A Escolhida do Destino escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 6
Como não fugir de um monstro gigante.


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas chegou!
Façam uma boa leitura ♥



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Alyson julgava estar preparada para quase tudo que poderia ser lançado contra ela. Ainda assim, ao contemplar um monstro cheio de tentáculos flamejantes e vários metros de altura vindo em seu encalço, o trauma foi inevitável.

— Okay… que diabos é aquilo!? — questionou Sasha, por algum milagre conseguindo não bater em nenhum outro carro. Seja lá o que aquilo fosse, as pessoas normais não eram capazes de ignorar.

— Parece uma cria de Balrog¹ com Cthulhu.² — Alyson agarrou o banco do carona com tanta força que as unhas perfuraram o couro.

— Pode bem ser um Eldrazi³ também. — Sugeriu Ken por sua vez, ainda olhando para a figura que, a despeito da velocidade que corriam, aproximava-se cada vez mais. Devia ter chegado a conclusão que sua tão estimada espada não faria nem cosquinhas no monstro.

— Parem, vocês dois! Seja lá o que for é enorme e está vindo obviamente atrás da gente, então se tiverem alguma ideia, sou toda ouvidos.

Os outros dois trocaram um olhar, em seguida balançando negativamente a cabeça. Ken, em especial, demonstrava uma grande tensão. — De toda forma, não podemos tomar uma via movimentada, essa coisa está destruindo tudo que entra em seu caminho.

— Incluindo o caminho. — Alyson olhou por cima dos ombros para a estrada que deixavam para trás. Alguns veículos haviam virado, e tinha muita fumaça. Ela não sabia dizer se era por causa dos acidentes ou o monstro que estava derretendo o asfalto. Nenhuma das duas possibilidades lhe pareciam muito boas. — Temos que sair da estrada!

Gostaria imensamente de sair do carro também. Todos podem achar muito divertido fugir de um monstro gigante em uma Ferrari, como se estivessem num filme de ação. A jovem decidiu que não tinha nada de empolgante em correr risco de morte, ainda mais depois de ter revivido horas mais cedo.

Sasha conseguiu de alguma forma largar a via principal e enveredar por uma rua menos movimentada, o que não tinha sido muito útil. Agora a criatura passava muito rente aos prédios, provocando quase um efeito dominó, fazendo com que ruíssem.

— Sasha, a ideia era sairmos de perto das outras pessoas para protegê-las!

— Querida, eu não faço milagres, tá? Estamos no Rio, não em Petrópolis, não dá pra virar uma esquina e parar num fim de mundo cheio de mato!

— Se conseguíssemos saltar para outra dimensão, qualquer uma… — Ken agarrou-se no estofamento para não ser atirado em cima de Alyson, depois da motorista fazer uma curva fechada sem diminuir quase em nada a velocidade. Recuperando-se do susto, fitou a amiga ao seu lado, com um olhar prescrutador que a fez arrepiar-se.

— Eu não posso. Mesmo que Altair diga que herdei a habilidade de meu pai, não saberia como fazê-lo.

— Se sairmos vivos dessa, espero que você aprenda.

— Não to muito ansiosa pra morrer de novo, esqueça isso de “se sairmos vivos”.

Eles foram interrompidos por uma freada brusca do veículo. O cheiro de borracha queimada pairou no ar por um segundo, os dois tentando ver o que fizera Sasha parar. Aparentemente, o monstro não havia apenas alcançado-os, mas também ultrapassado-os, e a rua a frente havia sido interditada por um dos tentáculos flamejantes. Não havia nenhum carro atrás, só uma trilha escaldante. O barulho de ambulâncias e carros de polícia soava à distância, um pouco indistintos ao chiado constante que a criatura causava. Antes que esta tomasse alguma atitude – como, por exemplo, esmagar a Ferrari num golpe só, ou abri-la como se fosse uma lata de sardinhas – Ken desembrulhou a espada em tempo recorde e praticamente rosnou para as outras duas. — Fiquem no carro.

