A Escolhida do Destino escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 11
Aniquilem os invasores.


Notas iniciais do capítulo

E depois de muito tempo estou de volta!
O capítulo dessa vez está um pouco menor que o de costume, já que decidi passar a cena que eu gostaria de colocar para o próximo... até porque imagino que este final esteja mais interessante do que o que estava previsto. De qualquer forma, apesar de "pequeno", acredito que ele esteja empolgante.
Desejo-lhes uma boa leitura. ♥



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Beatrice era uma máquina mortífera… no mínimo. Cada golpe que ela dava desintegrava uma parte de seus inimigos. Entretanto, como Alyson percebera anteriormente, logo desciam mais criaturas do buraco da cúpula, para tomarem o lugar das antigas. Gilgamesh tinha razão, eles precisavam encontrar o líder – aparentemente, a criatura que estava atirando as adagas – o quanto antes.

O estresse do feiticeiro parecia ter chegado ao auge também. Enquanto Bea limpava o caminho, indo na frente, Gil não fazia mais do que manter passadas longas e pesadas, as criaturas ao redor explodindo em chamas negras a cada vez que um de seus pés descia sobre o chão. À Alyson, cabia apenas lidar com qualquer ser que conseguisse, por algum milagre, vencer essa formação ofensiva e chegar perto demais. A garota não abriu a boca para questionar mais nada para seu companheiro de sobrevivência, com um receio justificado de ser atacada por ele. Mas ela achava um pouco peculiar que Beatrice não falasse uma palavra sequer naquela forma, assim como a reação de Gil ao vê-la daquele jeito fosse, sem sombra de dúvidas, bastante estranha.

Eles já haviam avançado bastante em direção às bordas do que sobrara da arena, num ponto paralelo ao que os outros haviam caído junto à arquibancada, quando as adagas começaram mais uma vez a cair sobre eles. Beatrice usou suas garras gigantescas para interceptar a maioria delas, segurando algumas e lançando-as de volta. O vulto desapareceu mais uma vez, reaparecendo atrás de Alyson para tentar um novo ataque, que a garota evitou rolando para o lado e saindo da formação. Isso, no entanto, deixou um caminho livre para Gilgamesh, de frente para o alvo, e o feiticeiro estalou os dedos, o fogo negro lambendo a criatura, produzindo estalos e um guincho. Ly viu-a afastar-se novamente, e saltou para frente para agarrar o que parecia ser a perna dela. Um barulho estranho, típico de uma linha sendo puxada até o limite, chegou a seus ouvidos sensíveis, e a garota deixou-se cair novamente, aterrissando próxima ao ponto em que estava antes.

— Qual o problema, garota?

— Ele está preso a alguma coisa. — ela ficou de pé novamente, parando o diálogo para enfiar um dos leques no peito de um monstro, matando-o. — Eu ouvi um som… como quando um peixe agarra a isca. É como se algum tipo de fio estivesse bem esticado, quase ao ponto de se romper.

— Finalizá-lo seria um erro. — Gil encarou-a por alguns segundos. — Você realmente…

Por um instante Alyson imaginou que ele de fato fosse elogiá-la, mas o homem virou-se em direção a Beatrice e apontou para o vulto que, ainda vivo, permanecia mais longe deles.

— Quando ele voltar, agarre-o. Agarre-o e puxe com toda a sua força. Vou fazer esse desgraçado se arrepender amargamente de invadir o meu refúgio.

Sem uma palavra, a moça assentiu com sua cabeça, seus olhos vermelhos estreitando-se para observar melhor a criatura que precisava capturar. Ela flexionou as pernas bem torneadas e escamosas e saltou, bem mais alto que Alyson pulara anteriormente, em direção ao vulto. Como um gato que tenta capturar um pássaro, suas garras passaram bem próximas do ser, sem conseguir pegá-lo, contudo. Beatrice caiu, esmagando mais alguns demônios abaixo das suas patas traseiras, e produziu um grunhido vibrante com sua garganta.

— Está voltando… — Alyson percebeu, seus olhos conseguindo encontrá-lo. De fato, o ser mantinha-se longe de Bea e vinha a toda velocidade na direção deles, provavelmente preparando mais algumas adagas para acertá-los.

— Peste insolente… — ele fez um largo movimento em direção a sua esquerda, explodindo os monstros mais próximos ao redor dos dois e estreitando os olhos. — Prepare-se.

