Ele caminhava olhando para os lados, segurando com força o buquê em suas mãos. O lugar ao seu redor parecia irradiar felicidade, com casais comemorando e sorrindo grandiosamente, parecendo não ter nada que poderia fazê-los triste numa data daquelas. O moreno sorriu de lado quando avistou Sirius próximo a alguns bancos, segurando a mão de uma garota loira. Ela era bonita, mas não a que procurava.

James suspirou frustrado. Todos estavam ali pela mesma razão ― talvez não todos, mas a maior parte estava; como ele não conseguia encontrar a que faria seu coração palpitar e suas pernas tremerem? Ele queria achar. Ela tinha de estar ali em algum lugar. Continuou caminhando pelo lugar, vendo pessoas um pouco frustradas assim como ele. Estava quase desistindo, após apenas dez minutos, porém suas esperanças estavam sendo atiradas de um precipício a cada segundo que se passava sem encontrá-la.

Então finalmente a viu. No centro dos casais se beijando e abraçando estavam seus cabelos ruivos, colocados atrás da orelha. Seus olhos (que de longe notava-se serem de um verde intenso) estavam focados na tela do celular, enquanto uma das mãos batia distraidamente na mesa. James sentiu seu corpo esquentar com cada detalhe que conseguiu observar daquela distância na dona daquela pele pálida e delicada.

Ele apressou os passos, sentindo algo crescer dentro de si. Na pressa, quase esbarrou em um casal que parecia estar em seu próprio mundo, pois os rapazes sequer o ouviram pedir desculpas, ofegante para chegar ao lado da ruiva. A cada passo que dava, a beleza dela o hipnotizava. Ela não era a mulher mais bonita do mundo, não tinha o corpo de uma modelo ou era o estereótipo de perfeição; tinha uma beleza delicada e simples, nada exagerado, mas muito a ser apreciado.

― Com licença? ― pediu, ao se aproximar. Limpou a garganta em nervosismo quando os olhos, que agora pareciam estar mais verdes, ergueram-se em sua direção. Um sorriso brotou nos lábios finos da mulher a sua frente e ele podia dizer que estava apaixonado. Estendeu o buquê em sua direção. ― São pra você. Espero que goste de tulipas, acho rosas muito-

― Clichês? ― ela perguntou, levantando-se da cadeira e aceitando o presente. O sorriso em seu rosto pareceu ficar maior. James assentiu, sorrindo igualmente, segurando a vontade de ajeitar os óculos no rosto; coisa que fazia muito quando nervoso. ― Eu gosto de rosas, mas tulipas são umas das minhas preferidas.

― Acho que acertei, então ― respondeu-a, sentindo-se confiante ao vê-la olhar as flores com carinho. James focou seus olhos nela, não conseguindo parar de sorrir. O olhar da ruiva de olhos verdes desfocou das flores para olhar para James. Com uma delicadeza que fez o moreno suspirar, ela pôs as flores sobre a mesa e aproximou-se mais, levantando as mãos para o rosto do rapaz e ajeitando seu óculos no lugar.

― Acertou em cheio ― sussurrou, passando as mãos em volta de seu pescoço, aproximando os lábios do dele.  Seu hálito era inebriante. ― Estou orgulhosa ― e grudou suas bocas. James foi ao paraíso e voltou em menos de um segundo. Os lábios contra os seus, num beijo calmo e delicado, sem pressa, sem profundidade. Parecia ter mais sentimento envolvido do que realmente havia. Era a melhor sensação que James havia sentido ao beijar alguém, e sabia que aquilo nunca mais se repetiria, e ele não queria que isso acontecesse.

Quando se separaram, depois de todo o êxtase envolvido no singelo beijo, ficaram olhando um nos olhos do outro por um longo período, sem desmanchar o sorriso, que parecia que habitaria o rosto dos dois para sempre.

― Então ― ela quebrou o silêncio, convidando-o com o olhar para sentar a sua frente, e ele o fez, tentando não sorrir mais ainda ―, a pergunta importante do dia: qual o seu nome?

