A mulher negra levantou-se em um pulo, nervosa e ansiosa ao terem chamado seu nome no palco da Ordem de Merlin. Para ela, aquele título era o mesmo de ganhar o prêmio Nobel, no mundo trouxa. Ronald não deixou a esposa ir sem apertá-la rapidamente, também nervoso. Hermione estava rindo de excitação entre aplausos naquela plateia enorme, no maior e mais antigo teatro bruxo de toda Londres. Assim que conseguiu sair de sua fileira, Harry, que estava na outra, agarrou seu braço, o apertando.

Ela deu-lhe um sorriso enorme, tentando controlar seu choro infantil, extremamente trêmula ao segurar seu vestido enquanto subia a pequena escadaria em direção do palco. Ela olhou para aquela multidão, de pé, a aplaudindo, e deu alguns passos trôpegos em direção do host daquela edição, que não era ninguém menos que a já idosa Minerva McGonagall, que também parecia emocionada com a premiação.

As duas se abraçaram rapidamente e ela colocou a estatueta na mão de Hermione, que segurou firmemente o objeto pesado. Ela posicionou-se na frente do microfone, sentindo seu coração ameaçar sair de seu corpo. Ela estava tão estática que sequer conseguia chorar de emoção. Olhou seu prêmio, trêmula, meio sorridente, meio chorosa, desacreditada que estava ali, recebendo um prêmio exclusivo para os maiores bruxos que já pisaram na terra.

Um belíssimo presente de trinta e sete anos.

“Hum....”, começou, limpando a garganta, acalmando a plateia que diminuía suas palmas. Ela pensou que desataria a chorar, mas conseguiu controlar-se. Sorriu para todos aqueles rostos, sabendo que deveria citar todos aqueles que a levaram até aquele caminho. O de sempre, sua família, seu marido e filhos, seus amigos. Hogwarts, tudo.

Hermione olhou seu prêmio mais uma vez, não conseguindo dar o crédito para ninguém que não fosse a si mesma.

Olhou a plateia, apertando o prêmio contra seu peito.

“Durante toda a minha vida, as pessoas sempre me disseram que eu não era o suficiente”, começou, controlando suas emoções. Lembrou de seus anos em Hogwarts e todas as vezes que passou horas olhando as madeixas lisas de 90% do internato, sentindo-se um extraterrestre. Da forma como acreditou fielmente que Deus, por um castigo, tinha feito apenas o seu cabelo diferente, ruim, duro, feio. Assim como todas as características de sua raça. “Me disseram que eu não era branca o suficiente...”

Ela sorriu para a maioria esmagadora de homens na plateia, mas reservou seu sorriso verdadeiro para as pouquíssimas mulheres que tiveram que forçar sua entrada naquele lugar majoritariamente patriarcal.

“Que eu não era homem o suficiente”, ela riu. “E também me disseram que eu não era bruxa o suficiente”.

Ela olhou seu braço, e o mudblood escrito nele lhe lembrando diariamente quem era, até que um dia, aquela lembrança seria sua medalha e não sua vergonha. Estar ali era um privilégio que ela construiu sozinha, e quantas mulheres, iguais a ela, foram deixadas para trás sem a chance de chegar até ali? Que ouviram o que os outros diziam? Quantas vezes ela procurou alguém que a representasse, no topo, alguém para inspirá-la e lhe dar forças na piores horas?

“Bem, eu sou o suficiente”, ela sorriu, agora à beira de lágrimas, erguendo seu prêmio. “Depois de tudo, eu sou o suficiente”.

Agora ela estava ali para resgatá-las. Hermione ergueu seu prêmio.

Oportunidade.

Ela seria a referência de todas aquelas iguais a ela.