A Escolhida do Destino escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 10
Quando os “fracos” despertam.


Notas iniciais do capítulo

Okay, okay... Eu estou viva! E A Escolhida do Destino não foi abandonada, eu só estava passando por uma longa e fatídica falta de inspiração mesmo. Contudo, espero ter deixado essa fase para trás.
Me perdoem pela demora, e façam todos uma boa leitura. :3



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Alyson Valoem viu quando todo aquele espaço deixou de ser uma arena de treino para transformar-se num campo de batalha. As coisas que caíam do teto eram um misto de aberrações, reunindo híbridos de animais e humanos, criaturas com chifres e caldas pontudas que deveriam ser demônios e seres rastejantes, ou com tentáculos, ou com asas. Não demorara muito para o local estar cheio deles, por consequência separando ela e Gilgamesh dos outros. Para piorar ainda mais a situação, a sala mágica do feiticeiro parecia sofrer algum tipo de interferência, pois tremulava e ameaçava mudar de forma a cada segundo.

— Gil… — ela resolvera concentrar-se no detalhe menos importante. Provavelmente para não se deixar levar pela tensão gigantesca que ameaçava consumi-la. Disse pela enésima vez a si mesma que se encolher como uma bola e afundar-se em um buraco no solo não era uma opção, antes de continuar. — Sua sala está agindo de maneira estranha.

— Não me diga. — o tom irônico queimou seus ouvidos. — É de se esperar, já que tem um desgraçado bagunçando com a minha magia.

— E estamos cercados. — apontou, tentando tirar alguma reação útil dele. Podia até ter seus reflexos e as garras ao próprio favor, mas comparando essas últimas com as que a horda inimiga possuía, teve certeza que sairia no prejuízo.

— Suponho… — houve uma pausa, em que Gilgamesh obviamente controlava a própria irritação. — Que não tem experiência alguma com armas.

— Não tenho certeza se bolas podem ser consideradas armas. — Kit lembrou-se do quão fracassada era na Educação Física. Raramente conseguia sequer chegar perto de uma bola, e quando o fazia desastres sempre aconteciam na sequência.

— É um bom começo.

O feiticeiro fez um movimento fluído no ar a sua frente, fazendo faíscas de cor escura dançarem ao redor de seus dedos. Então algo começou a surgir por entre eles, como se mãos invisíveis montassem uma peça. Parecia um pequeno bastão prateado num primeiro momento. Sem dizer nada, ele colocou a coisa nas mãos de Alyson e fez com que uma cópia surgisse com o mesmo processo, também entregando-a a ela.

— Pistolas costumam ser mais úteis, mas não quero correr o risco de levar um tiro seu. — a esse ponto, os monstros chegavam cada vez mais perto, chiando, babando e resmungando. O tremor do ambiente tornou-se ainda mais violento, um verdadeiro terremoto parecia estar afetando-os.

A jovem não sabia se olhava para os objetos que lhe foram entregues, para a horda ou para as rachaduras que começaram a abrir-se no chão, aos poucos criando um abismo entre eles e a arquibancada. Por questão de praticidade, concentrou-se nas ditas armas, tateando seu comprimento com a ponta dos dedos. Sua lateral era composta por camadas muito familiares… Alyson pressionou-as e descobriu-se segurando um par de leques prateados, com as pontas afiadas.

— O que supostamente eu deveria fazer com essas coisas!?

— Tente jogar na cabeça de alguém.

Ela não soube dizer se Gil estava sendo irônico ou não. Na dúvida, optou por seguir o “conselho” do feiticeiro, fazendo as lâminas deslizarem até os leques estarem totalmente abertos. Testando o peso deles, girou as pontas nas quais as hastes se encontravam algumas vezes, dando-lhes impulso até que pudesse atirá-los, primeiro o que estava em sua mão direita, depois o outro. Ambas as armas agiram como um bumerangue, fazendo um arco no ar, e tudo que ficava em sua trajetória era decepado.

