Haunted escrita por Fe Damin


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Mais uma história de presente, dessa vez para as lindas Paulinha Almeida e Cella Black!
Essa é a minha primeira tentativa de escrever o casal Harry e Ginny, pensei que seria muito mais complicado, por não estar acostumada a entrar na mente desses dois, mas acabou que eu realmente me diverti muito. O enredo apareceu de mansinho na minha cabeça e eu completei com a inspiração na música que dá o título à história (leiam a letra, combina direitinho, deixei um pedacinho para vocês no começo do capítulo)
Tentei ao máximo conseguir ser verdadeira com esses personagens, e espero que vocês tenham gostado, meninas! Esse é um presente pequeno se comparado com a amizade de vocês, todas as milhares de horas conversando sobre tudo e nada e o incentivo constante para que eu continue escrevendo (além de terem me dado um empurrãozinho para começar), esse é o meu OBRIGADA!

Espero que vocês gostem também :)



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You and I walk a fragile line

I have known it all this time

but I never thought I’d live to see it break



Tinha algo de muito errado com aquela cena. Era espaço demais, pensei  ao encarar o lado esquerdo da minha cama naquela manhã deprimente de inverno. Por mais que eu estivesse acostumada a dormir sozinha vários dias do mês, não tinha como não estranhar ao pensar que o Harry estava em casa. Mesmo depois de tudo, eu ainda tinha uma esperança teimosa de que ele voltaria atrás, como fizera em todas as outras vezes que nos desentendemos, mas parecia que tínhamos chegado a algum tipo de limite, e sinceramente, eu não sabia como consertar as coisas. Palavras cruéis tinham sido proferidas, de ambas as partes, e eu ainda sentia a marca de cada uma em meu peito. O meu temperamento explosivo não ajudou em minha defesa, que se tornou apenas revidar, transformando o quarto em um campo de guerra. A raiva foi uma péssima conselheira e eu acabei falando coisas que não eram verdade e deixando de lado o óbvio: eu amava o meu marido.

A minha noite não tinha sido boa, todas as lágrimas que eu me recusei a liberar na frente dele, deram o ar da graça assim que ele bateu a porta e separou de vez o nosso contato. Mesmo com uma pontadinha de arrependimento surgindo, eu ainda estava magoada, claro, porém eu era prática o suficiente para saber que nada seria resolvido se eu permanecesse na cama olhando para o teto enquanto o Harry provavelmente dormia no sofá da sala. Levantei respirando fundo e, sem nem me preocupar em trocar a camisola, foi procurá-lo. Sempre que brigávamos, conseguíamos nos convencer em pouco tempo a deixar a mágoa de lado, mas mesmo antes de abrir a porta do quarto, algo me dizia que dessa vez as coisas tinham sido um pouco diferentes.

O espanto que senti ao percorrer o restante do apartamento não conseguiu ser medido em relação a nada que eu já houvesse experimentado antes. Se eu achava que a cama parecia vazia, o que dizer da casa inteira onde o meu marido deveria estar? Cheguei a chamar pelo nome dele, apenas uma tentativa frustrada de ainda me apegar ao impossível. Ele nunca tinha saído de casa assim, e eu me vi agoniada imaginando onde ele teria ido. Meus devaneios foram interrompidos ao ver um bilhete deixado de qualquer jeito na mesa da sala. Eu me apressei a desdobrá-lo e encontrei a caligrafia conhecida do Harry traçando palavras não tão familiares:

“Aceitei a missão do Ministério, volto em uma semana”

Engoli em seco ao reler pela terceira vez o último golpe que ele desferiu. Passado o momento de incredulidade, a raiva chegou arrastando tudo o que viu pelo caminho, já não havia uma gota de remorso dentro de mim. Como ele teve coragem de sair nessa missão quando tinha prometido não ir? O nosso aniversário de casamento seria dali a 5 dias e agora eu teria que passá-lo sozinha. Era impossível aceitar com facilidade que os acontecimentos da noite anterior fossem suficientes para fazê-lo partir sem olhar para trás, deixando de lado um momento que deveria significar muito mais, afinal era o segundo ano em que estávamos realmente juntos.

No entanto, eu sabia que não era bem assim, mesmo não querendo abrir os olhos o suficiente para ver, seria necessário sofrer de cegueira completa para não perceber que as coisas não eram as mesmas. O casal que se conheceu na escola, namorou por tanto tempo e finalmente decidiu se casar,  não parecia tanto assim com o que, no presente momento, estava separado. Não era amor que faltava, se tinha  uma coisa que eu sabia, era o fato de ser completamente apaixonada pelo meu marido, mas isso seria o suficiente? Eu tinha consciência da linha tênue que vinha nos mantendo juntos já há algum tempo, era distância demais por parte dos dois. Ele vivia em missões, como requisitado do chefe da seção de execução das leis mágicas, e eu não podia faltar aos milhares de treinos e jogos fora de casa que a minha carreira proeminente de jogadora de quadribol exigia.