Me preparar para o quê?

A jovem inspirou profundamente, sem saber muito bem o que era esperado dela, mas ao observar a mão do feiticeiro mirando na criatura mais uma vez, chegou a conclusão que só havia uma coisa que poderia fazer. Uma coluna negra desceu no lugar onde o vulto estava, errando-o por bem pouco, e Alyson fez um largo movimento para disparar seu leque. A arma errou também, não fazendo mais que cortar o tecido que encapsulava a criatura. Uma dúzia de adagas foi lançada sobre os dois, e enquanto eles subiam os braços para protegerem seus pontos vitais o máximo possível, o leque fez uma volta no ar e atingiu o inimigo, cravando-se em seu corpo. Em sequência, foi possível ver a grande garra branca de Beatrice envolvendo-o.

Então, ela puxou…

O ruído de linha sendo puxada voltou aos ouvidos de Alyson, fazendo sincronia com mais coisas que rachavam. Um microssegundo após a captura de Beatrice, tudo que parecia ser o teto do local desabou sobre eles, cacos translúcidos caindo e matando demônios que estavam desapercebidos do que ocorria acima de si. Agora era possível ver um grande portal aberto diretamente sobre a cúpula, de onde saiam os monstros que compunham aquele exército interminável. Ele era segurado no lugar por uma criatura gigantesca, ainda mais bizarra que o monstro de fogo que perseguira Alyson pelas ruas do Rio de Janeiro.

Era muito similar a uma aranha, quatro de suas patas enormes eram usadas para segurar o portal, que tratava-se de um aro dourado, cujo interior era formado por névoa avermelhada, constantemente em movimento diante da invasão de monstros. As outras quatro patas, musculosas e peludas, mantinham-na presa sobre a cúpula, em meio ao vazio que havia em volta daquele lugar, fora do mundo material. O corpo bojudo era coberto por pelos negros e visto de baixo era ainda mais horripilante, fazendo conjunto com uma cabeça humanoide, putrefata como a de um cadáver e com mandíbulas aracnídeas.

Da ponta de seu abdome inchado saiam alguns fios, e a julgar pela forma como a criatura parecia estar precariamente segura e suspensa sobre eles, o puxão de Beatrice afetara justamente aquela área.

— Argh… não me diga que aquela coisa estava presa ali?

— Não é uma boa hora para se preocupar com isso. Tem mais deles vindo. — Gil desceu seus olhos pelas linhas, contando pelo menos mais três pequenos vultos. Beatrice, por sua vez, acabava por esmigalhar a criatura que capturara, produzindo um ruído desagradável, o típico estalar de um inseto preso sob um calçado.

— Usando um portal físico para atravessar suas defesas… aparentemente temos um inimigo inteligente do outro lado. — a voz de Crós chegou até eles, da outra ponta da arena. Alyson pôde vê-lo desconjuntado, carregando uma Chloe inconsciente em seus braços, enquanto Sasha aparentemente havia desequilibrado-se e caído no chão, e Kensuke acertava com a parte plana da espada um monstro voador, mandando-o para longe deles. Passara-lhe despercebido diante da visão da aranha macabra acima, mas a sala parecia ter mudado para algo mais homogêneo quando a camuflagem que escondia o portal fora partida. O que acabou tornando-se um empecilho a menos para o grupo que havia sido derrubado junto com as arquibancadas, já que com o pareamento da arena, os níveis inferiores acabaram subindo outra vez.

— Que droga aconteceu dessa vez!? — Sasha praticamente gritou, seu peito subindo e descendo diante do susto, que ficou ainda mais evidente quando ela notou a presença da criatura gigante acima dela. — Ah, pelo amor de Deus, eu morri e fui parar no inferno por acaso?

— Você está bem viva, não se preocupe com isso… — o feiticeiro observou o aracnídeo sobre a cabeça deles com uma expressão bastante curiosa. — Nossa, fazia muitos séculos que eu não me deparava com uma dessas, pensei que estavam extintas…

— Pode ter certeza que elas estarão mais próximas da extinção, agora. — Gilgamesh resmungou em resposta, ao mesmo tempo que Alyson já começava a limpar o caminho em direção aos outros, questionando se estavam todos bem por cima do extenso burburinho. Os demônios haviam dado uma trégua, seu ritmo de ataque sendo atrapalhado, mas não demoraria para que eles se reagrupassem. — Sei que não é sua especialidade, Crós, mas tente cuidar da barreira no meu lugar por enquanto. E fique de olho na sua gata de estimação também…

— O que você vai fazer?

