A Escolhida do Destino escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 9
Game Master


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais saiu. Weeee.
Espero que gostem :3



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Num primeiro momento, Alyson não entendeu aquele desafio. Parecia algo muito simples de se fazer, para decidir quem ficaria com artefatos tão importantes como as pedras que prenderiam Haradja. Mesmo assim, seu instinto falou mais alto que a razão, literalmente, e ela se viu aceitando aquela loucura sem discutir.

Típico.

Agora estava de frente para Gilgamesh, com um tabuleiro holográfico de xadrez entre ambos. Ou talvez fosse um tabuleiro mágico. Era irrelevante, de qualquer forma, ela precisava ditar os comandos de acordo com as casas para as peças tremeluzentes andarem. O tamanho do campo e das peças era muito maior do que o habitual – a coroa do rei chegava até a altura de seu quadril – e as peças eram delicadas e detalhadas. Ela estava do lado branco enquanto o adversário ficara com as peças negras.

Gilgamesh alegara que seriam três desafios, ou jogos, cada um testando uma área diferente. O primeiro seria estratégico, o segundo contaria com a sorte e o último seria uma prova física. Alyson sabia que seu azar era terrível, não dava para esperar a vitória no segundo jogo. Precisava dar tudo de si no primeiro e ainda mais no último…

Essa certeza foi o bastante para que ela mantivesse uma atitude ofensiva no xadrez, concentrando-se mais do que o normal. Passou a pensar sobre cada movimento de Gilgamesh, cada estratégia que ele arquitetaria. Alyson estava longe de ser um gênio como Chloe, era um fato, mas quando se dispunha a fazer algo, qualquer coisa que fosse, dava tudo de si. O resultado?

O feiticeiro parecia prestes a perder o jogo. Fora encurralado umas três vezes e a palavra xeque foi repetida na mesma medida.

Kensuke, Crós e Chloe observavam o jogo de longe, apoiados contra uma estrutura que aparentava ser uma cerca. Gilgamesh alegara que, se algum deles interferisse, a derrota recairia sobre Alyson, independente de como estaria seu desempenho.

— Ela está indo bem. — argumentou Crós, ligeiramente surpreso. Pelo que vira da garota, esta era avoada demais para aqueles jogos estratégicos. Gilgamesh era alguém difícil de vencer quando se tratava de jogos e até mesmo de sua magia, quando se dispunha a utilizá-la.

Ken piscou os olhos um pouco, balançando a cabeça para afastar o sono. Assistir uma partida daquelas era tudo, menos emocionante para ele. Mesmo assim forçava-se a entender o que estava acontecendo ali. — Não esperava que a Ly chegasse tão longe.

— Hum… ela costumava perder jogos para mim por causa da preguiça, mas é bastante inteligente. — Chloe falou num tom que lembrava uma confidência. Crós ergueu uma sobrancelha.

— Visto que você tem uma genialidade bem acima da média, até entendo que aquela garota não se esforçasse para vencê-la.

— Uma lástima, talvez ela pudesse. — a moça deu de ombros, desta vez suspirando pesadamente. — Aquele cara está muito acima de mim, no entanto.

— Mas ele está perdendo descaradamente! — Protestou Ken, fazendo um sinal para o campo improvisado, bem na hora em que Alyson terminava sua jogada com um quarto xeque.

— Não… — Chloe meneou a cabeça, num gesto quase triste. — Na verdade ele já…

— Xeque Mate.

 

Alyson recuou, horrorizada, vendo as peças que restaram no tabuleiro do seu lado ruírem. Engoliu em seco… onde errara? Estava tão concentrada desta vez, como nunca ficava quando disputava xadrez contra Chloe.

— Eu devo parabenizá-la por me deixar em maus lençóis por tanto tempo… no entanto, você deixou sua guarda aberta demais ao focar tanto em meu Rei. — Gilgamesh bateu levemente uma mão na outra, fazendo o tabuleiro desaparecer. Era verdade. O Rei de Alyson tinha sido destronado por um mero peão, enquanto ela usava a rainha e os cavalos para cercar o dele.

