TWD - Primeira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 7
Cinco e Meio


Notas iniciais do capítulo

Abuela salvando o dia.



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Quando chegamos ao laboratório, T-Dog e Rick estavam sentando o menino em uma cadeira. Assim que entrei lancei o chapéu para o homem vestido de xerife e deixei a bolsa de armas em cima de uma mesa próxima a nós.

— Certo, - Comentei irritada, me aproximando do menino – eu estou pouco me fodendo para quem são vocês, mas ninguém pega um dos meus.

— Gabriela, - Rick me chamou, colocando o seu chapéu - deixa comigo.

— Tá bom! – Ergui as mãos, fingindo estar cedendo – Eu vou ser boazinha, prometo. Afinal, os amigos dele não pegaram ninguém menos do que a porra do Glenn!

— Relaxa! – Rick me ralhou, sério – Vamos dar um jeito.

— Por mim penduraríamos esse filho da puta de cabeça pra baixo na janela e deixaríamos ele morrer.

— Você é assustadora. – T-Dog comentou, me olhando – Por Deus.

— Aqueles homens com quem você estava. – Rick se dirigiu ao menino, depois de garantir que eu estivesse consideravelmente longe dele – Para onde eles foram?

— Não vou dizer nada a vocês. – O menino respondeu, olhando para cada um de nós

— Jesus, cara. – T-Dog falou elevando o tom de voz, se virando para olhar Daryl - Mas o que foi que aconteceu lá?

— Eu te falei! – Daryl respondeu alto, mostrando sua irritação, andando de um lado para o outro - Esse idiota e os amigos cretinos dele apareceram do nada e me atacaram.

— Foi você que me atacou, perro. - O garoto retrucou - Ficou gritando falando em achar o irmão dele como se fosse culpa minha.

— Levaram o Glenn... – Daryl continuou a falar, ignorando o que o garoto disse - Podem estar com o Merle também.

— Merle? – O menino repetiu o nome do irmão dele, segurando um riso - Mas que nome caipira é esse? Chamaria meu cachorro de Merle.

O rosto de Daryl se contorceu em uma careta e ele avançou em direção ao garoto, mas foi impedido por Rick, o qual o afastou bem na hora que ele estava tentando chutar o menino.

— Droga, Daryl. – Rick murmurou, contendo o caipira e o empurrando para longe – Afaste-se.

Observei Daryl ir até a mochila que Glenn havia deixado com ele e remexer em algo lá dentro, até tirar um embrulho azul.  

— Quer ver o que aconteceu com o último cara que me irritou? – Ele perguntou ao garoto, enquanto desembrulhava a mão do lenço e depois nos olhou, antes de jogar a mão do irmão no colo do menino, e este jogou a mão longe e se jogou da cadeira, caindo no chão. Daryl foi até ele e o puxou pela camiseta, o sentando no chão - Vou começar com os pés dessa vez!

Rick se apressou até eles e agarrou Daryl pela camisa, o separando do menino e o empurrando para o meu lado.

— Os homens que estavam com você pegaram o nosso amigo. – Rick se abaixou e falou com o menino – Tudo que queremos fazer é falar com eles e ver se podemos resolver alguma coisa.

O garoto assentiu e suspirei aliviada, passando a mão pelo cabelo. A essa hora, eu já tinha desistido de tentar prender esse cabelo, pois sempre que corria ele se soltava.

Nós ajeitamos nossas coisas e partimos em direção ao lugar que o menino nos indicou, arrastando ele junto. Quando chegamos ao prédio, o lugar estava deserto por fora, não havia ninguém tomando conta da porta. Mas mesmo assim, nos escondemos atrás de um muro, para nos prepararmos melhor. Gostaria de ter um colete, ele cairia bem agora.

— Tem certeza que quer fazer isso? – Perguntei, olhando atentamente para o rosto de T-Dog

Ele havia acabado de nos dizer sobre o seu plano, iria pegar uma sniper e subir no prédio ao lado, para nos dar cobertura caso ocorresse algo de errado.

— Tenho. – Ele me respondeu, balançando a cabeça positivamente

— Tá bom. – Concordei com a cabeça

Ele pegou a bolsa de armas e se afastou, em direção ao prédio. Olhei para Rick e dei um leve aceno com a cabeça, enquanto lhe respondia uma pergunta silenciosa: “Tem munição? ”.

