Você sabe o que é paralisia do sono?

É quando o cérebro acorda antes do corpo e você fica paralisado.

Preso dentro de você.

—Na paralisia do sono seu cérebro acorda e seu corpo não.- Stiles falou. Ele estava ao lado de Scott estranhamente agitado. Pelo menos ele não estava agindo da maneira assustadora que antes. -Eu acho que o sacrifício pode ter me deixado com efeitos colaterais.-

—Sacrifício?- Perguntei, virando-me na cadeira e encarando Stiles. -Que sacrifício?- Sussurrei.

—Não contou pra ela?- Scott estreitou as sobrancelhas.

—Stiles?-

—Olha, o professor chegou.-

—Stiles!- Gritei e a sala toda virou-se pra mim.

—Pra coordenação, agora! Eu não admito...- Me a levantei indo em direção a porta, quando o professor finalmente olhou pra mim. -Koreshkov? Loren Koreshkov?- Chamou confuso. -Não vai não, volta! Nada de coordenação! Que é isso?- Dei meia volta parando em frente a mesa do professor. -Onde você tava, minha filha?-

—Eu...-

—Não importa. Graças a Deus! Achei que tivesse saído da cidade. Esses idiotas iam nos destruir. Principalmente o Greenberg. Íamos perder as regionais sem você.-

—Né.- Concordei. -Mas, bem. Eu estava...doente.-

—Mas olha pra você! Novinha em folha! Pronta pra vencer o jogo! Viva! -Falou sorridente. -Nada de coordenação pra você. Pode se sentar.-

Viva?

Voltei branca para o meu lugar. Sentei com olhos curiosos sobre mim. Essa é a maldição das cidades pequenas. Todos sabem sobre tudo. E se você desaparece por umas semanas...Bem, eles vão notar.

—E aí, Koreshkov? Doeu muito?- Um garoto Perguntou ao meu lado.

—Que?- Stiles o olhou esquisito.

—Quando você morreu.- Persistiu na pergunta.

—Mas eu não...-

—Morreu sim!-

Stiles se levantou e olhou ao redor.

—Loren, vem comigo.- Disse e me puxou pela mão sem nem mesmo receber a minha resposta.

—O que foi?-

—Eu nem sei mais quando um sonho é um sonho...-

—O que?- Gritei enquanto corríamos pelo corredor.

Não havia ninguém no corredor nem nas outras salas. Parei bruscamente e o olhei perplexa.

—De isso é um sonho, então é o meu sonho. E você não é real!-

—Não, esse é o meu sonho.-

—Eu tenho certeza que é o meu.-

—Mas eu sei que é um sonho. Não significa que não seja seu também. Toca em mim.- Falou.

—O que? Claro que não! Eu nem sei...- Stiles puxou minha mão e virou a palma pra cima, dando um tapinha.

—Aí!- Gritei. -Que idiota!-

—Você sentiu, não?-

—Tá, mas então isso não é um sonho... Ou é?-

—Ainda é um sonho.- Me puxou e corremos pra fora da escola. Estava escuro, como se fosse noite. Mas quase agora era dia. Manhã. O sol estava quente e brilhante.

—Viu?- Me mostrou.

—Mas são 09:30...- Falei, enquanto olhava o relógio no meu pulso.-

—Não.-

Continuamos a andar e de repente estávamos no corredor novamente.

—Mas que droga!- Preguejei. Corri novamente pra fora da escola e ao atravessar o estacionamento, estava novamente no corredor ao lado de Stiles. Era pra eu estar na floresta.

—E como eu acordo?- Perguntei. Stiles não respondeu. Apenas olhou ao redor. -Stiles!-

—Eu não sei!- Respondeu.

—Como assim, não sabe?-

—É a paralisia! Eu não sei!-

—Como a paralisia te colocou no mesmo sonho que eu?-

—Eu nem sei se você é real.- Respondeu e virei a mão em sua cara, dando um tapa barulhento. -Tá. É você!-

—Stiles, pensa. Você é uma máquina de planos, só me tira daqui. Porque as coisas estão ficando esquisitas e isso está longo de mais pra ser um sonho.-

—Tá.- Disse me puxando para um canto. O sino tocou e a "aula" acabou. Vários Scotts, Lydias, Isaacs e alunos saíram das salas que estavam vazias. Todas as representações dos alunos que conhecíamos em 3. -Pesadelos são mais longos, ou pelo menos parecem durar mais. O tempo aqui geralmente não passa da mesma maneira que quando estamos acordados.-

—Espera, então isso pode ser um pesadelo? Quer dizer que algo ruim vai acontecer?-

—Provavelmente. Não necessariamente algo horrível. Pode ser só algo desconfortável ou...-

—Angustiante, talvez?- Falei olhando ao redor. Os rostos das pessoas estavam cheios de pequenos buracos.

—É, tipo uma fobia...Espera. O que você está olhando?- Perguntou olhando ao redor, quando percebeu os rostos deformados dos alunos. -Você é tripofóbica...- Concluiu. Eu já estava agoniada a esta altura. Tentei olhar para os lados, desviar o olhar... Até que um Aluno se aproximou para falar algo comigo.

—Loren, eu estava pensando. Não foi ridículo o que a Stella falou com Ricardo ontem?- Puxou assunto. Só que eu não conheço nenhuma Stella, não conheço Ricardo e não tive aula ontem. Respirei rápido, desesperada. Não conseguia tirar os olhos dos buracos. Senti a mão de Stiles pegar a minha. Apertei sua mão com toda a força possível e fechei os olhos.

—Fica calma.- Sussurrou ao meu ouvido.

