O Corvo escrita por Paladina


Capítulo 3
Dia 3 — Corvo e o Grifo


Notas iniciais do capítulo

Opa, mais um capítulo! Este aqui eu escrevi no dia 20/09 de tão feliz que estava em continuar a trama, mas acabou que só postei hoje porque eu queria dar tempo de vocês lerem e comentarem. Se tudo der certo, e eu não estiver em semana de provas, postarei capítulos em uma frequência par; De dois em dois dias, ou de quatro em quatro.

De toda forma, agradeço MUITO por estarem acompanhando e por lerem até aqui. Espero que continuemos juntos nessa jornada. Aproveitem o capítulo.



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Horas passaram-se desde começou a trabalhar. Por não ser nada bom em habilidades sociais ou físicas, Corvo estava habituado a trabalhos caseiros, e lidar com a cozinha foi algo simples e que fizera muito bem. O taverneiro, Delberth, muito o elogiou, quase garantindo-o mais um dia útil gratuito para repousar. A bem da verdade gostaria de contratar o garoto, mas Corvo recusou com toda a gentileza que foi capaz.

A Taverna do Oleiro veio a encher-se e esvaziar-se durante momento específicos do dia, e sempre que estava mais fazia o Delberth permitia que Corvo beliscasse os restos de comida. Ao fim da tarde havia se banqueteado com migalhas e seu estômago encontrava-se mais forrado que de um rei.

Mas entre momentos apressados e tediosos, as palavras de Edmundo martelavam em sua cabeça; Não a metáfora sobre peões, mas a respeito de seu trabalho. Que tipo de trabalho envolveria viver na miséria? Passar fome e frio? O garoto não conseguia compreender. Era um extremo longe demais para sua maturidade atual.

— Rapaz. — Chamou Delberth, o tirando de devaneios. — Está quieto demais, o que aconteceu?

— Ah, nada, senhor. Estava só pensando. — Respondeu, delicado.

— Então pense enquanto varre. Fecharemos em breve, e odeio fechar com sujeira. — O entregou uma vassoura. — Deixe tudo brilhando.

Corvo saiu da cozinha e voltou para a área comum da taverna. Somente cinco pessoas encontravam-se ali: Uma mulher vestida vulgarmente, um nobre desmaiado sobre uma poça de vinho, um bardo, uma dançarina e um velho que tremia toda vez que utilizava a colher. Nenhuma das cinco almas presentes parecia perceber Corvo, que tal como o pássaro, perante a luz nada tinha de sombrio.

Começou a varrer o chão, juntando a poeira em um determinado canto para depois retirá-la, e quando estava quase no fim, a porta da taverna foi aberta com rigidez - não saberia dizer se todos que entravam ali eram monstruosamente fortes ou se esta era a única forma de abrir a porta -, fazendo com que um vento forte invadisse a taverna, esvoaçando cabelos, panos e trazendo poeira. Corvo teria xingado mentalmente se conhecesse alguma palavra de baixo calão.

Cerrou os punhos ao redor do cabo da vassoura e voltou o olhar para a porta, indignado, como se esperasse que a pessoa que acabara de entrar fosse lhe dar uma excelente justificativa por trazer a poeira consigo. Mas ficou incrédulo logo em seguida.

Pisadas fortes e pesadas foram se aproximando, fazendo com que Corvo se sentisse menor a medida com que a gigantesca armadura se aproximava. Era quase como ver um golem vivo, uma liga metálica que respirava, um dragão sobre duas patas. Corvo encolheu-se em si mesmo assim que a figura parou diante de si.

Deveria ter um metro e oitenta, trajando uma armadura completa, pesada e reluzente, alva como a neve, decorada com um grifo negro no peitoral. Presa as costas havia uma espada de duas mãos que poderia partir um homem ao meio com um único golpe. Corvo começou a suar de nervoso.

— C-como posso ajudá-lo, sor? — Uma sensação de quentura borbulhou em seu estômago. Sentia que qualquer movimento brusco resultaria em sua morte.

