TWD - Segunda Temporada escrita por Gabs


Capítulo 10
Oito e Meio


Notas iniciais do capítulo

"Nebraska?"



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Fiquei ali, parada, olhando para o nada durante um bom tempo, até uma forma distorcida entrar no meu campo de visão e se abaixar. O rosto de Daryl entrou em foco. Ele estava abaixado e sem eu notar, ele havia colocado sua mão em meu ombro.

— Estou te chamando a algum tempo. – Ele me disse, me olhando como se estivesse me analisando e depois com a mão livre, tocou a minha testa e a pressionou – Você não estava aí dentro.

— Nós estávamos tão perto. – Sussurrei para ele – E agora...

Ele me abraçou em silencio, me apertou contra o seu corpo e eu choraminguei baixo. Passei alguns minutos em seus braços, remoendo a situação inteira.

— Tá legal. – Daryl murmurou e se separou um pouco de mim – Está na hora do enterro e depois precisamos queimar os outros corpos. E pra isso, você vai precisar se recompor.

Afirmei com a cabeça e respirei fundo, enquanto ele me ajudada a levantar. Em silencio, eu o segui até as três covas. Carol não veio para o enterro, ela devia estar inconsolável, mas não podíamos fazer nada em relação a isso, todos nós estávamos. Daryl estava visivelmente frustrado e irritado, eu nem precisava pensar o porquê, já que assim como eu, ele era responsável pela busca nas florestas.

Enquanto Andrea e T-Dog pegavam os corpos dos caminhantes desconhecidos e colocavam na pick-up, Dale e eu trocávamos algumas palavras. Só prestei a atenção em Rick quando ele chegou perto de nós.

— Teremos que fazer mais algumas viagens. – Comentei com ele, indicando o carro e os caminhantes mortos

— Nós tivemos sorte. – Andrea comentou também – Se aquele celeiro estivesse mais deles poderíamos ter sido dominados.

— Que bom que o Shane fez o que fez e na hora que ele fez. – T-Dog disse, depois dele e de Andrea jogarem o corpo do caminhante na pick-up

— Não pode me dizer que isso foi certo. – Dale falou para ele, se virando para olha-lo

— E não foi. – Rick afirmou – Isso vai nos custar com o Hershel.      

— Ele está de luto. – Andrea comentou suspirando – Ele vai entender. Vai ver que não tivemos escolha. Olha, eu também atirei. Não foi só o Shane.

— Olha, não tenho problemas com isso. – T-Dog nos disse – Caminhantes no meu quintal? Nem pensar.

— Não estou dizendo que não devíamos ter tomado conta do problema, mas criar um pânico? – Dale disse e balançou a cabeça negativamente – Isso...

— Chega de discussão. – Eu me intrometi na conversa – O que aconteceu, aconteceu, mesmo alguns de nós não gostando disso. Temos que lidar com as consequências agora.

— É melhor irmos andando. – T-Dog anunciou, enquanto abria a porta da Pick up e entrava

Enquanto ele e Andrea entravam no carro, Rick, Dale e eu começamos a fazer o caminho de volta para o acampamento. Não colocamos nem os nossos pés perto das barracas e Lori nos alcançou, dizendo coisas como “Hershel sumiu e Beth está em choque” e “Não conseguiram acha-lo em lugar nenhum”. Nós adentramos na casa deles e lá, encontramos Shane, Glenn e Maggie, a qual nos levou até o quarto de Hershel.

O quarto estava cheio de caixas com roupas em cima da cama, claramente Hershel estava arrumando essas coisas, para jogar fora ou guarda-las em outro lugar.

— Essas são as coisas da sua madrasta? – Rick perguntou, dando uma olhada nas roupas de uma das caixas

— Ele tinha tanta certeza de que ela se recuperaria. – Maggie comentou com a gente, ela estava encostada em uma penteadeira, com as mãos nos bolsos da calça – E que iriam retomar de onde pararam.

— Parece que ele achou uma velha amiga. – Shane comentou, pegando um refil de whisky de cima do guarda-roupa e o olhou, antes de jogar para Rick

— Isso pertencia ao meu avô, ele deu para o meu pai antes de morrer.

Escutei as palavras de Maggie e esperei até Rick entregar o refil para ela, antes de fazer um comentário.

— Achei que o Hershel não bebia. – Eu lhe disse, franzindo as sobrancelhas

— E não bebe, não mais. – Maggie me disse – Ele parou no dia que eu nasci. Ele nem permitia bebida dentro da casa.

— Tem algum bar na cidade? – Perguntei para ela, dando uma olhada para Rick, era certeza que Hershel estava por aí, bebendo.

— Hatlin’s. – Maggie respondeu – Ele praticamente vivia lá na época que bebia.

— Então é lá que o acharemos. – Rick comentou, balançando a cabeça positivamente

— É. – Glenn concordou, olhando para ele – Sei onde é o lugar. Levo vocês lá.

— Ok. – Concordei, dando um pequeno tapa em seu ombro – Vou pegar o carro pra gente.

— Tá bom. – Glenn afirmou

— Não. – Maggie nos interrompeu, segurando o braço de Glenn

— Não tem perigo. – Glenn comentou lentamente, olhando de Maggie para nós

— Como na farmácia? – Maggie retrucou

— Maggie. – Eu chamei sua atenção para mim e assim que ela me olhou continuei – Iremos traze-lo de volta. 

Sem esperar uma resposta, sai do quarto e desci as escadas, indo diretamente até a porta. Peguei um carro que caberia nós três e estacionei perto da casa, antes de me preparar para sair. Ajeitei meus coldres, coloquei mais balas reservas e um outro pente em um dos compartimentos da minha calça camuflada, como minha camiseta estava secando no varal, fiquei com a mesma parte de cima que eu dormi ontem, uma regata branca. Rick se aproximou de mim e verificou o pente de seu revolver, eu lhe entreguei mais algumas balas para o seu tipo de arma e ficamos ali, esperando Glenn.

Gostaria de me despedir de Daryl, mas o homem sumiu depois do enterro, provavelmente tirou um tempo para ficar sozinho, ele merecia.