Nós nunca nos enganamos, sabíamos como seria e no começo não houve problemas, porém, onde existe um lugar vago, a tendência é preencher de algum modo e isso acabou causando a última briga. Só de lembrar de tudo o que o Harry havia falado, as acusações cheias de desconfiança, eu  tinha vontade de jogar alguma coisa na parede, de preferência qualquer objeto que ele gostasse muito, porém me contive. A indignação não seria curada assim, o fato é que o meu marido havia quebrado uma promessa e eu nunca esperei uma atitude assim dele, feita deliberadamente para machucar, pois eu tinha certeza de que era o caso.

—Pois se ele quer passar o sábado no meio de uma porcaria de missão, que seja! - esbravejei em voz alta, como se em algum lugar a pessoa para quem eu falava, pudesse ouvir e se dar conta da indiferença, mesmo que completamente fingida.

O dia seguinte ao jogo, uma segunda feira, seria de folga, e eu passei me convencendo de que não ia me importar com a atitude do Harry. Me permiti ficar com raiva, nem pensando mais em quem tinha razão para as palavras que foram atiradas, se ele ia agir como uma criança mimada e fugir, eu podia muito bem me enfurecer, agora ele que teria que pedir desculpas quando voltasse, e era bom que ele elaborasse uma muito boa na semana que passaria fora, eu não estava num humor muito generoso.

Na terça feira, eu me arrumei e cheguei mais cedo do que o normal no campo de treino das Harpias de Holyhead, o time do qual eu fazia parte há uns bons anos. O local ainda estava deserto, o que considerei uma benção, pois assim poderia começar o treino em paz e ocupar a mente com algo que não envolvessem os olhos verdes que me fitaram como se eu fosse uma estranha da última vez que os vi. Além disso, as minhas amigas provavelmente estavam curiosas pela razão que me fez perder a nossa comemoração, e eu não tinha vontade alguma de explicar os detalhes. Claro que eu não conseguiria passar o dia inteiro sozinha, em pouco tempo, o time todo estava reunido e a nossa técnica começou a sequência impiedosa de treinamentos diários.

Eu vi de longe quando o Josh chegou, mas fiz questão de nem confirmar que notei a sua presença, mesmo nas horas em que ele olhou exatamente na minha direção. Eu não queria conversar com ele, uma parte de mim não conseguia deixar de responsabilizá-lo pelo meu atual estado de espírito, e eu não precisava brigar com mais ninguém, pelo menos pelos próximos dias. Entretanto, ele foi mais rápido do que eu e conseguiu me alcançar durante o nosso intervalo.

—Você está me evitando - disse o medibruxo, sério ao bloquear a minha passagem para fora do vestiário.

—Não - declarei seca, eu realmente não queria falar com ele, mas não ia admitir que o estava evitando.

—Isso não foi uma pergunta, Ginny.

—Josh, as coisas ficaram bem complicadas e… - mordi a língua me impedindo de continuar, eu não queria criar outra cena, dessa vez uma que o time todo pudesse ver.

—Desculpa pelo que ele escutou e pelo que ele viu - ele disse sincero, talvez ainda houvesse salvação para a nossa amizade, ele só precisava entender o lugar dele.

—Agora não tem mais jeito - declarei sem transmitir simpatia, se ele precisava de algo para acalmar a sua consciência pesada, não era de mim que ele teria.

—O que aconteceu?

—Eu não quero falar sobre isso.

—Vocês brigaram - o modo como ele assumia saber da minha vida era irritante, tinha sido sempre assim?

—Já disse que não quero falar! - repeti de maneira mais incisiva, o que eu precisava fazer para ele entender? - Agora me dá licença, o treino ainda não acabou.

Eu abri caminho entre ele e a porta e voltei para o meio do campo, os meus sentimentos ainda estavam aflorados demais para que eu conseguisse pensar de maneira imparcial sobre o assunto, e o Josh não estava melhorando em nada. O único lado bom de estar movida a raiva e frustração, era o foco que isso me dava no trabalho, bastava eu imaginar que o pomo era a cara do Harry me olhando com descaso que eu conseguia aumentar ainda mais a minha vontade de esmagá-lo nos dedos. Assim que o treino acabou, eu fui direto para casa, ignorando com afinco todas as tentativas das minhas companheiras de time em começar alguma conversa sobre o meu sumiço no dia anterior

Os dias que se seguiram foram banhados a rotina de treinos e a sessões em que eu remoía a falta do Harry em casa. Quanto mais se aproximava do sábado em que deveríamos comemorar, mais irritada eu ficava. Se eu pensava que os dias conseguiriam apaziguar tudo o que eu sentia, eu me descobri muito enganada. Eu debatia se ele estaria arrependido, se apareceria de surpresa e terminaria com essa que já era a nossa briga mais comprida. Em todos os anos que estávamos juntos, jamais ficamos tanto tempo separados por um desentendimento, e isso doía fundo.