— Se tentar alguma coisa, vai levar uma flecha na bunda, - Daryl disse olhando para o menino – eu só estou avisando.

— O “G” vai tirar a flecha da minha bunda e enfiar na sua. - O garoto retrucou, muito falante para quem estava de refém – Eu só estou avisando.

— Vai ser difícil ele fazer isso com um buraco no meio dos olhos. – Falei a ele, com um sorriso frio nos lábios - Eu só estou avisando. 

— “G”? – Rick perguntou, me dando um tapinha no ombro do tipo “Fica quieta” enquanto olhava para o menino

— Guillermo. - O garoto respondeu, com um eleve sotaque latino - Ele é o líder aqui.

— Tudo bem, então. - Rick comentou, recarregando sua escopeta enquanto olhava de Daryl para mim - Vamos lá ver o Guillermo.

Eu fui a primeira a sair da cobertura, passando pelo vidro quebrado da janela enquanto empunhava minha pistola. Escutei Daryl mandando o menino ir atrás de mim de forma rude durante o caminho até o portão de ferro, o local de entrada do esconderijo desses mexicanos. Rick caminhou ao meu lado, com a escopeta abaixada, enquanto Daryl e o menino vinham atrás de nós. Ao chegar perto o suficiente do portão, ele se abriu, revelando alguns homens e apenas um saiu, parando bem na minha frente. Nós paramos de andar quando eu cheguei perto o suficiente do homem que estava à frente dos outros, ficando a poucos palmos de distância. Rick e Daryl ficaram um pouco mais atrás e mandaram o menino vir para perto de mim.

— Oque foi, - o homem perguntou, olhando diretamente para o menino que estava ao meu lado - irmãozinho?

— Eles iam cortar meus pés e depois iam me pendurar na janela. - O menino respondeu, misturando o espanhol com a nossa língua

— Policiais fazem isso? – O homem perguntou, olhando diretamente para o Rick, já que ele era o único de uniforme aqui

— Não, ele não. – O menino negou – São esses perros aqui, a mulher e o caipira, ela ameaçou me amarrar do lado de fora da janela e me deixar pendurado para morrer e ele cortou a mão de um homem, cara. Ele mostrou para mim.

— Cala a boca. – Daryl resmungou alto, sem paciência

— Ei! – Um dos caras lá de dentro saiu, apontando uma arma para Daryl enquanto pousava a mão na bunda. Ele era meio gordo e tinha um cavanhaque horrível – Aquele cara ali, irmão. Foi ele que atirou a flecha na minha bunda. Qual é a sua?

— Calma, irmão. – O homem que estava conversando com a gente falou, estendendo o braço para ele não chegar mais perto - Calma. É verdade? – Ele nos perguntou - Eles querem arrancar os pés do Miguelito e amarrar ele do lado de fora da janela para morrer? Isso é doideira, cara.

— Queremos mais é ter uma discussão calma. – Rick comentou, evitando responder a sua pergunta e se aproximou de nós, ficando praticamente do meu lado

— Aquele caipira atacou o primo do Felipe. – O homem nos disse - Bateu nele e depois se juntou com essa mulher para ameaçar ele. Felipe levou uma flechada na bunda e você quer ter uma discussão calma? - Nos perguntou, balançando a cabeça negativamente - Você é muito cara de pau.

— Calor do momento. – Rick comentou – Erros foram cometidos, dos dois lados.

— O que esses dois são seus? – O homem perguntou para Rick, depois de olhar de mim para Daryl - Não me parece parentes.

— Eles são do nosso grupo. – Rick respondeu, ignorando um resmungo muito mal-humorado meu - Tenho certeza que você tem alguns como eles.

— Estão com meu irmão aí? – Daryl perguntou para o homem

Se eles estiverem com o Merle aqui, acertaremos dois coelhos com apenas uma cajadada.

— Sinto muito. – O homem lhe respondeu - Não tem mais branquelos aqui. Mas tem um asiático. Está interessado?

— Então tá, - comentei, me cansando de ficar calada – É assim que vai funcionar: Temos um dos seus e você tem um dos nossos. Ao meu ver é uma troca justa.

— Não me parece justa. – O homem negou

— G. – O menino, Miguelito disse baixo - Que isso, cara.

Então esse era o tal de Guillermo, bom saber.

— Meu pessoal foi atacado. - Guillermo disse alto - Onde está a compensação pela dor e sofrimento? – Ele nos perguntou - Olha eu vou direto ao assunto, onde está minha bolsa de armas?