— Uau. — instintivamente, a garota abaixou-se quando eles voltaram, quase arrancando sua própria cabeça. Gil praguejou algo e segurou-os facilmente, as lâminas mal fizeram cócegas nele.

— Tenha cuidado com isso!

— Como eu paro essas coisas?

— Segurando-as. Eu os fiz para você, não irão cortá-la, se é com isso que está preocupada.

Alyson ficou tentada a alegar que ele deveria ter avisado isso antes, mas preferiu pegar os leques de volta e concentrar-se na luta. Muitos haviam caído com aquele primeiro ataque, desintegrando-se assim que suas vidas foram ceifadas, mas outros tomavam seus lugares. Ela nem sequer tinha o tempo ou a chance de pensar sobre aqueles que acabara de matar. Sobre a primeira vez que tirava uma vida… Em outra ocasião, isso certamente ficaria rondando por sua mente por horas a fio.

Mas ali ela estava em perigo, seus amigos estavam também e os humanos nos pisos inferiores seriam envolvidos, certamente. Não era um bom momento para questionar sua moral, as criaturas sendo inumanas ou não.

Ela desviou de um demônio que tentava furá-la com suas garras e abriu um dos leques para cortar sua cabeça, então fechou-o para perfurar o peito de outro inimigo enquanto lançava a segunda arma novamente, causando mais um número alto de baixas. Se observasse com o canto dos olhos, perceberia Gilgamesh concentrado em explodir os monstros que chegavam mais perto dele. Fazia-o com um breve estalar de dedos, provocando explosões negras em um arco, de maneira que enquanto ela limpava a arena de um lado, ele fazia-o do outro.

Ainda haviam as rachaduras… elas já haviam aumentado o suficiente para que a arquibancada descesse perigosamente de nível. Como se estivesse afundando… como se tudo ao redor do centro do estádio estivesse colapsando. Sem parar de atacar, Alyson ficou costas a costas com Gil novamente. — As arquibancadas desceram, não vejo os outros.

— Crós está com eles… mantenha sua atenção aqui, é onde preciso dela.

— Está admitindo que precisa de mim?

— Estou mandando-a não agir como a imprudente que obviamente é. Seja quem for que está desestabilizando minha magia, está aqui em cima… tenho certeza disso.

— Então o plano é… — ela fez uma pausa calculada, percebendo a grandiosidade do ato que estava desencadeando. — Matar tudo que estiver aqui em cima até encontrá-lo?

— Isso mesmo. — os olhos escuros do homem se estreitaram. — Aniquilá-los totalmente.

A garota estremeceu. Gilgamesh não estava brincando…

 

Mais abaixo, as arquibancadas tinham desmoronado a ponto de virar uma pilha de escombros. Entre a estrutura sólida que ficava abaixo da arena e um poço sem fundo nas bordas da sala, os outros quatro membros do grupo eram pressionados por todos os lados.

Crós e Ken haviam posicionado-se de maneira que as duas outras garotas se mantivessem seguras. O primeiro não parecia fazer coisa alguma para quem olhasse de longe, mas aqueles que estavam próximos podiam ver os movimentos sutis de suas mãos, enquanto criaturas atrás de criaturas eram afetadas por uma força invisível. Ora eram atiradas no abismo, ora simplesmente se despedaçavam como se uma espada as fatiasse, e ainda havia algumas que ficavam paralisadas, incapazes de se mover.

Kensuke picotava os monstros que ousavam se aproximar demais. Suas habilidades com a espada ficavam mais óbvias contra seres da mesma escala que ele. O rapaz era ágil e preciso, toda estocada que dava arrancava a vida de uma criatura. Independentemente de suas aparências, estas desintegravam em uma fumaça escura quando morriam… aquela matéria detestável já cobria os dois combatentes completamente.

