Hearewa escrita por Tyke


Capítulo 10
Capítulo 10 - O bom velhinho


Notas iniciais do capítulo

Agora vamos voltar um pouquinho.



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2014

— Meninos, cuidado! - Hermione gritou para as quatro crianças que corriam e se empurravam no quintal. Minutos antes James havia empurrado Hugo, não foi forte, mas o suficiente para fazer o menino menor cair no chão.

— Eles estão só brincando, Mione. - Rony estava sentado em uma cadeira do lado da esposa.

Os Weasley estavam visitando os Potters naquela tarde em Godric's Hollow. Depois do almoço os adultos se sentaram em uma mesinha na varanda para conversarem e observarem os filhos. As crianças corriam alegremente sobre a grama em uma espécie de jogo que os pais jamais compreenderiam devido a chata maturidade. Dos pequenos apenas Rose se recusou a brincar e estava sentada no colo do pai, juntos jogavam snap explosivo. A menininha geralmente preferia a companhia dos adultos ao invés das crianças da mesma idade.

— James! - Harry gritou da varanda para o filho. O garoto acabara de empurrar o primo menor outra vez e dessa Hugo chorava segurando o queixo.

Harry se levantou e foi até o sobrinho seguido por Hermione. O homem pegou o menino de seis anos no colo examinando rosto dele. Um pequeno corte se abria vermelho logo abaixo dos lábios, provavelmente causado quando o rosto se chocou com as pedrinhas do quintal.

— Desculpa, foi sem querer. - James falou para o pai com sinceridade.

Hermione estendeu os braços e Harry lhe entregou o filho. Ela também examinou o menino e perguntou se estava tudo bem.

— Porque você fez isso? - O pai olhou o filho firme.

— A gente está brincando.

— De empurrar, James?! - Harry cruzou os braços e olhou o garoto por cima dos óculos redondos.

— É que Jay é o dragão, tio. - Hugo falou enxugando os olhos ainda envolto pelos braços da mãe. Aparentemente estava melhor. Hermione tirou a varinha, com um feitiço simples deu fim ao pequeno machucado e depois colocou Hugo de volta ao chão.

— Tudo bem, Harry. Não foi nada de mais - A mulher colocou uma mão nos ombros do melhor amigo. Em seguida se dirigiu as quatro crianças, Alvo e Lily tinham vindo correndo para ver o primo e no momento estavam ao lado do irmão mais velho. - Mas tomem cuidado e brinquem sem empurrar, entenderam?

Os três meninos acenaram que "sim" e a menininha respondeu balançando os cabelos presos em dois rabinhos, um de cada lado da cabeça:

— Sim, titia.

Harry não pode evitar sorrir para meiguice da filha. Ele e Hermione seguiram de volta à varanda deixando as crianças retomarem a estranha brincadeira.

— Eu quero sorvete! - Lily disse de repente parando de correr.

— Eu também. - Hugo também parou.

— Ta bom. - Alvo sorriu para eles. - Pai! Pai! Pai!

A vontade era unanime então os quatro correram na direção da varanda.

— Pai!

— Pai!

James e Alvo intercalavam os chamados irritantes.

— O que?

— Pai!

— Falem logo, caramba! - Gina perdeu a paciência com os gritos.

— Vamos na sorveteria? - James abraçou Harry descaradamente por interesse.

— Agora? Não pode ser mais tarde? - O homem retribuiu o abraço sorrindo com gracinha das crianças.

— Não, vamos agora, papai. Você prometeu que a gente ia. - Lilian falou manhosa.

— Eu também quero ir. - Rose desceu do colo de Rony e se postou ao lado dos outros pequenos.

— Ta bem. - Harry suspirou derrotado e os meninos correram para a porta da frente. - Vamos lá. Levanta dai Rony. - Ele fez um gesto pro cunhado se levantar.

— Ah não, Harry!

— Eu não vou sozinho com esse monte de criança. Anda Logo. - Harry se ergueu e seguiu os filhos e os sobrinhos.

