TWD - Segunda Temporada escrita por Gabs


Capítulo 13
Onze


Notas iniciais do capítulo

"Uma vez você disse que não matamos os vivos"



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Acordei cedo no dia seguinte, com Daryl se levantando. Dividir a cama com um caçador era difícil pois ele sempre acordava na primeira luz do dia. Quando saí da minha barraca, a primeira coisa que fiz foi ir no banheiro do trailer e lavar o rosto, antes de escovar os dentes e pentear o cabelo com o pente de Dale, já que ele não usava muito por falta de cabelo.

Depois do café da manhã, fui designada para ficar de guarda no Randall até decidirem quem iria interroga-lo. Assim que me armei, atravessei o campo que tinha entre o acampamento e o celeiro. Abri o cadeado e entrei no celeiro, notando que Randall estava sentado em um banco, amarrado e amordaçado. Sorri para ele e fechei a porta, antes de me sentar na mesa que tinha bem na frente dele. Nós ficamos nos olhando por alguns minutos e ele tentou falar alguma coisa, mas o som da sua voz saiu abafado.

— Olha só quem quer conversar. – Comentei, me levantando da mesa e indo até ele, para tirar sua mordaça e assim que o fiz, ele respirou alto – Oi, Randall.

— Você me salvou e agora eles vão me matar. – Randall comentou e pelo tom da sua voz ele me pareceu ressentido

— Estamos decidindo. – Eu o comuniquei, voltando a me sentar em cima da mesa – E você sabe, se fossemos te matar, nem teríamos salvado sua vida.

A porta do celeiro foi aberta e Daryl entrou, com uma faca em mãos e postura de combate. Assim que me olhou, sentada na mesa, ele fechou os olhos e respirou alto, de um jeito como se estivesse cansado.

— O que infernos você faz aqui dentro? – Daryl perguntou num rosnado, enquanto fechava a porta – Deveria estar de guarda, não... – Ele olhou para o menino e grunhiu – Conversando com o pirralho.

— Uh, - Suspirei meio que sorrindo – é você que vai interroga-lo?

— É, e você vai sair. – Daryl respondeu logo em seguida, colocando sua faca de caça em seu coldre  

— Não. – Randall disse alto, olhando para mim – Por favor, não.

Continuei sentada em cima da mesa e presenciei o trabalho como interrogador de Daryl. Nos primeiros minutos de murros e respostas erradas, ele me lembrou eu mesma em alguns meses atrás.

Se ainda estivéssemos no mundo de antes, agora eu estaria tomando café da manhã na frente dos soldados famintos enquanto eles estavam fazendo testes de resistência. Harris estaria ao meu lado fazendo comentários sobre coisas nada a ver e Anderson estaria sério, examinando os movimentos dos soldados detalhadamente.

Soltei um suspiro de lamentação e passei a mão no rosto, gesto que não passou despercebido por Daryl, pois seus olhos acinzentados vieram de encontro aos meus fazendo uma pergunta silenciosa: “O que foi?”.

— Nada, querido. – Respondi encolhendo os ombros – Só estou me lembrando dos velhos tempos.

Daryl pareceu satisfeito com minha resposta e deu um soco no rosto de Randall, tão forte que o menino caiu do banco e bateu o rosto no chão.

— Eu já te disse... – Randall disse a Daryl, depois de cuspir sangue no chão

— Você não me disse merda nenhuma! – Daryl disse bruscamente e o pegou, sentando o menino no chão

— Eu mal conhecia aqueles caras. – Randall disse para ele – Eu os conheci na estrada.

— Quantos tem no seu grupo? – Daryl perguntou, sua voz estava firme

Ele era um bom torturador e um bom interrogador, estava em partes, orgulhosa.

Randall ficou uns segundos quieto e arfou quando viu Daryl tirar sua faca do coldre e se aproximar dele.

— Não, não, não, não. – Randall dizia rapidamente e então me olhou, mas viu que eu não iria me mexer e por isso se virou para Daryl – Qual é, cara!

— Quantos? – Daryl perguntou novamente, depois de cravar a faca no chão perto da perna machucada de Randall

— Trinta. – Randall respondeu rápido – Trinta caras.

— Onde? – Daryl perguntou em seguida e arrancou o curativo da perna de Randall, fazendo o garoto gritar de dor

— Eu não sei! – Randall jurou choramingando – Eu juro! A gente nunca fica mais do que uma noite num lugar!

