TWD - Primeira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 6
Cinco


Notas iniciais do capítulo

A bolsa de armas.



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Não sei quanto tempo dormi, mas acordei com o sol batendo no meu rosto. Me sentei e me espreguicei, fazia tempo que não dormia desse jeito. Aos poucos, vesti uma nova troca de roupa, deixando o uniforme militar amontoado no canto da minha barraca. A roupa que eu havia pego ontem na loja serviu bem, a regata ficou um pouco larga, mas estava tudo bem. A calça jeans, a que eu mais tomei cuidado para pegar estava com um dos joelhos rasgados, já que aparentemente era uma moda estranha. Prendi o meu coldre na minha coxa direita e coloquei a pistola nele, antes de checar o pente e ver se ela estava travada. Aproveitei também e coloquei outra espécie de coldre na minha outra perna, com a minha faca de combate. Já que ontem eu precisei dela e não tive como usar. Calcei a minha bota e troquei de meia, enquanto dava uma olhada no travesseiro procurando o elástico de cabelo que eu estava usando ontem, mas logo o achei quebrado, em meio a coberta. Resmunguei enquanto me levantava e pegava uma escova de dentes da minha mochila e a coloquei no bolso traseiro da minha calça jeans.

Quando sai da barraca e passei por Carol, lhe desejei bom dia, porém, quando ia continuar em direção ao trailer de Dale, ela me chamou.

— Eu vou mesmo lavar mais roupas daqui a pouco, - ela me contou, enquanto mexia em algumas peças de roupa - não quer que eu lave o seu uniforme?

— Ah, Carol...

— Vamos, - Ela sorriu para mim – assim já fica limpo.

— Tudo bem.

Depois de voltar até a minha barraca, pegar a minha roupa e entregar para Carol lavar, fui em direção ao trailer do Dale, pedir permissão para escovar os dentes e lavar o rosto. Perto do trailer estava o carro esportivo vermelho que roubamos ontem. Glenn e Rick, estavam olhando para o carro onde Dale, Morales e Jim estavam o desmontando.

— Olha só para eles. - Glenn dizia ao Rick e assim que cheguei perto deles ele me olhou - Olha, Gabi. - indicou com a cabeça o carro - Abutres. É isso aí, tirem tudo.

— Os geradores precisam de toda a gasolina que conseguirmos, não temos energia sem eles. - Dale comentou e deu um tapinha no ombro do Glenn - Sinto muito, Glenn.

— Eu achei que ia poder curtir com ele por mais uns dias. - Glenn disse baixo

— Talvez a gente consiga pegar outro um dia desses. – Tentei anima-lo

— Talvez. – Ele resmungou

Quando pedi a Dale para usar o seu banheiro, ele disse que eu poderia usá-lo sempre que precisasse. Além de escovar os dentes e fazer minha tão aguardada higiene matinal, aproveitei para dar uma penteada no cabelo pois havia alguns pentes lá. Ao sair do trailer, percebi que Shane estava chegando com água, que ele mesmo fez questão de anunciar alto, avisando todo mundo e ainda nos disse para ferver antes de usar.

— MÃE!!!

Um grito me fez apenas jogar minha escova de dentes dentro da minha barraca e depois correr. Era a voz de Carl. Rick e Lori estavam bem na minha frente, correndo na direção da voz do filho. Shane, o qual estava correndo atrás de mim lançou um cano de ferro para o Rick. Mais à frente, Carl correu em nossa direção e a abraçou sua mãe. Os filhos de Morales e Carol apontaram o provável caminhante. Então só paramos de correr quando nos deparamos com o morto vivo perto do nosso acampamento, o qual estava debruçado sob um animal. Nós o cercamos e quando o caminhante ameaçou de se levantar, Rick, Shane, Adrian, Jim, Glenn, Morales e Dale bateram nele, com as armas brancas que tinham. Dale, foi o que deu o golpe final, cortando a cabeça dele fora com um machado.

— É o primeiro que chegou aqui em cima. - Dale foi o primeiro a falar, ofegante - Nunca vieram tão longe na montanha.

— Estão ficando sem comida na cidade, - Jim supôs - é por isso.

Quase retruquei que aquilo era obvio, mas me calei quando ouvimos outro som vindo da floresta, o de galhos se quebrando. Eu puxei a minha faca e arrumei minha postura, ficando em posição de alerta, assim como todo mundo. Mas aí uma figura masculina apareceu com uma besta nas mãos.

— Ah, - Murmurei, relaxando o meu corpo e guardando a faca - é você.

Daryl nos olhou e depois se aproximou, seu rosto se contorceu de raiva quando viu o que o caminhante tinha feito com a sua caça e arrancou as suas flechas do corpo do animal morto.

