Hearewa escrita por Tyke


Capítulo 14
Capítulo 14 - Boa Sorte, Criança!




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Hugo permaneceu parado no canto da sala de jantar o tempo todo sem se mover. As pessoas do passado reparavam nele descaradamente fazendo-o se sentir desconfortável. Após algum tempo pode-se ouvir o crepitar de uma lareira. Então Dumbledore adentrou a sala de jantar passando direto pelo rapaz ruivo e indo até o Sr. Weasley.

— Como está, Arthur? - O senhor perguntou pousando uma mão no ombro do homem.

— Melhorando. - Ele deu um sorriso otimista apontando para a atadura na cabeça.

Dumbledore se afastou dele andando pela sala. Remo puxou uma cadeira se sentando ao lado de Harry e Sírius ficou escorado na porta observando.

— E você, Harry? - Dumbledore parou de frente para o garoto e recebeu um tímido "sim" - Não teve mais sonhos com a cobra?

— Não, senhor. - Hugo reparou no modo como Harry abaixou os olhos. Alvo Potter podia se parecer com ele fisicamente, mas no jeito eram completamente diferentes.

Dumbledore soltou um longo suspiro e finalmente se virou para o rapaz em pé no centro da sala.

— Quanto tempo, Hugo. Bem... aparentemente mais para você do que para mim. - Ele deu um sorrisinho divertido o qual o rapaz não retribuiu. - Sinto ter te colocado naquele quarto, mas entenda que eu não sabia das suas intenções aqui e também eu precisava resolver uns problemas... Tem sido um ano conturbado. Enfim, andou entrando em florestas de novo?

Ele estava mesmo fazendo piadinhas? Hugo olhou inserto para o velho e respondeu:

— Não.

— Como conseguiu chegar aqui? - O velho foi até a mesa e se serviu de um copo de cerveja amanteigada.

— Um clarevidente me ajudou. - Ele falou deixando nítido com o olhar que sabia o que Dumbledore e Trelawney fizeram a ele.

— Oh! Curioso. E por quê?

— Preciso que desfaça o que fez comigo.

— Por quê?

Hugo suspirou cansado. Levaria horas para explicar tudo e ainda deveria tomar cuidado com o que dissesse para não expor o futuro para aquelas pessoas. Ele olhou para trás e viu Sírius bloqueando a porta. Seria muito mais conveniente conversar com Dumbledore a sós. Mas obviamente isso não iria acontecer. Então ele teve uma ideia.

— Veja você mesmo. - Hugo apontou para a própria cabeça.

— Ótimo! - Ele deu um gole no líquido amarelo antes de pousar o copo na mesa. Tirou a varinha e ficou de frente para o rapaz. - Eficiente e menor risco de mentiras.

Dumbledore apontou a varinha. Nem mesmo chegou a murmurar oclumencia e Hugo sentiu o feitiço pedindo passagem em suas lembranças. Ele abriu algumas portas, apenas as convenientes, para não deixar que o outro soubesse mais que o necessário do futuro. Aquele podia ser Alvo Dumbledore, mas ainda era um homem. E todo homem possuí interesses próprios.

Hugo deixou que Dumbledore conhecesse um pouco de James Sírius Potter. Lembranças da infância e outras mais recentes da personalidade forte do primo. Mostrou o momento na floresta que James o encontrou e leu a carta que não deveria ler. Ele prometeu segredo e sempre cumpriu a promessa. Mostrou James e Coira juntos, eles eram muito felizes. Depois James hospitalizado e em coma com Gina segurando uma mão do filho. Revelou todos os problemas que vieram depois que ele acordou e soube da morte da noiva. Bebidas, brigas com os pais, depressão... Então mostrou James o atacando pelas costas e o pote de sangue que encontrou no apartamento dele. Ele desapareceu depois daquele dia. Por fim mostrou a Dumbledore todas as desgraças do futuro; A cidade destruída em Cornwall, Dominique morta, Hogwarts sendo engolida pela destruição, Hogsmead em chamas, o pequeno Tommy morrendo na casinha de madeira e a dor que sentia por suspeitar que seus pais e irmã estavam mortos.

