Hearewa escrita por Tyke


Capítulo 15
Capítulo 15 - Loop da Felicidade.




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2028... Loop temporal.

James S. Potter vivia e revivia o mesmo dia repetidamente sem perceber. Ele acordava por volta das sete da manhã e encontrava uma linda moça ao seu lado.

Coira Klein era dois anos mais velha que ele. Se conheceram em Hogwarts. Ela foi monitora da Lufa-lufa e ele um moleque bobo que foi pego junto com Fred Weasley tentando sabotar a festa de Halloween. Ela sempre lhe dava detenções e assim, aos poucos, uma amizade começou a surgir. Nada além de conversas aconteceram até depois que Coira concluiu o sétimo ano, talvez porque ela ainda o considerava um moleque nesse período. Mas anos depois eles se reencontraram no Beco Diagonal. A moça trabalhava na loja de quadros enfeitiçados da família. Gina Potter havia encomendado uma pintura dos filhos criança dos Kleins. E ela pediu ao filho mais velho para acompanha-la quando foi  buscar a pintura. James apenas aceitou para poder passar na Gemialidades Weasley e visitar Fred, já que com o fim da escola eles mal se viam.

Assim os olhos castanhos de James reencontraram os azuis da monitora da Lufa-lufa. Eles conversaram animadamente. Gina percebeu o envolvimento do filho na conversa, pegou o seu quadro e saiu da loja sem que eles notassem. Depois disso foi questão de tempo até que eles tomassem sorvete juntos e trocassem o primeiro beijo. Com dois anos de um feliz relacionamento decidiram morar juntos. Coira foi o maior incentivo de James na carreira de quadribol. Ela nunca o deixava desanimar ou desistir. No dia em que ele foi aceito nos Falcons os dois comemoraram tão alto que o vizinho do apartamento de baixo veio bater na porta pedir silêncio. Foi necessário apenas mais alguns anos para acontecer o pedido de casamento.

James piscou os olhos bocejando. Olhou para o lado encontrando a noiva. Ela dormia de costas para ele. Passou os braços envolta da cintura coberta pelo pijama e começou a beijar o pescoço exposto.

— Hum... Jay. - A moça virou o rosto para ele piscando algumas vezes. E depois abriu um sorriso. - Bom dia!

— Bom dia!

Ele também sorriu e voltou a beijar o pescoço dela. Coira suspirou entrelaçando os dedos nos cabelos castanhos acobreados. James se posicionou por cima dela e começou a deslizar as mão por baixo da camisa larga do pijama. Ela suspirou e gemeu quando os dedos gelados tocaram seu corpo quente. As mãos dele estavam sempre geladas, nem mesmo com luvas esquentavam. Era algo bom em momentos como esses. Mas podia ser ruim quando James decidia fazer brincadeiras colocando as mãos na barriga dela, quando ela menos esperava, nos dias frios de inverno só para fazê-la pular de susto e protestar. James a beijou nos lábios e Coira sentiu a língua quente pedir passagem. Ele puxou a camisa dela para cima e depois retirou a peça íntima. Ela cuidou de retirar a calça de dormir que ele usava. Ele fez menção de descer os beijos pelo corpo dela enquanto as mãos gélidas a tocavam entre as pernas. Mas Coira o puxou para seus lábios novamente deixando claro que não estava afim de preliminares. Com suspiros de ambos os corpos se uniram. James movimentou com calma apreciando cada segundo de amor com ela até sentir necessidade de acelerar.

 Quando acabaram eles se abraçaram e permaneceram por mais alguns instantes na cama conversando sobre a possibilidade de pedir a labradora de Hugo emprestada para carregar as alianças.

— Pensando bem, não é uma boa ideia. Luma come tudo o que vê pela frente. Seria desastroso se tivermos que esperar ela defecar para terminarmos a cerimônia. - James falou entre risadas imaginado a cena.

— Ai, que nojo! - Coira saiu dos braços dele levantando da cama. - E sua priminha Dora?

— É, pode ser. Dora é uma gracinha e não vai comer as alianças, eu acho. Depois vejo com o Teddy se ele nos empresta ela.

— Ok! - Ela foi em direção ao banheiro e James se levantou da cama.