— Eu não queria sair mesmo. — resmungou Sasha. Alyson ignorou-o completamente e saiu atrás dele.

O rapaz entreabriu os lábios, demonstrando certa irritação. — Eu disse para ficar no carro.

— Pensei que tínhamos um acordo. — ela mexeu as orelinhas de gato, movendo a cabeça para encarar o monstrengo. Algo que parecia muito ser lava, mas poderia ser baba, considerando o local de onde escorria, passou a pingar no chão. — Quem sabe se a gente tentar dialogar…

A coisa rugiu para eles, tão próxima que o calor tornou-se insuportável. Se Ken tinha alguma resposta implicante a dar, o estrondo foi o bastante para que se esquecesse dela. — É como sofrer assédio de uma fornalha.

— Eca… — Alyson fez uma careta. — Ei, Senhor Gigante de Fogo… sem querer te expulsar nem nada, mas você está tipo… destruindo uma cidade, machucando pessoas e fazendo outras coisas não muito educadas, então se você pudesse voltar de onde veio – não querendo te mandar para o Inferno ou algo assim – seria ótimo!

Os tentáculos remexeram-se com violência, derrubando mais meia dúzia de prédios, enquanto a carranca medonha descia até o nível dos dois para rugir uma vez mais, ainda mais alto.

— Acha que ele não entende português?

— Acho que você o ofendeu quando mandou-o educadamente para o Inferno.

— Eu não…

Precisou calar-se para desviar de um tentáculo lançado em sua direção. Kensuke saltou para o lado, atacando o membro com a espada num golpe limpo e ágil, separando-o do corpo. Um terceiro rugido foi ouvido, tão alto e forte que o chão rachou em todas as direções abaixo da criatura, quase derrubando a dupla. Sasha colocou a cabeça para fora da janela e engoliu em seco, rezando para que as fendas não aumentassem.

Do toco onde o tentáculo tinha sido cortado, outros dois nasceram, gerando uma reação imediata de Ken. — Não brinca, ele se regenera? — só então pareceu notar que a parte de sua lâmina que havia atingido a fera tinha sido parcialmente derretida. — Merda…

— Convém ficar longe né?

— O máximo que você puder.

O monstro parecia ter realmente como alvo a garota, pois começou a tentar capturá-la. Alyson não podia fazer mais do que desviar, ela vira o que acontecera com a espada de Ken, se fosse o corpo dela… basta dizer que a consequência seria desagradável. Ela corria por entre os membros inferiores do gigante, compostos por tentáculos mais curtos, na esperança de que ele acabasse todo enrolado, o que infelizmente foi frustrado quando ele acertou-lhe um golpe.

Sentiu seu diminuto corpo ser atirado para trás, e plantou os pés no asfalto semi-destruído, começando a rolar como uma bola de membros e fogo. Quando conseguiu parar e por-se de pé num pulo, retirou o sobretudo que usava para esconder as orelhas e a calda, agora parcialmente carbonizado, e atirou-o para o lado, fazendo um sinal de que estava bem para que os outros dois não se preocupassem.

E foi então que o assobio chegou a seus ouvidos.

Ela moveu as orelhas, achando aquele som estranho. Algo estava chegando de algum lugar, e torceu para que não fosse outro monstro.

O que ela viu, no entanto, foi um efeito muito similar ao de uma bomba de fumaça explodindo, bem atrás do gigante. Um vulto começou a sair lá de dentro, causando-lhe uma sensação estranha. Ele deveria ser muito poderoso, fosse quem fosse, mas não conseguia enxergá-lo muito bem. Kensuke deu passos para trás, afastando-se, antes que o monstro flamejante quisesse atacá-lo de novo, mas a besta parecia mais preocupada agora com o intruso.

— Ei, você! Nunca te ensinaram a mexer com alguém do seu tamanho?

Se a coisa parecia irritada antes, agora ela estava furiosa. Foi uma sorte o desconhecido ter aparecido no lado oposto ao que eles estavam, ou acabariam sendo atingidos pelos golpes que choveram em sua direção. A poeira levantou-se uma vez mais, e quando Alyson já estava preocupada, achando que o homem tinha sido esmigalhado, este apareceu de uma nuvem de fumaça bem ao seu lado.