O diretor de Hogwarts abaixou a varinha. Os olhos dele refletiam de tristeza.

— Eu sinto muito. - Ele falou em um fio de voz. - Mas entenda que nada disso é minha culpa. Eu apenas quis lhe fazer o melhor.

— Eu não te culpo.

— Bom! Também não culpe seu primo... Provavelmente ele nem sabe as consequências do que tentou fazer. Eu evitei coloca-las na carta. - Dumbledore suspirou guardando a varinha dentro da capa.

— Do quê estão falando? - Sírius se adiantou ficando entre os dois. - O que ele lhe mostrou?

— A desgraça.

— Como assim? - Sírius se virou para o rapaz. - O que ele fez?

— Tem haver com Voldemort? - Lupin também estava próximo deles e parecia preocupado.

— Mas o que está acontecendo?! - Molly perguntou irritada.

— Se acalmem, por favor. - Dumbledore gesticulou as mãos para os outros. - Não tem nada haver com Voldemort. Os problemas do futuro são outros, mas que infelizmente me envolvem.

— Espera aí! Ele é mesmo um viajante do tempo? - Fred perguntou chocado e os que ainda não tinham ouvido sobre o fato ficaram inquietos pedindo explicações.

— Ah! Sim, ele é. - Dumbledore sorriu. - Apresento a vocês; Hugo Weasley!

As pessoas ficaram em silêncio ao ouvir o nome da família.

— O que está fazendo? - Hugo perguntou irritado.

"Divirta-se um pouco. Não vou permitir que se lembrem de você." Dumbledore falou em sua mente pela brecha ainda aberta pela oclumencia.

— Se ele é um Weasley do futuro então é filho de algum de nós. - Fred concluiu

— Qual? - Jorge perguntou para Hugo sorrindo. Os gêmeos estavam nitidamente se divertindo com a situação.

— Não é relevante. - Hugo respondeu ainda com receio de dizer o que não deveria.

— Hum...ele parece um pouco com o Carlinhos, não acha? - Fred retomou o assunto virando para sua sósia.

— Nah. É a cara do Roniquinho. - Jorge falou já rindo. As orelhas de Rony começavam a ficar vermelhas.

— Verdade! Mas quem seria a doida que casaria com nosso Ronald? - Fred debochou e Jorge aumentou o volume das gargalhadas.

— Hey! - Rony se indignou com a brincadeira.

— Então, Rony. Já tem ideia de quem será sua futura esposa? - Gina entrou na brincadeira dos irmãos olhando de esguio para Hermione.

Harry começou a rir de como o rosto do amigo estava da mesma cor dos cabelos. Hermione não ria e também não escondia o desconforto.

— Isso não tem graça. - Rony falou para os irmãos.

— E não tem mesmo. Podem parar! - Molly chamou atenção dos filhos.

Ela tinha sido a primeira a reparar na semelhança de Hugo e Rony. E se aquele rapaz era mesmo seu neto isso explicava porque tinha tanto sentimento de carinho por ele. Achou melhor cortar a brincadeira irritante quando notou a cara de Hermione... sempre suspeitou! Ela estava feliz em saber que no futuro sua família continuaria.

— Há há há! Esses garotos. - Dumbledore se virou para Hugo rindo. O rapaz pela primeira vez sorriu de volta. - Quantos anos você tem agora?

— Vinte. Quase vinte um. - Hugo decidiu que também se divertiria. Estava cansado da tensão dos últimos tempos.

— Ah! Então já passou por Hogwarts. - O senhor ajeitou os óculos meia-lua. - Deixe-me adivinhar... Grifinória é claro.

— Corvinal.

— Ora essa! Um Weasley que não foi para Grifinória! - Ele fingiu uma surpresa exagerada.

— Qual o problema? Tenho primos de todas casas.

— Até mesmo Sonserina? - Jorge ergueu uma sobrancelha.

— Sim. - Hugo respondeu já esperando a resposta boba que viria.

— Os Weasleys estão condenados! Que desonra! - Fred chacoalhou a cabeça fazendo os outros rirem. Principalmente o ferido senhor Weasley que se alegrava mais que tudo com a situação

— Nem tanto. Grande maioria foi da sem graça da Grifinória. - Hugo se aproximou mais da mesa parando em pé ao lado de Rony.

