TWD - Primeira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 5
Quatro e Meio


Notas iniciais do capítulo

Rick e o helicóptero.



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Durante o caminho para o porão, tive que ter muito autocontrole para não bater em Andrea, pois ela estava retrucando minhas ordens e dizendo besteiras para Jacqui. Eu me mantive concentrada no que íamos fazer e troquei poucas palavras com o policial, apenas disse coisas necessárias. Ao chegar ao que tudo indicava ser o porão que Glenn achou, ligamos nossas lanternas e atravessamos o cômodo, indo diretamente para uma espécie de túnel.

— É isso? – Perguntei juntando minhas sobrancelhas, enquanto apontava a minha lanterna para baixo - Tem certeza?

— Eu chequei esse lugar da última vez que eu estive aqui. - Glenn me respondeu - É a única passagem do prédio que vai lá pra baixo. Mas eu nunca fui para lá. – Nos contou, depois de alguns segundos de silencio - Quem é que gostaria né?

Ele estava visivelmente nervoso, mas não tinha se ligado na sua pergunta.

— É, quem é que gostaria. – Repeti, olhando para ele

Tenho certeza que os outros também estavam olhando para ele, por cauda do olhar que ele nos lançou.

— Ah, legal. - Glenn comentou despreocupadamente e olhou para baixo

— Estaremos bem atrás de você. – Andrea tentou incentiva-lo

— Não, eu não quero. - Ele falou depressa - Você não!

— Porque eu não? – Ela perguntou, inconformada - Acha que eu não posso?

— Claro que não pode, - respondi por ele, olhando séria para ela – nem segurar a porra da arma você sabe.

— É claro que eu sei!

— Olha, - Glenn resolveu respondeu - É que eu...

— Diga o que pensa. – O policial pediu, notando que Glenn havia travado

— Olha, - Glenn respirou fundo – é que até agora eu sempre me virei sozinho. Eu entrava e saia, pegava umas coisas sem problema. A primeira vez que eu trouxe um grupo virou tudo um inferno. Olha, não é por mal, mas se querem que eu entre nesse buraco sujo, beleza. Mas só se for do meu jeito. É apertado lá, se eu encontrar alguma coisa e tiver que sair rápido eu não quero ninguém empacando para mim acabar morrendo. Eu vou levar uma pessoa, vocês dois também não. - Ele falou ao policial e depois me indicou com a mão - Você tem armas e sabem usa-las. Eu me sinto melhor se vocês estiverem lá em cima vigiando aquelas portas, me dando cobertura. – O policial e eu afirmamos com a cabeça e Glenn continuou - Você está com a terceira arma, - ele falou indicando Andrea - É melhor ir com eles. Você vai ser meu parceiro. - disse apontando para o Morales - A Jacqui fica aqui. Se alguma coisa acontecer avisa para a gente sair rápido daqui, tá bom?

— Tá bom. - Jacqui concordou, arrumando a lanterna na mão

— Tá bom. - O policial também concordou, dando tapinhas amigáveis no ombro de Glenn - Cada um sabe sua função.

Glenn colocou a lanterna na boca e começou a descer a escada, Morales passou por mim e foi logo atrás dele. Pedi para o policial me acompanhar e liderei o caminho, torcendo para que Andrea se perdesse de nós.

Quando chegamos ao térreo, na loja de roupas, empunhei a minha pistola checando se tinha uma bala no cano e quantas balas restavam no pente.

— Exército? – O policial me perguntou, parecia que estava duvidando

— Primeira-Tenente Lopes, Chefe da Infantaria no Fort Benning. – Me apresentei, estendendo a minha mão vaga para um aperto – Decepcionado por descobrir que não visto essa roupa só porque é bonita?

— Não, - ele negou apertando a minha mão – é que não tem muitas mulheres ocupando cargos no exército.

— É, eu sei. – Concordei com a cabeça, lamentando

— Onde estão os outros? – Ele me perguntou – Eu vi um tanque lá fora...

— Cara, eu não faço ideia. – Respondi lentamente, eu estava sempre tentando não pensar nisso

Ele balançou a cabeça positivamente e entendeu que aquele era um assunto delicado para mim. Olhou ao redor e respirou fundo.

