Hearewa escrita por Tyke


Capítulo 13
Capítulo 13 - Sentimentos Futuros




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1995

O rapaz preso dentro de um quarto do Largo Grimmaud nº12 acordou de súbito. Apoiando os cotovelos na cama olhou ao redor tentando reconhecer onde estava. Por uma fresta da janela fugia um fio de luz que pouco iluminava o ambiente. Ele sentou na cama sentindo-se fraco e algo caiu de sua mão. Abaixou-se para pegar e viu que tratava-se de um pedaço de pergaminho. Era impossível ler. Ele se levantou da cama e arrastou o corpo até a janela e posicionou o bilhete na frente do filete de luz.

PRECISAMOS CONVERSAR.

ALVO DUMBLEDORE.

Hugo piscou algumas vezes confuso. Sentia a cabeça pesada e o corpo ainda um pouco dormente. Fez um esforço para reconhecer onde estava e se lembrar do último acontecimento. Um grito, escuridão. O atacaram, ele percebeu, provavelmente alguém se assustou com sua presença e agora estava preso em um quarto. Por quanto tempo? Quatro meses sua mente lhe respondeu. Era incrível poder sentir quase todo seu poder. O tempo passava a sua volta como uma rajada de vento.

Ele tentou ficar em pé sem apoiar em nada. Estava muito fraco e com a garganta seca. Provavelmente ninguém o alimentou por todo aquele tempo. Um feitiço de paralisação deve ter sido jogado sobre ele. E um outro de bloqueio no quarto escuro. Hugo passou os olhos pela escuridão sentindo que nunca sairia dali "pulando". Parecia com o bloqueio mental que conviveu a vida inteira, porém estendido para um cômodo. De qualquer forma o feitiço não era forte o bastante e Hugo sabia que poderia viajar no tempo quebrando a barreira.

Talvez ele devesse fazer isso. Lorcan podia ter se enganado sobre precisar de Dumbledore. Acreditava que dificilmente o velho desfaria o feitiço. Então ele começou a considerar que poderia achar o primo sozinho com as habilidades que já possuía. Hugo deixou o corpo escorregar para o chão, fechou os olhos e tentou. Apesar de cansado, pode sentir toda a linha temporal de James. O nascimento, a infância, momentos tristes e felizes, Coira, o acidente e então terminava com ele sentado no sofá do apartamento segurando um vira tempo de sangue. Tentou com força, mas não encontrou a atual consciência de James. Hugo suspirou derrotado abrindo os olhos. No fim Lorcan estava certo. Precisaria de Dumbledore.

Meia hora se passou e finalmente o rapaz sentiu todo o controle sobre o corpo regressar. Ele se ergueu do chão pensando em uma maneira de sair do quarto. Se tentasse pular ou aparatar para o lado de fora cansaria demasiadamente seu corpo ao quebrar o bloqueio e alguém poderia se assustar com ele novamente. Não sabia como seria a conversa com Dumbledore, então melhor poupar as força caso necessitasse fugir. Hugo aproximou da porta e apoiou as mãos na madeira. Estupidamente tentou girar a maçaneta. Passou as mãos pela parte de trás do corpo procurando pela pistola de Alvo. Ele poderia usa-la para estourar o trinco da fechadura. Todavia não a encontrou. Depois tentou chutar, mas era obvio que não funcionaria. Então ele decidiu fazer algo que sem dúvida era ridículo, mas não havia escolha.

— Olá! Alguém me ajude. - Ele gritou e esmurrou a porta com força. Seria ótimo ter sua varinha no momento.

Não ouve resposta do lado de fora e Hugo insistiu em gritar e bater na porta mais algumas vezes. Ele estava desistindo e começando a pensar em outra solução quando sombras apareceram perturbando o feixe de luz que vinha da barra da porta.

— Olá? - Era uma garota. E pela voz, bem nova.

— Oi. Eu preciso de ajuda. Você pode abrir a porta, por favor? - Hugo implorou apoiando o rosto contra a madeira. Sabia que conhecia aquela pessoa, mas ainda tinha dificuldade de identificar quem era.

— Eu não acho que posso. Nem deveria estar aqui, é proibido.