Eu também merecia.

Mas o trabalho nunca acaba. 

Enquanto estava prendendo o meu cabelo em um rabo de cavalo, Glenn saiu da casa, seguido por Maggie. Os dois pararam na escada e se beijaram por alguns momentos, o suficiente para eu me virar para Rick e resmungar “Jovens”, como se eu fosse muito mais velha que Glenn.

— Você está pronto? – Rick perguntou para ele, assim que o viu caminhar em nossa direção

— Sim. – Glenn respondeu, segurando uma escopeta em uma das mãos

— Eu dirijo. – Anunciei, já entrando no carro e me sentando no banco do motorista

Assim que liguei o carro, os dois entraram, brinquei que eles deveriam colocar os cintos antes de dar ré e seguir o caminho até as cancelas da fazenda, a qual nos levaria de volta para a estrada.

Glenn me indicou o caminho muito bem, e não tivemos problemas para chegar até o início da cidade, só faltava achar o tal bar.

— Maggie disse que me amava. – Glenn comentou do nada

Olhei para ele por alguns estantes, antes de voltar a minha atenção para a rua e minha direção.

— E aí? – Perguntei, mantendo meus olhos na rua

— E aí que ela não falou sério. – Glenn disse e soltou um riso – Digo, não pode ser. É que.... Bem, ela está triste, ou confusa. Talvez esteja se sentindo, tipo...

— Acho que ela é esperta o bastante para saber o que sente. – Rick comentou com ele

— Não. – Glenn afirmou – Não.

— Glenn... – Murmurei segurando a risada

— Não, quer saber? – Glenn perguntou ainda negando – Ela quer se apaixonar então ela precisa de alguma coisa para tipo, pra se apegar.

— Glenn, é bem óbvio para todos que a Maggie te ama, - Rick o interrompeu e eu concordei com alguns múrmuros – e não é só porque você é um dos únicos homens disponíveis. Então, qual é o problema?

— Não disse que a amava de volta. – Glenn respondeu, depois de alguns segundos em silencio – Nunca uma mulher me disse isso antes. Sabe, a não ser minha mãe, é claro, e minhas irmãs. Mas, com Maggie, é diferente. Digo, nós mal nos conhecemos. O que ela sabe mesmo sobre mim? Nada. Somos praticamente estranhos. Eu só fiquei lá como um idiota.  

— Ei. – Tirei uma mão do volante e dei um tapinha amigável em sua mão, que estava apoiada no meu banco – Ei, isso é uma coisa boa. É uma coisa que não temos muito hoje em dia. Aproveite, aproveite muito. E quando voltarmos, fale pra ela. Ela não vai a lugar nenhum mesmo.

Glenn concordou com a cabeça e então Rick se virou para mim.

— E você e Daryl? – Ele me perguntou, emiti um som de surpresa por ouvi-lo tocar nesse assunto – Todos notamos que vocês ficaram próximos.

— Estão namorando. – Glenn comentou em seguida, dando uma olhada para Rick, o qual balançou a cabeça positivamente, como se aprovasse o relacionamento

— Não estamos namorando. – Anunciei, deixando as coisas claras – Estamos nos conhecendo... intimamente. E acabou que Daryl passou a ser muito mais suportável do que quando estávamos na pedreira.

Eles riram e eu resmunguei alto, perguntando para eles por que comigo tinha que ser assim e com Glenn tinha que ser de outro jeito? Estacionei o carro e o desliguei, tínhamos chegado. O lugar estava deserto, mas não tínhamos como arriscar e por isso, trouxemos nossas armas.

— Rick? – Glenn o chamou, antes de sairmos do carro – Eu sei sobre a Lori, da gravidez dela. Eu que busquei as pílulas.

— Eu imaginava. – Rick comentou, saindo do carro primeiro

Abri a porta e sai, depois de fechar o vidro do carro, como se estivesse com medo de que alguém pudesse roubar. Deixei minha pistola em punho, para ficar preparada se algo acontecer. Glenn saiu do carro e trouxe consigo sua escopeta.

— Ei, desculpa não ter falado com você. – Glenn lhe disse

— Tudo bem. – Rick se virou para ele, enquanto nos afastávamos do carro e seguíamos para o bar – Você fez o que achou que era certo. Só que acabou não sendo.

Segui o caminho na frente, com a arma apontada para o chão. Indiquei a porta do bar para Rick e ele a abriu, não muito silenciosamente. Em silencio, Hershel estava lá na frente do bar, sentado. Glenn e eu verificamos o perímetro, enquanto Rick se ocupava com o velho veterinário.

— Hershel. – Rick o chamou, apenas para ver se era ele mesmo ou se tinha virado um dos caminhantes

— Quem está com você? – Hershel perguntou e nós abaixamos nossas armas

— Gabriela e Glenn. – Rick respondeu, olhando para cada um de nós enquanto dizia nossos nomes

— A Maggie os mandou? – Hershel perguntou para ele

— Se voluntariaram. – Rick respondeu em seguida – Eles são ótimas pessoas.

Eu me aproximei da bancada onde Hershel estava sentado e me sentei ao seu lado, avaliando o estado das bebidas e decidindo se tomaria alguns goles. Mas isso certamente seria incentivar o Hershel a continuar bebendo.

— Quantos você já bebeu? – Perguntei a ele, enquanto pousava minha pistola em cima da minha perna

— Não o bastante. – Hershel respondeu

Rick se aproximou de nós e se apoiou no balcão, do outro lado de Hershel.

— Vamos terminar isso lá em casa. – Rick lhe disse – A Beth desmaiou. Ela está num certo estado. Deve estar em choque. Eu acho que você também está.

— Maggie está com ela? – Hershel perguntou, olhando para ele

— Sim. – Rick respondeu e o velho voltou a olhar para o seu copo – Mas Beth precisa de você.

— O que eu poderia fazer? – Hershel perguntou para ele – Ela precisa da mãe dela. Ou talvez de luto. Como deveria ter tido há semanas. Eu roubei isso dela. Eu vejo isso agora.

— Achou que havia uma cura. – Rick lhe disse, depois de alguns segundos em silencio – Não pode se culpar por ter esperança.