Na sexta feira atingi o meu limite, eu precisava colocar aquilo para fora e extravasar um pouco dos sentimentos que vinham apertando o meu coração. Sem pensar duas vezes, eu saí mais cedo do treino e me dirigi ao escritório da minha melhor amiga, torcendo para que ela não estivesse em uma das milhares de reuniões que constituíam a sua agenda diária.

—Oi Esther, a Mio…. quer dizer a Sra Weasley está disponível? - perguntei à secretária dela, me esforçando para manter o protocolo, por mais que eu achasse aquilo muito estranho, mas eu já havia ganhado muitos olhares feios da senhora que guardava a porta da sala da minha amiga como um cão de guarda, para saber que se eu queria ter uma chance de ser anunciada, era melhor jogar dentro das regras.

—Ela tem uma reunião em meia hora.

—É o suficiente - eu sorri, mesmo sabendo que era mentira.

A cara com a qual a Esther me encarou. dizia que ela não acreditou por nem um segundo, mas mesmo assim ela me deixou passar.

—Oi, Mione? Tem um tempo para sua cunhada preferida? - me sentei na cadeira na frente da mesa dela, antes mesmo de escutar a resposta.

—Claro - ela me olhou por detrás de uma pilha imensa de papéis, com o rosto ligeiramente aturdido, o trabalho não estava tendo pena da minha amiga - vamos só abolir esse cunhada favorita, imagina se a Fleur descobre - ela disse em tom conspiratório.

—Não precisa admitir, eu sei que sou a favorita, nosso segredinho - falei com ares de superioridade o que fez nós duas rirmos.

—O que te trás aqui, Gin? Pensei que você ainda estaria no treino uma hora dessas.

—Ai, Mione… - meu bom humor evaporou.

—Que cara é essa? - ela me olhou preocupada, com um aceno da varinha, se livrou de tudo o que abarrotava a sua mesa e voltou sua atenção toda para mim.

—É o Harry - falei sem nenhuma animação.

—Essa é toda a informação que você vai me dar? - ela arqueou a sobrancelha mediante ao meu silêncio.

Eu fiquei calada pensando em como colocar tudo em palavras, pois eu queria desabafar, mas ao mesmo tempo não tinha nenhuma intenção de reviver o que aconteceu.

—Ele está em missão - expliquei.

—Ah, sim. Recebi o memorando da ida dele na terça, achei meio estranho, mas foi ótimo ele ter ido, essa missão é realmente importante, e ele é o nosso melhor auror - não gostei nenhum pouco de escutar que era bom o meu marido ir embora da forma que foi.

—E você o deixou ir? -tentei conter a pergunta atravessada, pois a minha cunhada não o  tinha obrigado a ir, mas a raiva que eu ainda sentia dele encontrou um substituto por alguns instantes.

—E por que eu não deixaria? É o trabalho dele, e não é como se ele precisasse me pedir permissão - ela se defendeu rapidamente, isso era uma das qualidades da minha cunhada, ela estava acostumada a lidar com os gênios voláteis que existiam à sua volta, sem titubear ela tinha sempre uma resposta, mas aquela não era a que eu queria ouvir.

—Que tal o meu aniversário de casamento? - no mesmo instante ela arregalou os olhos e saiu da pose imponente em que se encontrava.

—Ai, Ginny, eu nem lembrei, todo esse trabalho…. mas como assim ele foi? Quando eu deleguei a missão a ele, ele me disse que não poderia ir porque tinha planos importantes para o sábado, até… - ela parecia confusa, mas se interrompeu antes de completar a frase, me deixando curiosa para saber o que ela quase falou.

—Até o que? - perguntei desconfiada.

—Nada - ela tentou desconversar, mas a Mione nunca tinha sido boa em mentir, os anos não haviam mudado isso.

—Me fala logo, Hermione! - exigi.

Eu tinha plena consciência de que se algum dos meus irmãos estivessem ali, eles jogariam na minha cara que eu estava encarnando a Sra Molly Weasley, mas eu nem me incomodava, ainda mais que surtiu efeito.

—Ele me pediu para guardar uma encomenda - ela respondeu meio sem jeito.

—E o que é? - agora eu estava com a curiosidade atropelando tudo.

—Não sei, Ginny, eu não abri.

—Nem perguntou?

—Não, mas se eu tivesse que chutar, diria que é um presente - ela me olhou daquele jeito que só ela sabia, demonstrando que entendia além do que as palavras podiam dizer.

—Meu presente?