— Lamento pela bagunça. — coçou o queixo, ignorando o pulo de susto que a moça havia dado. — Gigantes são irritantemente problemáticos, não sei o que Ajax tinha na cabeça quando decidiu criar demônios com mais de três metros de altura…

Ela automaticamente criou várias perguntas em sua mente, mas a única coisa que conseguiu exprimir foi um “hein?” muito incerto. O desconhecido virou o corpo parcialmente para observá-la, e olhos amarelos brilharam por trás da sombra do capuz. — Você é Alyson Valoem? Nossa, que belas presas! — estendeu-lhe uma mão, sem esperar por qualquer resposta. — Crós Salem Shadownigth. É um prazer conhecê-la!

Sem saber muito bem como agir, a garota apertou a mão dele, sentindo em seguida o ambiente esquentar. O monstro havia aproximado-se novamente, e gotas de suor escorreram por sua face. Abaixou as orelhas de gato, agachando um pouco o corpo, preparando-se para saltar. — Er… Salem… se tiver uma ideia de como parar essa coisa, eu ficaria muito agradecida mesmo.

O encapuzado voltou a observar pacificamente o gigante que se aproximava, como se acabasse de se lembrar dele. Um sorriso largo, com presas tão afiadas e brancas quanto as que Alyson portava, formou-se em seus lábios, e no segundo seguinte ela teve a sensação desagradável de ter o corpo fragmentado e remontado em questão de segundos.

Mais tarde ela descobriria que o nome de tal técnica era teletransporte, que o seu presente conjurador era péssimo nisso e que deveria evitar a todo custo ser transportada por ele. Naquele momento, porém, ela só percebeu uma forte tontura, seguida de um nó no estômago e a certeza de que estava caindo de uma altura de cinco andares.

Seu grito perdeu-se em pleno ar, e viu-se sem fôlego para respirar. Apressou-se em corrigir isso, inspirando e expirando rapidamente, enquanto via o monstro flamejante a alguns metros de distância… o tal Salem havia enviado-a para longe da luta, e ela não sabia se agradecia ou reclamava. Voltou sua atenção para o chão, que ficava cada vez mais próximo, os carros virados em sua rota de colisão.

Rezou mentalmente para que os gatos realmente caíssem de pé, caso contrário morreria outra vez. Instintivamente, mudou a posição do corpo em plena queda, deixando as pernas flexionadas voltadas para o chão. Então, conseguiu divisar duas coisas que mudaram completamente seu plano. A primeira foi uma parede de prédio, prestes a desmantelar-se, mas que ainda poderia usar como apoio para uma descida menos brusca.

A segunda foi uma garotinha. Muito provavelmente, uma criança que se perdera na confusão que a passagem do gigante causara. Pelo menos naquele espaço que conseguia visualizar, Alyson não foi capaz de notar mais ninguém… o que era inquietante, já que com tantos prédios em ruínas e carros virados, o risco de ocorrer alguma explosão ou de algo soterrá-la era imenso.

Uma terceira coisa chamou a atenção da jovem no pouco tempo que ainda mantinha-se no ar. Havia fogo muito próximo a menina, e um carro virado que logo explodiria. A criança chorava sozinha, perdida e sem saber para onde ir, sem notar o perigo que corria.

Alyson esqueceu-se de todos os problemas que tinha, incluindo se conseguiria sair ilesa depois de fazer o que estava pensando. Num piscar de olhos, seus pés já haviam atingido a parede que desabava, os músculos das pernas protestando quando usou-a como amparo para saltar adiante, como uma bala. No minuto seguinte já havia capturado a criança em seus braços, ainda em movimento, o automóvel explodindo atrás de si quando as duas caíram no chão, rolando. Os gritos da garotinha entraram por suas orelhas sensíveis, causando-lhe um extenso desconforto, mas no fim ela estava salva, e Alyson só saiu com algumas queimaduras e arranhões leves.