Ele viu as sombras se afastarem. Depois que ela falou Hugo pode reconhecer a voz apesar de um pouco infantil. Era sua tia Gina. Ele ficou desesperado ao ver que ela se afastava. Se fosse sua tia do futuro ela abriria a porta sem pensar duas vezes. Então desejou que aquela Gina o amasse como amaria um dia. Não tinha certeza se podia mesmo fazer aquilo. Mas quando as sombras voltaram para frente da porta ele deduziu que podia.

— Quem é você? - Gina falou parecendo confusa.

— Meu nome é Hugo. Preciso falar com Dumbledore. É muito importante.

— Por que está preso?

— Eu não sei. Mas preciso sair daqui. Nosso futuro depende disso. É só destrancar a porta, o feitiço é simples. Eu mesmo faria, mas estou sem minha varinha.

— Como assim futuro?

— Não dá pra explicar agora.

— Desculpe, mas não posso fazer magia fora da escola. - Ele sentiu a incerteza dela.

— Tudo bem! Não faça então.- Hugo respirou fundo. Afinal se sua tia fosse expulsa de Hogwarts estaria seriamente alterando o passado. E esse não era objetivo.

— Eu posso chamar alguém... - A voz dela claramente estava preocupada.

— Pode ser. Apenas membros da sua família, por favor. - Hugo se lembrou em dizer. Seria mais fácil se Gina trouxesse alguém que o conheceria no futuro.

— Por quê? - Havia desconfiança na voz.

— Por favor! - Hugo pairou atrás da porta esperando por uma resposta, mas ela não veio.

A sombra dos pés dela se afastaram e o rapaz sentou na cama pensando no que acabou de fazer. Invocou sentimentos futuros em uma pessoa do passado. Isso seria manipulação? Ele chacoalhou a cabeça. Era necessário. Não tinha escolha. Vozes vieram do lado de fora e Hugo se concentrou em reconhecer as pessoas para fazer com elas o mesmo feito com Gina.

— ... doida? Esse corredor é proibido. Não podemos estar aqui. - Era Jorge.

— Por que nos trouxe aqui, Gina? Se Sírius nos pegar estamos mortos. Ele é meio doido.

Jorge de novo? Mas não parecia a mesma pessoa. Hugo ficou confuso por alguns instantes.

— Qualquer um enlouquece em Azkaban. - Obviamente eram os gêmeos que ele nunca chegou a realmente conhecer juntos.

Hugo concentrou na linha do tempo de cada um. A do que falou por último era curta a do outro era bem longa. O rapaz se esforçou em trazer os sentimentos futuros do que possuía a linha comprida, já que o outro nunca chegou a conhecê-lo para possuir algum sentimento. E cruzou os dedos para ter sorte de Fred não acabar atrapalhando.

— Preciso que abram essa porta. Ele precisa sair dai e falar com Dumbledore o mais rápido possível.

— Ele quem? - Um dos gêmeos falou.

— Hugo. - Gina respondeu incerta. Ela não era capaz de explicar por que confiava na pessoa dentro do quarto.

— Hugo? Que isso, um nome? - Por trás da porta o rapaz sabia que era Fred quem acabou de falar.

Os três irmãos ficaram em silêncio por alguns segundos.

— Tudo bem. - Disse Jorge.

— Você está maluco? Nem sabemos quem é Hugo! Se ele ta preso ai tem um motivo. - Fred falou indignado.

— Mas ele precisa falar com Dumbledore. - Gina bateu o pé.

— Não acho que ele seja perigoso, Fred. - Jorge falou

— Qual a merda do problema de vocês? - Os outros não responderam. - Você conhece ele, Gina?

— Não... - A garota respondeu inserta.

Hugo sentiu que estava perdendo. Mesmo que pudesse trazer os sentimentos, as pessoas ainda eram capazes de pensar e raciocinar. Ainda por cima, aqueles eram seus tios. Não o amavam tanto assim. Se ao invés deles Rony ou Hermione tivessem aparecido na porta as coisas seriam bem mais fáceis.

— Por favor! Eu sei que é difícil para vocês acreditarem, mas eu sou do futuro e por isso preciso falar imediatamente com Dumbledore. - Hugo apoiou na porta novamente. Precisava arrumar um jeito de convencê-los. Decidiu que talvez a verdade funcionaria.