Pelas ruas da pequena vila, os dois adultos andavam lado a lado. Rose segurava as mãos do pai em silêncio como um fantasminha com a cabeça na lua. Um pouco a frente Hugo e Lily pulavam entre os paralelepípedos da rua tentando não pisar nas junções. James desafiou o irmão sobre quem chegaria primeiro à passagem da ponte, então por competição os dois corriam na frente de todos.

Alvo venceu e por isso ganhou um tapa de revolta de James que não se conformava por sempre perder pro irmão mais novo. Os garotos esperaram próximos a uma árvore os outros chegarem à passagem. Assim que todos juntos começaram a caminhar entre as árvores altas pelo caminho de pedra, James chegou perto de Hugo e Lily.

— Hey, vocês querem passar pelo caminho do córrego tem uns coelhinhos lá. - Ele disse aos dois baixinho para que os adultos não escutassem.

Aquele pequeno córrego cortava Grodric' Hallow do começo ao fim dividindo em duas partes. Os moradores da vila desde sempre opinaram por nunca desmatar a vegetação envolta das finas águas, então fizeram duas largas passagens cortando o pequeno santuário. Mas também era possível atravessar pelo meio das árvores uma vez que a vegetação não era densa e o córrego raso. Entretanto Harry não gostava que os filhos se metessem no meio do mato sozinhos, não porque era muito perigoso, mas sim por ainda serem pequenos e qualquer desvio de atenção poderia representar um risco.

E James era o mestre da desobediência.

— Eu não gosto de floresta. - Hugo respondeu esticando o pescoço para ver o topo da árvores.

— Isso não é uma floresta, seu burro. - O garoto de cabelos ruivos que aos nove anos começavam a ficar mais escuros e castanhos, saiu andando em direção as árvores e desviando do caminho que o pai e o tio já seguiam.

— Vem, Hugo. Tem coelhinhos brancos. - A menina seguiu o irmão.

O garotinho olhou para onde os primos iam e depois olhou o pai, já um pouco distante. Com a mão na boca e pensativo ele fez a escolha que sabia não ser certa. Mas ele queria ficar com a priminha e também queria ver os coelhos.

— Lily! - Hugo chamou assim que se encontrava entre as árvores. Ele demorou para se decidir tempo o suficiente para perder os outros de vista. - James!

Não via sinal de nenhum dos dois e já estava em um determinado ponto que não era mais capaz de voltar sozinho. Chamou mais algumas vezes. Nenhuma resposta. Olhando a toda sua volta, perdido, sentiu os olhos encherem-se de lágrimas e o coração acelerar. "Pai!" Ele gritou imaginando Rony surgindo entre as árvores para resgata-lo, mas a única resposta que veio foi uma moita se mexendo. Aquilo o assustou tanto que Hugo saiu correndo sem rumo, chorando, ofegando e desejando estar em um lugar seguro. Na correria de desespero o pequeno pé engastalhou na raiz de uma árvore e o corpo em inércia foi para frente. Ele fechou os olhos durante a queda estendendo as mãos para proteger o rosto.

Hugo bateu no chão com força, as mãozinhas doeram e ele apertou as pálpebras esperando o bicho da moita o pegar. Mas não veio bicho nenhum. Tão pouco a brisa da floresta e ele percebeu confuso que seu corpo não estava contra terra ou grama. Ele abriu os olhos e ficou estagnado por um tempo. O chão onde estava era feito de pedras e no lugar das árvores havia um imenso corredor de paredes de pedra.

— Ou garoto! - Hugo deu um pulo se levantando. Olhou na direção da voz, era homem em uma pintura enfeitiçada. - Cê veio da onde?... Caralho! Já viu essa, Gambi? - Ele chamou a pintura do quadro ao lado.

— Viu o quê? - O homem gordo da pintura, sentado em uma cadeira, perguntou com sonolência.

— Bebês aparatando! - Ele pulou para a pintura do gordo e agarrou as bochechas enormes do outro para vira-lo na direção de Hugo. - Aparatando em Hogwarts! Um bebê! - Apontava para fora do quadro com euforia.

