O Corvo escrita por Paladina


Capítulo 6
Dia 6 — Corvo e os aventureiros


Notas iniciais do capítulo

Honestamente? Eu achava que ia conseguir escrever mais (história) em menos (capítulos), mas realmente estou indo pouco a pouco, então possivelmente O Corvo terá cerca de vinte a trinta capítulos; E se tudo ocorrer como planejado, muito mais que isso.

Nesse capítulo teremos o índice da missão da nossa dupla - única e predileta - de paladinos. E a união de um grupo > nem tão < especial. De toda a forma, eu agradeço que você esteja lendo esse capítulo, e principalmente para as pessoas que estão acompanhando.

Um beijo grande, e bom capítulo! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/708872/chapter/6

A esposa de Ecqual sentou-se na borda de sua cama, alisando o vestido para que não tivesse um aspecto amarrotado. Seu cômodo era o maior quarto que Corvo havia visto em toda sua vida, e o próprio quase deixara seu queixo cair - só não o fez porque foi orientado a prestar atenção nos detalhes, e não a impressionar-se. Grifo Negro estava de pé, de costas para a janela apoiando as mãos no parapeito da mesma. Seu rosto nada mais era do que uma sombra.

— Por onde começar... — Disse a mulher, cabisbaixa. — Bem... Eu e Ecqual somos casados há vinte e sete anos... E nosso casamento rendeu bons frutos. Tivemos três filhos. — Sorriu, mas depois seus lábios apertaram-se em uma linha reta. — O mais velho reivindicou seu status de nobreza e saiu de casa ainda jovem, o do meio foi enviado para Edrin receber treinamento militar, então não o vejo há anos... E nossa pequena Alys, nossa flor... Ela vivia bem conosco, era o agrado do pai. Até que, da noite para o dia, disse que ia ao campo, mas não retornou.

Ela parecia prestes a se derramar em lágrimas. Corvo fez menção de se aproximar para consolá-la, mas Líria o impediu com o olhar.

— Isso faz quanto tempo? — Perguntou a paladina.

— Cerca de... Cinco meses? — Ela pareceu incerta. — Eu parei de contar depois do segundo, cada dia tornou-se mais angustiante que o anterior, e ainda é... Eu sinto muito sua falta. O senhor meu marido tornou-se muito fechado desde a perda e fez de tudo para recuperá-la, muitos aventureiros prometeram trazê-la, contudo nenhum retornou.

— Não mobilizaram as tropas?

— Somos uma cidade grande, mas não militarizada. — Explicou.

Grifo Negro mordeu um lábio enquanto ficava pensativa.

— Você... Disse que ela saiu para o campo. — Disse Corvo, iniciando uma conversa, a qual Líria não parou. — Que campo, senhora?

— Folhamarga é conhecida pelas folhas das árvores que aqui nascem, mas há um campo não distante onde existem essas mesmas folhas, só que doce. É um lugar pacífico e belo.

Seria o primeiro local que visitariam, pautou mentalmente o aprendiz.

— E... Como é sua filha? — Gesticulou indicando o rosto, como se perguntasse pela aparência.

— Muito parecida com o pai, apesar de ser uma cópia idêntica minha. — Sorte a dela, Corvou pensou. — E alguns anos mais nova que a senhorita. — Apontou para Líria.

— Temos o bastante para irmos em busca da mesma. — Afirmou a paladina, finalmente voltando a falar. — Agradeço pela ajuda, senhora.

— Eu é quem agradeço, orei muito aos deuses por uma ajuda e pelo retorno dela... — Uma lágrima quase caiu. — Por favor, tragam minha pequena flor de volta.

Corvo fez uma reverência cheia de heroísmo.

— Traremos! — Bateu no próprio peito. — Faremos o possível, garanto-lhe, senhora.

A moça levantou-se da cama, caminhou até o pequeno escudeiro e deu-lhe um beijo na bochecha. Corvo enrubesceu.

— Agradeço, bravo paladino.

— E-eu sou s-só um aprendiz. — Conseguiu falar, com um sorriso sem graça colado na face. Grifo Negro se aproximou.