— Isso é nojento. — alegou Sasha, notando este fato em particular e dirigindo-se a Ken. - Você está coberto com pó de cadáver. A Ly não vai chegar perto de você nunca mais.

— Obrigado pela parte que me toca… — Ken revirou os olhos, partindo outro inimigo em dois. — Por que não se concentra em algo menos irrelevante, como uma forma de nos manter vivos?

— Se você quer inteligência, está falando com a garota errada. Isso é com a Chloe.

— Não o atrapalhe, Sasha. — a outra garota chamou a atenção dela, tentando manter a compostura. Duvidava que tacar o primeiro objeto que caísse em suas mãos contra aquelas coisas fosse fazer muita diferença. No mais, teria que contentar-se em ficar quieta e não ser um estorvo aos rapazes. Aquilo era deprimente, mas ao menos tinha tempo para raciocinar.

Até agora, pelas informações que foram trocadas entre eles, ficara claro que o alvo principal sempre seria Alyson. Naturalmente a primeira coisa que alguém pensaria seria reunir o grupo todo na arena, com a ideia de que juntos seriam mais fortes. No entanto, aquilo poderia ser um equívoco. Isso porque nem Chloe nem Sasha lutavam, elas seriam apenas mais um contratempo se subissem.

Na realidade… elas eram um problema tanto em cima quanto em baixo. Jamais deveriam ter se intrometido naquela viagem. Sasha estava ali apenas pela aventura e por ser meio tapada, mas Chloe deveria ter previsto aquela situação. Amizade e fidelidade a parte, não havia muito que ambas pudessem fazer.

“Você tem cheiro de bruxa.”

Não sabia porque aquelas palavras de Gilgamesh voltaram a sua mente. Antes que pudesse mover seu pensamento sobre aquele assunto, no entanto, as coisas deram muito errado.

Em primeiro lugar, vieram os demônios alados. Alguns deles despencaram do ar em um grupo conciso, uma formação específica para furar defesas. Crós até conseguira parar alguns com um escudo invisível, mas este não aguentou, partindo-se após segurar as primeiras investidas. Os monstros penetraram em meio ao quarteto e espalharam-se em seguida, forçando-os a se separarem. Ken rapidamente foi soterrado por inimigos querendo fatiá-lo, enquanto Crós fora capturado por uma das criaturas aladas, e lutava para libertar-se em pleno ar.

Sasha fora atirada contra a estrutura abaixo da arena, essa estava tão alta que agora parecia quase um edifício ou uma torre a ser escalada. Monstros de todos os tipos começavam a rodeá-la, farejando-a como se fosse uma presa a ser devorada.

E havia Chloe. Empurrada contra o precipício, ela foi incapaz de recuperar o equilíbrio quando seu corpo pendeu para trás. Sua mão tentou agarrar freneticamente alguma coisa, qualquer coisa, que impedisse sua queda, mas não havia nada. Os dedos fecharam-se no ar e ela sentiu a gravidade incidindo diretamente sobre si.

E caiu.

 

Algumas pessoas dizem que quando estamos próximos de morrer, nossa vida passa toda diante de nossos olhos. Elas estão equivocadas... porque quando não se trata de uma morte lenta, só há uma coisa que passa por sua cabeça, isso se houver sequer tempo de pensar em algo:

Como isso foi acontecer?

Ou, se você for alguém muito apegado a vida, certamente chegará a conclusão instantânea que não, não quer morrer naquele momento, ou daquela forma.

Enquanto seu corpo cruzava dolorosamente o caminho que levaria a sua possível morte, Chloe Blackwell se deu conta de que não fizera metade do que esperava e que não aceitava aquilo. Não podia terminar daquele jeito... ela tinha um pai em casa que mal sabia que a garota tinha se ausentado, possuía um irmão que ainda deveria estar perguntando-se sobre o que ela tramava.

Ela tinha projetos científicos que ficariam inacabados, pesquisas relacionadas a magia que lançariam luz sobre muitos dos mistérios do mundo.