― James ― o moreno respondeu rapidamente, observando-a passar seus dedos delicados pelas tulipas. ― James Potter. E o seu?

A ruiva sorriu, mostrando uma covinha em sua bochecha que fez James segurar a vontade de passar seus dedos por ela.

― Lily Evans ― o moreno piscou, atordoado, e a garota (que agora tinha um nome), pareceu perceber. ― Algo errado?

― Não, nada. É só que... ― James balançou a cabeça, voltando a sorrir. ― Eu devia ter comprado os lírios, combinariam mais com você.

Lily soltou uma risada gostosa, acompanhada por James. Os dois sentiam algo ali, entre eles, mas não saberiam explicar o que era.

― Saiba que isso seria a melhor coincidência que poderia acontecer ― ela balançou a cabeça, segurando a mão de James que estava apoiada na mesa. ― Então, James, vem sempre aqui?

O moreno diria que ela estava dando aquela cantada clichê e barata de sempre, mas sabia do que ela estava falando e negou, apenas balançando a cabeça para os lados.

― Foi meu amigo, Sirius, que me disse sobre o... Encontrão? ― murmurou a última palavra em tom de pergunta, não sabendo como exatamente poderia chamar aquilo. ― Por mais que eu esteja cursando em Hogwarts há quase três anos, nunca soube disso. Ele também descobriu apenas esse ano e eu não conseguiria descrever a felicidade dele ao contar sobre o que havia ouvido durante o intervalo de uma de suas aulas.

James estava falando sobre um encontro que acontecia em Hogwarts anualmente há algum tempo. Ninguém sabia exatamente quem havia começado com aquilo ou como, o que importava era em todos os dias dos namorados, as pessoas descomprometidas passavam a tarde pelo campus da universidade. Alguns casais iam também, mas tratavam de ficar sempre juntos, para não ocorrerem enganos.

Não era obrigatório essa coisa de levar flores ou chocolates, muito menos o cara ter de ser a pessoa a puxar uma conversa. O que importava era encontrar alguém que interessasse e, talvez, algo mais rolasse. E se, por exemplo, uma garota chegasse em um garoto que também gostava de garotos, nada estranho acontecia, apenas era tudo explicado e não tinha essa coisa de preconceito. A maioria ali era adulto e não tinha esse pensamento antiquado, apenas a pequena minoria, que geralmente não participava do encontro.

― O mesmo comigo ― Lily disse, inclinando sua cabeça levemente para o lado. ― Exceto que eu já sabia sobre, mas nunca tive o interesse de vir.

― E o que a fez mudar de ideia? ― James observou-a dar de ombros, mordendo a parte interna dos lábios.

― Eu senti que seria bom tentar coisas novas.

A partir daí a conversa fluiu e o moreno e a ruiva sequer perceberam o passar do tempo. Conversaram de tudo um pouco, compartilharam ideias e seus gostos. Contaram um ao outro o que gostavam de fazer, sobre seus amigos e família. Pareciam se conhecer há anos, mas não era nem perto disso.  Quando já era mais tarde, foram a uma lanchonete e compartilharam a conta, e voltaram sorridentes ao campus, no meio de uma conversa que não parecia ter fim. Qualquer assunto poderia ser falado entre eles, não importando qual fosse; se as opiniões não batiam, eram respeitadas.

No final, James percebeu que não queria dizer adeus, e quando estava pronto para dizer o que pensava à Lily, ela o convidou para ir ao seu apartamento. James hesitou, mas aceitou.

~x~

O lugar era simples e delicado, assim como Lily.

James observou o apartamento com atenção, conseguindo ver muito da garota ruiva ali, mesmo conhecendo-a há pouquíssimo tempo já sabia muito sobre ela. Os dois sentaram-se no sofá, aliviados para enfim livrarem-se do cansaço ― o apartamento não era tão longe de Hogwarts, mas ficava depois de uma rua inclinada que parecia que nunca acabaria. Lily, que já era mais acostumada, havia rido da indignação de James ao saber que teriam de subir tudo aquilo.

― Eu sei que mal faz uma hora que comemos ― Lily disse, jogando sua bolsa ao lado do sofá ―, mas eu morreria por uma pizza.