— Não pode ser um bebê. Deve ser aluno do primeiro ano, imbecil. - Gambi bocejou cansado.

— Aluno do primeiro ano desse tamanho?! - Arregalou os olhos de incredibilidade.

— Não julgue! Ele deve ser um anão.

— Mas olha o tamanho dessas bochechas!

— E qual o problema das bochechas grandes, Kinfe?? - O gordo-pintura deu um pulo da cadeira assustando Hugo.

Kinfe e Gambi iniciaram uma discussão escandalosa e o pequeno menino aproveitou da situação para sair correndo. Confuso e assustado, ele não sabia onde estava. Mesmo ouvindo claramente a pintura dizer "Hogwarts" ele estava em dúvida. Aquilo era mesmo a famosa escola que seus pais estudaram? Talvez quando caiu o bicho da moita o atacou e agora ele estava sonhando... ou morto.

Hugo andou sem rumo não sabendo o que fazer. Algumas pessoas passavam por ele, a maioria o ignorava ou não o viam. Ele ia virar um corredor, mas estancou ouvindo uma voz familiar. Ficou escorado na quina das pedras observando as pessoas que estavam sentadas em um banco alguns metros a frente. "Tio Jorge!" quase pulou de alegria ao reconhecer. Ele quis correr e pular no colo de Jorge, mas tinha um problema... Sem dúvida estava em um sonho, pois além de parecer um adolescente igual ao Teddy o tio ainda estava duplicado. Isso fez o menino conter o impulso de correr. Ele pensou mais algumas vezes e por fim decidiu ir até lá. Não estava se importando tanto em pensar na lógica da situação. Apenas queria estar seguro.

Todavia, antes que seus pezinhos se pusessem a andar sentiu um puxão para trás. Ele se desequilibrou enquanto foi arrastado pelo que pareceu ser uma enorme capa preta esvoaçante. Quando se deu conta estava em uma sala cheia de mesas e era segurado com força pelos dois antebraços por um homem pálido de olhos frios.

— Quem é você? - Ele falou palavra por palavra bem devagar, como se estivesse inseguro se a criança era capaz de entender. Hugo não respondeu. - Quem é você e da onde veio? - Ele falou mais alto obviamente perdendo a paciência. - Você sabe falar? Entende o que digo?

— Está me machucando... - Hugo disse num fio de voz, assustado, se referindo ao aperto nos antebraços.

O homem pareceu se dar conta da força que usava e soltou o menino endireitando-se em postura ereta. Ele olhou Hugo por cima do nariz curvo e foi em direção a porta da sala para fecha-la no momento em que um grupo passava em frente a ela.

— Como chegou aqui? - Esvoaçando a capa ele se pois na frente da criança novamente. Nenhuma resposta. - Certo...Olha bem. Eu não tenho o dia todo, entendeu moleque? - A arrogância transbordava daquelas palavras. Hugo fechou a cara no mesmo instante para o homem e agora não o responderia por pirraça.

— Muito bem. - O homem agarrou novamente o menino pelo braço e o arrastou pelos corredores. Virando uns aqui outro ali e não foram vistos por ninguém.

Hugo sentiu os braços doerem e desejou que seus pais pudessem aparecer e salvá-lo. Quando pararam de frente para uma ave feia de pedra o homem sussurrou algo como "Abobra de açúcar". A ave girou no eixo e uma escada foi revelada. Hugo foi arrastado escada a cima. O homem bateu na porta de madeira, ela se abriu e novamente o menino foi arrastado e jogado em uma cadeira de frente para um senhor de aparência familiar.

— Quem é esse, Severo? - O velho ajustou os óculos no rosto examinando o menino que apalpava os braços doloridos.

— Tente perguntar você. - Severo estava parado de braços cruzados atrás da cadeira do menino. - Kinfe e Gambi do quarto andar viram essa criança "aparatar", segundo Kinfe, na frente deles.

— Ora! Que absurdo. Ele deve ter vindo de Hogsmead. - O senhor riu por trás da longa barba e depois se virou para Hugo com olhos bondosos. - Qual o seu nome, garotinho?