Ela tinha cheiro de bruxa...

 

A determinação cresceu quando menos esperava, ao mesmo tempo que se esforçou para mover seu corpo durante a queda. Outro dos demônios com asas disparou em sua direção, as membranas aerodinâmicas rasgando o ar tentando alcança-la, com a intensão de pôr um fim em sua existência antes que chegasse ao fundo do abismo... se é que havia, de fato, um fundo.

Seu controle sempre tão presente foi arrastado por uma corrente de cólera feral, e assim que as garras afiadas do monstro fincaram em seus ombros, Chloe agarrou uma das asas e desferiu uma mordida no local, arrancando um guincho de dor da criatura. Agindo apenas por um instinto incontrolável, ela girou sua posição fazendo com que o demônio ficasse para baixo e desvencilhou-se das garras com um chacoalhar, em seguida pressionando os pés contra ele para ganhar sustentação e saltar para cima. Suas mãos agarraram-se na coluna que levaria ao antigo espaço das arquibancadas e pode notar que escalar aquilo era-lhe possível.

E foi isso que fez.

Ela mal viu que suas unhas também haviam virado garras. Não reparou no seu olfato apurado, ou sequer na sua audição diferenciada...

Chloe apenas subiu.

 

Sasha estava numa situação péssima, com demônios cercando-a por todos os lados. Quando fora jogada contra a pilastra central, suas costas bateram violentamente contra o concreto e a dor fez com que sua consciência oscilasse por um segundo. Mas ela conseguira focalizar sua visão rápido o bastante para ver quando a amiga caíra do precipício.

— Chloe! – ela deixou escapar, estendendo uma mão em sua direção, mas logo recolheu-a quando um de seus algozes quase abocanhou-a. A garota apoiou ambas as palmas no chão para conseguir levantar a parte superior de seu tronco, suas costas protestando por conta do impacto sofrido. Algumas lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, fazendo trilhas por suas bochechas.

Era diferente quando Alysson contara que havia morrido. Ou quando todas aquelas pessoas estranhas falavam que haveriam monstros para lutar contra. Até mesmo a perseguição perpetrada pelo gigante do fogo não lhe causara aquela sensação de angústia.

Você só percebe a grandiosidade de algo quando fica muito próximo dele.

Você só nota o quão cruel é o mundo quando sente na própria pele.

E a ficha de Sacha havia acabado de cair.

Aquilo não era uma aventura, era uma guerra.

E em guerras as pessoas morrem.

Ela forçou-se a se mover, independente da dor e do choro que começava a brotar do fundo de sua garganta. Afinal, haviam monstros a sua volta, coisas que não se contentariam simplesmente em matá-la. Ainda assim, por mais que desejasse sair daquela situação, não sabia como. Crós havia sido carregado, Kensuke estava totalmente fora de sua visão no momento e Chloe...

A garota encostou-se contra o pilar, meneando a cabeça em negativa. Era mais provável que sua amiga estivesse morta, o que aconteceria em breve com ela própria se não tomasse uma atitude. Seu espaço para mover-se diminuía cada vez mais, e ela ficou paralisada quando sentiu a língua pegajosa e fria de um dos demônios lamber seu rosto.

Seu movimento seguinte foi lutar contra o pavor e enfiar o pé no rosto dele, afastando-o a força. Entretanto, um tentáculo gosmento enroscou em seu braço direito, puxando-a mais para perto da horda. Ela viu perfeitamente uma fileira de dentes de aspecto degradante arreganhando-se para devorá-la, o hálito lembrando coisas podres batendo contra sua face.

O coração falhou uma batida, e Sasha encolheu-se ao ver o movimento de fechar da grande mandíbula que por muito pouco não a atingiu. Isso porque alguma coisa lá atrás causou comoção o suficiente para o monstro que tentava mordê-la desviar sua atenção.