Enquanto Daryl brincava com Randall, quase encostando a sua faca na perna dele, eu me levantei da mesa e me aproximei deles, para me agachar do outro lado de Daryl.  

— Vocês ficam rodando? – Perguntei interessada – Pelo que Dave estava dizendo no bar vocês estavam interessados em ficar em algum lugar perto daqui. Claro, até eu atirar na cabeça dele.

— Eles me deixaram pra trás, você viu! – Randall me disse agitado, por causa da faca de Daryl – Eu não sei para onde eles vão.

— Responde a mulher. – Daryl mandou, rosnando - Tá afim de ficar com uma escara?

— Qual é, cara! – Randall disse alto, sua voz estava falhando – Eu estou... estou tentando colaborar.

— Vou começar bem devagar primeiro. – Daryl anunciou pra ele, fazendo pressão na faca – Cedo ou tarde, vai ter que arrancar fora.

— Tá bom. – Randall quase gritou – Tá bom! Eles têm armas. Material pesado, automáticas. Mas eu não fiz nada.

— Eles atiraram na minha mulher e nos meus amigos. – Daryl disse ao menino, de um jeito firme – Tentaram tomar esta fazenda. Você só estava junto pra curtir? Está tentando me dizer que você é inocente?

Antes de escutar a resposta de Randall, considerei o que o Daryl disse. Eu era a mulher dele. Isso era algo que eu já tinha em mente, mas não esperava escuta-lo dizendo tão cedo.

— Sim! – Randall respondeu alto – Essas pessoas me aceitaram. Não é só os caras, mas o grupo inteiro deles. Homens e mulheres. – Ele respirou fundo quando Daryl afastou a faca e se levantou, estendendo a mão para me ajudar a levantar também – Crianças também, assim como vocês aqui. Pensei que eu teria uma chance melhor com eles, sabe? – Eu voltei até a mesa e me sentei novamente, para escutar sua história, enquanto Daryl ficava de pé perto dele – Mas saímos por aí, para vasculhar. Só os homens. Uma noite nós... achamos um acampamento, um homem com duas filhas adolescentes, sabe? Muito novas. Muito bonitas. – Randall nos olhou por alguns segundos, deixando a entender que eles fizeram algo repulsivo com as meninas – O pai delas teve que assistir enquanto esses caras, eles... e nem sequer o mataram depois disso. Eles só o fizeram assistir. As filhas dele. Eles só o deixaram lá. – E então ele nos olhou novamente – Mas eu não toquei naquelas meninas. Não, eu juro. Eu não toquei... – O menino grunhiu quando Daryl o chutou – Por favor. Por favor. Vocês têm que acreditar em mim. Eu não sou assim. Eu não sou assim.

O homem que mais cedo disse que eu era a mulher dele me olhou intensamente, enquanto Randall repetia que não era daquele jeito. Suspirei e me levantei da mesa, entendendo o recado. Quando passei por Daryl apertei seu ombro e fui em direção a porta do celeiro, escutando a voz de Randall me chamar. Ao sair do celeiro, voltei a fechar a porta e fiz meu caminho para o acampamento. Lá, Rick me fez algumas perguntas sobre como estava sendo o interrogatório e eu lhe respondi com sinceridade, acrescentando que devíamos ter matado todos os homens na cidade.

Mas ainda não estava certa sobre Randall, parte de mim acreditava no garoto e outra parte gritava dizendo que ele estava tentando nos manipular.

Lori me serviu um café e eu me encostei em Maggie, enquanto tomava a minha cafeína diária. Glenn riu e disse que eu estava ficando mais folgada a cada dia, antes de receber um “Você também”, vindo de mim.

— Então o que vão fazer? – Carl perguntou, olhando do pai para os outros

— Nos sentiríamos melhor se conhecêssemos o plano. – Lori acrescentou

— E existe um plano? – Andrea perguntou em dúvida

— Nós vamos mantê-lo aqui? – Glenn perguntou, encolhendo os ombros

— Nós saberemos daqui a pouco. – Rick lhes respondeu, olhando para o campo e depois o indicou com a cabeça

Nós seguimos o seu olhar e vimos Daryl se aproximando de nós, segurando a besta que estava em suas costas e como eu já esperava, sua mão estava toda machucada, como sei que ele não deixará ninguém chegar perto, terei que fazer os curativos eu mesma.

