A Escolhida do Destino escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 2
Um encontro predestinado


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo!
Bom... acho que se chegaram até aqui é porque o primeiro agradou, né? -q
Façam uma boa leitura :3



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Alyson gelou. Considerando o calor que Kensuke lhe provocava normalmente ao estar perto dela, a sensação de frio agora devorava-lhe por completo. A confusão tomara seu rosto, enquanto o rapaz levantava-se, ficando à frente dela, obviamente protegendo-a com o próprio corpo. — Ken… quem é essa pessoa?

E por que está tentando me matar?

Gostaria de ter feito essa pergunta também, mas não conseguiu forçar-se a isso. Não se lembrava de ter feito nada que causasse a ira de quem quer que fosse. Não tinha a menor ideia da resposta para esse questionamento, e na verdade não estava assim tão interessada em saber. Só o fato de haver alguém querendo tirar sua vida já era importante suficiente para não precisar de explicações.

Ela ia morrer.

E provavelmente Ken também, seja lá qual sua relação com o desconhecido.

E Sasha…

Ao pensar nela, sua estupefação amainou o suficiente para que ela tira-se os olhos do estranho para fixá-los na direção que a amiga deveria ter tomado. Então notou que tudo havia parado. Desde que aquela fragmentação estranha se espalhara pelo local, nada se movia. Pessoas, carros, até mesmo os pássaros e as nuvens estavam paralisados.

Ken finalmente deu-lhe a resposta para sua única pergunta feita em voz alta: — Driguem… uma pedra no sapato. — e continuou, num sussurro. — Não se preocupe com Sasha… o corte dimensional causou desequilíbrio nesse mundo, e o tempo está parado até que o dano seja revertido. Fique atrás de mim, não deixarei que ele te acerte.

Era muita informação para ela captar de uma só vez. O pavor fechou sua garganta por algum tempo, impedindo-a de gritar ou argumentar algo mais. Seus olhos assustados correram de volta para Driguem, que continuava parado, apontando a flecha para ambos. Da posição que estava, o projetil podia facilmente atravessar os dois.

— Hum… Pedra no Sapato? Que maneira desagradável de se referir a um velho conhecido. Seus pais não lhe ensinaram a ser cortês?

Kensuke trincou os dentes com tanta força que eles pareciam prestes a quebrar. Contudo, não era capaz de revidar naquela situação. Se normalmente teria partido para cima, uma flecha apontada para ele ou não, a intenção de proteger Alyson falava mais forte, de maneira que ele apenas deu mais um passo para trás, sem soltá-la. — Não sei o que você vai ganhar tendo ela como alvo, mas não vou deixar que a toque!

— Não vai deixar? E o que você pretende fazer, Ken? Não está portando nem ao menos uma espada! — o outro homem alegou, num tom de puro deboche, endireitando a posição do corpo para poder atirar. — Não vou deixar que escape de mim uma terceira vez. E quanto a sua namoradinha… minha nova mestra tem procurado-a por muito tempo. Vou entregar-lhe esse adorável rosto sobre uma bandeja de prata.

Kensuke jogou-se novamente para o lado, tirando Alyson da rota da flecha e disparando assim que conseguiu recuperar o equilíbrio, trazendo-a junto consigo. Eles mergulharam na multidão paralisada e começaram uma exaustiva corrida em zigue-zague, visando deixar o atirador para trás. Ken havia entrelaçado de tal forma os seus dedos com os da garota que era quase impossível os dois se separarem. Só quando estavam extremamente distantes do ponto inicial e já tinham virado várias ruas é que ele parou de correr, puxando-a para um beco escuro e apoiando-se na parede para descansar um pouco.

Ambos ofegavam. Alyson ergueu os olhos arregalados para Ken, num pedido mudo para que ele dissesse o que estava acontecendo. Antes de tudo, ele segurou-a pelos ombros e chegou bem perto de seu rosto. — Ly… Alyson, respire… isso, respire… está melhor?

Ela balançou a cabeça, concordando, um pouco mais calma. Uma tremedeira tomara conta de seu corpo, e ele largou seus ombros para lhe dar um abraço. — Vai dar tudo certo. Vai ficar tudo bem… — suas palavras foram acalmando-a aos pouquinhos, até o ponto dela aninhar-se no abraço e fechar os olhos. Em uma situação normal, estaria morta de vergonha e vermelha até a raiz dos cabelos, mas naquela em especial, sentia-se absolutamente grata e momentaneamente segura.

— Por que ele está atrás de nós?

— Ele tenta me matar a muito tempo… história longa. Driguem não tem poder para cortar dimensões assim… na verdade, não tinha. Seja quem for que está atrás de você, deve ter dado essa habilidade a ele. E isso é… bem ruim.