Suspirou pesadamente, sentindo a menina agarrar-se a ela. — Está tudo bem… vai dar tudo certo… — passou as mãos pelos cabelos da criança, esforçando-se para colocar-se de pé e puxando-a junto. Vozes de homens, talvez bombeiros, aproximavam-se, e a adolescente lembrou-se de suas orelhas de gato, e que não daria muito certo ser encontrada por aquelas pessoas. A criança havia parado de gritar e chorar, observando-a estática, achando aqueles membros extras peludos muito interessantes.

— Moça-gato!

— Oh, céus… — seus olhos corriam da menina para a direção em que os homens viriam e vice-versa, tentando decidir o que fazer. Apoiou as mãos nos ombros da garota e olhou em seus olhos, esperando que aquele lugar permanecesse seguro até que o grupo de adultos a encontrasse. — Escute… tem homens bonzinhos vindo para levá-la daqui. Não precisa chorar, vá com eles, vão ajudá-la a reencontrar sua família.

— Mas e você, moça-gato?

— Eu… tenho um cara muito grande e muito feio para encontrar. Que tal me fazer um favor? Se os homens bonzinhos perguntarem, não diga nada sobre mim. Pode fazer isso? — esperou a menina assentir com a cabeça, e passou a mão mais uma vez por seus cabelos. — Muito obrigada. Seja boazinha, okay?

Ela abriu um sorriso de dentes branquíssimos e Alyson apressou-se em afastar-se dali, enfiando-se de qualquer jeito atrás das ruínas de uma construção para ter certeza de que os homens encontrariam a criança. Quando viu os primeiros indivíduos chegando ao local e socorrendo-a, deu meia volta e correu na direção em que o monstro estava.

 

K

 

Depois de enviar a futura Campeã de Diamond para algum lugar próximo – ele definitivamente esperava que ela não tivesse reaparecido longe – Crós estralou os dedos das mãos e puxou uma pedra negra de dentro do manto. Havia uma miríade de símbolos marcados em vermelho por toda a superfície, não fosse por isso poderia ser considerada um pedaço inútil de rocha. O homem desviou-se no último instante de um tentáculo, saltou para ganhar distância e voltou a cabeça, ainda encoberta, para visualizar Kensuke.

— Onde ela está?!

— Em segurança… confie em mim. A propósito, vou precisar que desvie a atenção do gigante.

— Como diabos você vem aqui, manda a Alyson para qualquer lugar e ainda quer dar ordens?

— Bem, sua namorada pediu para que eu ajudasse, estou fazendo isso. — ele deu de ombros, pulando para escapar de mais tentáculos. Sasha, que minutos antes tinha saído do carro e ainda choramingava pelo estado atual do mesmo – que envolvia esmagamento e derretimento, ou seja, perda total – virou-se num rompante para Ken e gritou com ele.

— Faça logo o que ele está pedindo!

Ken bufou, irritado, e olhou para sua lâmina meio derretida. O homem saltou para o lado dele, passando o dedo indicador pela espada, reforjando-a em segundos. — Espero que esteja bom o suficiente, essa não é minha especialidade…

O rapaz observou a arma intrigado, um pouco duvidoso, mas desistiu de fazer qualquer argumentação em relação a isso e partiu para o ataque. Correndo pela lateral do gigante, enfiou a lâmina em um tentáculo, rasgando vários a partir daquele, amputando muitos dos outros membros. Surpreso, notou que eles não estavam crescendo novamente, muito menos duplicando. Melhor ainda, sua espada mantinha-se intacta. Isso lhe deu a confiança para continuar a atacar, forçando o monstro a retrair-se, deixando-o longe de Crós, que havia criado um círculo mágico no chão e mantinha-se sobre ele, segurando a pedra e murmurando palavras estranhas.