— Desculpe por ter te apontado a arma. - Ouvi Andrea se desculpando com o policial e minha esperança que ela se perdesse evaporou  

— As pessoas se descontrolam quando estão com medo. – Ele comentou, como se estivesse aceitando as desculpas

— É, mas não que eu não tivesse motivo. – Andrea retrucou - Você meteu a gente nisso.

— Se eu nos tirar daqui eu vou consertar o que fiz? – Ele perguntou

— Não. – Ela negou - Mas será um começo.

O silêncio voltou a reinar entre nós, mas aí eu resolvi comentar uma coisa que estava engasgada na minha garganta.

— Ô Andrea, - a chamei, olhando para ela - da próxima vez que quiser matar alguém, começa puxando a trava da arma. – Quando ela me olhou confusa, eu expliquei, como se estivesse falando com uma criança - Ela não dispara se não puxar a trava desse tipo de arma. Ou seja, mesmo se você apertasse o gatilho, a arma não dispararia.

Ela me olhou indecisa e checou a arma, em dúvida se eu estava zoando com ela ou apenas falando a verdade, o que era o que eu realmente estava fazendo.

— Ela tem razão. – O policial concordou comigo - Essa arma é sua?

— É. - ela respondeu ele, confusa - Foi um presente, por que?

O policial se aproximou dela e pegou a arma da mão dela, examinando o tipo de pistola que ela estava portando.

— O ponto vermelho significa que pode atirar, - ele explicou para ela, destravando a arma - você pode precisar usa-la uma hora.

— É bom saber. – Comentou baixo, quando recebeu a arma de volta

Enquanto os dois conversavam, eu aproveitei para me afastar, já que tinha feito a minha boa ação do dia avisando à Andrea sobre a arma dela. Me encostei na parede e fechei os olhos levemente, tentando relaxar, mas a única coisa que vinha em minha mente era o nome do Harris. O cabelo castanho dele, os olhos verdes e chamativos, o sorriso malicioso e a voz rouca de quando ele acabava de acordar.

Droga, eu ainda esperava acordar desse pesadelo e estar na minha cama.

Abri os meus olhos quando escutei o barulho de vidro quebrando, olhei diretamente para as portas e vi que os caminhantes estavam cada vez mais perto de entrar na loja. A única coisa que me tranquilizou foi saber que ainda tinha outra porta para eles ultrapassassem, mas essa era a última.

E então... nós.

— O que encontraram lá em baixo? – Perguntei, assim que vi Glenn correr para perto de mim

Jacqui e Morales estavam perto do policial, o qual estava mais à frente, apontando a arma para a porta onde os primeiros caminhantes que ultrapassaram estavam batendo.

— Não tem saída. – Morales respondeu logo em seguida

— Temos que achar uma saída. – Andrea comentou rápido – E logo.

— Nossa, grande ideia gênio. – Minha voz saiu mais sarcástica do que eu queria – Nem tínhamos pensado nisso.

Ela crispou os lábios com meu comentário e o policial nos chamou para voltar até o terraço com ele. Com sorte, ele estaria tendo uma ideia.

Quando chegamos ao terraço, Glenn entregou o binoculo para o policial a pedido dele e nós o acompanhamos para um dos muros. Esperai ansiosamente até ele examinar cada local da rua lá em baixo.

— Aquela construção lá, - o policial comentou, quando tirou o binoculo dos olhos e entregou para Morales, que estava mais perto dele – os caminhões... eles sempre deixam as chaves na mão.

— Nunca vai conseguir passar pelos caminhantes. – Morales comentou, olhando para aquelas coisas na rua

— Você me tirou daquele tanque. – O policial comentou, olhando para o coreano do grupo

— É, mas eles estavam comendo. – Glenn disse retrucando – Estavam distraídos.   

— Podemos distrai-los de novo? – O policial perguntou para a gente

— É isso aí. – A voz de Merle soou atrás de nós – Escutem o cara, ele tem um plano. Uma distração, tipo “Guerra, Sombra e Água Fresca”.