Tive que rir, sério mesmo cara? Sua?

— Armas? - Rick perguntou, se fazendo de bobo

— A bolsa que o Miguel viu na rua. - Guillermo respondeu sério - A bolsa que o Felipe e o Jorge foram lá buscar. Aquela bolsa de armas.

— Ah cara, - comentei sem conseguir segurar o sorriso – mas a bolsa não é sua. Ela pertence ao policial aqui.

— Aquela bolsa estava na rua, gata. - Guillermo me disse com o tom de voz presunçoso - Qualquer um podia aparecer e tomar posse dela. Eu devo aceitar a palavra de vocês? – Ele perguntou - O que vai impedir do meu pessoal atirar em vocês agora e eu pegar o que é meu?

Todos os amiguinhos de Guillermo levantaram suas armas para nós. Eu senti movimentação atrás de mim e supus que um dos dois tinham levantado as armas deles também.

— Você que sabe. – Falei para ele, dando de ombros e dei uma olhada para o prédio ao lado, onde T-Dog apontava a sniper para ele – Mas meu amigo ali tem reflexos rápidos.

Guillermo seguiu o meu olhar e depois soltou um riso, ele chamou alguém e todos nós olhamos para cima. Tinham dois caras empurrando o Glenn para a beirada do prédio, o coreano estava com um capuz na cabeça e com as mãos amarradas. Um dos homes tirou o capuz da cabeça dele e aí eu pude ver o rosto do Glenn, com uma expressão assustada e a boca tampada com uma fita cinza.

— Vou dar duas opções para vocês. - Guillermo nos disse, olhando para cada um de nós – Vocês vêm com o Miguel e minha bolsa de armas e todos se salvam. Ou então podem vir todos armados. Vamos ver que lado derrama mais sangre.

— Só quero que saiba que meu trabalho era conquistar bases inimigas e mantê-las em posse do exército. – Comentei com um sorriso frio – Você acabou de tornar isso muito interessante para mim. – Me virei para o garoto ao meu lado e o abracei pelos ombros – Vamos andando, Miguel.

Lancei um sorriso animado para Guillermo e lhe dei as costas, puxando o garoto comigo. Esperei alguns segundos do outro lado da janela quebrada até Rick e Daryl passarem e então fomos encontrar T-Dog para enfim voltarmos ao laboratório.

Hora do plano.

Quando entramos no laboratório a primeira coisa que fiz foi mandar o garoto se sentar e ficar calado. Rick atravessou a sala, jogou alguns objetos que estavam em cima da mesa no chão e colocou a bolsa de armas no lugar, a abrindo em seguida.

— Essas armas valem mais do que ouro. – Daryl comentou com Rick, dando pequenas voltas perto da mesa – O ouro não vai proteger sua família, ou por comida na mesa. Vai entregar essas armas por aquele garoto?

— Claro que não. – Neguei antes que Rick pudesse responder, enquanto o via tirar os pentes das pistolas e deixar separados – Vocês acham mesmo que aquele mexicano vai manter a palavra e entregar o Glenn? – Perguntei e imitei a voz de Guillermo – “Depois de toda dor e sofrimento”. Claro que não.

— Está chamando o G de mentiroso? – Miguel me perguntou, se metendo na nossa conversa

— E quem foi que falou com você? - Daryl perguntou avançando no garoto e antes de esperar ele responder, lhe deu um tapa na cabeça - Está querendo que eu arranque seus dentes?

O menino crispou os lábios e se calou.

— A questão é: Vocês vão confiar na palavra do cara? – T-Dog nos perguntou, encostado na parede perto de Miguel

— Não, a questão é: O que quer apostar? - Daryl retrucou e reformulou a pergunta dele - Pode ser mais do que as armas. – Ele nos disse, se aproximando e se apoiou na janela - Pode ser sua vida. – Contou e depois me olhou – Agora você, não acho que vá morrer. O cara gostou do que viu, ele deve querer te fazer de puta para ele e para os amigos chicanos dele. O Glenn vale isso para vocês?

— Eu devo a minha vida a ele. - Rick respondeu mordendo os lábios - Eu não era ninguém para o Glenn, só um idiota preso num tanque. Ele poderia ir embora, mas não foi. Eu também não vou.