— Eu não sei quem pode ser… — o desespero foi tomando mais uma vez sua voz. — Eu… eu nunca fiz nada de errado para justificar uma morte, isso é…

— Estranho. Eu sei. Se acalme e tente pensar, tudo bem? O que alguém poderia ganhar com sua morte? Se não soubermos nem mesmo isso, não poderemos…

— Eu não sei! Eu só sei que vejo coisas que não devia, que meu pai foi apagado completamente da minha vida e que tem uma voz martelando na minha cabeça que eu vou morrer! — ela desabafou, erguendo os olhos para observá-lo. A expressão de surpresa e, mais tardiamente, de compreensão que tomou o rosto de Ken não lhe agradou como gostaria.

— Oh… não, não, não… de todas as pessoas, você…

— O que tem eu?

Ele soltou-a, levando uma mão a testa e respirando profundamente, para tentar acalmar-se. — Você é alguém que eu já deveria ter encontrado a muito tempo. Eu sou uma besta!

— Que você…?

Ele tirou uma caneta e um pedaço de papel do bolso da calça que usava e escreveu um endereço. Depois entregou-o a ela, bastante alarmado. — Não temos tempo para que eu te explique… eu gostaria… juro que queria, mas não posso. Driguem é um mercenário experiente, não vai demorar pra achar nosso rastro. Quero que vá até esse lugar e encontre Altair. Você o conhece… meu antigo guardião, o homem que morava comigo…

Ela assentiu com a cabeça, para confirmar que se lembrava, mas quando o rapaz deu um passo para trás para começar a correr outra vez, ela agarrou-o pela manga da camisa. — Ken… e você? Onde você vai?

— Eu vou servir de isca. Não se preocupe, já me livrei dele duas vezes, posso muito bem ludibriá-lo uma terceira. — ele não a olhou quando disse isso. Pensou por alguns instantes, hesitando por um momento. Os dedos dela permaneciam prendendo com força sua roupa. — Alyson…

— Você não pode voltar sozinho para lá.

— Eu posso, e vou. E sabe muito bem que sua mão na minha camisa não é algo que possa me impedir. — ele sentiu-a soltar o tecido, derrotada, abaixando os olhos para o chão. O que ela poderia fazer, afinal? Sua boca tremeu, numa contenção óbvia de choro, embora nem uma lágrima sequer tenha caído. — Ly…

— O qu…

Kensuke tomou seu rosto entre as mãos, o que fez com que Alyson ergue-se novamente os olhos para visualizá-lo. — Queria ter lhe dado isso antes. — ele aproximou-se um pouco mais, selando com delicadeza os seus lábios nos dela. Surpreendia pelo gesto, a jovem não esboçou reação. Um desejo oculto, no entanto, acabou sendo alimentado com o simples beijo, e ela ergueu os braços para enlaçar sua nuca, entreabrindo timidamente os lábios. Sentiu um gosto refrescante de menta, antes que ele desfizesse o contato e abaixasse um pouco seu rosto para lhe dar outro beijo, na testa. — Não seja pega, Alyson.

E partiu, sem que ela pudesse fazer nada para pará-lo dessa vez. Seu coração batia descompassado, as lágrimas ameaçaram a transbordar dos seus olhos novamente. Queria ter continuado a abraçá-lo e beijá-lo, não só pelo fato de ter sido o primeiro beijo que recebera de alguém, ou pelo motivo de adorá-lo… mas porquê a sensação que tinha era desoladora. Ela sabia que Ken não a reencontraria. Aquele beijo tinha gosto de adeus misturado à menta.

Ergueu os olhos para o céu, que continuava parado, como numa pintura. Os dedos da mão direita ainda tinham o papel que o rapaz lhe entregara preso entre eles. Alyson forçou-se a acalmar-se e a parar a tremedeira que recomeçara com o afastamento dele. Engoliu o choro que estava preso na garganta e determinou seu curso, logo começando a correr também…

Os dedos amassaram ainda mais o pedaço de papel, que ela nem chegara a ler…

K

 

Kensuke sabia que a probabilidade de sair vivo dali era mínima. Na verdade, tinha quase certeza de que acabaria morto dessa vez. Quando fora que se afundara tanto nos costumes de gente comum para esquecer de levar uma arma onde quer que fosse? Quando foi mesmo que a vida mundana tornou-se habitual para ele? Quando Altair deixou-o por sua própria conta ou… antes disso, quando conhecera Alyson?

Ele crescera aprendendo a como ser um espadachim exemplar, um guerreiro, um protetor. Perdera muito do que amara, para as flechas cruéis de Driguem. Conhecera um viajante de mundos e teve sua mente aberta para todas as possibilidades, apenas para se afundar na normalidade do dia a dia. Porque se apaixonara por um sorriso dócil. Porque os que sobraram de seu mundo queriam vê-lo feliz.