—De quem mais seria? - ela respondeu exasperada.

Aquilo me deixou sem reação, não é que eu não esperava que o Harry fosse fazer alguma surpresa, mas aparentemente ele tinha tudo planejado há dias, e eu era apaixonada o suficiente para amolecer com esse fato. Eu queria mais do que nunca que aquela briga idiota não tivesse acontecido e que pudéssemos comemorar nosso aniversário felizes no dia seguinte. Porém meu desejo não seria atendido, o Harry não estava ali, tinha deixado de lado a importância da data, e não ia ser eu que ficaria me lamentando, por mais que eu estivesse doida para saber o que ele tinha deixado aos cuidados da Mione.

—Porque ele foi, Ginny? - vendo o meu silêncio, a minha cunhada recomeçou a conversa.

—Nós brigamos - confessei, de que adiantava esconder? Não é como se ela não fosse ficar sabendo, esse era o lado ruim de dividir uma melhor amiga com o marido -  e foi feio - completei.

Para minha surpresa, ela não disse nada, apenas se levantou e foi até a porta que ela abriu, para colocar o rosto para fora.

—Esther, cancele a reunião com os representantes do Gringotes - eu a ouvi dizer a sua secretária, que respondeu alguma coisa que eu não entendi - não importa, Esther, agende de novo para semana que vem, aconteceu um imprevisto, eles vão conseguir sobreviver mais alguns dias sem novos feitiços de identificação.

Ela voltou determinada para sua cadeira.

—Mione não precisa cancelar nada por mim, não quero te atrapalhar.

—Bobagem! De que adianta esse trabalho se eu não puder ao menos mudar a minha agenda quando preciso? - ela sorriu convencida e eu agradeci mais uma vez.

—Então me conta, o que aconteceu?

—Não quero falar sobre isso - parecia que essa tinha se tornado a minha resposta padrão para essa pergunta, e nem a cara de insatisfeita da Mione me fez mudar de ideia.

—Se isso é tudo que você vai me dizer, então acho que posso chamar os duendes de volta - ela me repreendeu e eu quase ri ao ver o olhar “profissional” com o qual ela me encarava.

—Como vocês conseguem, Mione? - perguntei, desviando o assunto da briga para algo que eu realmente estava precisando entender.

—Conseguir o que? - ela indagou sem ter a menor ideia do que eu estava falando.

—Essa coisa toda de casamento - eu comecei, tentando explicar da melhor maneira possível -  você e o Ron estão casados há muito mais tempo do que eu e o Harry, como vocês conseguem continuar casados, evitar brigas e…. serem felizes?

—Evitar brigas? Do que você está falando, Ginny? - ela riu com gosto -  Sou eu e o Ron, nós praticamente expressamos o nosso amor com brigas… mais para implicâncias, mas mesmo assim, nós brigamos o tempo todo, mas nós nos amamos.

—Eu também amo o Harry e eu sei que ele me ama, mas...

—Como eu explico… - ela colocou a mão sobre o queixo, entrando no seu modo de “professora” - você sabe que eu amo o seu irmão, a maior parte eu realmente amo, mas mesmo as coisas que eu odeio, eu aprendi a gostar.

—O que? - isso me parecia o cúmulo do absurdo.

—Ele sempre larga a toalha na cama, ou deixa a pasta de dentes aberta, mas é parte do que ele é. Claro que eu tentei mudar isso a princípio, não tem nada a ver comigo, mas você o conhece… então eu aprendi a gostar até disso, as pequenas manias.

—Mas não é isso, não me importo com essas manias dele também, com isso eu consigo lidar, é só que as coisas andam difíceis, ele está sempre longe e eu também, e aí outras pessoas estão por perto e… - interrompi antes de começar a contar a história toda -  e ele deixou só um bilhete rabiscado, saiu bravo com as coisas mais idiotas.

—Distância pesa mesmo, Gin. Hoje o seu irmão me disse que eu passo mais tempo com a minha secretária do que com ele e a Rose e eu sei que ele estava magoado - o olhar dela se encheu de um misto de culpa e tristeza - O Harry está dando o melhor de si, assim como eu.

—Eu sei, Mione - e eu realmente entendia isso, mas era tão errado querer a atenção dele? - mas o jeito que ele foi embora, criando confusão por uma idiotice que não tem nada a ver! - completei irritada novamente ao lembrar.

—Essa briga toda tem relação com alguém de fora? Do time? - eu não respondi, mas ela leu na minha cara - Sabe qual é o problema? Vocês são igualmente teimosos, você pode não querer me dizer, mas já entendi o que aconteceu só pelas histórias que eu lembro de você me contar. E se o que eu penso está certo, essa sua raiva pode ser meio descabida.

—Descabida? - rebati exasperada - Você não ouviu as coisas que ele disse, foi tudo tão absurdo, aquelas conclusões todas.