O cavaleiro tirou o elmo pesado da cabeça, revelando cabelos longos e ruivos. Abaixou o olhar para encarar Corvo e sorriu com doçura. Era a maior mulher que Corvo já havia visto na vida. Um arrepio percorreu por sua espinha, e seus joelhos começaram a fraquejar. Mesmo que seus traços não a tornassem a mais bela entre as donzelas, havia elegância. A elegância mais mortífera já vista.

— Você é Corvo, não é? — Indagou, e sua voz era melódica.

— Sou sim. — Forçou um sorriso gentil. Se ela estivesse sem armadura, Corvo não se sentiria ameaçado, mas acolhido. — C-como posso ajudá-la?

— Sou Líria, uma paladina da Ordem da Fênix. — Olhou ao redor, procurando uma mesa, tirou a espada e sentou-se na mais próxima. — Posso conversar com você por alguns minutos?

Delberth, que tudo observava de longe, se aproximou e repousou um braço ao redor dos ombros de Corvo.

— Perdoe-me, mi'lady, o que gostaria com meu ajudante? — Agiu como uma figura protetora.

— Apenas conversar. — Respondeu, tirando cinco moedas do bolso e colocando na mesa. — E poderia me trazer algo para comer, por favor? Eu viajei muito para chegar até aqui.

O taverneiro, ao avistar as moedas brilhantes e douradas, empurrou Corvo em direção à mesa, como se o incentivasse a ter uma conversa com a mulher. Pegou as moedas e foi em direção a cozinha. Corvo sentou-se, sem graça e incomodado com a situação. Respirou profundamente para que não gaguejasse.

— O que gostaria de conversar...? — Questionou, um tanto quanto encolhido. Ela o observava analítica.

— A Ordem da Fênix acredita que o mal não é um fato de equilíbrio para o bem, mas uma consequência. — Retirou as manoplas pesadas e colocou próximo da espada. — O bem é um objetivo a ser alcançado, e quando falho, torna-se o mal. Nos intitulamos fênix porque eliminamos o mal para que de suas cinzas renasça o bem.

Corvo escutava atentamente, mas não fazia menção alguma de responder. Pelo menos parou de suar como um porco.

— Eu viajo pelo mundo com este objetivo... — Respirou profundamente. — E recentemente um sinal de Leviot, o deus que sigo, indicou-me uma vila no topo de uma montanha. Vila do Poleiro.

A simples menção do nome de sua terra natal fez Corvo ter seu coração destroçado em milhões de pedaços. Todas as memórias que antes vinham em dozes homeopáticas surgiram ao mesmo tempo, dando-lhe um choque tremendo, e esforçou-se para conter as lágrimas.

— Perguntei ao patriarca local se houve algum incidente anormal. Ele ficou hesitante e não respondeu, então tive que procurar por mim mesma. — Entrelaçou os dedos, dando um leve silêncio para dar a oportunidade de Corvo dizer algo, mas o rapaz somente limpou uma lágrima que fugiu-lhe dos olhos, e Líria continuou: — Acabou que a sacerdotisa resolveu abrir o jogo em segredo, e contou-me sobre o ocorrido... Seu filho... E seus amigos.

— Eu não queria... — Interrompeu Corvo, deixando de lutar contra as lágrimas e colocando-se a chorar. — Eu só...

— Não se preocupe, Corvo. — Deu-lhe alento. — Você não fez nada de errado. Não foi culpa sua.

Corvo soluçava, mas controlou-se para manter o choro baixo.

— As sombras atacam quando menos esperamos. — Comentou a paladina. — E nos momentos mais felizes. Eu visitei a caverna onde seus amigos foram mortos, aquilo foi obra de um demônio que se alimenta da inocência. — Explicou, na tentativa de apaziguá-lo. — Sinto pelos amigos que você perdeu, mas alegro-me que tenha sobrevivido. Pode me dizer em suas palavras o que aconteceu?