— O rapaz lá tem uma gangue, trinta homens. – Daryl anunciou, assim que chegou perto o suficiente de nós – Com artilharia pesada e não estão pra fazer amigos. Se vieram pra cá, nossos rapazes vão morrer. E nossas mulheres, eles vão... Bom, já sabem o que farão.

— O que você fez? – Carol lhe perguntou, olhando para a sua mão machucada

— Batemos um papinho. – Daryl lhe respondeu, evasivo

Larguei Maggie e fui até ele, lhe entregando o meu café, o qual ele tomou praticamente tudo e por fim eu o deixei ficar com o copo.

— Ninguém chega perto desse cara. – Rick disse alto

— Rick, o que você vai fazer? – Lori perguntou, caminhando em direção ao marido

— Não temos escolha. – Rick respondeu, depois de respirar fundo – Ele é uma ameaça. Temos que eliminar a ameaça.

— Vai simplesmente matá-lo? – Dale perguntou para ele, perplexo

— Está resolvido. – Rick anunciou, ignorando Dale – Eu faço isso hoje.  

Rick se afastou do grupo e Dale o seguiu, provavelmente para fazê-lo mudar de ideia. Fui buscar uma garrafa de água e em seguida procurei por Daryl, o encontrando no mesmo lugar de sempre, isolado. Eu me sentei na grama bem na sua frente e estendi a mão, o que o fez me olhar confuso.

— Me dá aquele seu lenço. – Pedi, já que ele não iria adivinhar tão fácil assim

— O que vai fazer? – Ele perguntou, levantando um pouco e pegando o lenço vermelho que guardava no bolso de trás da calça para me entregar

— Vou limpar esses seus machucados na mão. – Respondi, abrindo a garrafa de água e pegando o lenço de sua mão, para molha-lo na borda. Em seguida, peguei sua mão machucada e com muito cuidado encostei o lenço molhado em seus machucados – Estava pensando mais cedo, - Comentei, dando uma olhada para ele – se eu não tivesse pedido para Rick trazer Randall com a gente, não estaríamos tendo todo esse trabalho.

— Ele teria trago o rapaz de qualquer jeito. – Daryl me disse, balançando a cabeça negativamente – Pare de ficar pensando nessas merdas.

Suspirei alto e me concentrei em limpar o sangue em sua mão, mesmo sabendo que eu não poderia fazer muita coisa além disso.

— Machucou dar socos no cara? – Ouvimos a voz de Carl perguntar

Daryl olhou para alguém atrás de mim e eu me virei um pouco, para poder ver o pequeno Carl perto de nós, curioso.

— Já me machuquei pior. – Daryl lhe respondeu, parecia querer ver na onde aquela conversa iria levar – Você também, amigo.

— Posso tentar atirar com isso? – Carl perguntou apontando para a besta ao meu lado, depois de sorrir concordando com o que Daryl havia dito

— Seu braço não é longo o bastante. – Daryl negou e depois me lançou um olhar de diversão, me vendo sorrir para ele

— É sim. – Carl retrucou, olhando para os próprios braços

— Fique com as armas. – Daryl lhe disse, alternando o olhar entre meu trabalho com sua mão e o menino – Exige menos habilidade. Cadê seu velho? Por que você não incomoda ele?

Carl suspirou balançando a cabeça negativamente e se afastou de nós, antes de Daryl me ouvir dizendo que as armas também eram complicadas, eu me assustei com Carol, que estava muito perto de nós, segurando guardanapos e por isso, acabei apertando a mão machucada de Daryl, o fazendo grunhir.

— Desculpe. – Me apressei a dizer, olhando para ele como se eu não tivesse culpa de nada, já que tinha me assustado com Carol

— Desculpem a mim. – Carol pediu, parecendo meio sem graça e como me viu ocupada, estendeu os guardanapos para Daryl – Tem dois pedaços de bolo aí, isso vai segurar a barriga de vocês até o almoço.

— Obrigada, Carol. – Agradeci, mesmo não estando com fome

Com uma mão, Daryl deixou o bolo em cima de sua perna e abriu os guardanapos, para pegar um e morder. 

— Bem, - Carol limpou a garganta e olhou diretamente para Daryl – posso falar a sós com ele, Gabriela?