—Só vou te falar uma palavra: Jenny - às vezes era péssimo ter uma amiga com a memória tão boa e habilidades de dedução melhores ainda.

—Lá vem você - revirei os olhos, demonstrando a minha insatisfação com o caminho daquela conversa.

—Se colocar no lugar do outro não é tão fácil, não é mesmo? Imagina se fosse o reverso?

—Eu não teria pensado tudo o que ele pensou! - me defendi.

—Ah, Ginny, pode parar de papo furado, ciúmes sempre esteve tatuado na sua testa, esqueceu que foram esses ouvidos que escutaram tudo? - fiz uma nota mental de nunca mais contar nada a minha cunhada, apesar de ter certeza de que não a cumpriria.

—Mesmo assim ele não tinha que me deixar de lado e voltar atrás numa promessa, 2 anos de casados não é nada insignificante, ele falou que não iria, Mione!

—Gin, eu não sei os detalhes de tudo, mas tenho certeza de que ele só fez isso porque estava nervoso, esse não é o Harry, você sabe.

Me calei novamente, não querendo entrar no mérito de ter que entender ou não o lado dele.

—Eu quero ver o presente, Mione - falei subitamente.

—Não posso, Gin, ele pediu para eu guardar, nem devia ter te falado.

—Ele tinha que me dar amanhã de qualquer jeito, já que ele não está, eu ganho sozinha - argumentei olhando com determinação para ela, deixando claro que aquele assunto não estava para debate.

—Ai, Gin - ela deixou um suspiro escapar pelos lábios, mas eu sabia que tinha ganhado aquela discussão - tenho que me lembrar de ficar longe dessas discussões, depois sobra para mim.

—Você só está sendo um ótima amiga.

—Pra você, sim - ela não precisava aumentar a frase para eu saber do que ela está falando - vamos logo, então.

Já era final de tarde, então ela se despediu da secretária e fomos até a casa onde ela morava juntamente com o meu irmão e minha sobrinha. Sem demora, ela foi até o quarto e voltou com uma sacola pequena de papel branco.

—Abre pelo menos só amanhã, para eu não me sentir tão culpada.

—Não sei que diferença vai fazer, mas tudo bem - concedi, ela tinha me feito um grande favor, eu conseguiria refrear a minha curiosidade em retorno.

Voltei para minha casa com a conversa que tive com a Mione ecoando nos meus ouvidos. Ela tinha repetido algumas coisas que eu já havia escutado, será que era realmente aquilo? Se a situação fosse inversa, eu agiria como ele agiu? Depois do jantar rápido e sem graça, que era o que eu tinha disponível quando o Harry não cozinhava, eu me sentei no sofá que ainda tinha o travesseiro e o cobertor dele e fiquei encarando a sacola onde estava o meu suposto presente. Comecei a imaginar como eu me sentiria, e passada a pior parte da raiva, com uma boa dose de culpa, fui obrigada admitir que o Harry e a Mione estavam certos, eu provavelmente seria ainda pior do que o Harry. Porém a mágoa não desapareceria tão rápido, ele pode até ter tido razão sobre parte da briga, mas a distância que nos separava ainda era uma ferida aberta. Acabei adormecendo ali mesmo, enrolada no cobertor que permanecia com o cheiro dele.

O sábado já não começou bem, eu acordei desanimada, sentindo mais do que nunca, a falta do meu marido. Não era assim que eu queria que as coisas fossem entre nós, mais dois dias e ele estaria de volta. Eu engoliria boa parte do meu orgulho e nós teríamos que conversar, resolver tudo o que estava de errado, eu só esperava que ele quisesse o mesmo. Me recusei a comer um lanche qualquer e pedi a janta num restaurante, como o Harry havia me ensinado a fazer. Arrumei tudo para o meu pequeno banquete solitário, inclusive adicionando uma taça do vinho que deveríamos ter aberto juntos. O meu presente estava ao meu lado na mesa ainda fechado, acompanhado pela caixa que continha o presente que eu havia comprado para ele. Por alguma razão algo me impedia de abrir a sacolinha branca, como ver um gesto carinhoso fosse me trazer mais sofrimento do que conforto.

Eu ainda ponderava sobre a sensatez em abrir ou não a embalagem quando a campainha tocou. Instantaneamente o meu coração começou a perder o compasso, acelerando junto com a esperança que veio correndo me permitir desejar que a pessoa que chamava a minha atenção fosse realmente a que eu queria ver naquele dia. Levantei com um pulo da cadeira, e num piscar de olhos eu estava destrancando a porta e abrindo-a. Claro que o primeiro indicio deveria ter logo me mostrado que não era o Harry que me aguardava, ele nunca tocou a campainha na vida. Minha cara de decepção com certeza estava visível.