A jovem tinha ainda muito o que aprender, mas isso era o de menos. Ela falhara miseravelmente no primeiro desafio, o que ela precisava vencer mais que tudo. Mordeu com força o lábio inferior, cerrando as mãos. Tinha que ficar calma… não perdia nada por tentar no próximo, embora suas chances de acerto fossem mínimas.

— O que foi, está aterrorizada cedo assim? Eu mal comecei. — o feiticeiro espalmou as mãos e então estalou os dedos. A sala sofreu mais uma mudança drástica, diminuindo de tamanho. Os três que estavam de fora dos jogos foram empurrados mais para frente, enquanto uma pequena mesa com duas cadeiras surgia entre Alyson e Gilgamesh. Automaticamente, ele sentou-se e a garota praticamente caiu sobre a sua cadeira, resmungando baixinho. Nem vira quando o móvel fora para trás dela. Respirou profundamente e encarou o desafiante do outro lado, buscando algum indício de qual jogo viria a seguir.

Arregalou os olhos quando os objetos seguintes surgiram na mesa: três dados de seis lados e um copo.

Ah… só podia ser brincadeira.

— Dados?

— Eu lhe disse que era um jogo de azar. — Gilgamesh deu de ombros. Kensuke e Chloe trocaram olhares claros de preocupação. Só um milagre para Alyson acertar a soma dos três dados. Crós coçou a nuca, inquieto.

— Gil, ao menos deixe apenas ela jogar, ou vai ser uma injustiça tremenda.

— Mas que coisa chata, Crós… já te falei que odeio quando me dizem o que eu tenho que fazer. — o feiticeiro dedilhou sobre a mesa, demonstrando clara irritação. Beatrice despencou do poleiro improvisado que fizera em um dos cantos do salão para pousar no espaldar de sua cadeira. Ele acariciou as penas alvas, distraido. — Tsc… tudo bem. Não teria graça se eu os lançasse, de qualquer forma. Entretanto… a senhorita só terá uma chance.

Ele colocou os três dados dentro do copinho e estendeu para Alyson segurá-lo. — É simples. Acerte a soma que sairá nos dados. Não é necessário dizer o que cairá em cada um. A menos que você deseje, é claro, e pode ter certeza que considerarei se o fizer.

A garota engoliu em seco e segurou o pote, pondo-se a chacoalhá-lo em seguida. Em jogos de tabuleiro, sempre terminava em último, porque os dados não colaboravam. Em mesas de RPG, a maior parte das vezes rolava erros críticos. Para tentar disfarçar o nervosismo, perguntou a primeira coisa que veio a cabeça: — Onde conseguiu um corvo branco?

Beatrice grasnou demonstrando ultraje. Gilgamesh não estava olhando para ela quando respondeu à pergunta: — Você vai irritá-la se continuar falando dela como se fosse um bichinho de estimação. E Beatrice não é um corvo.

— Ela parece um corvo pra mim. — Kensuke deixou escapar, recebendo apenas um olhar apático do feiticeiro, antes que ele cruzasse as pernas e os braços.

— Beatrice é um metamorfo. Um ser que assume muitas formas.

— Hum… então ela gosta de ficar deste jeito? — Alyson parou de mexer o copo para observá-los. Os olhos da ave brilharam, e Gilgamesh pela primeira vez pareceu muito desconfortável. Ele tirou o recipiente da mão dela e apoiou-o com a boca virada para o tampo da mesa, mantendo os dados ali dentro escondidos.

— Não suporto essa inocência. Aposte!

— Desculpe, eu não queria…

— Aposte, senhorita Black. — ele manteve a mão sobre o copo e desta vez olhou diretamente nos olhos dela. — Diga-me… você realmente acredita que vai chegar muito longe? Sua sabedoria falhou… depender de instinto não é o bastante, e nem mesmo a sorte está a seu favor, como você deixa transparecer muito bem. Com o que você pretende lutar?

— Coragem… determinação.

Gilgamesh sorriu ironicamente. — Isso não basta.