— Esperança? – Hershel repetiu e riu pelo nariz – Quando te vi correndo pelo meu pasto com seu filho nos braços, não tinha esperança que ele sobreviveria.

— Mas sobreviveu. – Rick comentou

— Sobreviveu. – Hershel concordou com ele – Mesmo perdendo o Otis e aquele rapaz, Jones. Seu amigo Shane conseguiu voltar e salvamos seu filho. Esse foi o milagre que provou para mim que milagres existem. Só que foi uma pena, uma isca e uma virada. Eu era um tolo, Rick. E vocês viram isso. Minhas filhas merecem coisa melhor.

Hershel virou o copo e o álcool na boca e Rick me encarou, indicando Glenn com a cabeça. Eu me levantei e segui até o coreano, ouvindo os passos de Rick atrás de mim. Quando cheguei perto de Glenn, soltei um suspiro cansado.

Ele iria dar trabalho.

— Então, o que faremos? – Perguntei baixo para os dois – Esperaremos ele apagar?

— Apenas vão embora. – Hershel mandou, elevando a voz – Vão embora.

— Prometi a Maggie que te levaria para a casa a salvo. – Rick lhe disse

— Como prometeu a aquela garotinha? – Hershel perguntou, dando uma risada debochada

— Então qual é seu plano? – Rick perguntou para ele, depois de alguns segundos e caminhou até ele – Vai terminar a garrafa? Beber até morrer e deixar suas filhas sozinhas?

— Pare de me dizer como devo cuidar da minha família, minha fazenda. – O velho se levantou, parecendo bravo e se virou para Rick – Vocês são como uma praga. Eu fiz o que é cristão, lhes dei abrigo, e vocês destruíram tudo.  

— O mundo já estava bem ruim quando nos conheceu. – Rick retrucou, caminhando para mais perto dele

Dei um passo para frente, em direção a eles, mas a mão de Glenn me segurou pelo braço e apenas com um gesto de cabeça me disse que não seria uma boa ideia alguém como eu entrar naquela discussão.

Eu sabia que não era, mas alguém tinha que colocar juízo na cabeça daquele velho fazendeiro.

— E você não assume responsabilidade. – Hershel continuou a falar, encarando Rick nos olhos – É pra você ser o líder deles.

— Bom, eu estou aqui agora. – Rick elevou a voz, ele estava quase gritando com o velho – Não estou?

— Está. – Hershel respondeu respirando fundo - Está. Você está sim.

Hershel atravessou o bar e voltou a se sentar onde estava antes, para continuar com a bebedeira. Rick foi até ele novamente e tocou em seu braço.

— Vamos. – Ele lhe pediu – Suas filhas precisam de você mais do que nunca.

— Eu não quis acreditar em você. – Hershel disse, se livrando da mão de Rick e se virou novamente para ele – Você me disse que não havia cura, que essas pessoas estavam mortas, não doentes. Escolhi não acreditar nisso. Mas quando Shane atirou no peito de Lou e ela continuou andando, foi quando soube como fui idiota. Que Annette já havia morrido há muito tempo e eu estava dando comida para um corpo apodrecido. Foi quando soube que não existe esperança. E quando aquela garotinha saiu do celeiro... o olhar no seu rosto? Eu soube que você sabia também. Não é? Não existe esperança. E você sabe disso agora, como eu sei. Não sabe? – O idoso respirou fundo novamente – Não existe esperança para nenhum de nós.

Rick olhou de mim para Glenn. Crispei meus lábios e me aproximei deles, estava cansada e eu só queria voltar para casa e chorar de frustação pela morte de Sophia.

Eu não precisava daquela choradeira desnecessária.

— Olha só, cara. – Comecei a falar, olhando diretamente para Hershel e percebi que Rick me olhou com cautela – Sabe qual é a verdade? – Perguntei para ele e não esperei uma resposta antes de continuar – Nada mudou. Morte é morte e ela sempre existiu. Seja por câncer, por uma bala perdida ou um caminhante. Qual é a diferença? Você não achava que não tinha esperança antes, não é? E agora há pessoas naquela fazenda tentando sobreviver. E elas precisam de nós. – Respirei fundo, balançando a cabeça negativamente - Mesmo se for só para dar uma razão para persistirem, mesmo se não dermos a mínima ou não acreditarmos nisso. A verdade é que tudo isso, - Apontei ao redor – não tem mais a ver com o que acreditamos. Tem a ver com as pessoas que gostamos, as pessoas que estão lá nos esperando voltar.

Hershel escutou e continuou em silencio depois que terminei de falar. Recebi um olhar de aprovação de Rick e notei que Glenn estava perto de nós, não sei se para me segurar se eu perdesse a razão ou só para se sentir parte da conversa. Continuando em silencio, Hershel bebeu o último gole da sua bebida e colocou o copo com a boca para baixo na bancada.

Meu corpo relaxou com esse gesto, Rick apoiou a mão no ombro de Hershel e quando ele se levantou, escutamos a porta se abrir. Minha mão apertou minha pistola ao ver dois homens desconhecidos parados lá, olhando para nós quatro.

— Filho da puta! – Um deles falou, o alto e magro – Eles estão vivos.

Nós ficamos em silencio e um aviso de Rick me fez colocar a minha pistola no coldre, eu obedeci, mas a deixei destravada, caso precisasse usar.

Os dois homens entraram e cheios de sorrisos se serviram de uma bebida, eles se acomodaram em mesas e cadeiras próximas de nós.

— Sou Dave. – O homem alto e magro se apresentou e depois indicou o outro homem, mais gordo e baixo com a cabeça – E aquele saco de estrume ali é o Tony.

— Dane-se, Dave. – Tony retrucou rindo, estava sentado na bancada, perto de Hershel

Me encostei na parede, perto de Glenn, que estava atrás do balcão e acompanhei os movimentos deles. Nunca fui de confiar em pessoas muito fácil, na verdade, nunca gostei muito de pessoas.

— Ei, não seja assim, meu. – Dave disse sorrindo – Nos conhecemos na i-95 vinda de Filadélfia. Aquilo foi um show de horrores.