— Não deixo ninguém para trás. – Respondi, tirando uma parte do meu cabelo do rosto e a colocando atrás da orelha

— E vão entregar as armas mesmo? - Daryl perguntou nos encarando, não estava nem de longe concordando

— Não. – Balancei a cabeça negativamente, com um sorriso maldoso nos lábios – Não dissemos nenhuma vez que iriamos fazer isso. Vocês podem ir, voltem para o acampamento. Vão embora, eu dou um jeito nisso. Fiz isso a minha vida inteira. Eu tenho mais sangue nas minhas mãos do que qualquer um aqui.

— Sem chance. – Rick comentou, balançando a cabeça negativamente – Se isso for acontecer, estaremos todos juntos.

Mesmo relutante, concordei com ele. Daryl avançou até a mesa e

T-Dog fez um não com a cabeça, assim como Rick e Daryl. O caipira pegou uma escopeta, enquanto Rick entregava outra das escopetas para o T-Dog.

— Vamos, - Miguel falou se levantando - isso é loucura.

— Fica ai! - Daryl o empurrou pela barriga, o obrigando a ir se sentar

— Droga. – O menino resmungou, passando a mão pela cabeça - Façam o que o  disse.

Nós recarregamos e colocamos as armas prontas para uso. Enquanto observava eles mexendo com as armas, guardei a minha pistola no coldre e peguei uma das espingardas que estava em cima da mesa e coloquei mais um pouco de balas em um bolso de fácil acesso.

Assim que amordacei e amarrei Miguel, nós saímos e fizemos um caminho diferente até o local onde o Glenn estava sendo mantido, caso tenhamos sido seguidos quando voltamos. Ao passar pela janela quebrada, deixei com que Daryl cuidasse do menino para mim, enquanto caminhava entre Rick e T-Dog. Quando o portão de entrada deles se abriu, Daryl empurrou o garoto para dentro e então entrou, seguido de perto por nós. O lugar era como uma garagem oficina de carros, tendo alguns desmontados e várias peças espalhadas ao redor. Conforme avançávamos para o meio do lugar, notei que haviam mais deles do que poderia contar, todos armados, grandes e mal-encarados.

Mexicanos perfeitos, Morales teria inveja.

Guillermo se adiantou até nós, olhando para as armas nas nossas mãos. Ele sem dúvida era o único menor entre eles, talvez até poucos centímetros mais baixo que eu. O que era uma vergonha, já que eu sou baixa.

— Estou vendo minhas armas, - Guillermo comentou, cético – mas não estão todas na bolsa.

— É porque elas não são suas. – Retruquei em seguida, erguendo uma sobrancelha – Achei que já tinha deixado isso bem claro.

— Vamos atirar nesses perros agora, irmão. – Felipe falou, se inclinando levemente sob Guillermo ao falar - Acabar com a raça deles.

Guillermo levantou a mão e ele parou de falar, nos olhando com os lábios crispados.

— Apenas tente, irmão. – Eu lhe disse em português, imitando o tom de voz irritante dele - Você irá morrer antes de piscar.

— Sabia que a gostosa não era americana. – Um dos mexicanos comentou ao fundo, parecia vir do meu lado esquerdo

— Não sei se vocês entendem a gravidade da situação. – Guillermo comentou

— Não, nós fomos bem claros até agora. – Falei, enquanto segurava a espingarda com uma mão e tirava a minha faca de caça do coldre, cortando as amarras de Miguel logo em seguida - Você tem o seu homem e agora eu quero o meu.

Depois de empurrar Miguel para ele, guardei a faca, voltando a empunhar a espingarda com as duas mãos.

— Eu vou cortar o seu garoto. - Guillermo ameaçou enquanto se aproximava de mim – Vou dá-lo de comida para os meus cães. E eles adoram comer carne humana, gata. Peguei do satã numa venda de garagem. Eu não te disse como ia ser a parada? Por acaso vocês todos são surdos?

— Não meu amor, - Neguei com um sorriso - escutamos muito bem. Você disse para a gente vir armados, não é?

Ao destravar nossas armas em uma ameaça, os homens de Guillermo fizeram o mesmo, fazendo o som ecoar por toda a garagem. Apontamos nossas armas para ele e seus homens, mesmo sabendo que todos eles nos tinham na mira.

— Muito bem, - Rick comentou, lentamente – então estamos aqui.