— Ah meu Deus. - Jacqui resmungou alto, olhando para ele – Dá um tempo!

— São atraídos pelo som, não é? – O policial perguntou, voltando a conversa de antes

— É, que nem cachorro. – Glenn respondeu concordando – Escutam barulho e eles vem.

— O que mais? – O policial perguntou

— Além de nos escutar, de nos ver e sentir o nosso cheiro? – Perguntei para ele, meio irônica – Olha amigo, se te pegarem vão te comer. Literalmente.

— Eles podem sentir o nosso cheiro? – O policial perguntou, confuso

— Você não pode? – Glenn perguntou para ele, rápido

— Eles cheiram a cadáver, nós não. – Andrea resmungou – É bem diferente.

O policial aderiu um olhar diferente e nos contou o que planejava. Se não fosse sério, eu me afastaria dele e diria que ele é louco. Mas eu tinha que considerar que tinha chances de dar certo, mesmo mínimas.

Mas mesmo assim, era loucura.

Nós descemos novamente para a loja de roupas e ele foi direto para as luvas de plástico, as de limpeza e nos entregou alguns pares.

Se eu estava confortável com isso? Claro que não.

— Se más ideias estivessem nas olimpíadas essa ganharia o ouro. – Glenn comentou, nauseado

— Olha, ele está certo. – Morales comentou, indo até o policial que estava pegando mais coisas para o seu plano louco – Para um pouco. Devíamos pensar melhor nisso.

— Não dá tempo de pensar. – O policial retrucou, jogando uma camisa enorme na minha direção, para eu pegar – Eles já atravessaram uma porta, o vidro não vai resistir para sempre.

Enquanto Morales e o policial foram pegar o corpo do caminhante, eu vesti a enorme camiseta cor bege e fechei os botões, aquilo estava parecendo um vestido. Jacqui e Andrea vestiram as delas também e eu fui fazer o que me foi pedido, pegar o machado.

Depois de esperar os dois voltarem com o caminhante, virei a cabeça para o lado e bati com o cotovelo no vidro de emergência onde estava o machado, logo, o entregando para o policial, não queria fazer isso. Fiz uma careta quando ele ameaçou de bater com o machado no homem morto, mas acabou não batendo. Ele largou o machado no chão junto com o capacete de segurança e se ajoelhou perto do caminhante, mexeu em seus bolsos e de lá tirou uma carteira.

— Wayne Dunlap. – O policial leu o nome do homem – Ele é da Georgia, nasceu em 1979. – Entregou o documento do homem para Glenn e depois continuou a remexer a carteira - Ele tinha vinte e oito dólares no bolso quando morreu. E a foto de uma garota bonita, - virou a foto – “Com amor, da sua Rachel.”. Ele era como a gente. Preocupado com contas, ou o aluguel, ou Super Bowl.... Se eu encontrar a minha família, contarei a eles obre o Wayne.

Lamentei em silencio sobre o que íamos fazer e me preparei, quando o policial se levantou, colocou o capacete e pegou novamente o machado.

— Tem mais uma coisa, - Glenn comentou, olhando para o documento do homem chamado Wayne – ele era doador de órgãos.

Virei o meu rosto para o lado quando vi que o policial ameaçou novamente a esquartejar o caminhante, agora conhecido como Wayne e não me arrependi por ter feito isso, pois escutei o barulho da pele se rasgando e um “smash”, me avisando que ele tinha começado com o trabalho. Andrea deu um gritinho e Morales disse alguma coisa em espanhol. O policial grunhiu algumas vezes mas continuou a fazer o seu trabalho. Quando não aguentou mais, entregou o capacete e o machado para Morales, pedindo para ele continuar.

— Eu vou vomitar! – Glenn avisou, com a voz nauseada e curvado para o chão

— Não faz isso, Glenn. – Pedi fazendo uma careta enorme – Se eu sentir o cheiro eu acabo vomitando também.

Depois de mais alguns golpes em Wayne, o policial nos perguntou se estávamos todos com luvas e quando recebeu a confirmação nos deu avisos: Não deixar cair na nossa pele e nem nos nossos olhos.