— É o que tenho a oferecer, por enquanto. — Alyson empertigou-se, apontando para baixo da mão dele. — A soma é 13. Dois dados caíram no 4, um no 5.

Um silêncio pesado caiu sobre todos, até que o feiticeiro começou a gargalhar. — Inacreditável! Você quer usar um número tão azarado e amaldiçoado como este, aqui? Não sei se isso é coragem ou burrice.

Alyson fez uma careta. — Que tal se você apenas levantar o copo, então acabamos logo com isso?

— Ha… com um palpite desses? — ele riu ainda mais.— Talvez você prefira nem ver.

Ela bateu com força ambas as mãos sobre a mesa. — Mostre logo os dados!

— Certo, certo, acalme-se. — Gil revirou os olhos para ela, erguendo a mão junto com o pote. Ao ver o resultado, foi a vez dele ficar sem reação alguma. Paralisou completamente, os olhos cravados nos números brancos sobre o fundo negro.

Dois números 4. Um número 5. 13.

Apesar de toda a confiança, Alyson apenas conseguia olhar para os dados, sem sequer piscar. — Eu acertei?

— Você falou a primeira coisa que veio a cabeça? — questionou Crós.

— É… não é assim que se aposta?

Ele passou a mão pelo rosto, sem dizer mais nada, tamanha a perplexidade. Gilgamesh quebrou o clima com um dar de ombros breve, recolhendo os dados. — O destino é mesmo uma vadia.

Beatrice bateu as asas, provavelmente compartilhando de sua opinião.

— Que deselegante. — Chloe alegou, colocando uma mecha dos cabelos cacheados atrás da orelha.

— A elegância só serve para os desocupados.

— Sempre pensei que você fosse o maior deles. — Crós comentou, recebendo um olhar fulminante em resposta.

— Não me force a debater ocupações com você. — ele levantou-se da cadeira num salto e espreguiçou-se. — Chega de enrolação… vamos para a prova final.

Alyson pôs-se de pé rapidamente, com certo receio de que o assento sumisse abaixo dela. O grande salão expandiu-se uma vez mais, erguendo-se muito alto, tanto que parecia impossível. Degraus de pedra surgiram do chão em uma circunferência, pilares subiram até o topo da redoma que se formava. Assim formava-se uma arena muito semelhante ao coliseu. Chloe mais uma vez surpreendeu-se com o tamanho gigantesco que a magia dava ao aposento. Kensuke lançou um olhar alarmado em volta, os músculos tensionados. Apesar dos três terem sido forçadamente recuados até as arquibancadas rústicas, deixando-os fora do local onde haveria a luta, o nível que Gilgamesh demonstrava ao manipular tal magia preocupava-o. Qualquer coisa poderia acontecer ali dentro.

— Relaxe, aquele homem não pode conjurar animais vivos… é claro, se você estiver preocupado com leões ou coisas assim… — Crós deu tapinhas no ombro do rapaz.

— O que foi que eu perdi? — a voz alta de Sasha surgiu ao lado dele antes que Ken pudesse retrucar. Ele retraiu-se por causa do volume e moveu sua atenção para ela.

— De onde diabos você saiu?

— Hum, eu tava entrando na sala quando ela meio que triplicou de tamanho. Quando percebi já estava aqui. — A ruiva mastigava alguma coisa que poderia muito bem ser chiclete.

— O que estava fazendo até agora?

— Ahn, estava jogando, ganhei muitos tikets! — como resposta, ela ergueu uma fileira inteira de pedaços de papel cor-de-rosa.

— Era de se imaginar. — Chloe sentou-se na arquibancada, puxando Crós e Ken, um de cada lado dela, pelos braços para que fizessem o mesmo. — Prestem atenção, já vai começar.

— O que vai começar? — Sasha olhou ao redor até focar-se no centro da arena, onde Alyson se alongava o máximo que podia, considerando o que teria de fazer para se defender, e Gilgamesh esperava de braços cruzados, com sua expressão entediada natural. — Er… o que eles estão fazendo?