— Desgraçado! – O homem da besta rosnou - Esse veado era meu. Olha só, está todo comido por essa coisa... - começou a chutar o caminhante, com força e repetidamente - imunda, doente, desgraçado! Idiota!

É, sem dúvidas um homem encantador.

— Calma filho, isso não vai ajudar. - Dale comentou, com a voz arrastada

— O que que você sabe disso, seu velho? – Daryl perguntou agressivamente, dando a volta no caminhante e indo em direção ao Dale – Por que não pega esse chapéu idiota e volta para casa no lago? – Ele se afastou e passou o braço no rosto, nervoso - Andei quilômetros atrás desse cervo. Ia levar ele para o acampamento. Fazer uma carne para nós. – Contou, rodeando o animal morto - E se a gente cortasse essa parte, que foi comida? – Ele nos perguntou, apontando para aonde o caminhante tinha aberto o animal

— Olha, - Shane fez uma careta, colocando a escopeta nos ombros - eu não arriscaria.

— Nem eu. – Respondi balançando a cabeça negativamente – Provavelmente a carne já está toda contaminada.

— É uma pena mesmo. - Daryl disse olhando o cervo, depois de me analisar por alguns segundos, acho que decidindo se valia a pena confiar no que eu tinha dito - Mas eu consegui uns esquilos, uma dúzia. - Comentou, indicando os animais mortos pendurados em seu ombro - Vai ter que dar. – Ele acrescentou, olhando pela primeira vez para Rick

A cabeça do caminhante se mexeu e eu fiz uma careta, escutando Andrea e Amy expressarem nojo e Adrian dizendo para elas não olharem.

Que patético. 

Estávamos fazendo um bom trabalho, fingindo que um não existe para o outro. O que era bom, queria isso a muito tempo.

— Qual é pessoal, - Daryl resmungou e nos perguntou - o que é isso? - Ele apontou sua besta para a cabeça do caminhante e atirou uma flecha no olho dele, depois, quando o matou, colocou o pé na cabeça dele e puxou sua flecha – Tem que ser no cérebro. Vocês não sabem disso?

Ignorei sua pergunta e caminhei de volta para o acampamento e me espreguiçando novamente, ainda não tinha acordado 100%. Daryl passou por mim e quando todos chegamos até o centro do acampamento ele começou a chamar pelo seu irmão, dizendo que tinha conseguido alguns esquilos e que eles iriam assá-los juntos. Observei quieta enquanto ele colocava a besta no chão, esperando pelo irmão. A qualquer momento um de nós iria falar, levar a culpa.

— Daryl, espera um pouquinho aí. - Shane o chamou, depois de colocar sua espingarda em seu jipe e passou por mim e indo até ele - Preciso falar com você.

— Sobre o quê? – Daryl perguntou para ele

Eu me aproximei dos dois, caso precisasse ajudar Shane.

— Sobre o Merle. - Shane respondeu parando na frente dele, mas havia um considerável espaço entre eles - Teve um... problema lá em Atlanta.

Daryl olhou para todos nós, e quando eu digo todos são todos, são todos mesmo. Pois todo mundo estava observando e escutando a conversa.

— Ele está morto? - Daryl perguntou ao Shane, dando alguns passos para o lado, enquanto segurava a corda com os esquilos na mão

— Não temos certeza. - Shane respondeu, dando uma olhada para Rick

— Ele está morto ou não está? - Daryl perguntou de novo, impaciente

— Não dá para responder isso, - Rick respondeu, se aproximando a passos largos de nós - então eu vou ser direto.

— Quem é você? - O tom de voz de Daryl anunciou que era melhor a gente não estar brincando com ele

— Rick Grimes.

— Rick Grimes? - Daryl repetiu, imitando o tom de voz que Rick havia se apresentado - Tem alguma coisa para me dizer?

— Seu irmão virou um perigo para todo mundo. - Rick respondeu, sério e direto - Tive que o algemar numa barra de metal lá no telhado. Ele ainda está lá.

Por cima dos ombros de Shane, pude ver T-Dog chegando com lenhas em seus braços. Daryl passou o braço pelo rosto, meio descrente do que estava escutando.

— Espera aí. - Daryl falou para ele, rápido - Deixa eu ver se eu entendi. Está dizendo que algemou o meu irmão no telhado? - Perguntou elevando tom de voz a cada palavra, de forma impaciente - E ABANDONOU ELE? - Gritou em seguida

— É.