— Eu sou Glenn. – O coreano se apresentou, com um sorriso amigável nos lábios – É bom conhecer pessoas novas.

— Rick Grimes. – Rick se apresentou, ao dar um pouco de bebida para Glenn e depois me estendeu um copo de whisky e ao me ver pegar, ele resolveu me apresentar – Esta é a Primeira-Tenente Lopes, mas nós a chamamos de Gabriela.

Recebi um sorriso caloroso de Dave, o qual eu relevei antes de entornar a bebida. O Whisky desceu raspando por minha garganta.

Daryl iria adorar um desses.

— E quanto a você, amigo? – Dave perguntou apontando para Hershel – Quer uma?

— Eu parei. – Hershel lhe respondeu

— Foi uma ótima hora para isso, meu amigo. – Dave comentou sorrindo

— O nome dele é Hershel. – Rick o apresentou – Ele perdeu muitas pessoas hoje, muitas mesmo.

— Eu sinto muito saber disso. – Dave comentou a ele, desmanchando o sorriso que tinha nos lábios e ergueu seu copo – À dias melhores e novos amigos, - ele me olhou – talvez algo mais. E aos nossos mortos, que estejam em um lugar melhor.

Ergui o meu copo vazio e observei os outros beberem. Estava ficando nervosa, aquele homem estava se jogando para cima de mim como se não houvesse amanhã. Algo em sua cintura me chamou a atenção, ele estava armado.

— Nada mal, né? – Ele perguntou, chamando a atenção dos outros e pegou a arma do cós da sua calça e a colocou na palma da mão – Eu a tirei de um policial.

— Eu sou um policial. – Rick comentou em seguida

— Mas aquele já estava morto. – Dave lhe disse e depois sorriu, enquanto guardava a arma

— Vocês estão muito longe de Filadélfia. – Eu comentei e ao ouvir minha voz, Dave olhou diretamente para mim, como se estivesse gostando

— Parece que estamos longe de qualquer lugar. – Dave também comentou

— E o que os trouxeram para o sul? – Perguntei novamente, estava buscando mais informações sobre os desconhecidos

— Bom, posso lhe dizer que não foi o clima. – Dave disse em tom de brincadeira e passou a mão no rosto – Devo ter perdido 16 kg só suando.

— Quem dera. – Tony comentou rindo, claramente brincando pelo fato dele ser gordo

— Não, primeiro foi Washington. – Dave nos contou – Soube que podia haver um tipo de campo de refugiados, mas as estradas estavam entupidas. Nós nem chegamos perto. Decidimos sair das rodovias, ir para as cidades menores ver o que tinha. Todos os grupos que encontramos tinha um rumor novo sobre o jeito de sair dessa situação.

— Um cara nos disse que a guarda costeira estava no golfo mandando balsas para as ilhas. – Tony comentou com a gente

— O último foi um pátio ferroviário em Montgomery mandando trens para o meio do país, - Dave disse - Kansas, Nebraska...

— Nebraska? – Glenn perguntou ligeiramente interessado

— Pouca população, - Tony explicou - muitas armas.

— Isso faz sentido. – Glenn murmurou

— Já esteve em Nebraska, garoto? – Dave perguntou para ele – Não o chamam de estado pacato à toa. – Ele e o amigo riram – E quanto a vocês?

— Forte Benning, pelo jeito. – Rick respondeu por nós

— Odeio tirar o seu barato, policial, mas... – Dave começou a falar e ficou um pouco em silencio – encontramos um tipo que estava estacionado no Benning. Disse que o lugar foi tomado por essas coisas.

— Não acredito. – Retruquei logo em seguida, sentindo meu estomago dar voltas – Aquele lugar só tem os melhores, meus homens estão lá.

— Infelizmente é verdade. – Dave comentou me olhando e depois passou a olhar para os outros – Mas a verdade é que não existe saída desse caos. Ficamos indo de uma ilusão para a próxima rezando para que uma dessas aberrações não arranquem um pedaço de você enquanto dorme.

— Se puder dormir. – Tony acrescentou em seguida

— Ei, não parece que vocês estão alojados aqui. – Dave comentou depois de soltar um suspiro – Vocês estão em outro lugar?

— Não realmente. – Rick respondeu, depois de uns segundos em silencio

— Aqueles carros lá fora são de vocês? – Dave retornou a perguntar

— São. – Glenn respondeu – Por que?

— Estamos morando no nosso. – Dave respondeu – Os seus parecem um pouco meio vazios, limpos. E seus equipamentos?

Um sorriso frio se formou em meus lábios, já que todo aquele interesse não passou despercebido por mim e nem por Rick, que já estava em alerta e evasivo.

Aqueles homens não eram gente boa.

— Estamos com um grupo maior, viemos andar. – Hershel respondeu, também já evasivo as perguntas – Pensamos em tomar uma bebida.

— Bebida? – Dave perguntou em seguida – Hershel, achei que tivesse parado. Bom, estamos pensando em nos alojar por aqui. Aqui é seguro?

— Pode ser. – Glenn respondeu, era o único mais amigável do nosso grupo, talvez já tinha percebido, mas continuou do mesmo jeito – Só que eu já matei alguns caminhantes por essas bandas.

— Caminhantes? – Dave perguntou sorrindo – É como os chamam?

— É. – Glenn respondeu

— É legal. – Dave comentou – Gostei disso. Gosto mais do que de cabeças ocas.

— Mais sucinto. – Tony comentou também

— Ok, o Tony fez faculdade. – Dave anunciou rindo

— Dois anos. – Tony acrescentou

Eu apenas lhes dei um pequeno e forçado sorriso. Todos ficamos quietos, estava na cara que eles estavam tramando alguma e eu estava feliz em ver que eu não era a única a ver isso.

— E então? – Dave nos perguntou – Estão alojados nas redondezas, ou algo assim? É uma nova área?

— Área de trailers ou algo assim? – Tony perguntou se levantando e atravessou o bar, ficando de costas para nós – Uma fazenda?