Os outros, os que não iriam sair nos ajudaram a espalhar os restos mortais do Wayne nas blusas que estávamos usando especialmente para isso. Jacqui estava passando aquilo em mim, cobrindo todos os espaços vazios do meu blusão.

— Isso é horrível, - murmurei com um nojo explicito na voz - isso é muito horrível.

— Pense em outras coisas. – O policial me disse, mas também estava com nojo – Cachorros ou gatos, crianças...

— Só se for em filhotes e em crianças mortas. – T-Dog comentou, enquanto passava os restos daquele homem nas minhas costas

Glenn se curvou para o outro lado e vomitou, não tinha aguentado. Eu comecei a respirar pela boca e dei alguns passos para longe, só para não sentir o cheiro.

— Isso é maldade. – Andrea avisou – Qual é o seu problema, T-Dog?

— Da próxima vez, deixa o branquelo acabar com ele. – Jacqui avisou ao policial

— Foi mal, pessoal. – T-Dog se desculpou, enquanto se abaixava para pegar mais um pouco dos restos mortais do homem

— Isso é muito ruim. – Glenn murmurou

— Temos o cheiro deles? – O policial perguntou

— Ah, com certeza. – Andrea respondeu, franzindo o nariz e depois tirou a sua arma e estendeu para o coreano – Glenn, caso precise. – Ela colocou a arma no cós da calça dele

— Se conseguirmos voltar, - o policial começou chamando a atenção dos que iam ficar – estejam preparados.

— E quanto a Merle Dixon? – T-Dog perguntou, crispando os lábios

O policial tirou a chave da algema da calça e entregou para ele.

— Me dá o machado. – O policial pediu e assim que o recebeu completou – Precisamos de mais entranhas.

Antes de sair, completamente coberta por entranhas de um humano, eu perguntei o nome do policial. Se eu fosse morrer, gostaria de saber ao lado de quem.

Rick Grimes tinha ideias loucas.

Quando saímos e Morales fechou a porta, eu vi que não tinha volta. Respirei fundo e segui os passos de Rick, o qual estava arrastando os pés assim como os caminhantes. Glenn ainda estava relutante com a ideia, mas mesmo assim veio atrás de nós. Prendi a respiração quando nos aproximamos dos dois caminhantes que estavam no beco, perto da porta. Olhei fixamente para a frente quando passei por um deles, caminhando lentamente e apertando um taco de baseball nas mãos. Ao chegar perto do ônibus, nós nos abaixamos e passamos lentamente por debaixo dele. Evitamos de fazer barulho e chamar atenção nesse processo, e então, retomamos a caminhada suicida.

Nunca pensei que estaria andando no meio deles, às vezes, um caminhante passava raspando em mim e me cheirava. Não devo nem comentar que meu coração parecia parar cada vez que isso acontecia.

— Vai funcionar... – a voz de Glenn soou baixa, ele estava caminhando entre Rick e eu - Não acredito.

— Não chame atenção. – Rick falou baixo e pausadamente

Uma caminhante chegou perto de Glenn e o encarou, ouvi alguns gemidos do coreano e supus que ele estava tentando imitar o som dos mortos vivos. Isso pareceu dar certo, pois a caminhante passou por ele e seguiu o seu caminho.

A cima de nós, escutamos um trovão e não demorou muito para começar a chover. Franzi os lábios quando a primeira gota caiu sob mim e tentei andar o mais rápido que eu podia naquela situação, que por acaso não era muita. A chuva ficou forte e por causa disso o céu estava escurecendo.

Uma tempestade logo agora?

Me pareceu que os caminhantes estavam começando a sentir o nosso cheiro, pois agora, eles estavam nos olhando e grunhindo cada vez mais alto.

Estávamos ferrados.

— O cheiro está saindo. – Glenn também pareceu perceber isso e comentou baixo, com a voz cheia de aflição - Não está? Está saindo.

— Não, não está não. – Rick respondeu tentando ser positivo, mas nós três sabíamos que estava e que não tínhamos muito tempo - Bom, talvez...

Um caminhante veio andando na minha direção, grunhindo muito alto. O cheiro definitivamente saiu. Quando ele chegou perto o suficiente de mim, acertei a sua cabeça com o taco de baseball que o Morales havia me dado.

