Hearewa escrita por Tyke


Capítulo 11
Capítulo 11 - Me perdoe...




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2029... Alguns meses atrás

 James estava sentado no sofá velho de seu apartamento. Ele segurava uma fotografia nas mãos e a olhava atentamente. No chão um livro "Os segredos e a construção de um vira-tempo" estava jogado. O rapaz jogou o corpo para trás no sofá abaixando a fotografia. Ele suspirou se lembrando do que seus pais lhe disseram alguns dias atrás.

" Você precisa seguir em frente " Disse Gina

" James, você pode ser muito além de um jogador de quadribol " Harry segurou seus ombros

" Pare com essas bebidas não está fazendo bem para você" Gina suplicou no momento em que ele afastou as mãos do pai com violência.

" Você pode voltar morar conosco quando quiser. Será sempre bem-vindo , meu filho" Harry ainda tentou segura-lo.

" Vão se fuder! E me deixem em paz. " James gritou antes de coloca-los para fora e bater a porta do apartamento.

No momento presente, estando sóbrio, ele se arrependia do que fez. Mas era tarde para voltar atrás. James se levantou, pulou as garrafas no chão e andou em direção ao seu quarto. Ele abriu a gaveta do criado. Do fundo dela tirou uma faca, um frasco transparente e uma ampulheta em miniatura que estava circundada por dois metais. James deixou a ampulheta sobre o criado pegando somente os dois outros objetos. Foi até o guarda-roupa e tirou um casaco pesado de lá. Ainda era inverno e apesar da neve já ter ido embora fazia frio aquela manhã.

A algum tempo aquela ideia crescia na mente de James. Ela nasceu no dia em que ele acordou do coma no hospital e seu próprio pai deu-lhe as terríveis noticias do que aconteceu. Fazia seis meses. A recuperação do acidente foi difícil. James teve traumatismo craniano e só sobreviveu graças aos médicos trouxas que o mantiveram vivo no hospital até os curandeiros, trazidos por Harry, chegarem e o salvarem sem erros. Porém as sequelas não puderam ser evitadas, o cérebro é uma área muito sensível. Estas não foram graves, entretanto foram suficiente para enterrar a carreira de jogador de quadribol que mal se iniciara. James teve a coordenação motora afetada, não muito, e recuperou bastante ao longo dos meses. E também teve parte da visão periférica e dos reflexos perdidos, nada que atrapalhasse a vida. Porém o treinador e os executivos da Falmouth Falcons acharam as sequelas extremamente graves e afastaram James até que um dia deram a dispensa permanente. O rapaz não precisou ir atrás de outros times para saber que nenhum deles o aceitaria, pois o Profeta Diário fez questão de deixar isso bem claro com a manchete:

JAMES POTTER, FILHO DO GRANDE HEROI HARRY POTTER E DA CÉLEBRE JOGADORA DOS HARPIAS HOLYHEAD GINA POTTER, FRACASSA DEFINITIVAMENTE NA CARREIRA DE QUADRIBOL.

Por tanto, pensando nos lindos olhos azuis que ele tanto amou e no fracasso da carreira, James decidiu voltar atrás e concertar a vida trazendo sua felicidade de volta ao lado de Coira. Tudo estava indo tão perfeito com a garota. Eles já moravam juntos e em breve se casariam e então veio acidente e tudo saiu dos eixos.

O rapaz desceu as escadas do prédio. Quando passou pela portaria avistou o homem que se chamava Joe sentado de frente para o computador. James seguiu reto esperando que o porteiro não o chamasse, mas foi exatamente isso que o homem fez.

— Potter, uma palavrinha por favor.

— Pois não. - Ele voltou-se na direção do porteiro.

— Eu entendo o momento que está passando, mas já está atrasado dois meses. - Joe falou com cautela e agradeceu pelo jovem não estar bêbado.

— Eu sei, Joe. Mas as coisas estão difíceis para mim, eu perdi meu emprego. E Coira também me ajudava a manter aqui... - Ele engoliu um nó por falar na moça.

— O problema é que o prédio não é meu, James. Eu apenas repasso o dinheiro para o dono. E se continuar assim ele vai pedir despejo.