— Ok. – Murmurei e quando larguei a mão de Daryl, senti seu olhar sob mim

Deixei a garrafa de água e seu lenço com ele, antes de me levantar e me afastar, dizendo que o pegaria mais tarde, nada mais do que uma frase de duplo sentido super verdadeira. Ele me disse onde eu o acharia e depois se ocupou em conversar com Carol, ou pelo menos, ignora-la igual as últimas vezes. Eles estavam brigados, eu sei, gostaria que se acertassem, mas quando as coisas se referem a Daryl, é tudo mais complicado do que parece.

Depois de ficar um tempo conversando com Maggie e ver que Carol já estava no acampamento sozinha, resolvi continuar cuidando de Daryl e de sua mão machucada. Eu o achei no lugar que ele disse que estaria, do outro lado do acampamento e do campo, perto de uma viga destruída.

Daryl estava pegando alguns gravetos, provavelmente estava tentando fazer mais flechas, ele escutou meus passos e me deu uma olhada, antes de me dizer para sentar e esperar ele acabar o que tinha que fazer.

— Você mesmo limpou sua mão. – Observei, enquanto me sentava perto da viga, em um dos blocos

— É. – Daryl comentou brevemente

Certo, a conversa com Carol não tinha sido tão boa quanto minha imaginação pensou que seria e por isso mudei de assunto.

— Você vai sair? – Perguntei com um leve interesse

— Vou caçar. – Ele me respondeu, me dando uma breve olhada – Volto até o anoitecer.

Ele estava um pouco estranho, era melhor mesmo sair e esfriar a cabeça fazendo algo que goste. Quieta, eu o observei por mais um tempo, enquanto deixava meus pensamentos fluírem. Se o mundo estivesse como era antes, Daryl e eu nunca teríamos nos encontrado, eu ainda estaria com Harris e Adrian ainda tentaria me manipular.

Eu tinha saudades de Jason, muitas saudades.

Mas agora eu estava aqui, afastada de todas as pessoas que eu conhecia e mesmo em meio deste caos, arranjei amigos e pessoas com as quais eu me importo o suficiente para arriscar o meu pescoço.

Daryl está no topo da lista.

— Você acha que teríamos nos encontrado se o mundo ainda fosse como antes? – Perguntei, chamando a atenção dele

— Com certeza não. – Daryl respondeu, balançando a cabeça negativamente enquanto alternava seu olhar entre mim e os gravetos – Mulheres como você não frequentava os lugares que eu ia.

— Mulheres como eu? – Perguntei em dúvida, já que podia ser um elogio ou uma critica

— Cheias da grana. – Daryl respondeu, resumindo

— Eu não era rica, se quer saber. – Comentei sorrindo

Antes dele dizer alguma coisa, algo nos chamou a atenção do nosso lado direito. Dale estava caminhando até nós, fazendo barulho enquanto andava.

— O lance de eu vir até aqui é pra ficar longe de vocês. – Daryl disse a Dale, depois de emitir um som de desgosto

— Vai precisar mais do que isso. – Dale comentou, me dando uma olhada e me cumprimentando com um aceno de cabeça

— Foi a Carol que te mandou? – Daryl perguntou para ele

— Claramente a Carol não é a única que está preocupada com você e com seu novo papel no grupo. – Dale lhe respondeu  

Eu estava pressentindo uma boa e longa conversa pelo jeito que Dale estava falando. Ele parecia ter um discurso na cabeça.

— Ah, cara, não preciso da minha cabeça analisada. – Daryl resmungou para ele, enquanto guardava as flechas que já tinha feito em um compartimento que aparentemente também tinha feito – Este grupo está rachado. É melhor eu cuidar de mim mesmo e do que é meu.

Recebi um olhar intenso quando ele pegou seu casaco e seu colete do que estavam pendurados do meu lado. O olhar dizia com todas as letras que eu fazia parte da lista e por isso abri um mini sorriso para ele.

— Você age como se não se importasse. – Dale comentou

— É porque eu não me importo. – Daryl lhe disse, vestindo seu casaco e seu colete

— Então, viver ou morrer não se importa com o que acontece com Randall?

Desviei meu olhar de Daryl para encarar Dale, então ele estava aqui por causa do menino. Mordi meus lábios e estalei os dedos, meio nervosa.