— Agora eu sei porque o prenderam ai. É doido com certeza. - Fred falou rindo e foi acompanhado fracamente por Jorge.

— Olha! Isso estava do lado da cama. - Hugo empurrou o bilhete por baixo da porta. - Acreditam em mim agora?

Do outro lado ninguém respondeu e o silêncio tomou conta do ambiente. Hugo escutou sussurros.

 "...forjado."

"...letra de Dumbledore"

"...não confio..."

"...for verdade?"

— Me responde uma coisa. Por que te prenderam ai afinal? - Era Fred.

— Eu não sei. Acho que ficaram com medo porque não sou desse tempo.

Hugo escutou mais sussurros do lado de fora e por fim Fred falou mais alto para os outros.

— Ta bem. Façam o que quiserem. Se ele nos matar a culpa é dos dois.  - Obviamente ele não sairia para chamar Sírius ou qualquer outro adulto, mesmo discordando. Fred permaneceria ao lado do irmão sempre.

Com um "clique" a porta destrancou. Hugo esperou que algum deles girasse a maçaneta, mas não fizeram. Então ele próprio girou abrindo a porta. Foi estranho dar de cara com versões jovens de seus tios. Mais novas do que ele ainda. Os gêmeos empunhavam as varinhas prontas para defenderem-se e Gina estava logo atrás dos irmãos. Hugo passou pela porta com as mão para cima, mostrando que não segurava nada.

— Puta que pariu! Você é nosso oitavo irmão perdido ou algo assim? - Fred perguntou olhando para os cabelos dele e o fez rir.

— Algo assim.

Com cautela os dois Weasleys mais velhos abaixaram as varinhas. Os três observavam Hugo. As roupas sujas e a aparência acabada.

— Por que você não tem varinha? - Gina perguntou de repente. Ainda estava atrás dos irmãos mais velhos.

— Porque da onde eu vim não é seguro ter uma.

— Como assim? - Jorge perguntou.

— Primeiro preciso falar com Dumbledore.

Os três irmãos se entreolharam e Jorge disse que deveriam descer. No andar de baixo Sírius ou algum outro poderia chamar o diretor. Eles assim fizeram. Os gêmeos com cautela ainda seguravam as varinha firmes nas mãos. No meio do caminho Gina arriscou andar mais próxima de Hugo e o observava curiosa. Viraram um corredor e entraram em um cômodo. As pessoas olharam para eles e num piscar de olhos, Sírius quem estava escorado na parede, vinha ameaçador com a varinha na direção de Hugo. O rapaz despertou os sentimentos de quase todas as pessoas sentadas à grande mesa. Fez com o máximo de intensidade possível e sentiu as pernas vacilarem e a cabeça doer. Mas deu certo! No instante seguinte vários gritaram "Pare, Sírius!" e Rony levantou se pondo na frente do homem erguendo as mãos.

— O que...? - Sírius estancou olhando envolta para as pessoas.

 Lupin sentado à mesa exibia um rosto surpreso para os demais. Sírius virou-se para o afilhado que havia levantado da cadeira, mas permanecia no lugar.

— Não faça isso, Sírius. - Harry disse e o homem abaixou a varinha apenas porque era aquele garoto quem pedia.

— Vocês o conhecem? - Remo andou para o lado de Sírius e perguntou diretamente para Molly e Arthur, a mulher pousava as mãos no coração assustada.

— Ann... Não. - Arthur respondeu confuso entre o que sentia e a razão.

— O nome dele é Hugo e precisa falar com Dumbledore. - Gina se apresou em dizer. Estava ao lado do estranho e parecia confiante.

— Por quê? - Sírius olhou diretamente para o rapaz. Era esquisito vê-lo consciente e em pé, bem ali, na porta da sala de jantar.

— Sinto muito, mas é algo que posso tratar somente com ele. - Hugo sustentou o olhar do homem por alguns instantes. Depois desviou e acabou encontrando os de Hermione. Ela estava sentada ao lado de Harry e segurava um gato no colo. A garota acabou retribuindo o olhar nitidamente confusa.