— Permaneça em orações. Mesmo pedras se curvam perante a fé. — Aconselhou, tocando no ombro de Corvo. — Vamos, pequeno.

Corvo a reverenciou, e saíram do quarto e casa de lorde Ecqual.

O sol iluminou intenso a estrada que dava para o grande campo. Não era difícil encontrá-lo, qualquer um que vivesse por lá a mais de duas semanas saberia indicar a localização. Antes de partirem, desjejuaram na estalagem, onde aproveitaram para trocar de roupa, armando-se, e foram ao estábulo recuperar Passomanso e Relâmpago.

O campo era coberto por uma relva arroxeada, de onde nasciam belíssimas flores com pétalas índigo e árvores desordenadamente faziam vigília balançando seus galhos de um lado a outro, observando aqueles que passassem. Assim que Corvo desmontou de Relâmpago, suas narinas foram invadidas por um cheiro que o lembrava o outono, e quando levou uma folha caída à boca, sentiu um sabor forte, porém adocicado. Lembrou-se de sua mãe que mandava-o mastigar a raiz de um vegetal diariamente para higienizar os dentes e tirar o mal hálito, que também dava-lhe um apetite maior do que o comum.

— Como vamos rastreá-la? — Questionou Corvo, por fim. Faziam meses desde que a moça desaparecera.

— Não seja pessimista. — Respondeu a paladina, mesmo que estivesse igualmente incerta. — Cheiros e pegadas não poderem ser encontradas, mas quem sabe uma peça de roupa.

E continuaram sua busca. Um vento  beirando uma brisa abraçou Corvo, que sentiu seus cabelos esvoaçarem. Fechou os olhos e deixou ser banhado pelo momento, sentindo seus fios escuros como a noite balançarem em sua cabeça como se tivessem vida própria. Era uma sensação boa, agradável àquele que a muito não sentia as sensações básicas da vida, como alegria, esperança e determinação. Os cabelos de Líria, a Grifo Negro, faziam movimentos de onda, muito mais hipnotizantes e avermelhados. Corvo desviou o olhar. Quem sabe um dia seu cabelo fosse tão longo quanto.

A todo passo Corvo mantinha os olhos atentos ao chão e ao vento, rogando aos deuses que se lembrava o nome para que enviassem auxílio. Qualquer sinal, naquele momento, lhe seria útil.

Pisou em falso, caindo em um buraco camuflado por terra e flores. Exclamou enquanto via as flores afundarem e o buraco crescer mais e mais, ficando grande o bastante para que todo seu corpo ali caísse. Antes que tombasse para a profundidade adentro, mergulhando na escuridão da cavidade, Grifo Negro o segurou pelo braço com suas mãos firmes e o puxou para trás, jogando-o no chão firme. Corvo arfou.

— Essa... Essa foi por pouco, mestra. — Colocou a mão no peito. Relâmpago mordiscou sua cabeça, e ele levantou.

— Não, essa foi proposital. — Entregou ao escudeiro as rédeas e ajoelhou-se ao lado do buraco, analisando-o. Pegou uma pedra e lançou-a no fundo. — É profunda o bastante para que alguém caia e quebre uma perna, mas não morra. Também tem largura o suficiente para mais de uma pessoa... Isso é uma armadilha de caça.

— E por que isso estaria em um campo?

Sons de folhas. Uma flecha cortou o vento em direção à Líria, e como se tivesse um olho na nuca, a paladina virou-se e segurou a seta antes que a atingisse, quebrando-a em dois ao cerrar o punho. Empunhou seu escudo, preparada para novos ataques. Corvo posicionou-se atrás dela.

— Estão nas árvores. Fique atento.

— Sim, senhora. — Engoliu em seco. Era sua primeira batalha. — Posso perguntar como você fez aquilo com a flecha? Foi bastante... Heróico.

Líria limitou-se a sorrir.

— Pela luz dos raios — Começou uma oração —, e claridade das chamas. Invoco o brilho do sol ardente. Queime por Leviot!