— Por favor! Só me dê mais um tempo. Prometo que acertarei as coisas o mais breve possível. - O rapaz escorou as duas mãos no balcão olhando suplicante para o porteiro.

— Tudo bem. Eu vejo o que posso fazer.

— Obrigado, Joe.

James saiu do prédio e caminhou até virar em um beco. Quando estava bem no fundo dele, olhou em volta para ter certeza de que ninguém o observava e então desaparatou. Ele se materializou no quintal de uma conhecida casinha inglesa. Foi em direção as portas do fundo e ao invés de bater, girou a maçaneta e entrou. Ele cruzou a cozinha ouvindo vozes vindo da sala de estar.

— ... eu não sei, Hugo. Ele me olha como se eu fosse um grande unicórnio brilhante.

— Vindo dele isso não é bom?

— Quem te olha como um grande unicórnio brilhante, Louis? - James perguntou aparecendo na porta e rindo do que ouvira.

Os dois rapazes mais novos se assustaram com a chegada repentina dele. Louis colocou a mão no peito fingindo um ataque e gritando "Ai que susto!!!"

— Não sabe mais bater? - Hugo perguntou em tom de brincadeira examinando o Potter. Reparou como haviam grandes marcas envolta dos olhos do primo e como ele parecia exausto e acabado.

— Estava aberta... Então, quem te olha como unicórnio, Louis? - James insistiu no assunto esquisito e viu o rosto bonito e pálido do primo ficar vermelho.

— Meu Merlin!  Você está corando! - Hugo gargalhou audivelmente. - Eu nunca pensei que viveria para te ver assim.

— Cala a boca, Hugo! - Louis agarrou as almofadas mais próximas que tinha de si e tacou-as no outro sem piedade.

Hugo se levantou e desviou todas as almofadas com a mão e depois se virou para James.

— Louis está apaixonado pelo Lorcan Scamander.

— Hugo! Eu não estou apaixonado. - O louro mandou outra almofada.

— Está sim!

— Não!

— Bom... Pelo menos ele tem razão, Louis. - James disse, terminou de cruzar a sala se aproximando dos dois jovens e interrompendo a agressão de almofadas. - Você parece mesmo um lindo unicórnio brilhante.

— Obrigado, Jay! Se é que isso foi um elogio. - Ele sorriu para o primo de cabelos cor de cobre.

— É claro que foi. Se eu não fosse hetero já tinha te dado uns pega. - James sorriu brincando.

— Tinha não, querido. Que eu não pego família, certo Hugo? - Louis deu um olhar sugestivo para o primo e dessa vez o louro quem levou uma almofadada.

James sabia que Louis se referia ao fato de Hugo e Lilian sempre terem tido uma relação muito próxima e também pelo clima que as vezes acontecia entre eles e que era perceptível por todos.

— Olha, quer saber? Lorcan pode ser estranho, mas é melhor do que o Adam. - Hugo falou para primo da mesma idade enquanto recolhia as almofadas do chão.

— Qualquer coisa é melhor que o Adam. - Louis torceu o nariz ao pronunciar o nome do ex.

— Hey, desculpa atrapalhar a conversa "produtiva". Mas eu preciso falar com você, Hugo. - James se virou para o primo e lançou um olhar deixando claro que era a sós.

— Ok. Eu já tenho que ir embora mesmo. - O rapaz de cabelos dourados se levantou e ajeitou as roupas. Mandou beijo para os outros dois antes de dizer - Tchau, seus héteros!

— Aposto que você já vai atrás do seu boy. - Hugo gritou para o primo que já estava na cozinha.

— Vai se fuder! Estou indo ser escravizado no Gringotes. Meu pai quer que eu tome rumo na vida.- Louis gritou de volta. Em seguida saiu para o jardim e desaparatou.

Hugo foi até o sofá e começou a ajeitar as almofadas do jeito que sua mãe gostava que ficavam. Depois virou-se para James e percebeu que ele parecia muito nervoso.

— Tudo bem? - Olhou preocupado para ele.

— Sim. Seus pais estão em casa? - James olhou para a escada percebendo o silêncio dos cômodos.

— Não. Eles foram na Toca. Por quê? - Hugo reparou nas mãos tremulas do primo.

— Por nada. Tem problema se conversarmos no seu quarto?