—O que você está fazendo aqui? - o Josh me encarava, com as mãos no bolso e um sorriso sem amarelo no rosto.

—Você está sozinha?

—Eu perguntei primeiro.

—As coisas estão estranhas entre a gente, Ginny - ele explicou insatisfeito.

—Você que está confundindo as coisas - dei de ombros, mas sem perder a seriedade do assunto.

—Mas você está me evitando, não falou comigo a semana toda, não quero que a nossa amizade se estrague com isso - ele me olhava com sinceridade, e eu senti um alívio enorme por parecer que ele finalmente entendeu como as coisas funcionavam

—A nossa amizade não vai se estragar, desde que você entenda que é só isso.

—Eu sei - ele fez uma pausa antes de continuar - não vai me convidar para entrar?

—Acho melhor não, Josh. Hoje não estou num bom dia.

—Então ele realmente não está - fiz uma cara feia com o comentário e ele instantaneamente levantou as mãos - desculpa, não está mais aqui quem falou!

—Tudo bem - eu assenti, apesar de ainda olhá-lo com certa desconfiança.

—Nos vemos no treino.

—Até segunda - ele se inclinou e eu o abracei, me despedindo como sempre, eu realmente queria a amizade dele de volta ao normal, então nada melhor do que agir da maneira habitual.

Ao menos uma parte do meu problema estava resolvido, a parte que sem dúvida era a mais simples. Assim que eu fechei a porta, a falta que eu sentia me atingiu mais forte do que nunca e foi nesse momento em que eu corri em direção ao embrulho que ele havia deixado com a Mione. Eu precisava senti-lo perto, nem que fosse um pouco. Coloquei a mão dentro da sacola e pesquei uma caixinha retangular e fina, feita de material aveludado. Meus dedos estavam meio trêmulos ao apertar o pequeno botão que fez a tampa levantar. Ali dentro estava repousado o colar mais lindo que eu já havia visto. A fina corrente de ouro era adornada por um pingente redondo que representava uma réplica exata de um pomo de ouro, as asinhas finas e delicadas reluziam até parecendo estar em movimento.

Maravilhada com aquele presente, que definitivamente era a minha cara, eu tirei o objeto da embalagem, apenas para descobrir que a bolinha continha um fecho na extremidade inferior. Com delicadeza, eu lidei com o dispositivo e consegui abrir o pingente, as duas metades separadas formavam uma frase, gravada no que eu tinha certeza ser a letra dele.

“Ano 2 do nosso para sempre”

—Ah, Harry - não tive nem tempo de tentar conter as lágrimas.

Em poucos segundos o meu rosto já estava úmido, e a minha respiração marcada por soluços. Lembrei com clareza do nosso casamento, onde ele me disse que aquele era o dia em começava o “para sempre” que teríamos juntos. O presente só agravou a saudade que eu sentia dele, dos olhos que se alegravam ao me ver, do abraço gostoso que só ele tinha, dos beijos que eram os únicos que conseguiam me arrepiar inteira. Ainda lidando com as minhas emoções, passei o cordão pelo meu pescoço e prendi o meu pomo no lugar de onde ele não sairia mais.

Passei os próximos dias numa ansiedade crescente, parecia que a segunda feira se recusava a chegar. Tentei me distrair com o trabalho, mas a todo momento eu só visualizava a hora em que o Harry finalmente estaria de volta, quando nós conversaríamos e deixaríamos aquela briga idiota para trás. Eu e o Josh voltamos ao normal da nossa amizade, porém eu decidi maneirar nas brincadeiras, não era justo com ninguém que continuássemos com aquilo, ele acabou tendo a impressão errada, e eu apenas consegui criar problemas. Me despedi de todos as pressas no dia em que o Harry voltaria e retornei o mais rápido que pude para casa.

Tomei um banho, e me arrumei com roupas confortáveis para esperar que ele chegasse. A antecipação que eu sentia, não me permitiu achar concentração para fazer nada, então apenas fiquei sentada no sofá, rodando com a ponta dos dedos de um lado para o outro, o meu mais novo acessório, que já estava no topo dos meus favoritos. O problema foi que as horas passaram e a porta não se abriu, nenhum estampido de alguém aparatando pode ser ouvido e a cada toque do grande relógio que tínhamos no corredor, eu perdia as esperanças de que ele fosse aparecer, substituindo-as gradativamente por irritação. Mais uma vez eu dormi no sofá, dessa vez a espera do meu marido que não chegou.