Ele colocou a calça de volta ao corpo e caminhou em direção a cozinha. Ligou o fogão e colocou água para ferver. Então pairou observando a água. Dentro de algumas horas ele e Coira iriam para uma exposição de pinturas mágicas numa cidade próxima. Nesse evento seria exibido novos feitiços de movimentação de imagens, novas tendências artísticas e mais um monte de coisa que James geralmente achava chatas. De qualquer forma a acompanharia de bom grado se ele não soubesse do acidente que sofreriam. Então quando a moça saiu do banheiro ele a convenceu a ficarem em casa e irem na exposição no dia seguinte. Assim eles passaram o resto do dia vendo filmes, comendo porcarias e se amando. Com a chegada da noite eles pediram comida pelo telefone, depois se amaram novamente e adormeceram.

Então o mesmo dia começava novamente.

James piscou os olhos bocejando. Olhou para o lado encontrando a noiva. Ela dormia de costas para ele. Mas daquela vez, antes dele passar os braços envolta dela, bateram na porta. James sentiu que aquilo não deveria acontecer. Mesmo assim se levantou, vestiu uma camisa e foi em direção à sala. Pelo olho de vidro pregado na porta ele pode ver quem era a visita. Sentiu a espinha gelar. E abriu a porta sabendo que não teria como evitar.

— Oi, James! Quanto tempo. - Hugo cumprimentou com um sorriso irônico.

— Por favor.  - James olhou em direção ao quarto para certificar que Coira ainda estava nele. Empurrou Hugo para o corredor indo junto e fechou a porta atrás de si. - Não me impeça de salva-la.

— A questão não é essa. - James encarou o rosto do primo percebendo alguns machucados. - Não tem como salva-la.

— É claro que tem! - Ele sentiu o desespero alarmante. - Basta não entrarmos naquele maldito trem. Me desculpe pelo que tive que fazer, mas eu nem te machuquei.

— Você me usou e isso não é nada legal. Mas não vou guardar magoa até porque você não sabe a merda que fez.

— Como assim "merda"? Eu vou salvar a Coira, seu infeliz!

— Não, Jay. - Hugo suspirou e encarou o chão triste. - Você está preso em um loop. Sabe o que é isso?

James negou balançando a cabeça.

— Bom, basicamente o mesmo dia fica se repetindo até os acontecimentos se concretizarem. E isso acontece porque está tentando alterar um ponto fixo; uma morte. Você pode até salva-la, mas vai ter sérias consequências.

— Dias se repetindo. Do que está falando?

— Você nem percebe não é. - Hugo suspirou de novo. Escorou na parede e deixou o corpo escorregar para o chão. James o observou, ele estava com o olhar triste.

— Você está bem? - James perguntou preocupado com a possibilidade de ter roubado o sangue do primo o ter feito mal fisicamente.

— Não. - Ele respondeu olhando para cima. - Quando se tenta evitar uma morte um loop se abre. É como uma ferida no Universo e a nossa linha temporal principal vira uma catástrofe.

— Do que está falando?

— Das consequências, James. Caos, desgraça e destruição. Por que você acha que se o Ministério souber sobre mim eles me matam? Por que você acha que eles sem importam tanto em monitorar os vira-tempos?

O rapaz em pé não respondeu, pois nunca havia pensado no assunto até aquele momento. Ele encarou o primo de volta entendendo o que ele queria lhe dizer e apreensivo com o que iria vir a seguir.

— O que houve? - James perguntou e esperou o que não queria ouvir.

Pecusnigrum, são criaturas das trevas interdimensionais. Elas gostam de instabilidade. Quando o Universo adoece, uma brecha se abre no tempo e elas vem correndo só para piorar as coisas. - Hugo desviou o olhar do primo. Depois que Lorcan havia pronunciado o nome das bestas ele se lembrou de tudo que Dumbledore lhe contou sobre elas. - Elas causam todo o tipo de desgraça possível e gosta de atacar principalmente os bruxos, pois se alimentam da nossa magia também.

O rapaz de cabelos vermelhos fez uma longa pausa olhando para o nada, Ponderando pela primeira vez sobre a família de Tommy ter sido atacada... Seria o menino um nascido-trouxa?... Talvez não, muitas das vítimas dos primeiros sinais do caos não possuíam a menor ligação com a magia. Os Pecusnigrum também apreciavam uma diversão com trouxas.

— E? O que mais, Hugo? - James insistiu. Sentindo medo do que ouviria.