— O velho Mcdonald tinha uma fazenda... – Dave cantarolou e Tony riu da música desconhecida por mim – Tem uma fazenda? – Ele perguntou novamente

O barulho de água caindo me chamou a atenção, olhei para o lado, onde Tony estava e meu corpo encheu de raiva. O filho da puta estava mijando em um canto do bar, cantarolando “ia-ia-ou”. Olhei furiosa para Rick e crispei meus lábios. Com um olhar, Rick me pediu para ficar calma.

— É segura? – Tony perguntou, ainda mijando

— Tem que ser. – Dave comentou – Vocês têm comida? Água?

— Tem mulheres? – Tony perguntou – Iguais a essa? Eu não agarro uma buceta a semanas.

Me desencostei da parede tão bruscamente que Glenn se esticou para colocar a mão no meu ombro e apertar. Rick esticou o braço na minha frente quando notou que eu ameacei andar.

— Escuta, desculpem meu amigo. Ele é da cidade, não tem tato. – Dave nos pediu, passando a mão no rosto e depois ele me olhou – Ele não quis te ofender Gabriela, com todo o respeito. Então, escuta, Glenn. – Ele mudou de assunto

— Já dissemos o bastante. – Eu o interrompi friamente, colocando o meu copo de bebida em cima do balcão do bar

— Bom, espera um pouco. – Dave soltou uma risadinha – Essa fazenda, parece ser muito legal. Não parece ser legal, Tony?

— É. – Tony concordou, se aproximando de nós novamente e já com o pinto dentro das calças – Bem legal.

— Que tal um pouco de hospitalidade sulista? – Dave perguntou – Temos uns amigos no acampamento. Estão sofrendo um bocado. Não vejo por que vocês não podem receber mais um pouco. Podemos aumentar nossos recursos. Nossa força.

— Olha, desculpa. – Rick lhe disse – Mas não é uma opção.

Os dois ficaram quietos e de canto de olho, vi Tony olhando para Dave.

— Não achei que seria um problema. – Dave comentou, fazendo uma leve careta

— Desculpa, - Hershel repetiu o que Rick disse - não podemos.

— Não podemos aceitar mais ninguém. – Rick completou a fala do velho

— Vocês são uma peça mesmo. – Dave comentou, depois de rir – Eu achei, sabe. Achei que fossemos amigos. Olha, nós temos pessoas para cuidar também.

— Nós não sabemos nada sobre vocês. – Rick lhe disse, dando uma desculpa aceitável

— É. – Dave concordou – É verdade. Vocês não sabem nada sobre nós. – Ele ficou um tempo olhando para nós – Não sabem o que tivemos que passar lá fora. As coisas que tivemos que fazer. Aposto que tiveram que fazer essas coisas também, não é mesmo? – Nos perguntou, mas continuamos em silencio e por isso ele continuou – Porque não sobrou uma mão limpa no que restou deste mundo. Somos todos iguais. Então, vamos lá dar uma volta nessa fazenda e nos conhecer melhor.

— Não. – Comentei com ele – Isso não chega nem perto de acontecer. 

— Gabriela. – Dave disse meu nome, rindo um pouco

— Mas que palhaçada. – Tony disse alto

— Fica calmo aí. – Rosnei, dando uma olhada para o homem gordo

— Não me diga pra me acalmar. – Ele retrucou alto – Nunca me diga para me acalmar. – Soltei um riso e encarei ele – Foda-se se você é gostosa, não vale tudo isso. Vou atirar na cabeça de vocês quatro e tomar a droga da sua fazenda.

Mesmo antes dele terminar de falar besteiras, eu fui pra cima dele e o encarei de frente. Rick se levantou e Dave se levantou também para intervir com o que estava prestes a acontecer.

— Você pode até latir, mas não morde. – Falei pra ele, de um jeito rápido e duro – Te derrubo no chão em segundos e ainda limpo aquele seu mijo com o seu rosto, gordo do caralho. Você vai me implorar para morrer.

— Ou, Ou, Ou. – Dave se meteu no nosso meio, estendendo os braços, estava calmo, apesar de tudo – Relaxem. – Ele olhou para o amigo – Fica calmo. Ninguém vai matar ninguém. – Ele sorriu e me deu um tapinha no ombro, antes de em direção a bancada do bar e pular, ficando do outro lado – E ninguém vai atirar em ninguém. Não é, Gabriela? – Ele colocou a arma em cima do balcão – Viu? Somos apenas amigos tomando uma bebida, só isso. – Ele sorriu novamente e olhou para o bar – Agora. Onde estão as coisas boas? Vamos ver... – Quando ele fez menção de abaixar no bar, eu levei minha mão até a minha pistola, assim como Rick e isso chamou a atenção de Dave, o qual se levantou novamente, com uma garrafa em mãos – Ei, olha só isso. Essa vai dar. – Ele abriu a garrafa e serviu um copo – Vocês precisam entender. Não podemos ficar por aí. Vocês sabem como é.

— É, sabemos. – Rick concordou – Mas a fazenda já está muito cheia como está. Sinto muito. Vão ter que continuar procurando.

— Continuar procurando. – Dave repetiu – Onde sugere que façamos isso?

— Eu tenho uma ideia. – Eu lhe respondi, fingindo um sorriso – Disseram que Nebraska é legal, talvez deva tentar. Sabe como é, pouca população, muitas armas...

— Nebraska. – Dave disse rindo e depois parou – Essa mulher...

Antes mesmo dele alcançar sua pistola eu saquei minha arma e atirei em seu rosto, ouvi mais dois tiros e me virei, Rick tinha me ajudado com o homem gordo e o matado.

Glenn e Hershel se aproximaram de nós, eles estavam quietos, mas certamente entendiam que o que fizemos era necessário para o nosso bem-estar.

Para o bem-estar do grupo.

— Puta merda. – Glenn murmurou

— Você está bem? – Perguntei para ele, enquanto guardava minha pistola de volta no coldre

— Estou. – Ele respondeu levemente

— Hershel? – Rick lhe perguntou

O idoso ficou um pouco em silencio, mas por fim afirmou com a cabeça.