Depois da resposta de Rick, o rosto de Daryl se contorceu novamente em raiva e ele arremessou os esquilos em direção ao policial e iria para cima dele em seguida, se eu não tivesse corrido e jogado todo o meu peso em cima dele, o derrubando no chão. Quando estava me levantando, Daryl puxou uma faca do cós da calça e se levantou, me ignorando completamente e partindo para cima de Rick, tentando esfaqueá-lo. Rick se esquivou e no segundo ataque, conseguiu segurar a mão de Daryl, o que deu espaço para Shane o segurar por trás, imobilizando ele, num tipo de gravata ou mata leão.

— É MELHOR ME SOLTAR! - Daryl gritou, a voz dele transbordava raiva

— É melhor eu não soltar você não. - Shane disse a ele, enquanto praticamente sentava o cara no chão

— Segurar assim é ilegal! – Daryl reclamou alto, com a voz meio sufocada

— Tá bom, - Shane comentou - faz uma reclamação. Vamos, cara. A gente pode continuar com isso o dia inteiro.

Rick se abaixou perto dos dois a ponto de olhar nos olhos do Daryl.

— Eu queria ter uma conversa tranquila sobre esse assunto com você, acha que a gente pode fazer isso? - Rick perguntou para ele - Acha que a gente pode fazer isso? - Perguntou novamente, quando não obteve resposta

— Tá! - Daryl rosnou – Tá!

Shane soltou ele e eu me aproximei mais deles, dando uma olhada para o T-Dog. Se Daryl tentou matar Rick desse jeito, imagina se o T-Dog contasse o que aconteceu.

— Cara, o que eu fiz não foi à toa. - Rick explicou ao Daryl, ainda abaixado perto dele - Seu irmão não estava agindo bem com os outros.

— A culpa não é do Rick. – T-Dog se pronunciou - Eu estava com a chave, eu a deixei cair.

— Não dava para pegar? - Daryl perguntou em um rosnado

— Ela caiu num ralo.

— Se a sua intenção era me fazer sentir melhor. - Daryl falou se levantando, e atacou uma pedra no chão - Não adiantou.

— Talvez isso faça. – T-Dog comentou - Eu acorrentei a porta do telhado para os caminhantes não chegarem nele. Com cadeado.

— Deve ajudar alguma coisa. - Rick comentou ao Daryl

Por alguns segundos eu pensei que ele iria chorar, mas depois gritou “Pro inferno todos vocês! ”.

— Onde é que ele está? - Daryl perguntou depois do seu grito - Eu vou buscar o meu irmão.

— Ele vai te mostrar. - Lori se meteu na conversa, olhando fixamente para o seu marido - Não é isso?

— Eu vou voltar.

Depois de me equipar com mais um pente de bala, voltei para o centro do acampamento, não tinha dúvidas que Rick me chamaria para ir junto e mesmo se ele não chamasse, eu iria. Merle não era uma das melhores pessoas que eu conhecia, mas acontece que eu não deixava ninguém para morrer. Isso é algo que eu aprendi e ensinava para os meus soldados.

— ...Eu não, tá bom? – A voz de Shane estava ficando alta, enquanto ele seguida Rick - Você pode... pode facilitar para mim, cara? Pode me dizer por que, por que vai arriscar sua vida por um saco de estrume como Merle Dixon?

— Aí. - Daryl falou em tom de aviso, apontando uma flecha para ele - Vê lá como fala.

— Atá desculpa, saco de esterco. - Shane se corrigiu e depois olhou para seu amigo - Merle Dixon, um cara que não te daria um copo de água se tivesse morrendo de cede.

— Oque ele faria ou não faria não me interessa. - Rick falou à Shane - Eu não deixaria um homem morrer de cede.

— Ah que isso...

— De cede e desprotegido. - Rick continuou ignorando Shane - Deixamos ele preso como um animal em uma armadilha e não se deixa ninguém morrer desse jeito, é como eu penso.

— Então vão ser você e o Daryl, é esse o seu... grande plano? - Lori perguntou ao seu marido

Rick olhou diretamente para mim, não precisei deixa-lo falar nada para me convencer e balancei a cabeça positivamente, enquanto tentava amarrar o cabelo com um nó.

— Nem precisa pedir, companheiro.

— Ótimo, agora... - desta vez Rick olhou para Glenn

— Ah, qual é... – O coreano resmungou

— Você conhece o caminho, já esteve lá antes, entrou e saiu sem problemas, você mesmo disse. Não é justo eu pedir, eu sei disso, mas me sentiria melhor com você junto, eu sei que ela se sentiria também.

Franzi as sobrancelhas, realmente não tinha entendido esse “Eu sei que ela se sentiria também”. Está falando de mim ou falando que a mulher dele ficaria tranquila se o Glenn ele fosse para mostrar o caminho?