Talvez repetisse essa decisão, se pudesse voltar no tempo… mas lembraria de levar sempre consigo uma espada…

Agora estava em confronto com aquele que era seu rival mais odiado, e nem se incomodava de morrer, contanto que sua amiga se mantivesse viva. Enquanto fugia das flechadas que começavam a chegar, ainda que não conseguisse encontrar o inimigo com seus olhos, se lamentava por não ter notado antes. Lógico que Alyson nunca admitira ver ou ouvir coisas estranhas, mas ela normalmente olhava para pontos aleatórios com muita atenção. Achava que fosse mera distração, como era de seu feitio, mas era bem capaz de estar enganado… e quanto a ausência do pai da garota, isso ele sempre soubera, desde que a conhecera… mas não conseguira ligar o fato a nenhum outro, a menos no momento em que ela falara tudo de uma vez só.

No fim, ele mesmo não sabia como encaixar tantas peças soltas. Apenas Altair tinha um quadro mais completo para vislumbrar, e o que Kensuke sabia eram apenas fragmentos passados adiante pelo homem. Resignou-se sabendo que Alyson chegaria a ele e poderia ter suas explicações. A mera lembrança de que ela tinha um péssimo senso de localização fez com que ele gemesse de frustração e quase fosse espetado por uma flecha.

Ainda não conseguia captar a figura de Driguem. O mercenário estava usando a turba paralisada e sua velocidade e habilidade com o arco para atacar de vários pontos diferentes e se esconder logo depois, num claro jogo de gato e rato.

Ken detestava bancar o rato.

— Ei, seu cretino, vai mesmo continuar com essa palhaçada ou me enfrentar?

— Eu não preciso enfrentá-lo. Você já perdeu. — A voz do outro chegou a ele no mesmo instante que Ken agachava, desviando de outra flecha, focando sua atenção na mesma e perdendo de vista uma segunda que veio logo após, cravando-se profundamente em seu antebraço direito, de tal forma que ele ficou preso num poste que estava, inconveniente, atrás de si.

Queria entender de que diabos eram feitas aquelas flechas para rasgarem tão bem a carne. Tentou se libertar, sem muito sucesso. Driguem finalmente reapareceu para ele, apontando para uma série de cinco bestas armadas em ângulos diferentes e antes invisíveis aos olhos de Kensuke. — Tive tempo o bastante para colocá-las enquanto você fugia com a sua namoradinha. Imaginei que você ia bancar a isca viva, mas não tinha tanta certeza assim… sua previsibilidade sempre me impressiona.

Ele ainda estava distante, era prudente. Sabia que se chegasse perto demais Kensuke poderia dar um jeito de acertá-lo. Um tiro daquele ponto seria ideal. Fez questão de deixar bem a vista a próxima flecha a ser tirada da aljava, antes de encaixá-la entre seu dedo e a corda. — Essa aqui é envenenada. Eu perguntaria da garota antes de atirar, mas já sei que você não vai me dizer nada…

Empunhou o arco. Mirou. Atirou.

O projétil perfurou um corpo.

Mas não era o de Ken…

Ele varou o meio das costas na altura do coração e despontou entre os seios, maculando a carne e fazendo o alvo tombar para a frente, cuspindo sangue e desfalecendo sobre o colo do rapaz condenado. Depois do primeiro momento de negação, Kensuke deixou um grito rouco e doloroso escapar de seus lábios, puxando-o mais para perto abraçando-o com desalento, ainda que só pudesse fazer isso com um dos braços.

— Ly… Ly, Ly, por que você nunca me ouve, por que você não fugiu?

— Você… mente tão mal quanto eu… — ela cuspiu mais um pouco de sangue, voltando a sentir frio… um frio ainda mais cruel do que aquele que tomara seu coração ao fitar Driguem pela primeira vez. — Eu não queria… que você morresse…

— E por isso você vem para morrer junto, você ficou maluca? — ele repreendeu-a, como sempre fazia. Tentando dizer a si mesmo que não era nada demais, era só uma flechada… uma flechada envenenada bem no coração… engoliu em seco, deixando algumas lágrimas correrem pelo rosto e esforçando-se para segurar o rosto dela com sua única mão livre. — Ly… vamos, respire… Alyson, continue respirando. Não morra, não morra, por favor, não…

Já está fadado…

— Já está fadado… — repetiu as palavras da adorável voz em sua mente. Ela também tinha um tom pesaroso. Infeliz. — Me desculpe, Ken… eu. — Alyson também tentou levar as mãos ao rosto dele, mas não conseguia. Seus membros não respondiam ao comando, o frio parecia engolfá-la… estava ficando difícil de respirar. Continuar a falar era-lhe impossível.

—Não está fadado, nada está decidido, não diga… não diga essas coisas solitárias… não gaste energias com isso.

Ela abriu um diminuto sorriso, gentil como os melhores que sabia dar. E então seus olhos foram apagando, perdendo o brilho característico, e fecharam-se definitivamente.

Eu lamento, criança…

Foi a última coisa que a voz disse em sua mente, antes dela ser arrastada por uma escuridão sem fim e sem substância… antes que Morte a levasse.


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Notas finais do capítulo

Um destino terrível concretizado, mas... será que esse é o fim?

Vejo vocês em breve. :3
Kisses, kisses ♥



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