— Vamos voltar. – Hershel nos disse

Enquanto Rick se abaixava para pegar a escopeta e a munição de Tony, eu olhei ao redor, nem tinha percebido que já estava de noite. Aqueles desgraçados me roubaram muito tempo. Glenn pegou a arma de Dave e nós nos preparamos para sair, coisa que tínhamos que ter feito a muito tempo. Porém, ao chegar na porta um farol alto iluminou o lugar e nós nos abaixamos, com sussurros de Rick dizendo: “Carro! Carro! Abaixem! ”.

Colei minhas costas na parede ao lado da porta e me abaixei, a minha direita, Rick estava abaixado em baixo da janela e a minha esquerda estava Hershel, imitando meus movimentos. Glenn estava abaixado do outro lado da porta.

O carro pareceu que deu voltas e aparentemente não tinha apenas um. Eles estavam dando voltas na rua e um deles estacionou, algo que nos fez nos encaramos.

Lidar com caminhantes era fácil, já que eles não atiravam de volta.

Peguei novamente minha pistola e a deixei em punho, facilitando o uso.

— Dave? – Uma voz masculina chamou – Tony?

— Eles disseram aqui? – Outra voz perguntou

— É. – A primeira voz respondeu

— Estou falando cara, eu ouvi tiros. – Uma terceira voz comentou – Vi mais errantes, duas ruas pra baixo. Está perigoso. Temos que cair fora daqui.

— Dave? – Uma voz mais perto chamou alto, ao mesmo tempo que ouvi passos fora do bar – Tony?

— Cala a boca, seu idiota. – Um deles lhe deu uma bronca – Você quer atrai-los? Fique por perto. Nós vamos acha-los.

Ouvi um barulho na porta e segurei a respiração.

— Cara, ele falou para ficar perto. – Falaram e a pessoa que estava na porta se afastou

— Tony? – O chamaram novamente

Rick se levantou e espiou pela janela, para depois, ainda abaixados, nos reunirmos do outro lado da porta, onde estava Hershel e Glenn.

— Por que eles não vão embora? – Glenn perguntou aos sussurros

— Você iria? – Hershel lhe perguntou, no mesmo tom de voz

— Não podemos ficar aqui por mais tempo. – Rick sussurrou também, gesticulando com a mão – Vamos pelos fundos e ir correndo até o carro.

Nós concordamos e assim que nos levantamos, escutamos barulhos de tiro, o que logicamente nos fez buscar cobertura e nos abaixarmos. Novamente, grudamos nossas costas na parede perto da porta e deixamos as armas prontas.

— O que aconteceu? – Um dos homens perguntou lá fora

— Errantes. – O outro respondeu – Eu os matei.

— Eles desapareceram, - Uma voz diferente anunciou - mas o carro deles ainda está lá. 

— Eu já olhei naqueles prédios. – O outro comentou – Vocês já viram neste aqui?

— Não.

— Eu também não.

Pelo barulho, eles começaram a caminhar em direção ao nosso prédio, o bar.

— Estamos atrás do Dave e do Tony e ninguém olhou na droga do bar? – O que fez a pergunta antes disse nervoso

O barulho de madeira rangendo nos deu a localização deles e nós apontamos as armas para a porta. Quando um deles foi abrir a porta, Glenn se movimentou rápido e a fechou, sentando de costas para a porta e os impedindo de entrar.

— O quê? – Um dos caras perguntou, confuso

— Empurraram a porta. – O outro homem disse – Tem alguém aí dentro. Yo, tem alguém aí dentro? – Ele perguntou alto – Não queremos confusão. Só estamos procurando pelos nossos amigos.

Olhei para os homens do meu grupo, pensando no que fazer para ajudar Rick a tirar todos dali vivos e sem ferimentos. 

— O que vamos fazer? – Um deles perguntou

— Arrombamos a porta? – Outro sugeriu

Eu estava confusa, em quantos eles estavam, mas se eram como Dave e Tony, não eram flores para se cheirar.

— Não. – O homem respondeu – Não sabemos quantos tem aí dentro. Fiquem calmos. – E então ele elevou a voz, para falar conosco – Não queremos nenhum problema. Só estamos procurando pelos nossos amigos. Se alguma coisa aconteceu, nos diga. Este lugar está cheio de corpos. Se nos ajudar a não sermos mortos, eu agradeceria.

Olhei para Rick, o qual parecia estar tendo uma luta interna. Ele está tão confuso quanto eu. Mordi meus lábios e apertei a pistola na minha mão.

— Você está viajando. – Um dos homens lá fora comentou – Já disse, não tem ninguém aí dentro.

— Alguém vigie a porta. – O homem disse baixo, mas mesmo assim escutamos – Se estiverem aí dentro, podem saber onde Dave e Tony estão.

Escutei os passos se afastando e antes de fazer alguma coisa, Rick deu a eles o que queriam.

— Atiraram em nós. – Rick disse alto e recebeu nossos olhares para si

Agora não tínhamos como escapar despercebidos, nossa vantagem tinha acabado e se Rick não acertasse as coisas, teríamos que lutar para sair.

— O Dave e o Tony estão aí? – O mesmo cara de antes perguntou alto, sua voz estava meio distante – Eles estão vivos?

— Não. – Rick respondeu alto

— Mataram o Dave e o Tony. – Um deles falou

— Anda, cara. – Outro comentou – Vamos embora.

— Não. – O mesmo cara que estava falando com a gente negou – Eu não vou embora. Não vou contar à Jane. Não vou contar a eles que o Dave e o Tony foram mortos por uns idiotas num bar.

— Seus amigos atiraram em nós! – Rick gritou para eles – Eles não nos deram escolha! Tenho certeza que todos nós já perdemos muitas pessoas! Fizemos coisas que queríamos não ter feito, mas é assim agora! Você sabe disso! Então vamos deixar as coisas como estão! Lugar errado, hora...

Ele foi interrompido por um tiro, o qual acertou o vidro da porta em que Glenn estava encostado e por isso, ele se abaixou, assustado. Eu me levantei em seguida e aproveitei o buraco na porta para atirar no que quer que se movesse lá fora, enquanto gritava para meu grupo sair daqui. Os três correram, com a supervisão de Rick e assim que os tiros começaram a vir do outro lado da rua, eu me encostei na parede ao lado da porta, pegando proteção. Percebi que Rick, Hershel e Glenn estavam pegando cobertura mais a dentro no bar e eu fiquei desconfortável ao ouvir que os tiros haviam parado.