— Mas que ótimo. – Shane resmungou alto - Agora vamos arriscar quatro pessoas.

— Cinco. - T-Dog anunciou

— Meu dia fica cada vez melhor né? - Daryl disse depois de rir, limpando suas flechas

— Tá vendo mais alguém aqui se oferecendo para salvar seu irmão branquelo? - T-Dog perguntou ao Daryl

— Por que você?

— Você não iria entender. - T-Dog retrucou a pergunta de Daryl - Você não fala a minha língua.

— São cinco. - Dale comentou

— Não são só cinco. – Shane negou e olhou para o amigo dele - Está colocando cada um de nós em risco. Fique sabendo disso, Rick. Qual é, você viu aquele caminhante, ele estava aqui, estava no acampamento. Estão saindo das cidades, estão vindo para cá. Nós vamos precisar de cada um de vocês para proteger o acampamento.

— Quer saber do que você precisa mesmo? - Rick perguntou a ele - De mais armas.

— É isso. - Glenn concordou com o Rick - Armas.

— Espera aí, - Shane perguntou confuso, mas com o fundo de interesse na voz - que armas?

— Seis escopetas, dois rifles de peso e mais de uma dúzia de pistolas. - Rick respondeu e eu o olhei interessada - Limpei a sala de armas da Delegacia antes de sair. Deixei a bolsa cair em Atlanta quando me atacaram, está lá no meio da rua esperando para ser pega.

— E munição? - Shane perguntou para ele, considerando a ideia

— Setecentas balas, variadas.

— Enfrentou o inferno para achar a gente. – Lori comentou com ele - Acabou de chegar assim e agora vai embora assim?

— Pai, - Carl o chamou - eu não queria que você fosse.

— Que se dane as armas, o Shane está certo. - Lori falou - Merle Dixon? Ele não vale a vida de nenhum de vocês mesmo com essas armas. - Rick se aproximou se sua esposa e ela se levantou - Fala, me faz entender.

— Tenho uma dívida... - Rick falou a ela - Com um homem que eu conheci e com o filho dele também. Se eles não tivessem cuidado de mim eu teria morrido. Lori... são por causa deles que eu consegui voltar para vocês. Disseram que me seguiriam até Atlanta, vão cair na mesma armadilha que cai se eu não os avisar.

— E o que te impede? – Ela perguntou

— O walkie-talkie, - O marido dela respondeu, suspirando – o que está na bolsa que deixei cair. Ele está com o outro. Nosso plano era nos conectar quando ele chegasse perto.

— Nossos walkie-talkies? – Shane perguntou, passando a mão impacientemente na barba por fazer

— São. – Rick respondeu

— Então, use o rádio. – Adrian sugeriu impaciente – Qual é o problema?

— O rádio é diferente, todo mundo tem. – Shane comentou – Agora os walkie-talkies são uma droga, são dos anos setenta. Não batem com outras bandas, nem com os scanners dos nossos carros.

— Preciso daquela bolsa. – Rick disse a mulher

Parei de prestar atenção naquela conversa pois um homem alto entrou na minha frente, tampando a minha visão. Adrian Jones me segurou pelos ombros e me empurrou para andar.

— Mas que porra você está fazendo, cara? – Perguntei irritada, pensei que estávamos fazendo progresso no quesito “ignorar”.

— Acho que está na hora de ter uma conversinha. – Ele resmungou baixo, me empurrando novamente, mas tudo que eu fazia era firmar meus pés no chão, para não andar – Qual é, pare com isso.

— Posso conversar aqui mesmo.

— Merle Dixon não vale sua vida. – Adrian falou, me soltando – Não vale a vida nem de um porco doente.

— Que comparação maravilhosa, - comentei, fingindo ter gostado - obrigada.

— O que eu to querendo dizer é que vocês vão sair e o acampamento vai ficar desprotegido. – Ele disse ignorando minha atitude – Duvido que alguém aqui além de Shane vai saber atirar.

— Sua namorada deve saber atirar, pergunte para ela como se faz.

— Tudo bem, aí? – Ouvi a voz de Glenn perguntando, enquanto ele se aproximava de nós dois

— Ah, pelo amor de Deus. – Adrian resmungou, me olhando impaciente – Até ele, Gabriela? Você não está perdoando ninguém.

—- Nossa, você não perde a chance de calar a boca.

— Glenn, - Rick o chamou, tinha acabado de falar com o seu filho – traz a van para cá, a chave está na ignição.

Glenn concordou com a cabeça e saiu de perto de nós, indo em direção a van. Sai de perto de Adrian e fui ajudar o coreano a dar ré, avisando coisas como: “Vem, pode vir” e “Está bom, pode parar”. Quando a van chegou perto o suficiente, dei uma rápida chegada se eu tinha tudo comigo e subi na van, indo me apoiar nos bancos da frente para conversar com Glenn.