Crós impediu qualquer um de responder quando levantou-se novamente, levando as mãos a boca para aumentar a potência das palavras que gritara. — Gil, você mesmo vai fazer isso?

— É claro que vou, quem você pensa que sou?

— Mas a redoma pode se desintegrar!

— Pelos deuses, acha que não consigo manter isso e lutar ao mesmo tempo?

Beatrice, que batia as asas um pouco acima do local onde a dupla estava, desceu para contornar o corpo de Gil. Depois de afrontá-lo por um tempo, retirou-se em direção a Crós, pousando no banco ao lado do mesmo.

— Aparentemente Bea concorda comigo.

— Danem-se, todos vocês! — o feiticeiro gritou de volta, puxando os cabelos que caiam em frente aos olhos para trás e focando-se totalmente em Alyson, visivelmente irritado. Suas retinas mostravam um brilho inquietante. — A primeira coisa que deve saber: pessoas que usam magia como meio principal não costumam ser boas corpo-a-corpo. Isso porque usar mágicas gasta energia, tanto quanto uma boa luta. Existem também aqueles que focam no combate corporal e usam os feitiços apenas como melhoria. Já deixo avisado que sou um dos primeiros, ou seja… minhas habilidades em uma briga não tem nada de especiais. Se perder pra mim aqui, não só será incapaz de conseguir as pedras, como também provará ser uma falha. Está preparada para isso?

Alyson mexeu as orelhas felinas e balançou a calda, assumindo uma posição que julgava defensiva. Apesar de estar meio tensa, seu olhar mostrava uma determinação de ferro. — Estou.

Era verdade que ela não tinha treinamento nenhum. Contra alguém assim, até mesmo um lutador mediano se sairia bem. No entanto… ela precisava vencer aquele jogo. Daria um jeito, mesmo que precisasse usar meios estranhos…

Meios estranhos?

Ela lembrou-se de algumas coisas… talvez aquilo funcionasse, seus reflexos naquela forma não eram ruins, e seu instinto estava bem afiado.

Suas conjecturas foram impedidas quando Gil partiu para cima dela sem sequer um aviso. O punho direito dele parou a milímetros de seu nariz e no segundo seguinte sentiu uma pancada muito forte no estômago, que fez com que retrocedesse e vergar-se o corpo, sem ar. Seus braços envolveram o local atingido e ela esforçou-se para não deixar-se cair com a dor.

— Não gosto da ideia de esmurrar mulheres. Se quiser parar agora, pode dizer. — Gilgamesh tocou o pé com que havia chutado-a no chão, ignorando as ameaças de morte que vinham da arquibancada.

— N… não.

— Certo. — outro golpe fulminante, vindo desta vez pela esquerda. A garota conseguiu prevenir um dano maior usando o braço, mas foi jogada para o outro lado da arena. Seu corpo rolou no chão e de alguma forma Alyson conseguiu impulso para levantar-se outra vez. Ele estava evitando bater no rosto dela, isso era óbvio. Mesmo assim, os ataques doíam bastante, para quem alegava não ter experiência em lutas.

Ela ergueu a guarda novamente. Ele considerou aquilo um gesto para que continuasse, e preparou uma terceira investida.

Desta vez, porém, ela conseguia ver seu próximo movimento. Realmente, Gilgamesh tentou outro soco com a direita, mirando seu peito. Alyson aproveitou-se da sua pouca altura e abaixou-se ainda mais, segurando o braço dele e virando o corpo, impulsionando-o para cima e atirando-o contra o chão em seguida. Um movimento defensivo bem padrão, na verdade. Ela preparou-se para dar um chute mas, apesar de surpreso com a resposta dela, o homem já havia rolado e recuado novamente.

— Tsc… não esperava por essa.

— Pra sua informação eu já vi um monte de filmes e animes de ação até hoje. Consigo me lembrar bem dos movimentos. — Agora que havia visto pelo menos o básico da velocidade e potência do oponente, era-lhe mais fácil revidar.