Delberth apareceu com uma bandeja com duas bebidas e alguns pães amanteigados acompanhado de castanhas, colocando em cima da mesa. Ao ver o taverneiro, Corvo enxugou as lágrimas, inspirou profundamente e expirou. Suspirou. Resfolegou. Somente quando seu empregador temporário se retirou que começou a contar.

— Eu e meus amigos queríamos apenas brincar. Em poucos meses faríamos um rito de passagem de coragem, e estávamos apenas treinando, visitando cavernas e locais mais perigosos nas montanhas, mas nada que fosse muito longe do que éramos capazes... — Ficou cabisbaixo, com o rosto gordo vermelho de tanto chorar. — Até que... Até que visitamos uma caverna e havia um homem lá. — As lágrimas arderam em sua face, sua voz embargou. — Inicialmente tentamos conversar com ele, mas ele nos atacou e... Fugimos. Um por um cada um de nós foi pego. Era para eu ter sido o primeiro a morrer... Era para o gordo e inútil ter ficado para trás... Mas eu estive com tanto medo que na verdade eu... Eu nem entrei na caverna. — Admitiu, e o mundo saiu de suas costas. — Observei o fim de cada um deles imóvel do lado de fora, sem saber o que fazer. E quando o homem olhou para mim eu... Eu usei tudo o que tinha para correr. Quando voltei para a vila e contei, fui julgado culpado e impuro... Então exilado.

A paladina esteve a todo momento brincando com o copo, girando o conteúdo até aproximar-se da borda, mas nunca deixando-o cair. Quando o pequeno terminou de contar, bebeu lentamente, sendo este o tempo de digerir todas as informações.

— Você teve o vislumbre de um mal que raramente coloca-se a mostra para as pessoas de baixa espiritualidade. Pode tomar isto como um sinal de sorte se for um garoto de fé. — Deixou o copo de lado e voltou a entrelaçar os dedos. — Ou de muito azar, se for cético.

— Você irá me exorcizar? — Perguntou em meio ao choro. Era o pior tipo de dor que sentira em toda a sua vida: A culpa.

— Pelo contrário. — A mulher sorriu. — Irei convidá-lo.

— Convidar...?

— Existe um requisito para unir-se à Ordem da Fênix. — Começou a explicar. — Que é ter tido uma experiência sobrenatural. No meu caso... — Demorou um pouco para completar a frase. Corvo arqueou as sobrancelhas; Até mesmo ela, que utilizava uma gigantesca armadura e espada, parecia ter medo. — Eu sou a última sobrevivente de minha família. Todos foram mortos por um anjo caído... Sou o último grifo.

Corvo olhou seu emblema exposto no peitoral de sua armadura reluzente. O grifo negro da família, ou talvez a cor preta fosse apenas uma representação do luto. Líria percebeu a atenção que Corvo dava para seu brasão e sorriu.

— Todo paladino costuma ter uma alcunha ou símbolo pessoal. Eu adotei o símbolo de minha família. Se você quiser tornar-se um paladino, poderá destruir as sombras que lhe afligem... E ter uma própria heráldica.

Corvo piscou algumas vezes. Como que em costume, levou a ponta dos dedos até seu brinco de pena, acariciando levemente. Talvez fosse o momento perfeito para adquirir suas próprias asas, libertar-se de seu passado, ou até mesmo obter força o bastante para enfrentá-lo. Era sua grande chance de encontrar redenção e provar para todos de sua vila que ele destruiu o mal de anos, e que continuaria os protegendo mesmo que continuasse exilado. Era uma oportunidade de ouro que envolvia mudança, honra e muita fé - coisa que tinha de menos, enquanto sua mãe tinha de mais. Forçou um sorriso.

— O que eu preciso fazer para me tornar da Ordem? — Perguntou, parando por fim de chorar. A paladina do grifo sorriu de orelha a orelha. Sorrindo, ela parecia mais um anjo do que um guerreiro em armadura.

— Precisa se tornar um acólito na sede da Ordem... Ou meu escudeiro.


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Notas finais do capítulo

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