Enquanto esperávamos por um motivo sequer para atirar, me pareceu que eles estavam fazendo a mesma coisa. Guillermo não pareceu se afetar com isso, ele continuou com a mesma expressão facial de antes, séria.

— Felipe, Felipe! – Uma voz feminina nos chamou atenção, logo, atrás de alguns homens surgiu uma senhora de idade de cabelos brancos e roupa de dormir - Felipe!

— Abuela, volte com os outros. – Felipe, o mesmo da flechada na bunda e primo de Miguel falou para ela, enquanto nos apontava a arma - Agora.

A senhora ignorou ele e continuou a cortar caminho pelos homens, vindo até nós em passos lentos.

— Estou com essa velha está na minha linha de tiro. - Daryl nos avisou

— Abuela, - Guillermo a chamou, dando uma leve olhada para ela - escute seu neto, está bom? - Ele pediu - Aqui não é lugar para a senhora.

— O senhor Gilbert não consegue respirar direito. - A senhora ignorou mais uma vez os avisos e falou à Felipe, parecia aflita - Ele precisa do remédio de asma dele. O Carlito não achou. Ele precisa do remédio.

— Felipe, - Guillermo o chamou, sem paciência depois de nos encarar por alguns segundos - cuida disso, está bom? E leva a Abuela com você.

— Abuela, - Felipe a chamou, pegando em sua mão - ven conmigo, por favor.

Mas aí a senhora nos olhou, como se só tivesse nos notado agora.

— Quem são essas pessoas? - Ela ignorou seu neto e se aproximou a passos lentos de nós

— Não. – Felipe pediu a ela, rápido - Por favor, ven conmigo

— Não o leve com você. – A idosa falou de repente, olhando diretamente para Rick e seu uniforme de policial

— Senhora? - Rick perguntou confuso

— Felipe é um bom menino. – A senhora comentou com ele - Ele teve problemas, mas ele tomou jeito. Precisamos dele aqui.

— Senhora, - Rick lhe disse lentamente - eu não estou aqui para prender o seu neto.

— Então, - Ela o olhou confusa – por que você o quer?

— Ele está nos ajudando a encontrar uma pessoa desaparecida. - Rick lhe respondeu, mentindo - Um rapaz chamado Glenn.

— O rapaz asiático? - A senhora perguntou surpresa - Ele está com o senhor Gilbert. Vem, - Ela segurou a mão dele e o puxou para andar com ela - venha, vou te mostrar. Ele precisa do remédio dele.

Assim que Guillermo deu a ordem para eles nos deixar passar, eu segui logo atrás de Rick, abaixando a pistola, mas mesmo assim ficando atenta a cada movimento dos homens ao meu redor. Ao sair da garagem, nós entramos em um pequeno pátio que dava à uma escada logo a frente. A idosa continuou puxando Rick pela escada a cima, ela virou à esquerda e nos trouxe a um outro pátio, desta vez maior. Parecia uma espécie de jardim, com bancos de madeira, mesas, cadeiras, arvores e plantas. Atravessamos o jardim e avançamos até uma porta de madeira, e ao entrar no local, a primeira coisa que vi foi um idoso sentado em uma cadeira no corredor, com uma bengala apoiada em sua perna e uma foto em mãos. Enquanto caminhava atrás de Rick, aproveitei que uma das portas estava aberta no corredor e olhei para o lado de dentro. Meu estomago deu uma volta imensa quando eu vi uma outra idosa tomando remédio, com a ajuda de uma mulher mexicana.

Esse lugar é realmente o que eu estou pensando que é?

— Abuela, - Felipe a chamou, passando por mim– por favor. Me leve até ele.

A senhora largou a mão de Rick e pegou seu neto pelo braço, o arrastando além do corredor. Rick pareceu pensar a mesma coisa que eu e tirou o seu chapéu, em forma de respeito enquanto avançávamos pelo corredor, seguindo a idosa e Felipe. Ao nosso redor, haviam mais idosos espalhados pelo lugar, uns em quartos e outros no corredor, alienados ao que estavam fazendo. Ao chegar no local onde Felipe e sua avó estavam, eu guardei a arma, me sentindo mal comigo mesma. Vários idosos e alguns adultos estavam ao redor de um senhor sentado, provavelmente aquele era Gilbert. E, logo ao seu lado, de braços cruzados e parecendo preocupado, estava Glenn.

— Respire mais fundo. - Uma mulher lhe dizia - Fique tranquilo, logo o remédio chega.