— Dominique e Lucy estão mortas. Muito provavelmente minha mãe também...  - Ele respirou fundo segurando as lágrimas. - Talvez quase todos estejam. Seu pai, o meu, Alvo, Jorge, Fred, Roxy... Eles estavam em Londres quando ela explodiu.

— Como assim explodiu? - James perguntou incrédulo.

— Apenas explodiu. Hogwarts também e vários outros lugares. Estamos todos condenados, todo mundo. Não dá pra fugir não dá para lutar até que o Universo se estabilize. E depois teremos que continuar a vida a partir desse "apocalipse"... A essa altura Lilian também deve... - Hugo engoliu em seco e preferiu interromper os pensamentos.

James não sabia o que dizer. Ele respirava pesado ao saber das notícias ruim. Saber das mortes. Passou as mãos pelo cabelo desorientado.

— E como resolve isso? - Ele perguntou com a voz embargada já imaginando a resposta.

— Você tem que deixar acontecer.

— E então?

— Tudo que aconteceu nos últimos meses se apaga e é reescrito. - Hugo se levantou do chão sentindo a dor nos olhos do primo. - Sinto muito.

James não pode evitar que algumas lágrimas escapassem de seus olhos. Estava tendo que escolher entre Coira e todas as outras pessoas. Ele sabia o que era certo. E doía que tivesse que abrir mão da mulher que amava. Hugo tentou se aproximar para confortá-lo, mas foi afastado com violência.

— Isso é tudo culpa sua. - James disse com ódio antes de entrar no apartamento e bater a porta.

Hugo sentiu o peso das palavras. E concordou com elas. Ele desceu as escadarias do prédio e sentou na calçada do lado de fora. Não havia para onde ir até convencer James de consertar as coisas. Ele decidiu esperar um tempo e caso o primo não faça a escolha certa, ele voltaria para insistir. Se fosse necessário mostraria por oclumencia o futuro. Não havia feito ainda, pois acreditava em James e em seu bom senso.

No apartamento, James escorava na pia do banheiro chorando. Coira bateu na porta e perguntou se estava tudo bem. Ela escutou o estrondo da porta da frente batendo e depois a do banheiro. Ele forçou casualidade e respondeu que sim. Depois lavou o rosto e secou com a toalha evitando esfregar o tecido nos olhos e fazê-los ficarem ainda mais vermelhos. Ainda esperou algum tempo e quando achou que sua aparência estava normal saiu do banheiro.

— O que você tem? - Coira perguntou quando viu os olhos um pouco inchados.

— Acho que peguei uma gripe. - Ele forçou um sorriso e fungou o nariz.

— Quer tomar uma poção?

— Não acho que precise, linda. - James a abraçou e a beijou na testa.

— Tem certeza. Se quiser podemos ir na exposição amanhã. Ai você descansa....

— Não. Estou bem. Não vamos perder seu evento do ano. - Ele tentou sorrir, mas falhou. Estava acabando de selar o destino dos dois.

— Tudo bem então. Eu vou me trocar daqui a pouco temos que ir. - Coira estranhou o jeito dele, mas não via motivo para ter algo errado então julgou ser impressão.

Após meia hora eles estavam prontos para sair. Cumprimentaram o porteiro Joe quando passaram pelo saguão. A ideia de irem de trem foi da moça. Ela gostava de utilizar esse transporte apenas por causa de uma ponte por onde ele passava. Era uma linda vista, a qual Coira pintou varias vezes em diversos tons.

— Jay, aquele não é seu primo. - A moça tentou parar de andar olhando parar o rapaz sentado na calçada do prédio. Eles iam na direção oposta a ele.

— Não. Acho que não. - Respondeu James sem nem olhar para trás.

— É sim. É o Hugo. - Ela o obrigou a parar e ele suspirou olhando para o primo que os encarava de volta. - Será que ele está bem?

— Claro. Ele tem essa mania mesmo.

— Mania?

— De ficar sentado por ai como um mendigo. - Ele retomou a caminhada e ela se viu obrigada a acompanha-lo.

— Mas isso não é normal. - Ela veio atrás dele preocupada.

— Olha, vou te contar um segredo. - James suspirou. - Hugo usa drogas. Acredite não tem como ajuda-lo agora. Depois eu ligo para os meus tios. Tudo bem?

— Drogas! Meu Merlin! Tadinha da sua tia. - Coira pousou a mão no rosto com uma olhar triste. E ele se sentiu mal por estar mentindo para ela.