Acordei na terça feira decepcionada, ele sempre me avisava se fosse demorar mais do que o previsto em uma missão e dessa vez, eu não recebi uma palavra sequer. O descaso ressuscitou a mágoa que eu tinha conseguido expulsar a muito custo, e os dois dias seguintes que permaneceram no mesmo silêncio por parte dele, trouxeram de volta a raiva. Eu não consegui acreditar que ele simplesmente tivesse ido embora sem me dar a mínima satisfação. Só de pensar que ele tivesse tomado aquilo como um fim definitivo do que tínhamos, eu senti o meu estômago afundar no que estava muito perto de ser um oceano de desespero, mas o orgulho me fez recusar a me deixar levar por esse sentimento, acabei me agarrando à raiva. Se ele tinha realmente ido embora, era bom nem ousar aparecer mais, pois eu não ia ficar esperando sentada como uma dama indefesa.

A minha raiva não durou muito, no entanto, pois no dia seguinte ao chegar em casa, havia uma coruja me esperando. Eu não reconheci o animal, mas o envelope que ela trazia tinha a letra que eu sabia pertencer ao meu marido. O problema foi que a o papel se encontrava rasgado sem nenhuma carta dentro, apenas um pedaço amassado com o começo do meu nome foi transportado pela ave. Aquilo foi o suficiente para  tocar alarmes na minha cabeça, o que tinha naquela carta que não foi entregue? E afinal de contas onde estava o Harry? Não fiquei muito tempo tentando elucidar o assunto sozinha, fui em busca de pessoa mais provável de ter a informação.

—Mione, onde está o Harry? - eu irrompi pelo escritório da minha cunhada, que por sorte estava sozinha, nem me incomodando em ser anunciada dessa vez, a Esther que lidasse com o fato.

—Ele ainda não veio falar comigo depois da missão, Ginny - ela respondeu assim que se recuperou da intrusão inesperada - e não tive tempo de ver os relatórios ainda.

—Ele não voltou - declarei agitada, não consegui nem me sentar

—Como assim? - o interesse dela foi capturado.

—Não apareceu em casa.

—Mas a missão era apenas de uma semana - ela colocou a mão na testa, claramente tentando avaliar as opções - ele já devia estar de volta…

O olhar que ela me lançou me disse que ela havia chegado a mesma conclusão que eu, ele podia simplesmente ter ido embora.

—Primeiro nós perguntamos ao Ron, ele pode saber de alguma coisa - a ideia até que era boa.

Em poucos minutos tínhamos ido até a loja onde meu irmão trabalhava, só para sair de lá com a informação de que o Ron não tinha notícias do Harry desde a última vez que ele voltou de viagem. O próximo passo foi visitar a o departamento que ele chefiava, onde todos os relatos foram os mesmos, ninguém sabia do paradeiro do Harry. Aquilo começou a me deixar profundamente perturbada, ele não desapareceria do mapa assim, o que só podia significar que algo tinha acontecido.

—Clama, Gin - a Mione percebeu o meu nervosismo e tentou remediar a situação - vamos até a minha sala verificar os relatórios da missão.

Era de praxe os aurores enviarem acompanhamentos da missão ao longo da sua execução, dessa maneira o ministério podia ter um bom controle do que estava acontecendo. A Mione requisitou toda a papelada que chegou nas duas últimas semanas, e com seu olhar rápido e eficiente, começou a escanear as informações contidas nas várias pastas. Ao chegar na última, eu sabia que a notícia não era boa, ela parecia hesitante ao me dizer o que havia encontrado.

—Diz logo, Mione - pedi, mesmo que minhas mãos estivessem geladas de apreensão.

—Ele não mandou  a confirmação de que chegou, Gin - as palavras dela eram quase um pedido de desculpa e pareciam não contar toda a história.

—Alguma coisa aconteceu!

—Ele pode só ter esquecido de relatar, acontece as vezes e o Harry não é o mais responsável de todos com papelada.

—Você tem que descobrir o que aconteceu! - eu ignorei completamente o que ela falou, só conseguia me focar no fato de que o meu marido estava sumido numa missão, e que ninguém sabia do seu paradeiro.

—Os relatórios dizem que ele nem chegou ao ponto de encontro, Gin, não tem trilha - então aquela era a verdade, ele nem tinha chegado à encontrar com os outros aurores.

—Você é a ministra da magia! Tem que saber! - eu bati a mão na mesa, gritando como se a culpa do desaparecimento do Harry fosse toda dela.

Eu sabia que estava sendo injusta, mas o medo começou a tomar conta de mim.

—Vai pra casa, Gin eu te aviso assim que souber de alguma coisa, vou mandar um esquadrão agora mesmo para lá - para minha sorte, a Mione me conhecia bem demais para saber que eu não estava realmente brava com ela, pois eu não consegui nem me ater ao fato de que devia desculpas pelo meu comportamento.

—Eu recebi um envelope com a letra dele, estava rasgado, não tinha nada dentro - contei.

—Então ele está bem, só precisamos achá-lo - eu assenti, tentando interiorizar as palavras de conforto que ela me oferecia e falhando - assim que tiver alguma notícia eu te aviso.