— Corre!

Eu não precisava falar isso, mas mesmo assim disse. Nós três começamos a correr, desviando e acertando os caminhantes que estavam na nossa frente enquanto éramos perseguidos por talvez centenas deles, todos grunhindo e gemendo tão alto quanto podiam. Já que o cheiro tinha saído, eu tirei aquela camisa cheia de entranhas e joguei fora correndo o mais rápido que podia em direção a cerca que nos separava dos caminhões que Rick havia dito. Quando cheguei perto dela, não pensei muito para escala-la o mais rápido que pude. Fui a primeira a chegar ao outro lado, um pouco mais tranquila.

Mas eu sabia que não duraria muito, pois, todos aqueles caminhantes estavam se jogando contra a cerca de ferro, e ela era fina.

Enquanto Glenn ia procurar as chaves, Rick e eu começamos a atirar nos caminhantes espertinhos que estavam aprendendo a como subir na cerca. Quando ele achou, gritou pelo nome do Rick e lhe jogou a chave. Eu esperei mais um pouco e continuei atirando, até ouvir gritarem o meu nome. Corri em direção a van, onde Glenn mantinha a porta aberta para eu poder entrar. Mesmo sabendo que ficaria apertado, eu entrei e fechei a porta, dividindo o banco com o coreano. Não demorou muito para que um caminhante se jogasse na nossa janela, batendo.

Rick deu partida no carro, e eu aproveitei para me arrumar no banco do carro com Glenn e me arrumei o melhor possível, quase sentando no colo do coreano. Os caminhantes derrubaram a cerca quando Rick deu a volta e apertou o pé no acelerador, indo para o lado oposto onde o grupo estava.

— Ai meu deus. - Glenn disse rápido, claramente apavorado - Eles estão em todos os lugares!

— Você precisa atrai-los para longe, - Rick falou para ele, logo em seguida do pequeno show do coreano - sabe aquelas portas de correr em frente da loja? É a área que precisa ficar livre!

— Sei, mas como...?

— Chefe, - ele agora se dirigiu a mim - fale com seus amigos e diga para eles descerem e ficarem prontos.

Enquanto o policial voltava a explicar para o Glenn o que ele tinha que fazer, me inclinei para frente e puxei o rádio da parte de trás da minha calça.

Quando Rick parou o carro, ele e Glenn desceram. Observei pelo vidro Rick quebrar o vidro de um carro esportivo vermelho com um pé de cabra e o alarme começou a ecoar por toda a parte.

Um som alto e irritante.

Apenas Rick voltou para a van, pois Glenn iria atrair os caminhantes com o barulho do alarme do carro esportivo. Enquanto Rick voltava para a loja que o grupo estava, eu aproveitei para falar com eles.

— Aqui é a Gabriela, - avisei, apertando o botão do rádio para falar - nas portas de correr da loja que vão para a rua, encontrem a gente lá, fiquem preparados!

— Gabriela, - Rick me chamou novamente, quando o carro que o Glenn estava dirigindo passou por nós - vá lá para trás e fique pronta para abrir a porta.

Dei um aceno positivo com a cabeça e fui para a parte de trás do caminhão. Quando chegamos à loja, abri a porta o mais rápido que pude e dei uma batida forte na porta de correr da loja. Ouvi a voz de Andrea dizendo “Puxa” e então aos poucos a porta foi aberta, eles jogaram as coisas que tínhamos pego no caminhão e subiram em seguida. Voltei para o banco da frente enquanto Morales fechava a porta. Rick acelerou o caminhão e nos tirou de lá. Cansada, eu me larguei no banco e respirei fundo. Dei uma olhada para trás e notei que faltava uma pessoa.

Merle Dixon.

— Eu deixei a droga da chave cair. - T-Dog anunciou, como se estivesse acabado de ler meu pensamento

Rick e eu não falamos nada sobre isso. Não tinha o que dizer e nem o que fazer.

— Cadê o Glenn? - Andrea perguntou, parecendo que só tinha sentido falta agora dele

— Se divertindo.