— Tudo bem. - Felipe disse ao chegar perto dele – Tudo bem. Respire. – Ele tirou uma bombinha de asma e colocou na boca do senhor, para ele inalar enquanto apertava o botão - É só respirar fundo. Isso.

— Fique calmo. – A mesma mulher de antes pediu, passando a mão nas costas do senhor

— Mas o que é isso? – Rick perguntou atordoado, assim como eu estava

— Ataque de asma. – Glenn respondeu, olhando do senhor para Rick – Não consegue respirar de repente.

— Achei que você estava sendo comido por cachorros, cara! - T-Dog falou para ele, parecia num misto de surpresa e raiva

Glenn deu uma olhada para trás, onde três cachorros de pequeno porte ocupavam a mesma caminha, ao nos ver, um deles latiu.

— Podemos conversar? – Perguntei me virando lentamente para Guillermo, enquanto segurava um riso nervoso, ele concordou e nós começamos a caminhar em uma direção oposta dos idosos - Meu amigo, você é o mexicano mais burro que já conheci. Viemos até aqui prontos para matar todo mundo!

— Fico feliz de não ter acontecido isso. – Guillermo comentou, me olhando nos olhos

Passei a mão pelo meu cabelo e respirei fundo, mordendo os lábios em seguida.

— Se acontecesse, - Falei para ele, crispando os lábios – o sangue de todos vocês estariam nas minhas mãos.

— Nas minhas também. - Guillermo me disse, logo em seguida – Nós teríamos lutado. Não seria a primeira vez que faríamos isso. Proteger a comida, os medicamentos. O que sobrou deles. Essas pessoas, os idosos aqui. Os funcionários se mandaram, deixaram eles aqui para morrer. – Houve um breve silêncio das duas partes, e então ele continuou - Eu e o Felipe fomos os únicos que ficaram.

— O que vocês são, médicos? – Perguntei, juntando as sobrancelhas

— O Felipe é enfermeiro, - Guillermo respondeu, indicando Felipe com a cabeça - para cuidar dos especiais. Eu. Sou um faxineiro.

Passei a mão pelo rosto e fiz um gesto chamando Rick até nós. E assim que ele chegou perto o suficiente, Guillermo e eu contamos a situação. Enquanto Rick conversava com ele, fui conversar com os outros três do grupo. Juntos, seguimos Guillermo até um dos quartos do asilo. Rick colocou a bolsa de armas em cima de uma poltrona depois que Guillermo nos fez um sinal para nos sentarmos, e o resto de nós nos acomodou pelo cômodo. Uns se encostando na parede, outros se sentando.

— E o resto do seu pessoal? – Rick perguntou para Guillermo

— Os chicanos vieram para cá. Ver os pais, os avós deles. – Ele respondeu, nos olhando - Viram como as coisas ficaram e a maioria decidiu ficar. Por um lado, foi bom, precisamos de ajuda. As pessoas que encontramos. Desde que tudo aconteceu. São as piores, saqueadores, dos tipos que tomam pela força.

— Nós não somos assim. – Afirmei suspirado - Deus! Eu quase tive um ataque de nervoso quando descobri que isso é um asilo, Guillermo.

— E como eu ia saber? - Guillermo perguntou dando de ombros - Meu pessoal foi atacado e vocês aparecem com o Miguel como refém. Aparências.

— Acho que o mundo mudou. - T-Dog comentou, suspirando cansado

— Não. - Guillermo discordou em seguida - É o mesmo que sempre foi. Os fracos são roubados. Então, fazemos o que podemos aqui. Os chicanos trabalham nos carros, falam em tirar os idosos da cidade. Mas a maioria não consegue nem ir ao banheiro sozinho... então isso é só um sonho. Mesmo assim, mantem o pessoal ocupado. E isso já vale a pena. Então, reforçamos as janelas, soldamos todas as portas. Exceto na entrada. Os chicanos saem e pegam o que podem para nos manter vivos. Vigiamos o perímetro dia e noite e esperamos. – Ele balançou a cabeça negativamente – Essas pessoas aqui. Elas me têm como líder agora. E eu nem sei por que.

— Porque eles podem. – Rick disse e em seguida estendeu a escopeta  que estava segurando em direção a Guillermo, lhe entregando a arma

Enquanto Rick separava a metade das armas para o mexicano, engoli meu orgulho e fui pedir desculpas para Miguel e Felipe, por causa das ameaças e pela flechada que Daryl tinha dado nele, já que eu sabia que ele não era de pedir desculpas.