— Aí, - O chamei - será que rola de a gente achar outro carro maneiro?

— Deixa eu adivinhar, - Glenn me disse, virando um pouco o rosto para me olhar - você vai querer dirigir.

— Claro, você não pode ficar com toda a diversão.

— Qual é a do Adrian? – Glenn me perguntou, depois de passar alguns segundos em silencio

— Ele me chantageava e me mantinha em um namoro forçado. - Contei, já que agora não tinha mais porque eu esconder – Digamos que o meu jeito de ensinar o que é certo e errado aos meus soldados não era permitido.

— Eu não vou nem perguntar. – Glenn resmungou, meio assustado

Daryl subiu na van e colocou sua besta encostada na parede da traseira. Ele resmungou um “Sai da frente” e se eu não fosse para o lado, ele me espremeria ali para tocar a buzina, várias vezes para chamar atenção de quem ainda não estava lá.

— ANDA! - Ele gritou - VAMOS LÁ!

— Sabe, - o chamei, quando me desencostei dos bancos e me sentei, apoiando minhas costas na lataria da van, bem na frente dele - você podia ser mais gentil com quem está indo te ajudar a salvar o seu irmão.

— Dá um tempo, garota. – Daryl resmungou baixo

— Estou vendo que vai ser como uma viagem à praia.

T-Dog chegou enquanto eu estava comentando, sarcasticamente e fechou a porta traseira, e depois se sentou um pouco afastado de mim. Mas apenas acho que ele estava se afastando mesmo era de Daryl. Rick foi o próximo a aparecer, ele entrou no caminhão e se sentou no banco do passageiro ao lado de Glenn, o qual não perdeu tempo e colocou o pé no acelerador, dando início a nossa viagem de volta à Atlanta.

Notei que Daryl Dixon começou a encarar T-Dog como se ele fosse o único ali depois de um tempinho de viagem, enquanto segurava a sua besta.

— É melhor que ele esteja bem, - Daryl falou sério, para ele - eu só estou avisando.

— Eu te falei, - T-Dog comentou parecendo não aguentar escutar a voz do caipira - os caminhantes não vão chegar nele. A única coisa que vai passar por aquela porta, é a gente.

Senti que a van estava parando e juntei as sobrancelhas, me levantando um pouco para ver onde estávamos.

— Agora nós vamos ter que ir a pé. – Glenn nos avisou, após desligar o motor

Daryl abriu a porta e foi o primeiro a sair, seguido por mim e T-Dog. Deixamos Glenn liderar o caminho pelos trilhos, já que ele afirmava conhecer a cidade como a palma de sua mão. Eu estava caminhando bem atrás de Daryl, meio que o mantendo separado de T-Dog, o qual estava levando uma ferramenta vermelha nos ombros.

Quando alcançamos a estação de trem próxima, Glenn abriu uma passagem pela cerca e me deixou passar primeiro, dizendo “Primeiro as damas” o que fez Daryl resmungar alto, o chamando de “Idiota chinês”.

— Vamos meninas, - Eu os instiguei, depois de passar - desse jeito demoraremos o dia inteiro.

Rick balançou a cabeça rindo e me lançou um olhar basicamente dizendo para eu me calar. Em seguida, Daryl, T-Dog e Glenn passaram.

— Primeiro o Merle ou as armas? – Rick perguntou, ao passar pela cerca

— Merle! – Daryl o respondeu, irritado – Ninguém questionou isso antes.

— Que tal agora? – Rick perguntou para ele e em seguida olhou para Glenn, enquanto andávamos – Você conhece o lugar, a decisão é sua.

— Olha, - Glenn começou, nos alcançando – o Merle está mais perto. Para chegar até as armas, teríamos que voltar. Então primeiro o Merle.

— Sim senhor, - murmurei – Capitão, senhor.

— Eu escutei isso. - Glenn me avisou, balançando a cabeça negativamente

Eu apenas soltei um riso e continuei a caminhar atrás de Rick. Com os conselhos de Glenn, não foi tão difícil chegar até a loja de conveniência que estávamos ontem. Rick tomou a frente e nos pediu parar com um gesto de mão, em seguida ele se virou para Daryl e com outro gesto o pediu para cuidar da caminhante que estava andando atrás de um dos balcões a frente. Daryl caminhou um pouco mais para a frente e eu o ouvi resmungar “Credo, você é uma vadia feia” quando olhou diretamente para a caminhante e apontou sua besta para ela, logo lhe acertando no meio da cabeça. Ele foi buscar sua flecha e a limpou na calça, depois de a tirar da cabeça da caminhante feia. Rick me deu um sinal para ir na frente eu assenti, puxando a minha faca e caminhando com cuidado em direção as escadas. O caminho até o terraço foi limpo, não tivemos problema. Quando chegamos até a porta, T-Dog cortou o cadeado e Daryl não o esperou abrirmos a porta, ele se adiantou e a chutou, gritando pelo seu irmão.

