendo o caminhante – Estou sentindo lá dentro. – Ele puxou algo de dentro da barriga do caminhante e colocou no chão da mata - Aqui está o estomago.

— Deixa comigo. - Rick disse a ele

O policial pegou sua faca novamente e abriu o estomago humano, que a essa altura, estava mais parecendo com um saco cheio de merda. Quando vimos o que tinha dentro do estomago, emitimos sons de nojo. Rick tirou um pouco de “carne” de dentro do estomago e examinou, mas logo jogou fora. Não tinha como saber. Daryl pareceu que teve mais sorte, ele estava com a faca levantada, fincada em algum tipo de animal.

— Esse infeliz nojento comeu uma marmota no almoço. – Daryl comentou, olhando para nós dois e depois jogou o pedaço da marmota no chão da floresta

— Pelo menos agora temos certeza. - Comentei com eles, deixando transparecer o nojo na minha voz 

Daryl se levantou, guardou a faca e pegou a sua besta das minhas mãos, e devo acrescentar que ele não tirou as luvas cheias de sangue e carne.

— É, pelo menos. – Daryl concordou

— Escutem. – Rick nos chamou, se levantando – Não estou querendo fugir da responsabilidade, mas vocês claramente conhecem mais coisas do que eu sobre seguir rastros. Gostaria que ficassem responsáveis por isso.

— Beleza. – Concordei, olhando de Daryl para Rick – Deixa com a gente.

Quando saímos de perto da caminhante e voltamos a caminhar, reconheci o caminho. Estávamos voltando para a estrada, o que era sensato, pois logo iria anoitecer. E com certeza não conseguiríamos achar nada no escuro.

Durante todo o caminho de volta, aproveitei o silencio e coloquei minha cabeça no lugar, comecei a pensar. Iriamos para o Fort Benning, eu iria encontrar meus soldados e meus superiores.

Com sorte, Harris e minha família.

— Eles estão de volta! – A voz alta de Glenn anunciou a nossa chegada

Assim que terminamos de subir o pequeno morro e tivemos a visão da estrada, todos do grupo de aproximaram de nós, ansiosos e esperançosos.

— Vocês não a acharam? – Carol perguntou, seu rosto aderiu uma coloração vermelha e seus olhos começaram a lacrimejar 

— O rastro dela sumiu. – Rick comentou com ela – Vamos atrás dela de novo ao amanhecer.

— Vocês não podem deixar minha filha sozinha por aí para passar a noite sem ninguém nessa mata. – Carol nos disse, olhando para nós três

— Seguir no escuro não adianta. – Daryl falou para ela, balançando a cabeça negativamente – Ficaríamos só um trombando no outro. Mais pessoas se perderiam.

— Ela só tem doze anos. – Carol falou para nós, começando a chorar – Ela não pode ficar lá sozinha. Você não achou nada? – Perguntou se virando para Rick, enquanto Lori tentava acalma-la

— Eu sei que é difícil, mas vou te pedir para não entrar em pânico. – Rick disse a ela, tentando amenizar a situação – Sabemos que ela estava lá.

— E seguimos o rastro dela por um tempo. – Daryl lhe disse

— Temos que fazer um esforço organizado. - Rick anunciou alto, olhando para todo mundo - Daryl conhece florestas melhor que qualquer um e Gabriela sabe rastrear pessoas. Eu pedi a eles para cuidar disso.

— Isso é.… isso é sangue? – Carol perguntou, olhando para a calça de Daryl e começou a arfar

— Nós matamos um caminhante. – Expliquei olhando para ela

— Caminhante? - Ela repetiu – Oh, meu Deus.

— Não tinha sinal de que ele esteve perto da Sophia. – Rick se apressou em dizer a ela, vendo que Carol estava começando a ter um ataque nervoso

— Como podem saber disso? – Adrian perguntou para ele, desconfiado

Rick, Daryl e eu trocamos um olhar silencioso.

Decidindo quem contaria.

— Nós abrimos o filho da mãe, para ter certeza. – Daryl respondeu

Carol fez uma cara horrível e se sentou no murinho que separava a estrada do morro para a floresta. Lori se sentou ao seu lado e passou a mão em suas costas.

— Como você pode ter deixado ela lá, para começar? – Carol perguntou a Rick, sua voz estava embargada - Como pode ter deixado ela?

— Aqueles dois caminhantes estavam atrás de nós. - Rick começou a se explicar para ela - Eu tive que atrai-los. Era a melhor chance dela.

— Porque ele não teve escolha, Carol. - Shane se aproximou de nós e ficou ao lado do amigo

— Como é que ela vai achar o caminho de volta sozinha? - Carol perguntou para Rick e Shane - Ela é só uma criança. Ela é só uma...

— Foi minha única opção. – Rick lhe disse, se inclinando para ela - A única escolha que pude fazer.

— Tenho certeza que ninguém duvida disso, Rick. – Resolvi ajuda-lo, já que colocar a culpa nele era injusto ao meu ver

— Minha filhinha foi deixada na floresta... – Carol comentou depois de alguns segundos de silencio, prestes a chorar

Balancei a cabeça negativamente e me distanciei do grupo, me sentindo cansada. Carol não culpava apenas Rick, tenho certeza que ela nos culpava por não ter achado a menina. Tínhamos que voltar, iria anoitecer e estávamos com fome.

Não iriamos muito longe daquele jeito.

Dei a volta no trailer e me sentei no chão, encostando minhas costas na parede do carro de Dale e torci para ninguém vir falar comigo.

Especialmente Adrian.

Ouvindo as pessoas conversando, fechei os meus olhos por alguns instantes, apenas para tentar relaxar. Ouvi passos ao meu lado e nem me dei o trabalho de abrir os olhos, pois senti um saquinho de batata bater em minhas coxas.

Era apenas alguém distribuindo o jantar.

Abri um dos meus olhos quando escutei uma respiração pesada ao meu lado, sem estar muito surpresa de como eu não tinha escutado seus passos, dei uma breve olhada em Daryl, sentado perto de mim, também encostando as costas no trailer do Dale, e estava segurando duas coisas, seu jantar e a garrafa de vinho de ontem.

Meu colega de porre.

— Você tem que me ensinar a andar desse jeito. – Comentei baixo, apenas para ele – Parece a porra de um ninja.

Daryl deu de ombros e abriu a garrafa, logo tomando um longo gole e depois me ofereceu. Peguei a garrafa e dei apenas um gole, mas logo e depois a devolvi. Abri meu pequeno pacote de batata e coloquei umas duas na boca, me deliciando com o salgado.

Claro que eu sentia falta de um doce, mas estava extremamente feliz por ter algo que comer hoje.

— Achei uma jaqueta de couro hoje mais cedo. – Daryl comentou aleatoriamente, enquanto mastigava sua batata – Ela deve te servir, deixei em cima do banco da moto.

— Obrigada. – Agradeci dando uma olhada para ele enquanto pegava novamente a garrafa de vinho – Vou dar uma olhada mais tarde. E eu achei... não, não achei nada para você.

Daryl e eu rimos baixo, como se estivéssemos tentando não ser pegos rindo, ou achariam que estávamos nos divertindo à custa de Carol.

E não queríamos isso.

Assim que entreguei a garrafa de vinho para ele, coloquei mais algumas batatas dentro da boca e fechei novamente os olhos, mastigando.

Teríamos uma noite longa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "TWD - Segunda Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.