Chamas esbranquiçadas envolveram o antebraço e mãos de Líria, imitando uma lâmina envolta de labaredas. Grifo Negro apontou para uma árvore, então para outra. Corvo maravilhou-se com aquela magia.

— Desçam daí, ou queimarei cada árvore até restarem apenas cinzas. — Ameaçou. Tudo ficou em silêncio.

Corvo viu três silhuetas conhecidas descerem das árvores e se renderem. Tadeo, Dargil e Garian.

— Espere, viemos em paz. — Começou a dizer Tadeo. — Não nos mate, eu imploro. Tenha misericórdia.

— Espera, por que vocês estão nos atacando? — Perguntou Corvo saindo detrás de sua mestra. O trio o olhou assustado, quase que incrédulos.

— Corvo?! — Disseram Garian e Tadeo em uníssono.

— Peixe-boi?! — Falou o anão, copiando o tom dos outros dois.

— Vocês se conhecem? — Indagou Líria, olhando para Corvo.

— É... Sim, na verdade. — Corvo admitiu. — Mas eu pensei que eles eram boas pessoas.

— E somos. — Confirmou Garian. — Não sabíamos que estava com ela.

— E o que querem comigo?

— Pensávamos que você fazia parte do grupo de bandidos que estamos atrás. — Respondeu Tadeo. — Não fazíamos ideia de que era a mestra do garoto.

— A menos que o peixe-boi seja dessa gangue. — Completou o anão, coçando a barba em desconfiança.

Líria fez um movimento brusco com o braço, e as chamas se apagaram. Todos trocavam olhares de desconfiança e tensão. Garian foi quem resolveu tomar a iniciativa, dando um passo para frente.

— Vamos esclarecer as coisas. — Pediu. — O que vocês dois estão fazendo nesse campo?

O escudeiro olhou para sua mestra como se pedisse licença para explicar, e recebeu permissão com um olhar cauteloso.

— Estamos ajudando o lorde e sua família. — Revelou Corvo.

— Pois estamos atrás de um bando de bandidos. — Tadeo. — Achávamos que eles poderiam estar por trás do que ocorre nestas bandas... Ouvimos relatos de várias donzelas desaparecendo nessa área.

— Eu sugeri ameaçarmos homem por homem...

— Mas como as ideias do anão não são confiáveis — Garian sorriu. —, optamos por ficar escusos e observar.

— Acabou que nos envolvemos em uma luta na banheira... — Corvo lembrou-se disso. — E descobrimos que um dos caras que estava apanhando para mim, que tenho socos supremos, era um dos responsáveis pelo desaparecimento das donzelas. Ele nos contou algumas coisas, mas não é membro do grupo que procuramos.

— De toda a forma, resolvemos aproveitar as informações e lidar com isto. — Finalizou Tadeo. — É o que aventureiros fazem.

— E onde ele se encontra? — Indagou Grifo Negro.

— Amarrado em nosso esconderijo. — Explicou Dargil. — Não vai fugir tão fácil, te prometo, mulher. Anões conhecem excelentes nós.

— Fiz uma armadilha para caso alguém suspeito tentasse invadir o esconderijo, e quase ao mesmo tempo vocês apareceram. — Garian colocou uma mão na cintura.

A paladina ficou pensativa.

— Por que não cooperamos? — Sugeriu, alegre, Corvo.

— Concordo com o garoto. — Tadeo piscou para Líria, que estava ocupada demais raciocinando todas as informações para dar um murro no homem.

— Se eu vê-lo, eu posso conseguir com que fale tudo o que sabe.

— Duvido, mulher. Batemos muito nele pra conseguir nossas informações! — O anão bateu em sua própria barriga enquanto dava sua típica e esquisita risada.

— Eu realmente posso. — Havia confiança e honestidade em sua voz. — Só preciso que me mostrem onde ele está.

Os três entreolharam-se.

— Uma cooperação. Podemos lidar com isso. — Tadeo sorriu. — Sigam-me os bons!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar, isso ajuda muito. De verdade...
Quando o Nyah diz que uma história sem comentários mata o leitor, ele não está mentindo.

Até o próximo capítulo! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Corvo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.