— MERLE?

Assim que coloquei os pés no terraço e olhei para aonde o Merle deveria estar, meu corpo congelou. Não tinha ninguém algemado ao cano. As únicas coisas que tinham eram um cerrote com sangue, a algema pendurada no cano toda ensanguentada e uma mão jogada no chão.

A porra de uma mão.

Daryl começou a gritar, chamando pelo irmão e negando o que estava vendo. Quando ele se virou e apontou a besta para o T-Dog, Rick e eu nos movemos. Aproveitando que eu estava atrás de Daryl, eu o peguei por trás e coloquei minha faca em seu pescoço, já que a minha vantagem era que ele era poucos centímetros mais alto do que eu. Rick, vendo que eu já tinha feito algo, apenas apontou o seu revolver para a cabeça de Daryl, e se atirasse, seria um tiro a queima roupa.

— Sério que você vai fazer isso? - Perguntei baixo, próximo à sua orelha – Vai ser burrice da sua parte, caipira sexy.

— Eu não vou vacilar. - Rick falou para Daryl, sério - Não me importo se todos os caminhantes da cidade escutarem.

Por alguns segundos, pensei que Daryl atiraria em T-Dog, mas relaxei quando ele abaixou a besta e respirou fundo. Rick abaixou a arma, mas manteve os olhos em cima do único Dixon no telhado.

— Tem um lenço aí, - Daryl perguntou, olhando para T-Dog – ou algo assim?

T-Dog tirou um lenço azul escuro do bolso da calça e entregou para ele. Daryl colocou a besta de lado e se abaixou perto da mão do irmão, esticando o lenço no chão.

— Acho que a serra estava muito cega para as algemas. – Daryl comentou, pegando a mão do irmão e a erguendo no ar – Olha só que coisa.

— É... – Murmurei balançando a cabeça negativamente, custava Merle nos esperar? Ele deveria saber que o irmão voltaria por ele.

Ele enrolou a mão do irmão no lenço e pediu para o Glenn se virar, vi uma careta de nojo se formar no rosto do coreano quando Daryl colocou a mão do irmão dentro de sua mochila, já que era a única do grupo.

— Ele deve ter feito um torniquete, - Daryl comentou - talvez com o cinto.

— Faz sentido. – Concordei - Teria mais sangue se não tivesse feito.

Daryl seguiu o rastro de sangue e nós fomos atrás dele, enquanto T-Dog pegava as ferramentas que acabamos deixando para trás. O rastro nos levou até o outro lado do terraço, onde havia uma porta. Quando fiz menção de entrar na frente, o Dixon passou por mim, resmungando: “É melhor tomar cuidado por onde anda, patricinha sexy”. Se ele soubesse o quanto eu não sou patricinha não teria dito isso. A porta nos levou para outro lance de escadas e assim que começamos a desce-las, ele gritou pelo irmão novamente.

Mas não houve resposta.

Quando descemos o último lance de escadas e seguimos para o cômodo seguinte, encontramos outra caminhante. Bem mais feia que a primeira. Daryl apertou seu gatilho e acertou ela com uma flechada no meio da testa, enquanto atravessávamos o local ele pegou sua flecha de volta e nos seguiu. Este prédio, ao contrário da loja de conveniência, é um escritório. Haviam papeis corporativos jogados por todo o lado, cobrindo parte do chão, os quadros estavam tortos e alguns manchados por sangue seco.

Estava uma bagunça.

Nós atravessamos o corredor e entramos em outro cômodo do escritório, o qual, haviam caminhantes mortos, derrubados no chão. Merle podia ter passado por aqui, não era certeza.

— Ele ainda conseguiu matar esses dois filhos da mãe. - Daryl comentou, enquanto contornava um dos caminhantes mortos - Com uma mão. – Ele completou e suspirou, enquanto se abaixava, apoiava a besta no chão e a recarregava – Meu irmão é o cara mais durão conheço. Se ele comer um martelo evacua os pregos.

— Qualquer homem pode desmaiar por perca de sangue. – Rick lhe disse, avançando no cômodo - Não importa o quanto seja durão.