Gilgamesh arregalou os olhos com aquele comentário, então pela primeira vez deu uma risada de divertimento genuíno. — Parece que você não é uma falha assim tão grande.

— Eu não sou uma falha. — ela ergueu as mãos em posição de garra para perto do rosto. Ele levantou-se novamente, fechando os punhos e mantendo-os baixos.

— Isso você ainda tem que provar, garotinha.

— É o que pretendo fazer. — Dito isso, Alyson assumiu a ofensiva. Ela investiu com a direita, com foco no peito. Gilgamesh desviou e tentou uma pancada com o braço contra sua nuca, mas ela abaixou mais o corpo e passou a perna pelo chão, tentando derrubá-lo. Ele conseguira firmar bem seus pés no chão, no entanto, saindo apenas levemente machucado de um golpe que o faria cair.

— Sem habilidades especiais de luta uma vírgula. — resmungou Ken, as mãos fechando-se com força sobre os joelhos. Chloe mantinha-o preso pelo braço, não que tivesse condições favoráveis para isso. No entanto, se ele quisesse levantar para interferir na luta, precisaria desvincilhar-se dela primeiro, e não poderia fazer tal coisa sem machucá-la no processo.

— Fique calmo, não vai adiantar nada se intrometer.

Sasha apenas torcia do seu outro lado, elevando as mãos bem alto, como uma boa líder de torcida segurando pompons, e gritando a todo pulmão: — Me dá um A, um L, um Y, um S, me dá um O, e mais um N, A-ly-son, A-ly-son! Pega ele! Dá uma de direita, outra de esquerda, isso ai!

— Isso vai acabar mais dispersando ela do que ajudando, você sabe, não é? — Crós alegou, depois olhando para Ken. — Escute nossa Sabe-tudo. Entende muito bem o que vai acontecer se qualquer um de nós entrar lá.

— Mas é injusto!

— Bem, os vilões não são conhecidos por serem justos. Isso pode ser considerado um treino, também. Além disso, Gil não está usando magia. Caso contrário, Alyson teria ainda mais problemas.

— Não há razão para que use. — Chloe argumentou. — Ly não sabe usar magia, apesar de vocês alegarem que ela tem potencial. A prova é que ela não consegue se transformar de volta… Gilgamesh não precisa preocupar-se com nada além de pressioná-la.

— Vocês concordam com o método dele!? — Kensuke estava absolutamente indignado. Lembrou-se do treino com Altair… aquele miserável teria arrancado o couro dele se já não tivesse habilidade o suficiente para encará-lo de frente.

— É efetivo. — justificou-se a moça. — Além do mais, a Ly decidiu por conta própria o caminho que queria tomar. Se não respeitássemos isso, que tipo de amigos seríamos? O máximo que podemos fazer agora é apoiá-la.

Isso fez com que ele se calasse.

Eu nem sei mais o quê ou quem eu sou. Nem sei se sou algo que vale a pena proteger…

As palavras vieram em sua cabeça. Ele focou sua atenção na amiga, trocando golpes com Gilgamesh, recebendo alguns e acertando outros. Alyson sempre fazia as coisas no impulso… fora assim quando ela entrara na frente da flecha que o mataria, e da mesma forma quando aceitara aquele desafio idiota. Ela estava esforçando-se para provar que não precisava ser protegida, que podia lutar usando as próprias forças. Mesmo que seu progresso fosse lento, era visível que ficaria muito forte no futuro.

Foi isso que ela decidiu.

Kensuke levou uma das mãos a boca, sentindo um aperto no peito. Ele tentara cuidar dela desde que se apegara, e Altair lhe dera a tarefa de proteger a Filha de Kairos quando a encontrasse. Tão focado estava nisso que desconsiderara os sentimentos de Alyson. Pensando em poupá-la do fardo que escolhera carregar, estava apenas aumentando-o. Agir daquela forma superprotetora não aliviava nada para ela.

Ele movimentou a mão da boca para uni-la a uma segunda e formar um megafone improvisado. E, pela primeira vez desde que aquela disputa havia começado, torceu verdadeiramente pela garota em vez de apenas ficar preocupado: — Ei, Ly! Acaba com ele!