— E são muitos primos? - Gina perguntou.

— Ah com certeza! - Fred quem respondeu. - Olha só; Se somos em sete e se cada um tiver mais sete. Poderemos fundar nosso próprio país no futuro.

— Weasley's Unity. - Jorge completou passando as mãos pelo ar como um visionário.

Dessa vez até a desconfortável Hermione riu. Sírius balançou a cabeça sorrindo enquanto retornava ao seu lugar escorado na porta. E Hugo conseguiu entender porque seu pai sempre dizia que Fred e Jorge eram a alegria da família antigamente. Agora parado bem diante deles percebeu que seu tio Jorge do futuro era realmente muito melancólico perto daquela versão jovem. Mudar as coisas, impedir Fred de morrer passou por sua cabeça. Mas sabia que não poderia fazer isso. Realmente ser um hearewa era perigoso.

— Somos muitos. Mas nem tanto, talvez daqui a alguns anos isso seja possível. - Hugo falou por fim. Começou a sentir-se triste lembrando de sua família. A verdadeira, que sofriam em desgraças no futuro. Virou-se para Dumbledore.

— Eu sei. - Ele respondeu antes que Hugo falasse qualquer coisa. - Por que não toma um banho primeiro e se alimenta? Arrumamos roupas limpas. Você está em péssimo estado.

— Eu tenho que ir.

— Não precisa ter pressa. O tempo está a seu favor, se lembra? - Dumbledore piscou um olho para ele.

— Está bem. - Hugo concordou sentindo-se cansado e a sujeira do corpo lhe incomodar.

Molly se adiantou falando que ajudaria ele, mas Dumbledore negou e pediu a Sírus que fizesse. Quando o rapaz do futuro e o homem do passado saíram da sala de jantar, o diretor tirou a varinha e apagou a memória de todos de uma vez. No instante seguinte a ceia de Natal voltou a ocorrer normalmente. Os garotos abriram os presentes que eram suéteres feitos pela senhora Weasley e todos riam das gracinhas que os gêmeos e Tonks faziam.

— Merlin! - Hugo se mirava no espelho.

Tinha acabado de tomar banho e vestir as roupas que Sírius lhe entregou. A calça jeans azul clara subia até a cintura. A blusa de botões com estampa de riscas foi feita pra usar dentro da calça, mas Hugo a deixou de fora para não parecer tão estranho. Nos pés ele usava os seus tênis sujos do futuro, pois se recusara a colocar os estranhos sapados de couro brilhante.

— Algum problema? - Sírius entrou no quarto assim que ouviu a queixa parando ao lado da cama.

— Essas roupas de época talvez. - Hugo sorriu. Estava se sentindo fantasiado para uma peça teatral.

— Que exagero nem são tão velhas assim.

— Do meu ponto de vista são. - Ele se virou olhando para o homem que parecia pensativo.

— Essas roupas eram de James. - Sírius disse depois de um longo tempo ponderando.

— James Potter? - Hugo sabia que ele se referia ao pai de Harry e não ao filho.

— É... ele dormia muito aqui quando éramos novos. Meus pais permitiam só porque os Potters eram sangue-puro. Ele vivia entulhando o meu quarto com as tralhas dele. - O homem sorriu melancólico encarando o chão. - James era um maldito inconveniente.

— Você parece gostar muito dele.

— Ah eu amava aquele imbecil! Era meu irmão... Quando fugi daqui ele não fez a menor objeção em me ajudar.

— Você fugiu de casa? - Hugo, curioso, começou a analisar a linha do tempo de Sírius procurando o momento quando ele fugiu. Ele viu um adolescente que simplesmente juntou as coisas, pegou uma moto enfeitiçada e foi parar na casa do melhor amigo.

— Fugi. Meus pais eram insuportáveis. - Sim, eles eram. Hugo podia ver. - Nem sei porque estou te contando isso. - Ele murmurou.

— Conheço um Malfoy que fez algo parecido, mas foi por causa de uma garota. - Sírius tirou os olhos do chão e os transferiu para o rapaz que falava. - Minha irmã no caso.