Contornei o caminhante morto e segui atrás de Rick, indo para o próximo cômodo, seguindo o sangue. Nós acabamos entrando em mais um corredor, tomando cuidado com os passos e as portas entreabertas, ao chegar no próximo local, Daryl gritou por seu irmão e acabou levando uma bronca de Rick, já que podíamos ou não estar sozinhos. E a única resposta que ele deu foi, “Que se dane, ele pode estar sangrando. Você mesmo disse.”. O lugar era uma espécie de cozinha, o sangue nos levou até um fogão, o qual estava com um dos fogos ligados, com uma cinta do lado e carne humana de outro. Rick pegou o objeto metálico que tinha pele grudada e observou.

— Oque é isso queimado aí? – Glenn perguntou, se inclinando para olhar

— É pele. - Rick respondeu baixo - Ele cauterizou o punho.

Glenn fez uma careta e desviou o olhar do objeto.

— Eu disse que ele é durão. – Daryl retrucou, olhando de Rick para o objeto metálico - Ninguém mata o Merle, só ele mesmo.

— Não conte com isso. – Rick também retrucou, no mesmo tom - Ele perdeu muito sangue.

— É? – Daryl resmungou, avançando para o próximo cômodo - Isso não o impediu de sair dessa armadilha de morte.

Nós o seguimos de perto e nos deparamos com uma janela quebrada, a qual dava para uma escadaria de incêndio.

— Ele saiu do prédio? – A voz de Glenn soou atrás de mim - Mas por que ele saiu daqui?

— Porque ele não sairia? - Daryl perguntou para ele, escorado na janela - Ele está por aí sozinho pelo que sabemos. – Ele se afastou da janela e foi vasculhar algumas caixas - Fazendo o que ele tem que fazer. Sobrevivendo.

— Chama isso de sobreviver? - T-Dog perguntou elevando o tom de voz - Ficar andando pelas ruas, talvez desmaiando. Que chance ele tem lá fora?

— Não são piores do que ficar algemado para apodrecer por vocês. – Daryl respondeu à altura, seu tom de voz irritado havia voltado - Não pode mata-lo. - Falou quando quase deu de cara com Rick - E eu nem estou preocupado com os caminhantes desgraçados.

— E quanto a mil caminhantes desgraçados? - Rick perguntou a ele, sério - A história muda?

— Por que não começa a contar? – Daryl perguntou – Faça o que você quiser. Eu não estou nem aí. Eu vou buscá-lo.

— Daryl, - Rick o barrou, quando o Dixon foi passar por ele - espera.

— Tire suas mãos de mim. – Daryl elevou o tom de voz, quase gritando – Você não vai me impedir.

Glenn fez um barulho com a boca para eles ficarem quietos ou abaixar o tom de voz, preocupado deles chamarem alguns caminhantes.

— Eu não culpo você. – Rick lhe disse, olhando Daryl cara a cara - Ele é sua família, entendo isso. Passei maus bocados para achar a minha. Eu sei exatamente como se sente. – Ele parou um pouco e continuou, antes que Daryl o interrompesse - Ele não pode ir longe com aquele ferimento. Podemos te ajudar a checar uns quilômetros aqui em volta, mas só se nós mantermos a calma.

— Eu posso fazer isso. – Daryl falou, parecia estar se segurando para não falar outra coisa

— Beleza. – Concordei, depois de esperar para ver se alguém falava alguma coisa antes de mim – Vamos fazer isso.

— Espera aí. – T-Dog me disse, olhando de mim para Rick – Só se pegarmos aquelas armas primeiro. Não vou ficar andando pelas ruas de Atlanta só com boas intenções, tá bom?

— Se decidam. – Resmunguei a eles, meio cansada

Após esperar eles conversarem, Glenn nos contou que talvez tinha um plano. Nós nos movemos até um cômodo seguro e esperamos ele desenhar uma espécie de mapa no chão do escritório. Ai então, nos contou seu grande plano.

E era louco.

— Você não vai fazer isso sozinho. – Anunciei, sentada em cima de uma das mesas, quase de frente para Rick e Daryl 

— Até eu acho que é uma péssima ideia. – Daryl o avisou, e eu quase lhe agradeci por concordar comigo - E eu nem gosto tanto de você.

— Essa é uma boa ideia. Está bom? - Glenn insistiu impaciente – Mas só se vocês me ouvirem. – Ele esperou Rick se abaixar perto dele e respirou fundo, começando - Se formos lá fora em grupo seremos lentos, chamaremos atenção. Se eu for sozinho, eu posso me mover rápido. Olha – Ele apontou para o seu mapa e colocou um pesinho de papel no meio de uma rua - Esse é o tanque. Cinco quarteirões de onde estamos agora. – Jogou um papelzinho na frente do peso de papel - Essa é a bolsa se armas. Esse é o beco para onde eu te trouxe, quando nos conhecemos, lembra? - Perguntou ao Rick - É para onde o Daryl e eu iremos.