Bom... ele e todos os outros. A ruiva foi momentaneamente esquecida quando algo emergiu do abismo, sua sede de sangue varrendo o lugar. Um pequeno e ágil vulto moveu-se em sua direção, numa corrida desenfreada, as mãos estocando para arrancar pedaços dos demônios que estavam no caminho. Firmando o olhar, Sasha conseguiu entrever alguns tentáculos, membros e cabeças sendo decepados. Por fim, uma mão com garras longas atravessou o corpo do ser que tentara comê-la, surgindo em frente aos olhos dela com um coração pulsante e negro entre os dedos, o sangue escuro pingando nauseantemente. O membro foi retirado novamente com um puxão e a criatura desvaneceu-se na característica poeira negra, enquanto sua assassina mantinha o órgão não mais pulsante na palma da mão.

A figura era familiar.

Não... não era simplesmente familiar.

Era Chloe.

Seus cabelos cacheados estavam um alvoroço, margeando o par de orelhas lupinas, num belo tom castanho, ambas empinadas. Uma peluda calda de lobo era visível, e mesmo que as mechas causassem um efeito de sombra sobre seus olhos, justamente por sua cabeça estar abaixada, era possível notar que as escleras haviam assumido uma cor negra.

Ela parecia estar totalmente alheia ao que acontecia em volta, sua atenção fixa no coração entre seus dedos. Sasha ficou mais uma vez paralisada, era quase a mesma coisa que acontecera a Alyson, só que... Alyson era muito menos intimidadora.

A meio-loba entreabriu os lábios, mostrando presas típicas dos canídeos. Os monstros já começavam a se aproximar novamente, desta vez mais contidos, como um bando de animais cercando um de outra espécie que poderia ser mais forte.

— C... Chloe?

Ignorando-a completamente, a outra apenas colocou a língua para fora e lambeu o órgão. Sasha levou uma das mãos aos lábios, lutando contra a vontade que tinha de vomitar. Agora que olhava bem, poderia ver o mesmo sangue escuro respingado pela pele de Chloe e suas vestes. Ela estava erguendo a cabeça, e subira a mão que segurava o coração mais alto, próxima de sua boca. Então, mordeu.

E mordeu.

E mordeu mais uma vez.

Em três dentadas, ela havia devorado o órgão inteiro. Seu maxilar movia-se como se estivesse mastigando, e quando engoliu, levou a mão suja de sangue para perto dos lábios, lambendo cada um dos dedos como se estes estivessem cobertos de alguma coisa menos tosca e mórbida.

Antes que Sasha conseguisse sequer pensar em chamá-la novamente, numa tentativa pífia de trazê-la de volta a razão, os monstros que haviam ao redor convergiram repentinamente para a outra garota, um amontoado de presas, garras e espinhos visando estraçalhar a ameaça por completo. Chloe mais uma vez eriçou-se, a aura de caçadora espalhando-se para começar mais uma rodada de mutilações.

Ela só conseguia ver aquele sangue negro jorrando para todos os lados, as criaturas se despedaçando em enxofre com os ferimentos letais. Os monstros haviam esquecido-a totalmente, movendo sua atenção totalmente para Chloe, vendo nela um inimigo a ser derrotado e morto. Sasha tinha a plena consciência que nada poderia fazer ali, e isso era uma frustração e um fator de medo ao mesmo tempo.

Paralelamente, contudo, ela pode ver outras coisas acontecendo mais atrás. De um lado, o amontoado de monstros que haviam caído sobre Ken foram violentamente varridos para longe, provavelmente com os golpes habilidosos de sua própria espada, com muito custo ele conseguira se desenterrar daquele mutirão. Do outro, os guinchos dos seres voadores por um momento sobressaíram-se aos urros daqueles que lutavam perto dela, um som angustiante que finalizou-se tão rápido quanto surgiu, bem no momento em que algo invisível agarrou-se aos demônios que cercavam Chloe, pressionando e pressionando até esmagá-los por completo.