 

Ela ouviu a voz conhecida viajar através do ar e penetrar em seus ouvidos sensíveis. Suas orelhas vibraram enquanto girava nos calcanhares – em algum ponto da luta, acabara de costa para os espectadores – e encarou por um instante o quarteto, principalmente Ken. Sua expressão suavizou-se um pouco, tornando-se um sorriso. — Pode deixar!

Saltou evitando outra rasteira, que Gil havia perpetrado achando que ela perdera seu foco na briga. Quando tocou o chão novamente fez uma pirueta e acertou um chute na lateral do corpo dele, complementando o combo segurando-o pelos cabelos e batendo seu rosto contra o joelho da perna que acabara de usar, já dobrada. O feiticeiro gemeu de dor, recuando e segurando o nariz com a mão.

— Eu estava tentando não acertá-la no rosto, sua retardada, não dava para ter a mesma cortesia? Maldição!

— Er… eu acho que me empolguei um pouquinho. — Alyson havia baixado a guarda novamente, juntando ambas as mãos em frente ao peito. Seu corpo doía pra caramba, mesmo assim sentiu-se na obrigação de se desculpar. — Sinto muito.

— Tsc… tanto faz. — ele tirou a mão do rosto, limpando descuidadamente um filete de sangue que caía do nariz. O local parecia um tanto roxo e inchado, mas Gilgamesh não fez questão de revidar, apenas colocou ambas as mãos nos bolsos da calça. — Acho que com isso a Senhorita Avoada venceu.

— Hum… mesmo?

Alyson arqueou as sobrancelhas, em dúvida. Gil resmungou algo sobre ela irritá-lo e que “não parava de sangrar” - provavelmente referindo-se ao próprio nariz – antes de menear levemente a cabeça em resposta. — É. O que esperava, ter que me deixar inconsciente?

— É que foi um pouco rápido…

— Eu lhe disse, não sou realmente bom em lutas corpo a corpo. Sei apenas o básico para me resguardar quando não posso usar magia. Na verdade, meus reflexos são meu melhor trunfo. — ergueu os olhos para a redoma, pensativo. — Você venceu quando percebeu meu último golpe e conseguiu ter tempo para revidar antes que eu pudesse me defender. — seu rosto caiu novamente, e Gilgamesh encarou-a de frente. — Retiro o que disse. Não é uma falha. No entanto, ainda precisa aprender muitas coisas.

Um sorriso desenhou-se no rosto dela. Antes que pudesse exclamar ou sentir-se vitoriosa, no entanto, algo acima estalou. Seis pares de olhos focaram-se na redoma ao mesmo tempo, vendo as rachaduras. Beatrice parou de bicar sua própria asa para vislumbrar a mesma coisa. Inquietou-se.

— Isso não é bom. — Crós deixou escapar, colocando-se de pé imediatamente. — Os escudos caíram.

Gilgamesh trincou os dentes e retirou as mãos dos bolsos. — Esses desgraçados têm a audácia de entrar na minha casa?

— Eu te disse.

— Vai se danar, eu não retirei energia alguma das defesas!

Os estilhaços começaram a chover sobre eles. Era como estar abaixo de uma chuva de vidro colorido. E quando as aberrações começaram a cair também, e todo o aposento sofreu um forte tremor, que Alyson e seus companheiros conseguiram entender um pouco da discussão entre os dois feiticeiros.

Eles estavam sendo atacados.

Dentro de um local que, teoricamente, deveria ser inexpugnável.


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Notas finais do capítulo

Bem, eu adoraria fazer a parte de xadrez mais detalhada, porém eu não tenho tanto conhecimento assim sobre o jogo, e também acho que poderia ficar massante.
Espero que tenha ficado interessante no geral, no entanto :3
Eu adicionei um pequeno prólogo ao começo do primeiro capítulo, os interessados podem ir até lá dar uma olhadinha. :3
Kisses kisses para todos e até a próxima. ♥



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