— Hugo. - O menino decidiu responder o senhor. Ele parecia bom e sentia que poderia ajuda-lo.

— Muito prazer, Hugo! - Ele estendeu uma mão por cima da mesa para o menino. Um pouco relutante Hugo também estendeu o braço e sua pequena mão foi encoberta pela enrugada com gentileza. - Qual o nome dos seus pais?

— Hum... - Hugo parou por alguns instantes pensando. Ele não conseguia se lembrar, sempre os chamavam de "papai e mamãe" que de repente os nomes fugiram de sua mente.

— Você não se lembra? - O velho perguntou gentil e o menino negou envergonhado. - Sabe seu sobrenome?

— Weasley. - Hugo respondeu prontamente e sorriu por saber a resposta dessa. Ele adorava saber responder algo.

 No mesmo instante que ouviu o nome o velho jogou o corpo para trás na cadeira e mirava a criança pensativo. Severo agitou-se atrás do menino e em instantes estava do lado do mais velho, olhava para a criança da mesma forma que o outro.

— Não sabia que eles tinham mais um. - A voz do homem saiu anasalada e foi dirigida ao velho.

— Porque eles não têm. São somente os sete, tenho certeza. - O velho coçou o rosto entre a barba. - Como você chegou aqui, criança?

— Eu... eu estava com meus primos e acho que me perdi. Fiquei assustado e sai correndo ai...estava aqui... eu não sei.

— Bem! - O senhor girou na cadeira ficando de frente para o outro homem. - Os Weasley são uma família muito grande. Grande parte escocesa. Eu não tenho conhecimento de nenhum das crianças deles se chamar Hugo, mas mesmo assim me faça um favor e contate madame Rosmerta e pergunte se há algum Weasley na cidade. Eu irei...

— Hermione! - O garotinho gritou de repente. Ambos os homens olharam para ele, o senhor com uma mão que antes gesticulava paralisada no ar.

— Quem é Hermione? - Ele girou novamente na cadeira, se endireitando, voltando toda sua atenção para a criança novamente.

— O nome da minha mãe. Eu me lembrei. - Hugo recebeu o olhar mais curioso de toda sua vida daquele velho. Ninguém nunca o olhou com tanto interesse.

— E o do seu pai?

— Hum... - Hugo coçou a palma da mão desconfortável.

— Ronald, Fred, Jorge, Percy, Guilherme e Carlos. Algum desses?

— O que está sugerindo com isso? - Severo deu a volta na mesa ficando de frente para o senhor. - A garota tem apenas doze anos, Alvo.

— Não estou sugerindo nada. Estou perguntando. - Ele nem se deu ao trabalho de olhar o outro. - Algum desses, criança?

— Ronald... Rony! - Hugo sorriu por se lembrar.

— Como imaginei. - Um sorrisinho surgiu por trás da barba. - E os outros nomes são familiares para você?

— São os nomes dos meus tios. - Menos Fred, que era o nome de um dos primos, mas o menino achou melhor relevar um nome errado no meio da lista. - Eles são irmãos do meu pai. - Abaixou a voz contando algo extraordinário que descobriu sozinho algumas semanas.

— É mesmo? Incrível! - O senhor devolveu no mesmo tom de extraordinaridade e depois riu da ingenuidade da criança. Se virando para outro professor. -  Severo, preciso que vá até Sibila e a traga aqui por favor.

— Por quê?

— Porque estou pedindo. - O senhor deu de ombros. - E depois está dispensado para retomar suas aulas.

Mesmo ouvindo as ordens o homem não se moveu. Encarou os olhos azuis por trás dos óculos de meia-lua exigindo explicações, mas elas não vieram. Após algum tempo ele se retirou da sala decidindo ignorar o ocorrido.

— Hugo. - Com os dedos entrelaçados sobre a mesa, ele chamou o menino que estava distraído passando os dedos envolta duma pena branca de escrever. - Você sabe quem eu sou?

— Não.

— Alvo Dumbledore. Sabe agora?

