Alcançamos a fazenda logo de manhã, passei a noite inteira aproveitando o resto de adrenalina no meu corpo para dirigir e deixar os outros descansarem o que precisavam. Rick tentou trocar de lugar comigo duas vezes, mas eu lhe pedi para relaxar, já que eu estava bem. Depois que Glenn abriu e fechou a cancela, nós realmente chegamos até a casa de Hershel e consequentemente, o acampamento. Antes de parar o carro perto da casa, percebi que os outros do grupo estavam se preparando para sair em um dos carros, provavelmente iam nos procurar. Estacionei o carro e o desliguei, saindo de dentro dele e me espreguiçando o melhor que podia.

Rick saiu do carro e foi até sua esposa e filho, para abraça-los. O fato da Maggie correr e abraçar Glenn ao invés de seu pai não passou despercebido por nenhum de nós. Cocei meus olhos enquanto caminhava até Daryl e apoiei minha cabeça em seu peito, estava louca para dormir, mas sabia que não podia fazer isso agora, precisávamos explicar tudo que tinha acontecido lá na cidade.

Isso era certeza.

E ainda tínhamos que lidar com Randall, o garoto que salvamos.

— O que diabos você estava pensando quando foi com eles? – Daryl perguntou em um rosnado baixo – Olha o seu estado, parece que foi atropelada por uma manada de caminhantes.      

— Patrícia, prepare o lugar para cirurgia. – Hershel pediu, enquanto caminhava para dentro de sua casa

— Quem diabos é aquele? – T-Dog perguntou perplexo, apontando para o nosso carro

Todo mundo olhou para o carro e eu me afastei um pouco de Daryl, respirando fundo, já que a sessão de perguntas havia começado.

— Aquele é o Randall. – Glenn foi o primeiro a responder

Daryl se afastou de mim e caminhou até o carro, como os outros, para olhar o menino desacordado e de olhos tampados que estava no banco de trás.

Depois de ajudar Rick e levar o menino até o lugar onde Hershel faria a cirurgia, eu fui me sentar na sala de jantar, tentar dormir um pouco apoiando a cabeça em cima da mesa. Maggie me trouxe algo para comer e beber e pareceu bastante grata por eu ter mantido a minha promessa que traria Glenn de volta e inteiro para ela. A sala se encheu depressa, o nosso grupo estava ansioso e estavam discutindo sobre o que aconteceria a seguir. Enquanto comia, ignorei os olhares de poucos amigos que Andrea e Shane me lançavam, eles pareciam ter certeza que Randall era coisa minha.

E era.

— Não podíamos tê-lo deixado para trás. – Rick comentava com as pessoas que estavam na sala – Sangraria até morrer.

— Ficou feio na cidade. – Glenn disse passando a mão no rosto

— O que vamos fazer com ele? – Andrea perguntou, se referindo ao Randall

— Reparei o músculo da panturrilha o máximo que pude, mas talvez fique com o nervo danificado. – Hershel anunciou, entrando na sala de jantar, ele estava limpando as mãos em uma toalha de rosto – Não vai poder levantar por pelo menos uma semana.

Eles ficaram em silencio, uns estavam fazendo cara feia.

Eu não estava nem aí para a cara feia deles.

— Quando levantar, daremos um cantil com água a ele, vamos colocá-lo na estrada principal e manda-lo embora. – Falei para eles e Rick pareceu concordar com a ideia

— Não é o mesmo que deixá-lo para os caminhantes? – Andrea retrucou

Daryl entrou e olhou para todo mundo da sala, antes de se encostar na parede e escutar a conversa.

— A diferença é que ele terá a chance de lutar. – Eu lhe respondi

— Então vão deixá-lo ir? – Shane perguntou perplexo – Ele sabe onde estamos.

— Ele ficou vendado o caminho todo. – Rick lhe assegurou – Não é uma ameaça.

— Não é uma ameaça? – Shane repetiu – Quantos dele tinham lá? Vocês mataram três dos homens deles e trouxe um deles como refém e eles não vão vir procurar por ele?

— Deixaram o menino pra morrer. – Falei para ele, nervosa com sua atitude ridícula – Não tem ninguém procurando por ele.

— Ainda assim devemos montar guarda. – T-Dog me esperou falar para comentar

— Ele está apagado agora. – Hershel avisou – Vai ficar assim por horas.

— Quer saber, vou buscar umas flores e doces para ele. – Shane disse alto, ironizando e caminhou até a saída – Olha só isso, pessoal. Voltamos para a “Terra da Fantasia”.

— Escuta, - Hershel lhe disse, chamando sua atenção e o fazendo parar de andar - nós ainda não falamos sobre o que você fez no meu celeiro ainda. Vou deixar uma coisa bem clara uma vez por todas. Esta fazenda é minha. Eu queria você longe, o Rick me convenceu do contrário, mas não significa que tenho que gostar disso. Então nos faça um favor, fique de boca fechada.      

Com este discurso de Hershel, Shane nos olhou e saiu da casa resmungando e suspirando alto. Como se dissesse: “Foda-se vocês”.

— Olha, não vamos fazer nada sobre isso hoje. – Rick disse, indo até Hershel e tocando em seu ombro – Vamos apenas nos acalmar.

Eu me levantei da mesa e agradeci a comida que a Maggie me deu. Daryl indicou a porta com o olhar e assim que sai da casa ele me seguiu de perto. Era certeza que estava bravo com alguma coisa, provavelmente por causa de ontem, mas eu não tinha certeza se era comigo. Entrei em minha barraca e me sentei em cima da minha cama improvisada, observei Daryl entrar e fechar a barraca antes de eu tirar a minha regata, a qual estava mais suja do que eu. Tirei os coldres e os deixei de lado, antes de tirar minha bota.

Daryl se sentou perto de mim e passou a mão no rosto, nervoso.

— O que houve? – Perguntei a ele, sem saber se queria ouvir a resposta

— Cansei de procurar pessoas. – Ele respondeu e eu suspirei – Me faz um favor, quando for sair, me avisa pra onde vai. Você acabou presa em um bar trocando tiros com gente perigosa...

— Daryl. - Eu o interrompi, me aproximando dele – Trocar tiros com gente perigosa foi a única coisa que eu aprendi a fazer na vida, eu estava, estou e vou ficar bem.

— Bem? – Ele riu pelo nariz – Você estava em estado de choque e na primeira oportunidade que surgiu, você saiu da fazenda a procura de um velho que foi encher a cara porque estava de luto.

Balancei a cabeça negativamente e fui me sentar em seu colo, enquanto sentia suas mãos tocarem minha cintura eu arrumei o cabelo dele.

— Você não pode estar tão nervoso assim só por minha causa. – Eu lhe disse baixo, o olhando nos olhos – O que aconteceu?

Ele soltou uma respiração pesada e bruscamente me beijou, como se estivesse dizendo que não queria falar sobre nada disso. Daryl me abraçou e se levantou o suficiente para me levar até a minha cama, onde deitou e me tomou em seus braços, me deixando confortável para dormir em seu peito.

Ele sabia que eu estava com sono.

— Precisa dormir. – Ele comentou baixo

Concordei com a cabeça e fechei meus olhos antes de tampa-los com a mão, para deixar tudo mais escuro. Relaxei o meu corpo e aos poucos não ouvi mais nada, finalmente dormindo.