— Não. – Daryl respondeu, olhando para ele

— Então porque não fica do meu lado para tentar salvar a vida do garoto se não se importa mesmo, de um jeito ou de outro? – Dale fez outra pergunta

— Nunca achei que fosse do tipo desesperado. – Daryl comentou com ele

— Sua opinião faz diferença. – Dale lhe disse, ao escutar seu comentário

— Cara, ninguém liga para a minha opinião. – Daryl resmungou, pegando a besta e a ajeitando nas costas

— Eu posso listar pessoas que ligam. – Dale retrucou – Gabriela, Carol e eu também. Neste instante. E você, obviamente tem o Rick que te escuta.

— Rick só escuta o Shane. – Daryl retrucou de volta, nervoso com a conversa que estava tendo – Deixa assim.

— Você se importou com o que aconteceu com a Sophia. – Dale disse e isso foi o suficiente para atrair o olhar de Daryl – Com o que ela significava para o grupo. Torturar pessoas? Você não é assim. Você é um homem descente. E o Rick também. – E então ele me olhou – E Gabriela, se não fosse por você o Randall estaria morto, várias pessoas estariam mortas agora. Você é uma das mulheres mais decentes daqui. Agora o Shane, ele é diferente.

— E por quê? – Daryl lhe perguntou – Por que ele matou o Jones e o Otis?

— Ele te disse isso? – Dale perguntou sério, se aproximando mais de nós

— Me contou uma história de como eles o cobriram e salvaram a bunda dele. O Shane apareceu com as armas dos caras mortos. – Daryl contou e balançou a cabeça negativamente – Rick não é burro. Se ele não sacou isso foi porque ele não quis. É como eu disse. O grupo está rachado.

Daryl se despediu de mim com um olhar se afastou, caminhando em direção a floresta. Dale olhou para mim e eu me preparei para receber o mesmo discurso que ele deu em Daryl.

— Escuta, Dale. – Eu disse, me levantando e batendo na minha calça para limpar a sujeira que poderia ter – Ainda não me decidi. Eu sei que o garoto não merece perder a vida, mas acontece que as coisas que ele falou... o menino é manipulador, ainda não tenho uma opinião formada sobre ele.

— Gabriela. – Dale disse, balançando a cabeça negativamente – Eu sei que você fará a coisa certa, senão não teria insistido para salvar a vida dele na cidade. Rick fará uma reunião na casa de Hershel ao pôr do sol, pense até lá.

Dale se afastou e eu permaneci sozinha ali por mais alguns segundos. Coletei as coisas de Daryl que estavam soltas por ali e levei todas para a sua barraca, antes caminhar até a casa do Hershel e tirar um cochilo no sofá.

Ao pôr do Sol, Daryl me acordou e eu só precisei ficar sentada no sofá, coçando os olhos enquanto os outros se reuniam ao meu redor, para começar a reunião. O namorado de Beth levou Carl com ele e depois de alguns segundos todos nós nos encaramos, esperando alguém começar.

— Então, como vamos fazer isso? – Glenn perguntou, quebrando o silencio, enquanto olhava para todo mundo – É só votar?

— Tem que ser unânime? – Andrea perguntou, confusa

— Que tal a maioria vence? – Lori sugeriu

— Bom, vamos ouvir a opinião de todos daí podemos discutir as opções. – Rick nos disse, apoiando as mãos no sofá que eu estava sentada

— Bom, na minha opinião só tem uma solução pra isso. – Shane comentou

— Matá-lo, certo? – Dale perguntou logo em seguida – Bom, por que se importar em fazer votação? Já está claro como as coisas ficaram.

— Bom, - Rick respirou fundo e disse firme - se há pessoas que acreditam que devemos poupá-lo, eu quero saber.

— Posso te dizer que é um grupo pequeno. – Dale lhe disse – Talvez só eu e o Glenn.

— Ok, olha eu... – Glenn murmurou para ele – eu acho que você está certo sobre quase tudo o tempo todo, mas isso...

— Eles botaram medo em você. – Dale o interrompeu perplexo

— Ele não é um de nós. – Glenn explicou – E nós já perdemos muitas pessoas.

— E quanto a você? – Dale perguntou à Maggie – Você concorda com isso?

— Não podemos continuar mantendo-o prisioneiro? – Maggie perguntou, olhando para Rick

— É só mais uma boca pra alimentar. – Daryl disse para ele, respondendo à pergunta

— Pode ser um inverno magro. – Hershel comentou

— Podemos racionar. – Lori sugeriu

— Bom, ele pode ser uma ajuda. – Dale nos disse – Deem a ele uma chance de provar isso.