Um vulto negro familiar precipitou-se em direção a Chloe, sendo interceptado pelos dentes dela quando tentou segurá-la por trás. As presas cravaram-se com força animalesca no antebraço, perfurando tecido, músculos e pele. Entretanto, a pessoa não cedeu e por fim fechou os dedos da outra mão, descendo-a com força sobre a cabeça da jovem, desacordando-a e amparando-a para que não caísse.

— Pelos deuses, para uma garota tão racional ceder ao instinto assim… — Crós disse, enquanto soltava o braço da boca de Chloe e a mantinha presa com o outro. O feiticeiro olhou metodicamente para o ferimento feito por ela e então para a garota, algumas vezes, parecendo bastante ofendido com a ideia de ter sido ferido por uma humana comum… ou melhor, não tão comum assim. — Que inesperado.

— O que houve com ela? — veio a voz de Kensuke mais de trás. Olhando para ele, Sasha notaria os inúmeros ferimentos causados pelos monstros que haviam subjugado-o por aquele curto período de tempo, aparentemente nenhum muito grave.

— A mesma coisa que com Kit, suponho. Mas a transformação dela acabou puxando mais para o lado animal do que humano. Eu diria… — ele parou de falar, as características lupinas da menina desapareciam gradualmente, até não sobrar nada.

— Não temos tempo pra isso. — cortou Ken. Seus olhos voltaram para Sasha e ele estendeu a mão para que ela segurasse. — Vamos, nós precisamos subir e nos reunir com os outros. Você está bem?

— Eu… — Ela estava tudo, menos bem. Ainda assim, um pouco trêmula, segurou a mão do amigo e deixou-se ser puxada, ficando de pé. Os grandes olhos castanhos focaram-se em Chloe, agora devidamente aconchegada sobre os dois braços do feiticeiro-com-orelhas-de-gato, e suas sobrancelhas franziram. — Vo… você deveria ter sido mais gentil.

— É com isso que você está preocupada? Dá próxima vez vou jogá-la em cima de você para que lhe morda em vez de mim.

— Qual a parte de que temos de subir vocês dois não entendem!?

 

Para Alyson tornava-se cada vez mais fácil lidar com seu corpo. Unindo o instinto inumano que vinha com aquela transformação com as lutas marciais e técnicas de batalha que observara em filmes e séries, lutar tornava-se quase como uma dança. Pensando bem, ela nunca fora uma boa dançarina. Ela era uma negação em muitas coisas… conseguia tirar proveito daquela situação, mas seu otimismo natural era nublado pela preocupação que tinha para com os amigos presos no nível inferior.

Gilgamesh estourou boa parte da ala direita da horda que os cercava com um simples estalar, mas as criaturas não paravam de vir. Seus números pareciam infinitos… desde que aquela batalha se iniciara, não poderiam dizer que estavam mais próximos de por um fim naquilo. Ela avançara mais uma vez, em linha reta, os leques girando rapídamente entre seus dedos enquanto seus braços movimentavam-se amplamente, abarcando todo o seu redor e consequentemente decepando os membros que ficavam mais próximos daquela área. Alyson girou o corpo e atirou os leques mais uma vez, um para cada lado, socando um demônio e descendo o corpo para dar uma rasteira no segundo, elevando-se a tempo de recuperar o primeiro leque. Este foi cravado na testa de um terceiro oponente, enquanto a segunda arma degolou um quarto ao retornar para a mão livre da garota.

Seu instinto soou um alarme, algo aproximava-se da sua nuca. Quando virou-se para ver o que era e se defender, só conseguiu divisar uma lâmina afiada que teria enterrado-se em sua jugular, não fosse o puxão que Gilgamesh acabara de dar em suas costas. Ainda assim, mesmo que o feiticeiro tivesse erguido a mão para bombardear o local onde o possível assassino se encontrava, nada mais do que monstros rasos foram explodidos.

— Ele estava aqui.