— Eu sei o que você é. - Sírius continuou com a mão pronta ao redor da varinha. - Se não foi embora assim que saiu do quarto então é porque precisa de algo. Ou está planejando alguma coisa.

— Como Gina disse. - Hugo suspirou começando a se irritar com a situação e fisicamente cansado por ter despertado tantos sentimentos de uma única vez. - Preciso falar com Dumbledore.

— Ah! Dumbledore deixou isso para ele. - Jorge se adiantou entregando o bilhete para Sírius.

O homem leu o bilhete e riu de escárnio pelo nariz entregando-o a Remo.

— Velho safado. - Sírius ficou parado por alguns instantes pensativos. - Vou chama-lo. - Ele deu as costas e logo em seguida voltou. - Só uma coisa. Você quem está fazendo isso com eles?

— Isso o quê? - Hugo fingiu desentendimento quando o Black apontou os demais.

O homem bufou e se retirou para a sala da lareira seguido por Remo. As pessoas em pé tomaram seus lugares à mesa e Hugo permaneceu onde estava observando o cômodo ao redor. Era escuro e fedia mofo. Os moveis mais velhos que a junção da idade de todos presentes. Em um canto perto do final da mesa havia um pinheiro decorado com bolinhas vermelhas. Era noite de Natal. Perto da árvore, Arthur Weasley sentava na ponta da mesa cheio de hematomas no rosto, cortes e um braço enfaixado. Hugo tentou se lembrar porque o avô estava naquele estado, sem sucesso. O rapaz começou a observar as pessoas uma por uma.

Molly Weasley, do lado do marido, ajudava ele a beber um copo de suco, tão jovem que nem parecia a vovozinha que passava o ano inteiro fazendo blusas de tricô para todos os membros da família, que eram muitos. Do lado da Sra.Weasley havia uma moça de cabelos rosa, aquela provavelmente era a mãe de Teddy. Ela encarava Hugo desconfiada e segurava a varinha firme em uma das mãos. A cicatriz na testa de Harry estava avermelhada e bem delineada como Hugo nunca tinha visto antes .Hermione estava tentando evitar fazer contato visual com ele novamente e apresentava nítido desconfortável. E por último o rapaz olhou para Rony sentado de frente para Harry, sem dúvida não era exagero quando diziam que ele era muito parecido com o pai jovem.

"Será que eles estão juntos?" Hugo pensou olhando da garota de cabelos rebeldes para o ruivo. Nunca tinha perguntado aos pais quando e como começou o relacionamento deles. Se julgou um insensível por nunca ter se importado.

— Você gostaria de se sentar? - Molly perguntou com gentileza.

— Não, obrigado! - Hugo respondeu no mesmo tom e permaneceu onde estava. Aquela não era sua família. Não ainda. E por isso não estava se sentindo nem um pouco a vontade na presença deles.

— Está ferido? - Molly insistiu em puxar assunto. Ela olhava para o sangue na camisa do rapaz.

— Estou bem...esse sangue não é meu. - Acrescentou baixinho enquanto analisava a própria roupa. Havia se sujado quando pegou Tommy no colo para tira-lo da casinha dos fundos.

— Tem certeza que não quer se sentar? Não está com fome? - Molly insistiu dando a volta na mesa e ficando de frente para ele.

— Não, Obrigado! - Hugo tinha consciência que fazia um bom tempo que não comia, mas não sentia fome no momento.

— Tudo bem então. - A mulher estava próxima o bastante para vê-lo com clareza. Descaradamente examinava cada detalhe do rosto dele. Depois ela lançou um longo olhar para o filho mais novo. Voltou a olhar para Hugo. Abriu a boca para falar algo e então desistiu voltando para seu lugar à mesa.

Hugo se remexeu desconfortável e passou as mãos pelos cabelos. Caiu grãos de terra da sua cabeça. Ele pensou como deveria ser sua aparência. Um morto vivo? Um morador de rua? Ou um sobrevivente de guerra? Sua cabeça doía tanto que quem olhasse atentamente poderia vê-la latejar. As pessoas na sala não conversavam, apenas beliscavam a ceia de Natal e lançavam olhares entre duvida e carinho para o viajante.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem



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