Eles estavam quietos e estavam fazendo alguma coisa.

Tirei o pente da minha pistola e olhei quantas balas tinham, um pouco mais da metade. Sorte que eu sempre andava com mais um pente reserva e mais algumas balas soltas, para se alguma coisa como essa acontecer ou encontrarmos bandos de caminhantes.

— EI! – Berrei para os homens do lado de fora, já que estavam a tempo demais em silencio – NÓS SABEMOS QUE ISSO NÃO VAI ACABAR BEM. VÃO EMBORA ENQUANTO PODEM E NINGUÉM MAIS VAI SAIR FERIDO.

Como não recebi resposta, dei uma olhada para Rick e afirmei com a cabeça, indicando os fundos do bar. Ele passou o mesmo olhar para Glenn e meio relutante, o coreano saiu de onde estava escondido e correu para os fundos do bar. Eu fiquei ali, encostada do lado da porta esperando alguma resposta de Glenn por alguns segundos e estes já foram os piores segundos de todos os tempos. Meu estomago revirou quando escutamos um tiro e sem pensar muito, gritei por meu amigo, ficando tranquila quando sua voz respondeu que estava bem. Sai da onde estava e fui me reunir com Rick e Hershel, que estavam atrás de um armário de bebidas.

— Ok. – Eu disse a eles, tentando controlar a minha respiração – Vou segura-los aqui por um tempo, quero que vocês dois vão cobrir o Glenn lá atrás e peçam para ele trazer o carro pra cá, a chave está no porta-luvas. Vamos dar o fora daqui.

— Tem certeza disso? – Rick me perguntou

— Muita certeza. – Respondi, afirmando com a cabeça

— Eu vou cobrir o Glenn? – Hershel perguntou, repetindo o que eu lhe pedi 

— Você perdeu o treinamento com armas. – Resmunguei para ele – Poderia ser bem útil agora.

— Não, eu sei atirar. – Hershel comentou, checando os pentes da pistola que antes era de Dave – Só não gosto.

Rick e Hershel foram para os fundos do bar e eu fiquei ali, sozinha, no completo silencio. Só me movi quando escutei tiros vindo de onde Rick e Hershel tinham ido e sai correndo, seguindo os barulhos de tiros. Quando cheguei até a porta dos fundos, encontrei Hershel e Rick ali, olhando para um homem caído, chorando alto.

— O que aconteceu? – Perguntei depressa, num tom baixo

— Ele atirou. – Hershel respondeu, olhando para o homem caído na grama, chorando – Deve ter acertado o Glenn. Ele está atrás do contêiner. Parece que ele não está se movendo.

— Socorro! – O homem chorando gritou

— Ok. – Murmurei, respirando fundo e depois olhei para Rick – Dê um jeito naquele ali, eu vou ver o Glenn. Cubram minhas costas.

— Me ajuda!

Antes de receber uma resposta, passei pela porta e me encostei na parede enquanto andava apontando a minha pistola para o chão. Quando cheguei até o contêiner de lixo, encontrei Glenn sentado, olhando para o nada com a escopeta em mãos, parecia em estado de choque.

— Foi baleado? – Perguntei para ele e assim ele balançou a cabeça negativamente eu me agachei ao seu lado, encostando minhas costas no contêiner – Está tudo bem, Glenn. – Murmurei para ele, da forma mais doce que consegui no momento e toquei em seu braço – O nosso carro está bem ali.

— Ok. – Ele sussurrou

— Estamos quase em casa, amigo. – Falei para ele e respirei fundo, ainda sentindo a adrenalina tomar conta do meu corpo – Você está bem?

— Estou bem. – Glenn murmurou – Estou bem.

Com o homem do outro grupo ainda chorando lá no gramado, eu me preparei para sair da cobertura novamente. Tirei minha mão do braço de Glenn e segurei a minha pistola com as duas mãos.

— Vamos. – Sussurrei e assim que saí de trás do contêiner, eles atiraram e por isso nós voltamos para a cobertura – Droga. – Murmurei, e tentei olhar para onde os tiros tinham vindo, tinha um cara em cima de uma farmácia, apontando a arma para nós – Tem um deles em cima da farmácia do Steve.

Antes de falar mais alguma coisa, um carro chegou em alta velocidade e freou em frente a farmácia.

— Vamos embora! – O motorista gritou – Os errantes estão por todo lado! Anda logo! Temos que sair fora daqui!

— E quanto ao Sean? – O cara de cima da farmácia perguntou

— Atiraram neles! – O motorista respondeu gritando – Temos que ir! Os errantes estão por todo lado!

— Estamos indo embora? – O cara da farmácia perguntou novamente

— Pula! – O motorista gritou – Vai rápido! Pula logo!

— Estou indo!

Observei o cara de cima do telhado da farmácia pular para o prédio do lado e escorregar, caindo em algo que o carro deles tampou, apenas escutamos o grito.

— O cara não conseguiu. – Glenn murmurou

— Socorro! – O cara que tinha acabado de cair gritou – Me ajuda! Me ajuda!

— Tenho que ir! – O motorista do carro gritou de volta – Eu sinto muito!

— Não, não, não me deixa! – O cara gritou, ao ver o carro do amigo acelerar e se distanciar dele cada vez mais – Me ajuda! Não! Não!

— Vai buscar o Rick e o Hershel. – Falei pra Glenn e me preparei para sair da cobertura novamente

Sem esperar um aceno positivo com a cabeça, sai andando em passos largos pela rua, praticamente correndo até o cara que tinha caído. Ouvi gritos desconhecidos atrás de mim e tiros, junto com gemidos conhecidos.

Os caminhantes estavam aqui.

Assim que cheguei onde o cara tinha caído, meu estomago revirou violentamente. Era apenas um menino e estava deitado em cima de um contêiner de lixo, com o joelho atravessado na lança da grade, ele gritava por minha ajuda sem ao menos se importar pelo fato de que a poucos momentos, estava tentando me matar.