— Alvo... - Hugo tirou os dedos da pena e pensou no primo por alguns instantes. Analisando cada detalhe do rosto envelhecido ele se lembrou: - Ah! Você está nas cartinhas do sapo de chocolate.

— Devo confessar que não estou lisonjeado. - Dumbledore riu divertido. - Mas isso serve. Então; sim, sou eu nas cartinhas.

— Hum... - O menino estava confuso. No verso das cartinhas diziam que o grande bruxo Dumbledore já havia morrido. Porém ele ainda não sabia ler muito bem, então não podia ter certeza desse fato.

— Você sabe onde está? - O professor decidiu continuar percebendo que a criança não falaria mais nada.

— Hogwarts? - Se lembrou que as pinturas dos quadros mencionaram a escola.

— Sim, e você sabe quando? - Essa pergunta Hugo não compreendeu e Dumbledore percebeu isso. O velho continuou, deixando essa pergunta de lado por enquanto. - Onde você estava antes de chegar aqui? Me conte direito o que aconteceu.

— Na casa dos meus tios... A gente estava indo comprar sorvete ai o Jay disse para passarmos pelo córrego e entramos na floresta. Eu me perdi deles. Escutei um barulho e sai correndo. Dai eu cai no chão e estava aqui.

— Entendo. - Dumbledore se levantou da cadeira, ajeitando as vestes deu a volta na mesa e puxou uma cadeira ao lado da criança. - Hugo, você conhece Harry Potter?

— Sim. - Os olhos do velho brilharam.

— Ele está vivo?

— Tá, ele é meu tio. Era na casa dele que estava antes de vir parar aqui. Por quê? - O menino indagou notando a felicidade nada sutil no semblante do senhor.

— Por nada. Agora vamos falar de você, está bem? - O menino afirmou. - Isso, de estar em um lugar e de repente em outro, já aconteceu antes?

— Não desse jeito. Mas quando durmo em algum lugar diferente sempre acordo no meu quarto.

Dumbledore riu.

— Muito bem. Você sabe em que ano está?

— Sei. 2014, minha mamãe que falou.

O velho escolheu as palavras por alguns instantes e por fim disse:

— Você estava em 2014. Agora está em 1992. Entendeu?

Hugo exibiu um olhar confuso e paciente por explicações.

— Você é um hearewa. Ou seja; um viajante do tempo.

— Como o Doutor?! - O menino pulou de alegria sorrindo. E Dumbledore não compreendeu.

— Desculpe, mas eu não sei do que está falando, criança.

— O Doutor! Ele vem de outro planeta e viaja no tempo em uma caixa azul e...

— Está falando de televisão? - Ouvindo a estranheza desse Doutor o senhor sugeriu o palpite.

— É... Nunca viu Doctor Who?

— Receio que não. - Dumbledore se inclinou um pouco para frente e segurou as duas mãos pequenas mirando Hugo com intensidade. - Preste atenção, Hugo. Ser um hearewa não é bom. É perigoso. Tanto para você quanto para as outras pessoas. Então, se descobrirem o que você é tentarão mata-lo. Por isso, me escute com atenção, você não poderá viajar no tempo nunca mais! Entendeu?

Hugo pairou sobre o olhar do velho por alguns instantes, assustado com gravidade das palavras que lhe foram ditas. Por fim ele afirmou com um aceno de cabeça e Dumbledore continuou.

— Nem mesmo sem querer. Nunca mais, está claro? - O menino confirmou com outro aceno de cabeça.

Ouviram batidas na porta e o velho se levantou para atender. Uma mulher estranha adentrou a sala. Dumbledore contou tudo o que sabia e suspeitava do menino para ela e depois eles cochicharam sobre o deveria ser feito. Após escutar cada palavras do professor, a mulher se aproximou de Hugo e o analisou por trás das grossas lentes do óculos.

— Sim, Alvo. Eu posso sentir. Ele é como um deslocamento do universo. - Ela se aproximou mais e o menino inclinou para trás afastando dela.