O cara que está atrapalhando você? — ela perguntou um pouco ofegante, sentindo a mão de Gilgamesh fechar-se em seu pulso, movendo-a para que ficasse de costas para ele.

— Sim. E é muito ardiloso… mantenha-se perto de mim, ele tem ótimos reflexos.

Mal acabara de dizer aquilo, um brilho chegou pela direita dele, rápido demais para se acompanhar. Gil agarrou com força a adaga com a mão, o fio deslizando pela pele, produzindo um feio corte. Uma segunda lâmina partiu na direção de Alyson que, sem poder simplesmente desviar como era seu intento, usou um dos leques para se defender. A partir dai, mais uma dúzia de ataques foram tentados, alguns pegando de raspão, outros sendo completamente aparados, mas sempre forçando os dois sitiados a movimentarem-se de tal forma que em algum momento não haveria escapatória para eles… e, como esperado, esse instante chegou.

Junto a horda que fora incitada a atacar ao mesmo tempo, uma chuva de adagas foi mirada sobre os dois. A magia defensiva em forma de escudo que Gilgamesh tentava avivar falhou miseravelmente, estilhaçando-se como a magia que mantinha aquele lugar intacto. Com um inimigo ágil daquele jeito, sofrendo interferências em suas habilidades voltadas ao suporte e ainda tendo de proteger a Salvação de Diamond… ficava claro que naquele momento não havia nada que o feiticeiro pudesse fazer. Ele ainda assim firmou o corpo, pronto para puxar de sua memória qualquer feitiço, qualquer coisa que pudesse fazer diferença…

E então, uma criatura da mais sublime brancura aterrissou, vinda do alto, na frente dos dois.

Certamente, aquilo não era um anjo.

Ela parou a investida das facas cruzando ambas as mãos em frente ao peito… mãos que não tinham nada de humanas, eram escamosas e muito grandes, destoando do corpo esbelto do qual faziam parte. Em verdade, apenas olhando-a por trás, de onde ambos estavam, era possível entrever que havia escamas por todo o seu corpo, que estava totalmente nu. Uma calda que lembrava a de um réptil agitava-se no chão, as adagas atiradas caindo no mesmo, inofensivas. Os cabelos brancos muito longos moveram-se suavemente quando a criatura colocou uma das pernas para trás, fechando as garras da mão direita e depois lançando-a a frente num soco que desfigurou todos os monstros que estavam mais próximos. Num segundo movimento, sua outra mão aberta acertou mais demônios, matando-os instantaneamente ou tirando-os do caminho.

Alyson estava totalmente chocada. De onde aquela moça – ou seja lá o que ela era – tinha saído, afinal de contas? Entretanto, quando ela moveu lentamente a cabeça para fitar a garota e Gilgamesh por cima dos ombros, foi que Alyson percebeu…

Seus olhos eram vermelhos.

— Beatrice… — Gil estava com uma expressão ainda mais irritada que a de costume. Não dava para saber se aquela raiva estava direcionada a mulher branca ou a alguma outra coisa. Se bem que, considerando o histórico do feiticeiro, ele parecia estar mal-humorado o tempo todo. Houve um suave trincar de seus dentes, como se ele desejasse dizer algo, mas visto a situação em que todos estavam, preferira deixar para depois. — Encontre o líder. Nós estamos logo atrás de você.

Sem dizer nada, apenas limitando-se a afirmar com a cabeça, Beatrice voltou seu olhar iridescente para frente e moveu novamente as gigantescas garras, abrindo caminho entre os demônios que enxameavam o local.

Esmagando tudo que ousava entrar no seu caminho...


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Notas finais do capítulo

Well... é isso, pessoal.
Por favor, se acharem algum erro não fiquem com receio de me avisar, não consegui revisar esse capítulo devidamente.
Qualquer dica, opinião ou elogio será, como sempre, muito bem vindo. :3

Até a próxima, pessoal, e obrigada por lerem até aqui!
Kisses, kisses. ♥



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