— É melhor não ficar pensando. - Morales falou ao Rick, se apoiando entre os nossos bancos - Sobre o Merle ter ficado para trás. Eu acho que ninguém vai ficar triste com isso... exceto... talvez o Daryl.

— Daryl? - Rick perguntou confuso, olhando dele para a estrada

— Esse daí é o cara da besta? – Perguntei, olhando para o mexicano

— É. – ele me respondeu - O irmão dele.

O som de um alarme irritante chegou aos nossos ouvidos, junto com um grito abafado. Glenn se exibiu ao passar por nós em alta velocidade e nos mostrou o dedo, gritando animado.

Pelo menos ele estava tendo um dia legal.

Durante o resto do caminho, eu fechei os meus olhos, tentando dormir ou descansar a cabeça. Nossa, esse dia foi surpreendente e louco.

Não quero repeti-lo nunca mais.

Quando abri os olhos novamente, estávamos subindo a rua de barro perto do acampamento. Eu bocejei e me espreguicei, ficando automaticamente mais acordada. Esperei até que Rick estacionasse e sai da van. A primeira pessoa que vi foi Glenn, sorrindo. Fui até ele com a mão levantada e disse “High-Five” quando ele bateu a mão dele na minha.  

— Foi legal, - comentei me apoiando nele - mas não vamos fazer de novo.

— Combinado. – Glenn respondeu na mesma hora

— Como conseguiram sair de lá? - Shane perguntou para mim

— Foi um homem novo, - Contei a ele – um com ideias malucas que tirou a gente de lá.

— Um cara novo? - Shane perguntou juntando as sobrancelhas

— É, um maluco que apareceu na cidade - Morales respondeu por mim, e só aí eu percebi que os outros também haviam saído do carro - Ô do helicóptero. Vem cá, dizer um “Oi”.

— O cara é policial. – Comentei com Shane - Igual você.

Estranhei quando vi a expressão facial de Shane mudar e olhei para onde ele estava olhando. Rick estava saindo da van, assim como Morales tinha pedido a ele.

— PAI, PAI!

— Rick!

Fiquei surpresa ao ver Carl e Lori correndo em direção ao Rick, está bem que ele nos disse que estava procurando a família dele, mas isso é muita coincidência.

Ao anoitecer, todo mundo se reuniu perto das fogueiras. Rick estava contando a história dele e de como ele tinha parado em Atlanta, até nos encontrar.

— Desorientado, eu acho que é o que chega mais perto. - Rick estava contando, com sua família em seus braços - Desorientado. Medo, confusão... essas coisas todas, mas... desorientado é o que define mais.

— Palavras podem ser insuficientes. - Dale comentou para ele - Às vezes não dizem tudo.

— Eu senti como se tivesse sido arrancado da minha vida e posto em outro lugar. - Rick continuou - Por um tempo eu achei que... que eu estava preso no coma, num sonho, alguma coisa da qual eu não acordaria, nunca.

— A mãe disse que você tinha morrido. – Carl comentou com o pai

— Ela tinha razões para acreditar nisso - Rick falou para ele, acariciando seu cabelo - Nunca duvide disso.

— Quando as coisas começaram a ficar bem ruins disseram no hospital que iam transferir você e os outros pacientes para Atlanta. - Lori disse a ele - Isso nunca aconteceu.

— Bom, eu não estou surpreso depois de Atlanta ter caído. - Rick comentou, balançando a cabeça negativamente - E pelo jeito que ficou aquele hospital, eles foram tomados.

— É, as aparecias não enganam. - Shane disse para ele - Mal consegui tira-los de lá. Sabe?

— E eu nem sei como te agradecer, Shane. - Rick disse a ele, pelo que eu entendi os dois trabalharam juntos antes disso - Eu não tenho nem palavras.

— São as palavras sendo insuficientes de novo. - Dale comentou e eu sorri concordando com ele - São pobres.

Nós olhamos para o lado quando um homem, Ed, colocou mais lenha na outra fogueira, deixando o fogo alto e estralando.

— Ei Ed? – Shane o chamou alto - Não está afim de reconsiderar o tronco não?