— Vou obliterá-los da minha presença de uma vez por todas. — aquela raiva que parecia estar sempre presente nele subiu como uma aura, circundando-o, seus cabelos negros desarrumados espalhando-se ainda mais. Ele absteve-se de responder qualquer outro comentário vindo dos presentes e carregou uma nova explosão, varrendo parte do campo de batalha.

Alyson, por fim alcançando o grupo, praticamente jogou-se sobre Kensuke e Sasha ao mesmo tempo, abraçando-os. — Vocês estão feridos, tá tudo bem? — ela voltou sua atenção para Crós e Chloe nos braços dele, a seguir. — E você…? E… meu Deus, o que aconteceu com ela? - a comoção vinda de trás dela fez com que virasse nos calcanhares para assistir a uma Beatrice que derrubava dúzias de demônios, incluindo uma das criaturas com adagas que passara perto demais dela, e recebia ordens de um Gilgamesh que parecia descarregar faíscas negras por onde passava. — O que eles estão pensando em fazer?

— Vá com calma, você está preocupada com muitas coisas ao mesmo tempo. — Crós argumentou, assim que os outros dois afirmaram que sim, estavam bem, e logo depois passou o corpo inconsciente de Chloe para que Ken o segurasse. — Vou precisar das minhas duas mãos agora, então, bem… pode ficar com ela um pouco? Obrigado, muito gentil da sua parte. Bem, garota, é uma história meio longa a da sua amiga, mas ela vai ficar bem, não se preocupe. E quanto a Gilgamesh… ele vai extrapolar os próprios limites.

— Extrapolar? Eu não gosto de como isso soa. — Sasha argumentou, após ter largado Alyson, que no momento alternava sua visão entre Chole, ela e Crós, testando para ter certeza se eles estavam bem mesmo.

— Como assim extrapolar? Ele não vai fazer algo perigoso, vai?

— Você é tão boazinha, se preocupando com um babaca daqueles. — o feiticeiro deu alguns tapinhas sobre a cabeça dela, fazendo-a franzir o cenho. — Fique tranquila e não saia daqui… isso vai ser um pouco difícil de conter.

Antes que qualquer um deles pudesse questionar o que “isso” significava, a sala inteira estremeceu. Crós ergueu bem alto as mãos, com as palmas abertas ao máximo, e então fechou-as, fazendo um movimento firme para baixo. Ato contínuo, inúmeras estacas de energia negra surgiram ao redor da sala, compartilhando entre si a mesma ação. Das pontas superiores delas, faixas de luz saíram, cruzando-se e ligando-as uma as outras, numa intrincada rede que começou a inflar e crescer, englobando todo o aposento e, provavelmente, muito além dele. Os demônios menores que eram acertados pelos fios da rede enérgica evaporavam, mas os outros, principalmente o monstro que guardava o portal, apenas chacoalharam-se com o incomodo.

Em seguida, lanças menores envolveram o pequeno grupo, replicando todo o processo em uma escala bem menor, criando uma rede de proteção em volta dos cinco. Algumas gotas de suor desceram pelo rosto de Crós, que parecia totalmente alheio aos outros agora, voltando toda a sua atenção para sustentar aquela barreira. Ao mesmo tempo, Beatrice fez um rodopio, usando a calda para afastar com brutalidade os monstros que permaneciam ao redor dela e de Gilgamesh. Diante de um gesto dele, a metamorfa fechou as garras numa posição própria para levantar pessoas. Gil não precisou de muito para aproximar-se dela novamente e subir em suas garras, sendo catapultado em alta velocidade na direção do monstro aracnídeo. A aura que o circundava explodiu em labaredas negras, grandes e amedrontadoras, escondendo seu corpo dos olhos alheios

Gilgamesh colidiu contra a aranha, as chamas espalhando-se num incêndio de alta periculosidade, enquanto a força do golpe fez com que uma forte corrente de ar descesse, puxando a maior parte do fogo negro para baixo e desintegrando tudo que ficava em seu caminho. Inúmeros símbolos mágicos escreveram-se ao redor do portal, acendendo e provocando uma explosão maior que todas as anteriores, o bastante para fazer todo o local tremer. Os ruídos de coisas quebrando, chamas queimando e criaturas morrendo era alto e agonizante, e os que estavam abaixo da redoma protetora de Crós conseguiram ver algumas partes da mesma trincando. O feiticeiro não moveu um músculo, mas Ken segurou Chloe com um pouco mais de força, enquanto tanto Alyson quanto Sasha recuavam em direção a ele.