— Colocá-lo para trabalhar? – Glenn sugeriu, olhando para Rick

— Não podemos deixá-lo andando por aí. – Rick discordou

— Podemos por uma escolta pra ele. – Maggie comentou

— E quem vai se voluntariar pra essa tarefa? – Shane perguntou sarcasticamente

— Eu vou. – Dale afirmou

— Acho que nenhum de nós deveria ficar andando por aí com esse cara. – Rick comentou, evitando uma discussão entre os dois

— Ele está certo. – Lori nos disse – Eu não me sentiria segura, a menos que ele esteja amarrado.

— Não podemos também por corrente nos tornozelos dele e mandá-lo para trabalhos forçados. – Andrea comentou, balançando a cabeça negativamente

— Olha, digamos que o deixemos se juntar a nós, tá bom? – Shane disse, olhando para todos nós – Talvez ele seja útil, talvez ele seja bom. Quando baixarmos a guarda talvez ele pode fugir e trazer aqueles trinta homens pra cá.

— Então, a resposta é para matá-lo para evitar um crime que ele pode nunca sequer tentar? – Dale perguntou inconformado – Se fizermos isso, estamos dizendo que não há esperança. Estado de direito morreu. Não existe civilização.

— Ah, meu Deus. – Shane resmungou baixo

— Não podem levá-lo ainda mais longe? – Hershel sugeriu – Deixá-lo como planejaram?

— Mal conseguiram voltar desta vez. – Lori comentou, olhando para o seu marido – Existem caminhantes. O carro pode quebrar. Vocês poderiam se perder...

— Ou cair numa emboscada. – Daryl acrescentou

— Eu faço isso. – Me pronunciei, atraindo olhares para mim – Eu o trouxe, eu vou leva-lo embora. Se eu quisesse aquele garoto morto teria deixado ele com a cerca no joelho, mas eu não o quero aqui, com o nosso pessoal. Posso sair hoje com ele e faço um ou dois dias de viagem, deixo ele num lugar seguro e volto pra cá. Vai ser simples.

— Se tá planejando fazer isso sozinha, pode esquecer. – Daryl disse alto, num tom de voz perigoso – Já se arriscou demais por aquele cara.

— Eles estão certos, Gabriela. – Glenn disse, atraindo minha atenção – Não podemos por nosso pessoal em risco e você está nessa lista.

Passei a mão no rosto e mudei minha posição no sofá, estava desconfortável com a situação. Era simples, mas ao mesmo tempo era difícil, pois se tratava da vida de uma pessoa. Parecia que estávamos brincando de Deus e esse é um jogo perigoso para se jogar.

— Se forem adiante com isso, como farão? – Patrícia nos perguntou, também estava parecendo deslocada – Ele vai sofrer? 

— Podemos enforcá-lo, né? – Shane perguntou e quando viu nossos olhares acrescentou – É só quebrar o pescoço.

— Eu pensei sobre isso. – Rick nos disse – Atirar pode ser mais humano.

— Mas e o corpo? – T-Dog perguntou em seguida – Vamos enterrá-lo?

— Espera, espera. – Dale os interrompeu, perplexo – Estão falando sobre isso, como se já estivesse decidido.

— Vocês têm falando o dia todo, andando em círculos. – Daryl comentou estava claramente de saco cheio daquela conversa – Quer andar em círculos de novo?

— Mas é a vida de um jovem! – Dale praticamente gritou – E ela vale mais do que uma conversa de cinco minutos! Foi nisso em que chegamos? Vamos matar alguém porque não podemos decidir o que vamos fazer com ele? Vocês o salvaram! – Ele apontou de Rick, Glenn, eu para Hershel – E agora olha para nós. Ele foi torturado. Ele vai ser executado. Como somos melhores do que essas pessoas que estamos com tanto medo?

— Todos nós sabemos o que precisa ser feito. – Shane falou, depois de alguns segundos em silencio

— Não, Dale está certo. – Rick o interrompeu – Não podemos deixar pedra sobre pedra aqui. Temos a responsabilidade...