— Está frio aqui, cara. – O homem respondeu, arrastando a voz

— O frio não muda as regras. - Shane disse para ele, sério - Mantemos o fogo baixo, só brasas... para que não possam ver a gente de longe, não é isso?

— Eu disse que está frio. - O cara retrucou alto – Por que que não vai cuidar da sua vida?

Bem devagar eu me levantei, cansada. Dei um tapinha no ombro de Shane quando passei por ele e caminhei até a outra fogueira, parando exatamente do lado de Ed. Ele olhou para mim e estreitou os olhos, esperando por alguma reação minha.

— Acho que ouvi o Shane dizer que o fogo pode alertar algum inimigo. – Falei olhando fixamente para os olhos de Ed - Você não quer isso... quer?

— Tá bom. - Ed disse passando a mão na nuca, depois de soltar o ar pela boca - Puxa o tronco. - Mandou a sua mulher fazer isso - Anda Carol.

Ela ia se levantar, mas eu a impedi, erguendo a mão, pedindo para que ela ficasse onde está.

— Não foi a Carol que aumentou o fogo. – Falei para ele, ficando sem paciência - Para de ser folgado, tire você mesmo a droga do tronco.

Ele me olhou, me analisou e depois tirou o tronco, para não esperar mais nada dele, eu mesma apaguei o fogo com os pés e em seguida me abaixei, para conversar com a Carol e a sua filha, Sophia.

— Oi, como vocês estão? – Perguntei a elas, sorrindo

— Bem, - Carol me respondeu - estamos bem. Desculpa pelo fogo...

— Não. – Soltei um riso e sorri novamente - Não precisa pedir desculpas por isso. Boa noite para vocês.

— Obrigada. - Carol agradeceu enquanto eu me levantava e batia as mãos na calça – Boa noite.

Lancei mais um sorriso as duas e passei pelo Ed, resmungando um “Valeu pela cooperação, babaca”. Voltei ao meu lugar na fogueira e me sentei, despejando grande parte do meu peso em Glenn, o qual estava do meu lado.

— Já pensaram sobre o Daryl Dixon? - Dale nos perguntou, assim que eu me sentei - Ele não vai ficar feliz de terem deixado o irmão dele para trás.

— Eu conto. - T-Dog murmurou - Eu deixei a chave cair, a culpa é minha.

— Eu o algemei, a culpa foi minha. – Rick balançou a cabeça negativamente, ao ouvir T-Dog falar aquilo

— Pessoal, isso não é uma competição. - Glenn lhes disse, se remexendo em seu lugar - Eu não queria ser preconceituoso, mas... ia ser melhor se um cara branco assumisse.

— Eu sei o que eu fiz - T-Dog disse lentamente, depois de respirar fundo - Eu não vou esconder isso dele.

— Podemos mentir. - A irmã da Andrea sugeriu, Amy

— Ou contar a verdade. - Dessa vez Andrea sugeriu – O Merle estava fora de controle, alguma coisa tinha que ser feita ou morreríamos por causa dele. Seu marido fez o que era necessário. - Ela falou para a Lori – E se o Merle ficou para trás, não foi culpa de ninguém, só do Merle.

— E é isso que diremos ao Daryl? - Dale perguntou, quase rindo - Não vejo uma discussão racional saindo disso? Você vê? - Perguntou a Andrea e ela suspirou em resposta - Eu estou falando sério, teremos muito trabalho quando ele voltar da caça.

— Eu estava com medo e aí eu corri. - T-Dog nos contou - Não tenho vergonha disso.

— Todos correram de medo. - Andrea falou para ele - O que quer dizer?

— Eu parei o suficiente para acorrentar a porta. - Ele respondeu e recebeu o olhar de atenção de todos nós - A escada é estreita, talvez meia dúzia de caminhantes consigam se espremer lá, alguma hora. Mas não vão conseguir quebrar, não aquela corrente, não aquele cadeado. Ou seja... O Dixon está vivo e ainda está lá em cima. Algemado naquele telhado. Isso sim é culpa nossa.

Se levantou e se afastou, provavelmente indo para sua barraca.


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Notas finais do capítulo

O próximo capitulo será o qual meu crush voltará da caça.



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