— Está… quebrando… — Alyson disse, ela levantara as mãos para tampar as orelhas felinas, cuja audição era muito mais refinada que as de um humano comum. Aquela cacofonia de sons causava-lhe uma incrível dor de cabeça e uma agonia que não poderia pôr em palavras. Mas o que deixava-a ainda mais em pânico era ver as rachaduras na barreira. Ela conseguia ver vagamente as chamas negras devorando monstros, não queria imaginar o que ocorreria com eles se a proteção caísse.

— Nós vamos morrer, nós vamos morrer com certeza!

— Sasha… fica… calma. — Kensuke tentou acalmá-la por cima do barulho, mas os olhos dele também demonstravam uma intensa preocupação. Ele teria trazido as duas amigas para mais perto e abraçado-as, se já não estivesse com a terceira moça em seus braços.

Alyson deu um passo vacilante para a frente. A fumaça e as flamas densas turvavam sua visão para além do frágil escudo. Não era capaz de ver Gilgamesh ou Beatrice, nem saber se aquela magia poderosa tinha sido o bastante para expurgar os inimigos. Ela podia sentir os pelos que revestiam seu corpo arrepiados, sua respiração acelerar-se a um ponto que tornava-se difícil. Os olhos esverdeados iam das rachaduras para Crós, do feiticeiro para os outros, que estavam um pouco mais atrás e pareciam tão nervosos quanto ela.

A barreira não podia ceder…

Haviam pessoas nos andares inferiores, gente comum, que não tinha nada a ver com aquilo. Seus amigos estavam ali, e se algo acontecesse com eles…

Aquela proteção… precisava aguentar.

E Alyson não sabia nada de magia, ela não podia ajudar… ela só era capaz de sentar-se no que sobrara do piso daquela arena e rezar para Deus ou qualquer outra divindade que estivesse do lado deles, pedir por um milagre.

Mas e se esperar não fosse o bastante?

Se ninguém fosse capaz de escutar as suas preces?

Sem perceber, sua mão esticou-se para segurar o punho do feiticeiro que estava mais próximo dela. Uma leve faísca azul, muito fraca, vibrou entre os dois, e a concentração perfeita de Crós vacilou por um segundo, quando aquele mesmo brilho azulado, pequeno e aparentemente ineficaz, atravessou as rachaduras do escudo, religando-as de forma lenta. O feiticeiro moveu seus olhos, anteriormente fixos em um ponto acima de si, para observar a garota ao seu lado, notando que aquela sutil luz também estava presente nas íris dela.

Então, o escudo que os envolvia-a segurou todo o poder abrasador de Gilgamesh, que aos poucos também foi perdendo a força, regredindo até cessar por completo. Os barulhos infernais pararam, a fumaça densa foi dissolvida, soprada para longe, e um vulto cruzou o ar com algum tipo de corpo em seus braços, aterrissando no chão com pouca delicadeza. Beatrice, de sua habitual maneira silenciosa, endireitou-se sobre suas duas fortes pernas e caminhou até eles, com Gilgamesh desmaiado em seus braços, fumaça saindo de sua pele, muito embora não houvesse nenhuma queimadura aparente.

A barreira ao redor do grupo tremeluziu e desfez-se.

E Alyson deu-se conta que todos os presentes estavam olhando para ela.

E que as características felinas que tanto quisera abandonar naqueles últimos dias, haviam desaparecido sem deixar rastro.


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Notas finais do capítulo

Ei, espero que tenham gostado!
Aos poucos Alyson descobre coisas novas sobre si mesma... o que acham que vem por ai? Digam suas teorias e críticas, estou sempre disposta a escutá-las.
Obrigada por doarem um pouco de seu tempo para ler essa história, pessoal. Nos vemos em breve.
Kisses kisses para todos ♥



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