Quando chegaram na estação de trem James foi comprar as passagens. A cidade do evento ficava a apenas quarenta minutos de Londres. O trem chegou e eles entraram se acomodando nos bancos da esquerda. Ele limpava as mãos suadas na calça jeans e respirava fundo.

— Tudo bem? - Coira perguntou notando o nervosismo dele

— Estou. - James sorriu para ela e segurou uma de suas mãos.

O trem começou a andar e ele ofegou apertando as mãos dela.

— Coira. - Chamou e ela virou o rosto - Eu te amo muito.

Os olhos dele brilharam e depois a beijou com ternura. Juntou as testas de olhos fechados e ficou escutando o som das últimas respiração dela.

— Você está agindo estranho. - Ela declarou quando James afastou para olha-la.

— Pensei que estivesse ciente desse detalhe quando aceitou namorar comigo. - James sorriu divertido a fazendo acompanha-lo.

— Eu estava. Mas você está mais estranho que o normal.

— Isso é ofensivo, sabia? - Ela riu e acariciou os cabelos dele.

— Eu também te amo... muito!

Os lábios deles se encontraram pela última vez. James nem se lembrava o que conversaram na primeira vez que o acidente aconteceu. Mas agora ele estava ciente da situação e guardou cada detalhe de seus últimos minutos juntos. Ele suava frio, não dava para evitar, e fez Coira acreditar que era consequência da gripe.

Meses antes um funcionário daquela empresa de trem esqueceu ou simplesmente não quis passar aos superiores o relatório da vistoria dos trilhos. Os trilhos, por onde passaram Coira e James, estava em péssimo estado. O trem passou pela ponte que a moça tanto amava e um pouco para frente aconteceu o acidente. Os trilhos cederam sobre o peso dos vagões e partiu-se. Ele desencarrilhou jogando os passageiros em todas as direções. Dez morreram na hora e entre eles Coira. Dois não aquentaram os ferimentos e faleceram no hospital. E James assim como outros ficou gravemente ferido, mas sobreviveu. O funcionário foi responsabilizado pelo ocorrido. A empresa de trens respondeu processos das famílias das vítimas. Tiveram que pagar muitas indenizações, mas de nada adianta se no fim ninguém seria trazido de volta.

Tudo não passou de um simples acidente que a magia não foi capaz de reverter os estragos.

James acordou no hospital meses depois. O primeiro rosto que viu foi do irmão mais novo.  Tudo aconteceu exatamente como antes; bebidas, brigas e depressão. Ele chegou a atacar e roubar o sangue do primo. E no momento que recobrou sua consciência atual, estava sentado no sofá do apartamento segurando o vira-tempo de sangue nas mãos. Tinha voltado para o momento que fez a escolha de "consertar" sua vida, mas não podia. Assim como não podia colar pedaços de vidro quebrado sem uma varinha. E naquela situação não existia varinha.

James começou a chorar e lançou o objeto no chão. Ele se espatifou e manchou o tapete de vermelho. Se jogou no sofá e ficou um bom tempo com as mão sobre o rosto apenas deixando as lágrimas saírem. Quando finalmente conseguiu se mover, ele evitou olhar a foto de Coira e saiu do apartamento. Ignorou quando o porteiro Joe o chamou e saiu caminhando sem rumo. Desaparatou. Quando se deu conta estava no cemitério onde a noiva foi enterrada. De frente para lápide dela, James olhava fixamente para o concreto entalhado sem saber o que pensar. E então ouviu passos às suas costas.

— Oi. - Era Hugo. Ele apalpava o antebraço dolorido onde horas antes foi feito um corte.

James não respondeu. Hugo se aproximou ficando ao lado do primo e pousou uma mão no ombro dele.

— Eu sinto muito. - O rapaz ruivo disse. - Mas tudo acabou agora. Liguei para Dominique, ela está escolhendo as flores do casamento.

— Sabe, Hugo. - James virou na direção do rosto sardento, mantendo um olhar sofrido. E afastou das mãos dele. - Se eu tivesse um poder como o seu e não pudesse mudar o que realmente importa. Eu me matava.

Ele virou as costas e caminhou até entre as árvores onde desaparatou. E Hugo permaneceu onde estava olhando o túmulo de Coira.

— Não seria má ideia... - Ele sussurrou para o nada antes de ir embora.


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