Sasha havia decidido ficar mais para trás, e Ken jurara ouvir gritos de animação da parte dela, dignos de uma líder de torcida. Ele focou-se mais uma vez nos próprios golpes, fatiando a criatura sem o menor remorso, até o momento que esta começou a perder a consistência. Tornava-se uma chama de grandes proporções, um verdadeiro incêndio, que passou a ser sugado para a pedra na palma da mão do encapuzado.

Por fim, este parou de murmurar, guardou a pedra novamente em suas vestes e suspirou. — Problema resolvido… parte dele, ao menos. — vislumbrou a destruição a volta deles, cruzando os braços e resmungando em seguida. — Olhem só para a confusão que vocês causaram.

— Espere… nós?

— Quem mais poderia ser?

— Não fomos nós que soltamos essa coisa aqui!

— Mas vocês atraíram ela para um lugar péssimo, francamente.

— Olhe aqui, eu não estou gostando desse seu tom…

Alyson voltou ao local correndo o máximo que podia, estranhando a ausência do monstro gigante. Ela franziu o cenho, tinha certeza que estava no caminho certo, seu senso de localização não era assim tão ruim… ao notar a dupla discutindo, porém, sentiu-se aliviada. — Ei… o que houve aqui? Cadê o projeto de Eldrazi?

— Basicamente… Ken cortou ele e esse outro estranho prendeu-o dentro de uma pedrinha.

Ela fechou a boca, achando a resposta de Sasha muito bizarra, mas apressou-se a juntar-se ao grupo, abraçando com força Ken e depois a amiga, apoiando-se no ombro desta para só então fitar Crós de cima a baixo.

Nada de diferente… ainda parecia um criminoso, com seu manto e capuz que cobriam boa parte da fisionomia. — Er… estou em dúvida se eu lhe agradeço ou não…

— Por ter te tirado da rota de um tentáculo em brasa? Não tem de quê.

— Você fez eu reaparecer em queda livre…

— Hum… — ele trocou o peso de um pé para o outro. — Normal, eu diria.

— Numa altura de cinco andares! — ela completou, estreitando os olhos, não parecendo muito amigável.

— Aparentemente você é meio-gata… gatos caem de pé, mocinha. — ele fez um sinal com o dedo indicador circulando o ar. — Esse é o menor de seus problemas. Agora, se você e seu grupinho puderem fazer o favor de me acompanhar…

— Nós não vamos a lugar nenhum. — Kensuke postou-se a frente das duas meninas, apoiando uma das mãos em sua espada. — Não sem antes você disser exatamente o que veio fazer aqui.

— Além do mais… está tudo um caos, pode ter feridos por ai… — Alyson lançou seu olhar em volta, lembrando-se da menina que salvara minutos antes.

—E nós já temos compromisso, se o senhor não se importa… — Sasha piscou um dos olhos para ele, colocando um dedo nos lábios. — Bem que você podia concertar tudo num piscar de olhos, como fez com a espada do Ken, seria muito legal.

O homem bufou, resmungando algo indecifrável para si mesmo, e pôs-se a estalar os dedos, enquanto fazia um movimento de cabeça para que o pequeno grupo seguisse-o. O som dos estalos propagava-se, replicando-se em ecos, e o trio pôde notar que os prédios realmente estavam se reconstruindo sozinhos. A estrada foi nivelando-se novamente, as poças de asfalto derretido desaparecendo e os carros retrocedendo a sua aparência original. Crós parou de andar, ofegando sutilmente, como se tivesse corrido uma maratona. Ele girou para olhar os outros três e juntou as mãos em frente ao corpo. — Não posso fazer mais que isso ou esgotarei minha magia, e isso seria terrível. Agora, por obséquio, podemos ir?

— Mas Chloe está a caminho… — sussurrou Sasha para Alyson, que afirmou brevemente com a cabeça.

— Com o tal feiticeiro de Diamond.

— Que a propósito sou eu. — agora o homem batia o pé em sinal de irritação. — Vim na frente usando teletransporte depois de sentir energias anormais vindo desta direção… energias que teoricamente não deveriam existir neste mundo. Quanto mais cedo vocês cederem, melhor será. Ou querem mesmo esperar que o avião pouse daqui a… mais de duas horas?