— Então, qual é a outra solução? – Andrea perguntou o interrompendo, meio nervosa

— Deixe Rick terminar. – Lori chamou sua atenção

— Não chegamos a uma única opção viável ainda. – Andrea continuou falando – Gostaria que tivéssemos....

— Então, vamos trabalhar nisso! – Dale disse a interrompendo

— E estamos. – Rick lhe disse

— Faríamos algum progresso se ela não parasse de falar tanta merda. – Falei alto, olhando para Andrea – Qual é a sua, não está vendo que estamos trabalhando nas opções ou é cega?

— Parem. – Carol chamou nossa atenção – Parem com isso. Eu estou cansada de todos discutindo e brigando. Eu não pedi isso. Não podem nos pedir para decidir uma coisa assim. Por favor, decidam. Qualquer um de vocês. Mas me deixe fora.

— Não falar disso, ou ir matá-lo você mesma. – Dale lhe disse – Não há diferença nenhuma.

— Ora...

— Tá bom, já chega. – Rick se impôs, falando alto – Se alguém quiser falar antes de tomarmos a decisão final, agora é a hora.

Encarei todos na sala, esperando alguém falar primeiro e não me surpreendi quando vi que ninguém iria falar. Rick encarou todo mundo e respirou fundo.

— Uma vez você disse que não matamos os vivos. – Dale se pronunciou, indicando Rick com a mão, enquanto com a outra apertava seu chapéu de pescador

— Bom, isso foi antes dos vivos tentarem nos matar. – Rick lhe disse

— Mas você não vê? – Dale perguntou para ele – Se fizermos isso, as pessoas que éramos o mundo que conhecíamos está morto. E este novo mundo é feio. É bruto. É a sobrevivência do mais apto. E é um mundo no qual não quero viver. E não acredito que nenhum de vocês quer. Não acredito. Por favor. Vamos fazer o que é certo. Não tem mais ninguém que vai ficar do meu lado?

— Ok. – Murmurei alto, olhando para Dale e assentindo – Não queria antes e não quero agora. Estou com o Dale nisso.

Dale me olhou agradecido por alguns instantes, como se soubesse que uma hora eu iria voltar a minha razão.

— Ele está certo. – Andrea também concordou – Nós devemos tentar achar outra maneira.

— E mais alguém? – Rick perguntou, olhando para as pessoas na sala

Novamente as pessoas ficaram em silencio e isso fez a entender que nós tínhamos perdido a votação. Rick encarou Dale, como se contasse isso a ele.

— Vocês vão assistir também? – Dale perguntou alto, em tom sarcástico para as pessoas – Não, vão lá se esconder nas suas tendas e tentar esquecer que vamos matar um ser humano. – Ele balançou a cabeça negativamente, e fez uma expressão de nojo – Não quero tomar parte nisso. – Dale atravessou a sala e parou perto de Daryl, tocando em seu ombro – Este grupo está rachado. – Concordou com ele e se afastou, indo em direção a saída da casa.

Conversei e desabafei com Glenn e Maggie durante o pequeno tempo que tínhamos, antes de anoitecer e Rick escolher seu carrasco, Daryl. Fazia sentido, já que nenhum dos outros teriam culhões para fazer o trabalho sujo. Eu não gostava do novo jeito que as pessoas do grupo viam Daryl. Ele não era nenhum executor, não era interrogador e não era um ser humano terrível. Ele não tinha que fazer este trabalho.

Ninguém tinha.

Glenn me abraçou pelos ombros e nós saímos da casa, atravessamos o campo e paramos em nosso acampamento. Me separei de meu amigo e fui me sentar perto do fogo, em um dos bancos de plástico. O acampamento estava silencioso, haviam pessoas ali, mas elas estavam mudas, fazendo exatamente o que Dale disse que elas iriam fazer.

Estavam fingindo que a qualquer momento, não escutaríamos um tiro e não mataríamos a vida de um ser humano.

Não era a primeira vez que eu matava pessoas, meu trabalho era matar, mas era diferente, eu estava protegendo meu país em guerras, estava prezando minha família em casa e a protegendo de pessoas terríveis. O engraçado é que as pessoas que eu enfrentava em campos de batalha também pensavam iguais a mim. Para elas, eu era uma invasora e estava ali para assassinar sua família. Para meu país, eu estava salvando os americanos de algo terrível.