—Hugo, esta é professora Sibila Trelawney. Ela irá ajuda-lo a voltar para seu tempo e principalmente a controlar sua habilidade. Assim que eu terminar de explicar umas coisas para você.

Dumbledore retomou o lugar na cadeira de frente para o menino e explicou a ele tudo sobre a história dos hearewa e muito pouco sobre as habilidades e poderes destes. Contou-lhe sobre a perseguição do Ministério e que iria ajuda-lo a sobreviver por consideração aos seus pais e principalmente por ter visto nele a certeza de um voto de confiança.

Então contou-lhe o risco que ele representava. Podendo viajar para o passado - nunca o futuro, uma vez que não se pode avançar pra uma época que ainda não existe e é inserta perante a própria existência. - e pode alterar tanto acontecimento banais como acontecimentos importantes. Está ai o perigo. Os acontecimentos importantes são os mais atrativos à alteração. E eles selam o curso do Universo de uma maneira única. Se alterados, uma ferida se abre na realidade, o caos toma conta da situação através dos Pecusnigrum que são criaturas horrendas. Se caso isso ocorra é possível concertar o que foi corrompido. Mas apenas por quem alterou a realiada.

 As ligações entre um clarevidente e o viajante temporal são óbvias. Apesar de que um pode se materializar no passado e o outro ter vislumbres dos diversos futuros insertos. Ambos sentem o tempo e o Universo. Ainda, um pode sentir a presença do outro e se conectarem de diversas formas.

Quando tudo que podia ser dito foi dito. Hugo permaneceu em silêncio sentindo-se um verdadeiro monstro por representar um perigo e não ter escolha sobre isso. Dumbledore pegou a pena e escreveu uma carta. Selou com cera vermelha e o brasão de Hogwarts. Estendeu o pedaço de pergaminho para o menino.

— Assim que possível entregue isso aos seus pais. Somente a eles. E nunca conte a ninguém o que você pode fazer, entendeu? Será o seu segredo, e dos seu pais, que o manterá vivo.

Hugo pegou a carta. O velho se ergueu da cadeira e pegou a varinha. Sibila se postou atrás da criança colando as mãos sobre a cabeça dela. Eles avisaram que iriam começar e que Hugo deveria relaxar e não pensar em nada. O menino estava preste a perguntar "Começar o quê?" quando sentiu uma forte dor de cabeça. Parecia que a dor saia das mãos da mulher e espancava seu celebro. Ele fechou os olhos sentindo lágrimas de dor escorrer, em segundos sentiu tudo cessar e uma brisa suave bater contra seu rosto.

— Hugo! - O menino tentou virar na direção da voz.

Ele estava deitado no chão. Os olhou abertos, turvos, viam folhagens de arbustos dançarem ao vento. O cabeça parecia chumbo pesado e o corpo mole como gelatina. Hugo sentiu uma mão pousar em suas bochechas e um rosto conhecido postar-se turvo em seu campo de visão.

— Hugo, você está bem? O que aconteceu? - James chacoalhou o primo, mas ele estava cansado demais para responder. - Faz um tempão que você sumiu. Está todo mundo te procurando.

— Eu... - As pálpebras piscaram cansadas. Tudo parecia um sonho estranho agora.

— O que é isso? - James reparou no pedaço de pergaminho nas mãos do primo.

O mais velho tomou a carta nas mãos. Hugo viu, mas não foi capaz de protestar. James quebrou a cera, abriu a carta e se pós a lê-la. A cada frase os olhos do garoto ficavam maiores. Ele não compreendia todas as palavras da escritas, mas entendeu muito bem o contexto e a situação. Quando leu a assinatura da carta seus lábios se abriram surpresos. Em seguida guardou a carta nos bolsos da blusa.

— Vem! Levanta. Consegue andar? - James puxou o primo o fazendo ficar em pé. Com muita dificuldade Hugo se firmou zonzo e começou a caminhar escorado no corpo do outro.

Eles andaram juntos assim até chegarem na ponte. Rony estava lá ao lado de Gina e assim que avistou os dois garotos correu na direção deles. Tomou o filho nos braços e o abraçou sentindo o aperto do coração aliviar.