—Eu disse pra ela que não tinha nada a ver...- Continuou. -Ei, por que está de olhos fechados?- Perguntou e senti algo tocar meu braço. Ótimo. Uma mão com com couro de jacaré. Que ótimo!

—Só pode tá me zoando...-

—Por que não olha pra mim?-

—Stiles!- Gritei. De repente abri os olhos e estávamos na floresta. Uma clareira.

Soltei sua mão e andei. Deixei que o ar entrasse em meu pulmões tensos.

Foi Quase uma sensação de felicidade por não estar na escola. Suspirei aliviada e corri até Stiles, o beijando. Sua reação surpresa me fez lembrar que havia uma possibilidade de ele não fazer parte do sonho.

Se ele for real, talvez ele se lembre disso quando acordar. Me afastei e tentei nos localizar.

—Stiles, por que não conseguimos acordar?-

—Que parte de "Paralisia" você não entendeu? Já estamos acordados. Só que estamos presos no sonho.- Falou. -Espera, ouviu esse barulho?- Perguntou.

—Que barulho?- Perguntei e de repente caí. Tentei me levantar, mas algo começou a me puxar. Stiles tentou me ajudar, mas assim que ele correu até mim o espaço entre nós se alargou. Um metro virou dez e ia ficando cada vez mais distante.

Eu já falei que eu ODEIO ser arrastada? Então...

—Me solta!- Gritei esperneando. -Me solta, droga!- Virei o corpo para tentar olhar quem estava fazendo aquilo. Entrei em pânico imediatamente.

—Droga....Socorro!- Gritei.

—Você é sempre tão iludida ou só finge?- Jennifer perguntou.

Stiles conseguiu se concentrar e sair do limbo de espaço, mas é claro que ele não conseguiria chegar até mim. Dois metros e dois homens encapuzados o seguraram.

—Stiles!- Gritei quando Jennifer me colocou no Nemetom. Outros encapuzados vieram ajudá-la. Não adiantava me debater, me contorcer... Não adiantava gritar. Meus braços e minhas pernas foram frescos em forma de X liberando meu peito para o golpe final.

—Só pode tá zoando comigo!- Gritei para os seus. -Que merda de ¹Sandman é esse?-

—Do tipo que não é sandman.- Jennifer falou e enfiou a adaga no meu peito. Acordei num pulo.

—--

Minhas batidas ecoaram pela rua agitada e alguns vizinhos me olhavam feio, mas cada vez eu batia mais forte. De repente a porta se abriu revelando Stiles, que me puxou pra dentro trancando a porta atrás de si.

—Você...- Comecei histérica, sendo interrompida pelo rapaz a minha frente.

—Sim-

—E como você...-

—Logo após você.- Falou. -Acordei agora pouco.-

—Você... Você lembra? Era você?-

—Sim, Loren...-

—Stiles, preciso saber se estamos falando da mesma coisa, por que eu tô apavorada.-

—Sério que você tem fobia a superfícies irregulares?-

—Droga!- Preguejei. -Como você foi parar no meu sonho?-

—Não sei.-

—E que história era aquela de "Sacrifício"?-

—Loren dá pra...-

—Até onde eu me lembro fui eu quem foi sacrificada!-

—Loren...-

—E ontem eu quase machuquei o Dembe quando estávamos saindo da cidade...-

—Loren!- Gritou e me falei, petrificada. -Dá pra se acalmar? Eu vou explicar tudo.-

—Fique a vontade.- Falei, sentando em uma poltrona. Stiles sentou no sofá com os cotovelos apoiados nas pernas.

—Senti sua falta.- Falou.

—Tá.- Balancei a cabeça.- Também senti sua falta no inferno...-

—Loren, é sério. Eu senti sua falta.- Falou. Os olhos castanhos me olharam intensamente e havia algo escondido que eu não conseguia decifrar. -Você não sabe porque estava com a Jennifer. Eu vi...quando aconteceu.-

Fiquei sem chão. Respirei fundo encostando a cabeça na poltrona, deixando-a pender pra trás. Umideci os lábios secos. Minha mente repassava tudo o que havia acontecido. Alguém gritou.

—Você...-

—Eu vi você morrer.- Falou - Você estava morta. Estava morta e estava fria. Disse se levantando. -Fria e sem vida...Nos meus braços. Eu não lidei muito bem com isso.-

Flashback on

—Ele ficou trancado horas no quarto...- O Sheriff explicou. -Então não estava mais lá. Foi quando o barulho parou.- O homem passou a mão no rosto, cansado. -Quebrou tudo. Melissa, ele não tá bem.-

—Onde ele está agora?-

—Onde o Jeep estiver...- Respondeu.

Flashback off

—Por que?- Perguntei baixinho.

—Por que se entregou a ela?- Respondeu minha pergunta com outra. O tom de voz novamente carregado. Era um misto de ódio e de dor que eu nunca sentira em Stiles.

—Você me odeia.- Falei. -Me odeia porque eu morri.-

—Eu não sei o que eu sinto.- Disse. -É intenso, doloroso e se eu não te odiasse tanto, diria que é amor.-

—Esse não é você.- Falei me levantando.

—Esse sou eu agora.- Falou. -E essa é você. Você foi muito egoísta.-

—Egoísta?- Ri. -Eu estava tentando ajudar! Estava tentando salvar o meu amigo! Seu pai!- Gritei.

—Você me destruiu.-

—Não seja dramático, querido.- Falei, sarcástica. Mas sabia que ele não estava sendo dramático. Só que eu apenas não conseguia reconhecer Stiles. -Estávamos falando sobre um pesadelo, não estamos mais?-

Stiles se manteve em silêncio com um estranho brilho no olhar.

—Ótimo.- Falei, seca. -Faz o favor de não chegar perto de mim de novo.-