— Não, mas saiba que não vai rolar nada. - Hugo falou fazendo James sorrir.

Eles subiram as escadas juntos. E pela primeira vez James repensava no que estava fazendo. O momento que presenciou alguns minutos o fez lembrar dos velhos tempo. E ele ponderou que talvez estivesse cometendo um erro. Afinal Hugo era uma pessoa, seu primo.

Quando eles chegaram no quarto de paredes azuis e um pouco bagunçado. James não conseguiu falar. Abriu a boca algumas vezes e mirou o chão de madeira. E por fim tomou a decisão final ao se lembrar de Coira.

— Você tem algum livro sobre criaturas mágicas? - James perguntou observando a estante no canto do quarto repleta de livros.

Hugo gostava muito de ler e também de escrever, por isso ainda não havia decidido sua profissão. Ele recebeu proposta para ser colunista do Profeta Diário, mas recusou pois detestava jornalismo sensacionalista. Preferia escrever sobre histórias fictícias, mas o Mundo Bruxo não tinha muito apreso por literatura e ele não podia publicar histórias com elementos mágicos reais no Trouxa. Sendo proibido pelo Ministério. Assim ele ficava perdido sem conseguir encontrar uma profissão que gostasse.

— Ah, não sei. - Hugo olhou sua estante de livros, grande parte eram livros de romances e contos. - Vou ver. Se eu não tiver, minha mãe tem. Mas para que você precisa disso?

James tirou a varinha do bolso e respirou fundo olhando para o primo de costas passando os dedos pelas lombadas dos livros.

— Me perdoe por isso - James falou erguendo a varinha.

— Isso o quê? - Antes de se virar o primo o atacou.

Hugo caiu desacordado. O outro rapaz tirou a faca do bolso e se aproximou do ruivo.  Ele sentia nojo de si pelo que estava fazendo, mas era necessário se queria que sua vida voltasse a ser como era antes do acidente. Fez um corte fino no antebraço de Hugo. Apenas o suficiente para o sangue escorrer e cair direto no frasco transparente. Feito isso, James fechou o frasco e usou a varinha para curar a ferida aberta. Assim que terminou arrastou o primo adormecido até a cama. Depois olhando uma última vez para o rosto sereno dele e decidiu ir embora o mais rápido possível para concluir suas intenções.

Aparatou no beco em Londres. E correu ansioso de volta ao prédio. Tentava colocar na cabeça que o que estava fazendo era por um bem maior e que Hugo nem sentiria dor braço quando acordasse... talvez um pouquinho. Chegou no apartamento e com dificuldade destrancou a porta. Correu até a ampulheta sobre o criado mudo, abriu o topo dela e despejou o sangue de viajante. Lacrou novamente o objeto. Foi até a sala, pegou o livro jogado no chão, deu uma última folheada nele antes de guarda-lo dentro do armário e sentou no sofá. Segurou o vira-tempo entre as duas mãos. Não era tão fácil conseguir um artefato como aquele. Era necessário passar por muita burocracia no Ministério e depois de conseguido eles monitorariam todas as suas voltas. E de qualquer forma os vira-tempos cedidos pelo governo não voltavam mais de dois dias no passado. Por isso James precisou construir o seu próprio. Com sangue de hearewa ele poderia ser levado a qualquer tempo.

James olhou para a foto jogada no chão ao lado do livro. Na foto ele estava sem barba e com uma garota de cabelos negros e olhos azuis o abraçando. Coira. Ele a traria de volta. Ela merecia ter sobrevivido muito mais que ele. O rapaz segurou o artefato de forma adequada e respirando fundo começando a gira-lo como o livro instruía para apenas sua consciência viajar no tempo. E assim não correr o risco dele se encontrar com seu eu do passado. E sim, tomar o lugar dele.

— Jay! Tudo bem? -  O rapaz levantou os olhos para a voz. O artefato não estava mais em suas mãos. Desapareceu. Sorriu e sentiu lágrimas rodear os cantos dos olhos quando avistou Coira.

Ele correu, a abraçou e a beijou com todo o carinho que tinha. Depois percebeu que o apartamento estava diferente. Organizado como costumava ser. E ele próprio estava em roupas alinhadas. Tudo voltaria a ser como era, pois agora ele impediria o acidente.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem



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