—Você me deve uma explicação. —Emilia disse assim que eu fechei a porta do meu quarto. —Como assim namorando? Eu achei que você gostasse ao menos um pouquinho do Michel.

—Isso é muito mais complicado do que você imagina. —Eu disse me sentando na minha cama enquanto Emilia observava meu quarto atentamente.

Droga! Eu devia ter ouvido minha mãe e limpado aquela bagunça.

—Eu tenho todo tempo do mundo. —Ela disse se sentando na minha cama de frente para mim. —Sabe eu realmente acreditei que você salvaria meu primo dos braços da Thifany.

—Talvez seu primo não queira ser salvo.

Ela refletiu por um instante.

—É talvez. —Ela concordou. —Parece que ela lançou um feitiço nele.

—É eu acho que ela tem cara de macumbeira. —Eu disse gostando da idéia.

-OK, vamos ser sinceras, ele até pode gostar dela, mas eu ainda acho que esse vinculo com a Thifany tem mais haver com a Tia Margareth do que com ele próprio.—Emilia disse refletindo.

—Hã... —Lá estava eu surfando nas batatinhas.

—Tia Margareth acha a Thifany o modelo de garota perfeita para filho dela. —Emilia explicou. Coitada da mãe dele precisava urgente de um oftalmologista. — Sabe depois de tudo que a família dele passou, acho que ele tenta se redimir com a mãe fazendo tudo que ela acha certo, inconscientemente claro.

— Passou?—A Luz da curiosidade brilhou na minha cabeça.

—É drama familiar.—Emilia disse simplesmente, eu detestava suspense.

—Drama?—Lá estava eu tentando fazer a Emilia falar logo.

—O que dizem mesmo sobre a curiosidade....—Emilia disse me provocando.—Ah... A curiosidade matou o gato.

—Mas o que o gato queria saber mesmo?—Eu perguntei debochadamente.

—Eu até de contaria, mas acho que isso é pessoal, se o Michel algum dia quiser te contar.

—Rá.—Eu podia esquecer essa. Mas porque as pessoas tinham essa mania de começar a falar e nunca dizer nada mesmo.

Eu suspirei fundo irritada.

—Tá eu estou sendo egoísta pensando só no que eu queria.—Emilia disse de repente.—Você provavelmente deve gostar do seu novo namorado. Então como ele se chama?

—Eu não tenho um novo namorado. —Eu admiti envergonhada.

—Como?—Emilia pareceu surpresa. —Mas o Michel acabou de dizer...

—Eu menti para ele. —eu a interrompi contando a verdade.

—Oh... —Agora sim ela parecia bem confusa. —Mas isso é maravilhoso. —Ela disse entusiasmada.

—Como assim maravilho?! —Porque eu nunca conhecia pessoas normais.

—Você não vê o que isso quer dizer?—Ela perguntou.

—Que eu sou uma mentirosa.

—Não. —Ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro. —Quer dizer que você realmente gosta do Michel. E só disse isso para provocá-lo.

Bingo. Será que eu tinha que dar alguma coisa por ela ter acertado isso.

—Então qual é o seu plano. —Ela perguntou interessada.

—Plano?
—É como você vai fazer com essa historia de namorado...

—Eu to pedindo ajuda para os universitários. —Eu disse realmente perdida.

Porque é claro que eu sabia que estava muito mais perdida do que minhoca em galinheiro.

—Você não tem um plano?–Ela perguntou se sentando novamente na cama, mas dessa vez parecia bem desanimada.

—Não. —Eu admiti. —Eu não sei por que eu disse isso para ele, quer dizer eu sei, eu não queria ficar por baixo. Orgulho sabe como é?

—É mais logo ele vai descobrir sua mentira. E ai vai ser pior. —Ela me alertou.

— Não se eu realmente estiver namorando. —Eu disse sorrindo maldosamente.

—Ah claro, e como você vai fazer isso?

—Tá eu fui pedida em namoro essa semana, será que isso conta?—Porque eu estava falando aquilo, eu sabia que ia me meter em enrascada por isso.

—Sim, mas não é legal.—Emilia era sempre razoável.—Você deve aceitar porque gosta dele não para provocar o Michel

—É eu sei. —Cara eu nem acredito que tinha pensado em fazer isso, sai espírito do mau.

—Então quem foi o apaixonado da vez?—Emilia perguntou curiosa. —Eu conheço?

—Claro, foi o Max. —Eu disse sem fazer onda eu sabia que Emilia era de confiança.

—O Max. —A Emilia repetiu devagar como se não acreditasse.

—É. — Eu não sabia por que todo o espanto.

—Isso não é uma boa coisa. —Ela murmurou pensativa.

Putz. Será que isso parecia tão absurdo assim?

—Eu precis o ir. —Ela disse abrindo a bolsa e pegando o celular.

—Mas já. —Eu perguntei espantada enquanto ela ligava para Michel.

—É que acabei de me lembrar que preciso fazer algo importante.

—Claro. —Eu concordei sem saber por que toda essa pressa, até parecia que o meu quarto estava fedendo. Tá bom que ele estava um pouco revirado mais não era para tanto né? Ta próxima vez eu ia passar um bom ar antes dela entrar, só para garantir.

—Iza, eu não sei o que aconteceu de verdade entre você e o Michel pra tudo acabar assim, mais pensa bem no que você vai fazer, pra não se magoar e não magoar os outros.

—Ah claro Emi. —Eu sorri não tão confiante como gostaria.

—Ah eu já ia me esquecendo. —Ela disse sorrindo empolgada. —Meu aniversario é daqui a duas semanas, eu pretendo fazer uma festa, você vai não?
—Ah sem chance. —Eu disse já prevendo tudo.

—Eu vou ficar magoada. Ah vai ser divertido, vamos lá. —Emi tentou me convencer.

—Eu vou pensar. —Eu prometi sem entusiasmo.

—Festas é sempre um bom lugar para pintar um clima... —Ela foi interrompida por uma buzina, eu ergui minha cabeça e vi o carro do Michel estacionado na frente de casa.

—É sua carona é super rápida hem?—Eu disse me levantando e acompanhando-a até a saída.

—Desculpa se eu não puder te ajudar. —Ela sorriu timidamente. —Mas eu vou pensar em alguma coisa, então eu te ligo.

—Para com isso. —Eu disse sem prestar muita atenção. O Michel desceu do carro então nos aproximamos.

—Assuntos encerrados por hoje?—O Michel perguntou sorrindo.

—É por hoje esta ótimo..—Emilia respondeu me abraçando.—Pena no que eu te disse.

—Pode deixa.—Eu sussurrei de volta.

Nesse momento o vidro do carro do passageiro foi abaixado. Cara até parecia que eu tinha visto o satanás de loiro. Puta que pariu o que aquela loira anoréxica estava fazendo ali? Era sina do fim do mundo mesmo.

—Emi, será que você pode deixar o sentimentalismo para depois, é que eu estou com pressa. —Ela disse com o maior sorriso do mundo. O trem falso.

—Claro. —Emilia concordou revirando os olhos, e entrando no carro.

—A gente se vê depois. —Eu apenas sorri.

—Tchau Luiza. —O Michel disse sem olhar para mim.

A loira anoréxica sorriu para mim, então seus lábios se movimentaram silenciosamente. E infelizmente eu consegui ler o que ela queria me dizer.

“PERDEU”

E aquele sorriso vitorioso, eu senti vontade de arrancar dente por dente dela. Se o carro não tivesse arrancado naquele momento eu tinha degolado a loira anorexia.