Quando saímos do asilo e retomamos o nosso caminho até a van com metade das armas que Rick havia prometido para Shane, Glenn não parou de falar um segundo sequer, e mesmo que eu esteja feliz em tê-lo de volta, estava me irritando profundamente.

— Assuma, - Glenn dizia risonho - você só veio pra Atlanta pela metade.

— Não diga a ninguém. – Rick lhe pediu, e em seguida olhou para todos nós, deixando claro que isso valia a nós também

— Você deu metade das nossas armas e munição. – Daryl comentou, reclamando

— Não foi nem metade. – Rick acrescentou

— Pelo que? - Daryl perguntou ainda reclamando - Um bando de velhos que vão acabar morrendo mesmo? É sério, quanto tempo acha que eles têm?

— E quanto tempo você acha que nós temos, caipira? – Perguntei a ele

Todos nós paramos ao olhar através da cerca, a mesma que Glenn havia aberto para nós passarmos mais cedo e a mesma que a nossa van deveria estar perto. Havia um grande nada no lugar em que o nosso carro deveria estar.

— Oh, meu Deus! – Glenn falou lentamente

— Cadê nosso caminhão? – Daryl perguntou com a voz arrastada

— Nós o deixamos aqui. – Glenn comentou confuso - Quem pegaria?

— Merle. – Respondi crispando os lábios

— Ele vai buscar vingança no acampamento. – Daryl comentou, com um tom de preocupação na voz

Mesmo estando andando durante a tarde toda em baixo do sol, eu tentei me manter firme, de acordo com Glenn, estávamos quase chegando ao acampamento. O Sol já tinha ido embora e a noite tinha acabado de chegar.

— Gabriela? – A voz de T-Dog me chamou e continuou depois de escutar um resmungo meu como resposta – Um dos chicanos disse que você era brasileira, depois de você falar algo que me pareceu uma bruxaria lá no asilo.

— Ah. – Resmunguei indecisa entre achar graça e ficar ofendida por ele achar que eu estava fazendo bruxaria - Minha segunda língua é o português do Brasil. Minha mãe é brasileira, minha família por parte de mãe também. E o espanhol não é tão difícil de entender quando o português chega perto.

— Então você é brasileira? - Glenn perguntou surpreso - Nunca conheci nenhuma brasileira...

— Não, eu não sei sambar. – Comentei alto, rindo – Nem ando na rua pelada, tomando caipirinha enquanto assisto ao futebol.

— Não cust...

Glenn foi interrompido por gritos altos e estridentes, seguido por tiros. Não trocamos nenhuma palavra, apenas corremos o mais rápido que podíamos em direção ao acampamento. Desviar de árvores, empunhar a pistola e me preparar para atirar foi tudo que eu fiz. Ao chegar no topo, nós vimos o que não queríamos, o acampamento sendo atacado por caminhantes e aparentemente não tinha nada a ver com Merle. Rick, enquanto atirava nos caminhantes próximos a nós gritou por sua família. Glenn parecia estar indeciso entre atirar e dizer “Ah, meu Deus” durante o tempo todo. Nós atravessamos o acampamento atirando em todos os caminhantes que ousavam se aproximar de nós e dos outros. Às vezes Daryl gritava “ATIRA” ou “ATRAS DE VOCÊ” e tudo que eu podia fazer era acatar seus pedidos, já que era a minha única opção.

— Está tudo bem! – Daryl avisou alto, depois que esperamos mais uns segundos para saber se mais caminhantes chegariam - Já acabou!

Eu não cheguei a relaxar o meu corpo, mas me aproximei o mais rápido que pude dos outros do grupo. De relance, vi que Andrea estava debruçada sob um corpo feminino e sem juntar um mais um vi que era a sua irmã. Adrian estava com elas, balançando a cabeça negativamente enquanto limpava o sangue de seu rosto.

— Eu lembrei do meu sonho agora. – Jim comentou, alto – Por que fiz os buracos.

Mesmo sem fazer a mínima ideia do que ele estava falando, respirei fundo enquanto guardava a arma. Amy não parecia ser a única a estar morta, estava faltando muita gente.


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Notas finais do capítulo

Próximo episódio: "Ela é uma bomba relógio".



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