— Ele está bem? - Gina veio logo atrás do irmão e perguntou preocupada acariciando a cabeça do sobrinho.

— Hugo, está tudo bem? - Rony tentou olhar no rosto da criança, mas ela se agarrou com força envolta do pescoço do pai.

— Estou. - Sussurrou próximo ao ouvido de Rony. Hugo realmente estava melhor fisicamente, mas sentia-se triste como nunca sentiu.

— Eu vou avisar Harry que o encontramos.- Gina falou para o irmão e depois se virou para o filho irritada - E você rapazinho, não deveria estar em casa com sua tia?

— Eu falei que queria ajudar - James baixou os olhos recuando.

— Ajudar? Ah sim, concertar seu próprio erro e desobedecer como sempre!

— Gina, calma - Rony apoiou uma mão nos ombros da mulher.

— Depois vamos ter uma longa conversa, James. Pode aguardar - Ela se virou e saiu andando, atravessando a ponte de concreto e madeira.

Rony começou a se mover. Iria o mais rápido possível em direção a casa de Harry e Gina onde uma Hermione muito preocupada cuidava das demais crianças.

— Tio - James chamou e o homem se virou olhando para baixo.

O sobrinho estendeu a carta e Rony o observou confuso.

— O que é isso?

— Estava nas mãos de Hugo, quando o encontrei. É para o senhor.

Rony abaixou uma mão e pegou o pedaço de pergaminho. Com dificuldade, por segurar o filho nos braços, conseguiu abrir e ler os escritos em tinta verde. Hugo já tinha consciência de tudo ao seu redor.  Então agarrado ao pai começou a chorar quando percebeu que ele lia a carta. Assim que terminou de ler tudo, Rony colocou o menino no chão e agachou na frente dele. Hugo evitou os olhos do pai chorando alto.

— Calma, está tudo bem! - Rony fez um esforço para segurar as próprias lágrimas vendo o estado do menino.

— Vão tentar me matar - Hugo soluçou em nítido medo e desespero.

— Não, eu nunca deixaria ninguém te fazer mal - Ele limpou as lágrimas do rosto salpicado de sardas e olhou firme para James - E também, ninguém nunca vai saber, certo James?

— Não vou contar eu juro. - O garoto respondeu transmitindo sua máxima sinceridade. Ele leu o que dizia a carta. E se guardar segredo era a segurança do primo, então ele não contaria nem para os pais.

— Ótimo! Agora vamos. - Rony tomou o filho nos braços novamente e caminhou, seguido pelo sobrinho, em direção ao amontoado de casinhas.

Hermione chorou ao ler a carta, quando chegaram em casa e o marido lhe entregou o pergaminho. Ela nunca sentiu tanto medo de perdeu o filho como naquele momento. Rony e Hermione seguiram a risca todas as instruções de Dumbledore. Entre elas; O segredo absoluto. E ensinar o mais rápido possível oclumencia para Hugo, ele deveria ser um mestre e ter total controle da mente o quanto antes para que nunca alguém a invada e descubra seus segredos. Ainda na carta o antigo diretor de Hogwarts também assegurou que ensinou o menino a controlar a habilidade e que ele nunca "pularia" pelo tempo novamente. E que ele seria uma criança normal se todas suas instruções fossem seguidas.

Todavia, o bom velhinho deixou um pequeno detalhe de fora. Não esclareceu sobre os problemas que Hugo poderia causar e tão pouco o real perigo que ele representava. A intenção não era deixar os pais com medo da criança. Então apenas deu uma superficial explicação, as instruções e excitou o medo da perda. Assim fazendo o casal cumprir todas instruções para a segurança do filho.

James cumpriu a promessa e nunca disse nada a ninguém. Conforme os anos passaram Hugo cresceu como uma criança e um adolescente normal até atingir a fase adulta. Nunca mais viajou por acidente e nem intencional. Ele tinha medo de fazê-lo e também nunca tentou. Com o tempo ele até esqueceu o que era. E nunca precisou se preocupar com isso até 2029


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem



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