Os três se entreolharam. Sasha aprovava a ideia, a outra jovem franzia o cenho, incerta, e Kensuke não aparentava gostar muito daquela situação.

— Vamos pegar nossas coisas… — Alyson deu de ombros, e sua parceira deu um sorrisinho vitorioso. Os quatro retornaram para onde havia sido abandonada a Ferrari e Ken passou a tirar as malas lá de dentro muito a contragosto.

Quando tudo estava empilhado ao lado deles, um detalhe passou pela cabeça de Alyson, e ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — Ei… Salem, não é?

— Na verdade meu primeiro nome é Crós, mas já que insiste tanto em usar o segundo… enfim, fale sobre sua dúvida. O que quer saber?

— Nós vamos até o avião com teletransporte também?

Ela só viu um sorriso largo abrindo-se em resposta.

 

K

 

Chloe estava entediada, encarando o vidro da janela, quando a pequena explosão ocorreu dentro do compartimento dos passageiros, e quatro pessoas despencaram no corredor entre os bancos da direita e da esquerda, seguidos por uma chuva de objetos pessoais, vindos provavelmente das malas, últimas coisas a caírem.

Depois de ver aquilo pela segunda vez, nem ficou muito surpresa. Se Crós já havia errado totalmente o teletransporte quando estava procurando um alvo estático, por que se daria melhor tentando alcançar um avião em movimento? — Oh… isso foi rápido. Estão todos bem?

O quarteto conseguiu a custo pôr-se de pé, retirando as roupas e outros apetrechos que haviam caído por cima de cada um. Chloe não era uma pessoa dada a demonstrações excessivas de afeto, mas o alívio que sentiu ao ver suas duas amigas bem fez com que abrisse uma exceção. Ela abraçou-as ao mesmo tempo, ficando assim por alguns segundos, só soltando-as quando conseguiu recolocar suas emoções sob controle. — Céus, estava preocupada. Crós mencionou um monstro, pensei que algo terrível aconteceria…

Foi só então que ela conseguiu reparar bem em Alyson. Seus lábios entreabriram-se, e a jovem assumiu uma expressão de descrença total. — Ly… você tem orelhas de gato.

— Não me olhe assim, não consigo voltar ao normal! — a outra já tinha até esquecido que aquelas características não faziam parte dela antes, e agora jogava as mãos para cima, frustrada. — Ei… o que há com essa expressão, você não deveria estar surpresa? Ou criar teorias? Sasha me chamou de alien!

— Não tenho uma mente tão fértil quanto ela. — Chloe trocou um olhar com a ruiva. — Sem querer ofender. Além do mais, já passei por essa fase mais cedo. — e apontou o dedo indicador para Crós, que agora retirava o capuz, balançando a cabeça, como se tentasse livrar-se da opressão que este lhe infringia.

— Teve sorte dela não jogar uma planta carnívora em você também. — o feiticeiro sibilou, cruzando os braços. Alyson encarava-o com mais choque do que todas as outras vezes.

— De repente minha vida gira em torno dos gatos. — Sasha piscou os olhos, incrédula.

Ken, que por muita sorte conseguira não ser transpassado pela própria arma ao cair, passou as mãos pelo rosto, mais nervoso que antes. — Nem me fale.


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Notas finais do capítulo

Notas:
1- Criatura presente em O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel.
2- Entidade criada por H.P. Lovecraft.
3- Criaturas pertencentes ao jogo de cartas Magic, The Gathering.


Olá para todos!
O que vocês acharam de Crós? Acreditam que seja confiável, ou seus teletransportes desastrosos podem acabar matando alguém?
Espero que tenham gostado. Se sim, não esqueçam de acompanhar a fic, okay?
Se tiverem criticas, positivas ou negativas, podem falar pelos comentários, elas me ajudam a melhorar e isso é importante para mim. :3
Agradeço a todos que aqui chegaram, e até a próxima. ♥



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