― Margherita? ― perguntou, sorrindo de lado. Lily bateu palmas, animada, correndo os dedos pelo celular para fazer o pedido. James observou-a pedir a pizza, assim como um refrigerante. Novamente, dividiriam a conta.

Quando o pedido chegou, os dois decidiram que comeriam enquanto assistiam à Os Caça Fantasmas (o quão maravilhoso era terem o mesmo filme como preferido?), e foi o que fizeram. Realmente, James não acreditava que havia conhecido Lily há apenas algumas horas.

Quando o filme acabou, Lily desligou a televisão, virando-se para James. Os dois estudaram um ao outro por algum tempo, nenhum querendo desviar o olhar. O moreno estava encantado pelos olhos da ruiva à sua frente e poderia apreciá-los para sempre.

― Você tem algo importante amanhã? ― James negou, após pensar por alguns segundos. Seu dia se resumiria a ficar trancado o dia todo, revisando seus trabalhos. Lily sorriu para ele, mordendo os lábios e, no segundo seguinte, estava sentada sobre suas pernas, com os braços em volta de seu pescoço.

Ele não hesitou em colocar as suas em sua cintura, trazendo-a para mais perto de seu peito. Lily aproximou seu rosto ao dele, sorrindo minimamente antes de grudar seus lábios. E, diferentemente do primeiro, esse beijo era envolvido por desejo e pressa, a profundidade inexistente no outro estava em dobro agora. As mãos da ruiva apertaram os cabelos na nuca de James, causando um audível suspiro no mesmo, que imediatamente começou a movimentar suas mãos pelas costas da garota em seu colo.

― Vem ― Lily levantou-se, puxando-o pela mão em direção ao que James supôs ser o quarto dela. Quando entraram, ela levou-o até a cama e o deitou, voltando a se sentar sobre seus quadris. James fechou os olhos quando ela começou a distribuir beijos pelo seu pescoço, enquanto começava a erguer a barra de sua camisa, fazendo-o rapidamente inclinar-se para então se ver livre da peça de roupa. Agora Lily trilhava beijos por sua barriga, movimentando as mãos por onde elas alcançavam.

― Lily ― ele suspirou, observando-a mover suas mãos para sua calça e começar a desabotoar a peça. Antes ele havia ido ao paraíso e voltado, mas agora tinha certeza de que iria experimentar um pouco do inferno.

~x~

― Sabe o que eu acho que combina com você? Além de lírios e tulipas? ― Lily olhou para James com os olhos entreabertos, sua cara de sono e cabelo bagunçado mostrava que havia acabado de acordar. ― Petúnias.

― O quê? ― ela perguntou, com a voz rouca. Limpou a garganta antes de continuar, levantando do peito de James, que usava como travesseiro, e puxando as cobertas para cobrir seu corpo. ― Eu não te disse que tenho uma irmã?

― Disse ― ele respondeu, franzindo a testa. ― Mas eu estou falando de você.

― O nome dela é Petunia! ― exclamou, arregalando os olhos. ― Eu não posso combinar com uma petúnia! Petúnias são arrogantes, prepotentes e hipócritas!

James gargalhou, recebendo um tapa de Lily em seu ombro. Ele obrigou-se a parar, respirando fundo.

― Você não me disse que ela se chama Petunia ― pontuou, levantando um dedo na direção da mulher. ― E eu não acho que flores possam ser assim, elas estão por aí para deixar o mundo mais bonito.

― Eu não gosto de petúnias ― Lily resmungou, voltando a deitar a cabeça em James, o sono voltando gradativamente.

James sentiu a respiração da ruiva contra si e sorriu. Aquela havia sido a melhor noite de sua vida, não precisava pensar duas vezes para ter certeza daquilo. Anotou mentalmente para agradecer a Sirius por tê-lo contado sobre esse “evento” que ocorria em Hogwarts, ele havia mudado sua vida para sempre.

Pois sabia que nunca iria sair do lado de Lily, não importava o que fosse. Mesmo que não dessem certo como um casal, ele passaria sua vida ao lado dela.