— Gabi! – Glenn me chamou, por cima dos pedidos de ajuda do menino

Dei uma olhada para trás e percebi que os três estavam a poucos passos de mim. Olhei deles para o menino e crispei os lábios.

— Nós temos que ir agora. – Hershel me disse, enfatizando a última palavra

— Não! – O garoto nos pediu, desesperado

— Sinto muito, filho. – Hershel lhe disse, tocando em seu joelho bom – Nós temos que ir.

— Não! – O menino pediu, levantando o quanto podia – Não me deixem, por favor.

— Nós temos que ir. – Hershel disse, se virando novamente para mim

— Nós não podemos. – Eu lhe disse, meio aflita

— Ele estava atirando em nós! – Glenn falou perplexo, apontando para o cara

— Ele é um garoto! – Retruquei do mesmo jeito

— Por favor. - O garoto pediu choramingando. - Me ajudem.

— Este lugar está cheio de caminhantes! – Glenn elevou a voz

— Não podemos deixá-lo! – Retruquei novamente e me virei para Rick, ansiosa e aflita – Ele é só um menino, nós não podemos.

— A cerca atravessou direto. – Hershel nos disse, pegando a perna do garoto e a examinando – Não há como tirar a perna inteira daí.

O coreano chaqualhou a grade e o menino gritou de dor.

— Cala boca! – Rick mandou, apontando o seu revolver para ele – Cala a boca, ou atiro em você!

— Talvez essa seja a resposta. – Hershel comentou e puxou Rick e eu pelos braços para conversar um pouco longe do menino – Não vamos conseguir tirar a perna sem afetar os músculos. Ele certamente não vai poder correr. E pode ter hemorragia.

Escutamos um grito angustiado e quando olhei para trás, vi o coreano largando a pena dele.

— Desculpa. – Glenn lhe disse depressa – Cala boca. Cala boca.

— Talvez seja melhor matá-lo. – Hershel sugeriu e nós o olhamos, sem acreditar que estávamos escutando isso logo dele – Eu não quero ver mais matança, mas isso é crueldade.

— Não dá para cortar a perna? – Glenn perguntou para o veterinário, de um jeito rápido

Nós ficamos em silencio, considerando a sua pergunta.

— A machadinha ainda está no carro? – Rick perguntou para Glenn

— Está. – Glenn respondeu

— Não! – O menino implorou – Não! Não. Não corte a minha perna, por favor.

— Vai ter que cortar o osso. – Rick comentou, puxando uma faca de caça e mostrando para Hershel

— Vou ter que cortar os ligamentos abaixo da rótula, - Hershel nos disse, explicando com todo aquele papo médico - cortar acima da tíbia. Ele vai perder a perna de baixo.

— Não corte! – O menino implorou – Não.

— Quando cortarmos a perna teremos que usar uma brasa para cauterizar a ferida para ele não ter hemorragia. – Hershel continuou explicando

— Bom, não temos escolha. – Rick comentou – Se apresse.

— Ah, Deus. – O menino murmurou alto – Ah, Deus. Não!

Rick abaixou deitou o menino a força no contêiner enquanto eu seguia as extrusões de Hershel e lhe entregava o que ele precisava. O menino estava chorando muito alto e reclamando da dor.

— Pessoal, - Glenn nos chamou – caminhantes!

— Cala a boca! – Rick disse para o menino

O menino gritou de dor e Rick tampou sua boca, deixei Hershel trabalhando sozinho e fui para perto de Glenn, ajuda-lo com os caminhantes.

Eram muitos.

E estávamos em quatro, sendo que dois estavam ocupados.

Estávamos ferrados.

Glenn e eu começamos a atirar nos caminhantes que estavam se aproximando, ouvi outros tiros e supus que Rick estava atirando neles também, porque com certeza eles estavam em toda parte.

— Hershel, como vai indo aí? – Perguntei alto, para ele escutar

— Preciso de mais ajuda. – Rick anunciou, tão alto quanto eu

Meu coração deu uma palpitada quando eu apertei o gatilho e um som oco saiu, com pressa, tirei o pente vazio e o coloquei no bolso, logo pegando o pente cheio e recarregando a minha pistola. O coreano resmungou ao meu lado quando checou sua munição.

— VAMOS, TEMOS QUE IR! – Glenn berrou, olhando para os outros – ESTOU QUASE SEM MUNIÇÃO. NÃO TEMOS MUITO TEMPO. VAMOS, TEMOS QUE IR EMBORA.

— NÃO DÁ PARA SEGURÁ-LOS! – Rick berrou também – HERSHEL, CORTE AGORA!

— VAMOS! – Eu os apressei, gritando, enquanto mirava nos caminhantes e apertava o gatilho

— NÃO VAI DAR TEMPO! – Hershel berrou, nos avisando

— DEVO ESTAR COM METADE DE UM PENTE! – Eu os avisei, dando passos para trás enquanto atirava

— HERSHEL, VAMOS! – Rick o apressou, berrando

— NÃO VAI DAR TEMPO!

— POR FAVOR, NÃO ME DEIXEM!

Surpresa, vi quando Rick agarrou a perna do menino e a ergueu com tudo, tirando ela da cerca. O garoto berrou e Rick o pegou, antes de sairmos correndo para o carro.  

Entrei no banco do motorista e fechei a porta, assim que guardei a minha pistola, liguei o carro o mais rápido possível e assim que todo mundo estava dentro, acelerei, saindo cantando pneu. Eu só liguei o farol quando entramos na estrada, um pouco mais tranquila, olhei pelo retrovisor e vi que Glenn estava tampando os olhos do garoto, o qual estava quase desmaiado, pela perda de sangue.

Passei a mão pelo rosto e respirei fundo, enquanto dirigia e prestava a atenção na estada.

Tínhamos um longo caminho pela frente.


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Notas finais do capítulo

Capítulo enorme mas recheado por vários acontecimentos.

Randall chegou!

PS: Se encontrar algum erro ortográfico pode me avisar que eu arrumo.



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