— Por que eu? - Daryl perguntou em seguida

— A sua besta é mais silenciosa do que a arma deles. - Glenn respondeu e Daryl concordou silenciosamente - Enquanto o Daryl espera aqui no beco eu vou para a rua e pego a bolsa.

— E onde nós vamos ficar? – Perguntei, juntando as sobrancelhas

— Você, o T-Dog e o Rick vão ficar aqui.

— A dois quarteirões, - observei depois que ele colocou uma borracha no mapa, indicando onde ficaríamos - por quê?

— Eu posso não voltar pelo mesmo caminho. - Glenn me respondeu um tanto quanto atenciosamente - Os caminhantes podem me bloquear. Se isso acontecer eu não vou voltar para o Daryl, ao invés disso eu vou para a frente, eu vou pela rua até o beco onde vocês estão. Qualquer direção que eu for eu tenho vocês me dando cobertura. Depois disso, nós todos nos encontramos aqui.

— Certo, - concordei, balançando a cabeça positivamente – explicando assim parece bom para mim.

— Ei, garoto, - Daryl o chamou, parecia curioso – o que você fazia antes disso?

— Entregava pizza. - Glenn respondeu olhando para ele – Por quê?

— Caralho, - falei lentamente, surpresa - eu pagaria meu salário inteiro e minhas comissões para você entrar no meu batalhão.

Glenn deu risada e balançou a cabeça negativamente, me perguntando quanto eu ganhava. Quando respondi que era mais de cinco mil dólares por mês ele disse que por esse tanto de dinheiro até viraria o meu chofer. Eu lhe desejei boa sorte antes de nos separarmos e segui meu caminho ao lado de Rick e T-Dog pelo beco, nos movendo rápido e silenciosamente até o ponto de encontro, caso desse merda e o coreano precisasse correr para nós.

— Ayuadame!

Olhei de soslaio para Rick só para ver se ele tinha escutado a mesma coisa que eu e minha resposta foi sim, quando ele virou o rosto e me encarou.

— Parece que alguém está pedindo ajuda. – Os informei baixo

— Ayuadame!

Quando escutamos o segundo grito, corremos em direção ao pedido de ajuda. Eu me preocupei quando percebi que estávamos indo em direção ao beco que Glenn encontraria com Daryl. Aumentei a velocidade da minha corrida e ultrapassei Rick. Em menos de segundos, chegamos ao beco onde Daryl estava fechando o portão que dava para a rua do tanque e um garoto de camiseta branca estava se levantando do chão. Cheguei bem na hora que ele saiu do portão e empurrou o garoto na parede, quando me aproximei deles, entrei na frente de Daryl e o impedi de ir para cima novamente do garoto, empurrando ele pelo peito.

— Para! - Pedi para ele, fazendo força para mantê-lo longe do menino

— Eu vou chutar suas bolas para sua garganta! – Daryl gritou para o menino, tentando passar por mim - Me solta!

— Espera um pouco! – Pedi depressa

— Levaram o Glenn. – Daryl nos avisou, enquanto tentava tirar minhas mãos dele - Esse moleque e os amigos chicanos dele! – Ele tentou andar, mas eu não deixei - Eu vou acabar com a sua raça!

— Pessoal! – T-Dog nos chamou, aflito – Pessoal! Estamos cercados!

Mesmo ignorando os grunhidos e gemidos enquanto estava tentando conter Daryl, eu sabia que eram muitos. Mal tive tempo de olhar para os caminhantes antes de escutar a voz de Rick.

— Vamos para o laboratório! – Rick agarrou o menino pelo braço enquanto falava – Vamos!

Larguei Daryl e peguei a bolsa de armas, e o chapéu de xerife que estava no chão, retrucando as palavras apressadas que Dixon me dizia, me mandando ir mais rápido. Ele me esperou correr primeiro e me seguiu, cuidando das minhas costas.


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Notas finais do capítulo

Próximo episódio: Casa de repouso.


Um ps enorme agora: Beatrice seus comentários me deixaram muito feliz, sério. E cá entre nós, sempre quis ver um personagem do exercito no grupo do Rick (E porque não ser mulher? Não é?) desde o começo e tenho muitos planos para ela em relação as temporadas seguintes e não, você não está pensando muito além, também penso nisso e estou super ansiosa para saber como a personagem agirá em relação ao Negan, principalmente quando aqueles que ela ama estarão em perigo. Muito obrigada pelo incentivo. Beijão! ♥



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