— Sua irmã?... - Ele estava surpreso pelo que acabou de ouvir. - Nossa! Vou adorar ver essa reviravolta.

O sorriso de Hugo morreu nos lábios. Ele virou as costas fingindo arrumar o cabelo no espelho  para que o homem não percebesse sua expressão. Doeu saber que Sírius jamais veria as brigas e confusões que foi o início do relacionamento de Rose e Scorpius. Assim como não estaria presente no casamento de Harry e nunca seguraria James, Alvo ou Lilian no colo. De novo Hugo sentiu a tentação de mudar as coisas.

— Garoto! - Sírius o chamou e ele atendeu. - Você é mesmo filho do Rony?

— Sou. - Hugo deu de ombros contando a verdade diante o olhar ansioso do outro.

— Hum... Eu sei que talvez não possa falar sobre o que vai acontecer com Voldemort...

— Vocês ganharam. - Hugo interrompeu e viu Sírius soltar o ar aliviado. - Quero dizer; Harry ganhou.

— E ele vai ser feliz? Depois de tudo.

— Muito! - Hugo sentia o coração apertar. Mesmo que a memória daquele homem seria apagada, sentiu que deveria contar. - Harry vai ter três filhos; James Sírius, Lilian e Alvo. - Os olhos de Sírius marejaram e seus lábios sorriram diante dos nomes - Ele também vai ser o melhor tio que dá os presentes mais legais.

Nesse momento Dumbledore adentrou o quarto com um prato de comida nas mãos. O entregou a Hugo e em seguida chamou Sírius para o acompanhar.

— Hey garoto! Desculpa ter te atacado, te prendido e desconfiado de você. - Sírius disse antes de sair.

— Não tem problema. - Hugo forçou um último sorriso. Depois ficou encarando por onde ele saiu. Suspeitava o que Dumbledore iria fazer. E por isso sentiu-se triste.

Hugo não tinha percebido o quanto estava faminto até levar o primeiro garfo de comida à boca. Reconheceu que foi Molly quem fez. A comida da avó era a melhor de todas que já provou. Era ótimo visitar a Toca na hora do almoço. Desde pequeno ele apreciava a visita, pois Hermione nunca cozinhou muito bem. Ele nunca foi louco de dizer isso para a mãe, mas era verdade. Depois de algum tempo Dumbledore entrou no quarto trancando a porta.

— Eu gostaria que me prometesse que terá responsabilidade. - O velho o olhou por cima dos óculos.

— Claro. Passei a vida toda sem saber o que vocês fizeram, porque nunca tentei viajar de novo. - Hugo respondeu com toda sua segurança.

Dumbledore suspirou.

— Muito bem! Me desculpe, é que eu tenho mania de tentar controlar tudo. - Ele deu um sorrisinho. - Mas de agora em diante você fica por conta própria. E tome cuidado para que o Ministério não o descubra.

O diretor tirou a varinha de dentro da capa e se aproximou do rapaz.

— Seu James provavelmente vai estar em um loop temporal. Imagino que já saiba.

— Sim, já sei.

Dumbledore agitou a varinha e Hugo teve que fechar os olhos com força. Ele não imaginou o quanto podia fazer. Agora finalmente conseguia ver James e ele se encontrava feliz.

Loops podem ser imaginados como uma grande globo desgarrado da linha temporal. Uma ferida aberta. Nele um evento específico acontece repetidamente sem nunca cessar até que o Universo se cure sozinho. E assim a realidade onde ocorreu o caos se torna concreta. Dali em diante as coisas voltam ao normal, porém toda a desgraça que ocorreu não será desfeita. Todavia ainda era possível voltar a trás, pois o Universo ainda não tinha se curado para desmanchar o loop. Então se Hugo entrasse nele e convencesse James a deixar o acidente ocorrer. Todos os meses de terror seriam apagados e tudo voltaria a ser como antes.

O velho ainda ficou um tempo encarando o lugar de onde o rapaz desapareceu.

— Boa sorte, criança! - Depois ele deu as costas ao quarto voltando a mente para as preocupações daquela época.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem.



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