O som de pegadas me fez prestar mais atenção ao meu redor. O meu lado, as pessoas se levantaram e com olhos questionadores, encaram Rick e Carl, os quais estavam entrando no acampamento. Lori se aproximou deles e olhou do filho para o marido.

— Vamos mantê-lo sob custódia, por ora. – Rick informou, respondendo todos os olhares questionadores sob si

— Eu vou procurar o Dale. – Andrea avisou se levantando, tinha um sorriso nos lábios e se afastou do acampamento

— Carl, vá para dentro. – Lori disse, sem tirar os olhos do marido – Agora, por favor.

Observei o rosto de Carl quando ele se afastou em direção a sua barraca e procurei outra coisa para me ocupar, não estava afim de escutar a conversa dos outros. Mas eu estava aliviada, já que provavelmente tínhamos mais tempo para tentar salvar a vida do menino, de novo.

Um grito ecoou por todo o acampamento e nós nos levantamos, agitados. Antes mesmo de escutar Rick gritando para T-Dog pegar uma espingarda eu já estava correndo, em direção aos gritos. Abri o portão da cerca o mais rápido que pude e enquanto corria, tirei a minha pistola do coldre.

Os gritos, eram de Dale.

Mais à frente, vi Daryl correndo com um lampião em mãos e se jogar por cima de algo. Algo que eu só fui descobrir o que era quando cheguei perto o suficiente deles. Enquanto Daryl matava o caminhante, meu olhar se prendeu no corpo de Dale no chão, ele estava com a barriga aberta. Eu me ajoelhei perto dele e escutei Daryl gritar por ajuda, chamando os outros.

— Aguente firme, amigo. – Daryl disse agitado, se agachando perto de nós

— Quem é? – Escutei Andrea gritar

— Ah, meu Deus. – Rick murmurou, quando chegou perto de nós – Ah, meu Deus.

— Dale, está tudo bem. – Falei para ele, tocando seu rosto – Apenas escute as nossas vozes, vai ficar tudo bem. Está me ouvindo? Vai ficar tudo bem.

Dale não conseguia falar, ele estava em choque e sentia muita dor. Não era de menos, o caminhante abriu sua barriga e ele estava perdendo sangue.

— Tá bom, aguente firme. – Rick disse para ele e depois se virou para os outros, antes de gritar – CHAMEM O HERSHEL! Ele precisa de sangue. Temos que operá-lo agora.

— HERSHEL! – Berrei, o mais alto que pude – PRECISAMOS DO HERSHEL!

— Aguente firme, Dale. – Andrea disse para ele, tinha acabado de se jogar perto dele – Aguente firme. Já foram buscar o Hershel. Estamos aqui.

— O que aconteceu? – Hershel perguntou, estava ofegante de tanto correr

Sai de onde estava e deixei que Hershel assumisse o meu lugar, eu o olhei ansiosa e agitada.

— O que podemos fazer? – Rick perguntou rápido, eu não era a única agitada

— Dale, você vai ficar bem. – Glenn lhe disse, tentando manter a voz firme

— Podemos movê-lo? – Perguntei, notando que minha voz estava embargada

— Ele não vai aguentar chegar lá. – Hershel me respondeu, olhando de mim para Rick

— É, certo. – Murmurei e então o olhei – Vai ter que fazer a operação aqui. Glenn, volta para a casa...

— Gabriela. – Hershel disse o meu nome, em um tom de voz muito calmo, mas claramente forçado enquanto balançava a cabeça negativamente

Eu o olhei e coloquei a mão no rosto, cobrindo minhas lágrimas de frustração e medo por estar perdendo mais um amigo. Rick gritou, também frustrado e várias pessoas começaram a chorar.

— Ah, Deus. – Andrea disse chorando – Dale... Ele está sofrendo. Façam alguma coisa!

Dale estava gemendo de dor e ocasionalmente estava se engasgando com sangue. Levantei minha mão, a qual estava carregando a pistola e apontei para o rosto de Dale. Andrea se virou para não olhar, assim como outras pessoas e eu senti que não poderia fazer aquilo, não com um amigo. Daryl segurou a minha arma e me olhou nos olhos, sugestivamente. Entreguei a minha arma para ele e o abracei, escondendo o meu rosto em seu peito. Com sua mão livre, Daryl apertou minha cintura e deu o tiro de misericórdia, depois de dizer: “Desculpe, irmão”.


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Notas finais do capítulo

Rip Dale :'(



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