Como eu podia simplesmente ficar em casa, quando as possibilidades que rondavam a minha mente chegavam a níveis impossíveis de suportar? Eu me recusei a dar vazão ao meus pensamentos mais obscuros, que me diziam ser possível que uma briga fosse o final do tempo em que eu e o Harry passaríamos juntos, eu tinha que acreditar que ele estava bem. Porém o pânico não seria tão facilmente ignorado. Ele se instalou no meu subconsciente, que já não acreditava que esse desaparecimento tivesse ocorrido de forma voluntária, algo no meu interior me dizia que alguma coisa de fato tinha acontecido.

A Mione apareceu na minha casa aquela noite, mas ao contrário de tudo que eu queria que ela me dissesse, a única coisa que ela tinha a relatar era que o esquadrão de aurores que ela mandou havia se encontrado com os que estavam posicionados na cidade em que o Harry deveria ter chegado e não obtido informação nenhuma, apenas que ele definitivamente não tinha passado por ali.

—E se aconteceu alguma coisa, Mione? - eu respirei fundo, tentando conter o embargo na minha voz.

—É o Harry, Ginny, mesmo que alguma coisa tenha acontecido, ele vai estar bem - eu não conseguia reproduzir a segurança que ela tinha naquela afirmação - você acha que ele sobreviveu duas vezes ao Voldemort, para que qualquer outra coisa o atingisse?

—Ele não é invencível, Mione, por mais que todo mundo ache que é.

—Eu sei que não, mas eu conheço o meu amigo, e de jeito nenhum ele deixaria de voltar para casa quando foi embora sem dizer tchau.

Meu coração se apegou àquela esperança, o Harry voltaria, nossa história não podia terminar em palavras de raiva e descaso, aliás, não podia terminar de jeito nenhum, ele tinha me prometido um “para sempre” e era isso o que eu exigia. A Mione insistiu para que eu fosse trabalhar, dizendo que ficar em casa não me faria nenhum bem, os grupos de busca estavam agindo, tudo o que eu tinha a fazer era esperar, e me manter sã, claro, o que era a parte mais difícil, pois a preocupação corroía cada parte dos meus pensamentos.

Acabei me rendendo à lógica da minha amiga e fui para o treino na sexta feira, o momento não era nem um pouco oportuno, mas a semifinal do campeonato era no dia seguinte. Eu não consegui me concentrar, e tentei de todas as formas me ausentar do jogo, porém estávamos sem substituta para a minha posição. As meninas não sabiam o que estava acontecendo, pois a Mione conseguiu manter fora da imprensa que o bruxo mais famoso do mundo estava desaparecido, como ela tinha conseguido essa proeza já era uma mágica por sí só, então não consegui nenhuma desculpa convincente para faltar. Além de que eu devia a elas isso, era muito importante que ganhássemos esse jogo, nossa única chance de chegar à final.

No sábado de tarde, eu me arrastei até o campo, por sorte o jogo era em casa, sem ter muita ideia de como consegui chegar até lá. A minha noite tinha sido em claro, virando de um lado para o outro da cama e repetindo baixinho que ele estava bem, falei vezes o suficiente para me fazer acreditar naquela afirmação, porém não consegui me convencer, eu precisava vê-lo com os meus olhos, tocá-lo com a ponta dos meus dedos, para que o meu coração pudesse voltar a bater normalmente, e não com o aperto que não me abandonou desde o instante em que eu recebi aquele envelope.

Eu não consegui comparecer de fato no jogo, a preocupação me distraia, prejudicando a procura que eu deveria estar fazendo pelo pomo. As meninas estavam jogando bem, abrimos uma grande vantagem, só dependia de mim o término do jogo. Apertei os olhos, me forçando a esquecer os problemas que estavam fora do campo. Comecei a executar algumas manobras clássicas a fim de percorrer a maior distância possível e achar logo o pomo. Porém ele estava se mostrando especialmente difícil aquele dia. Desviei por um triz de um balaço que passou raspando a minha orelha, e isso, aliada a minha distração, me fez perder o exato momento em que a apanhadora adversária mergulhou em direção a um ponto específico do arena. Me focando rapidamente na trajetória dela, eu avistei o pontinho dourado que tinha que ser capturado por mim. Eu precisava terminar aquele jogo, sair dali o mais rápido possível, então sem prestar atenção alguma ao meu entorno, eu dei uma guinada na vassoura e fui em velocidade máxima garantir que eu voltaria logo para casa. Eu estava mais perto do pomo, então consegui alcançá-lo primeiro, meus dedos se fecharam em torno da bolinha, contudo, eu me encontrava tão dispersa que não percebi o balaço que veio em cheio na minha direção acertando sem piedade a minha cabeça, o jogo tinha terminado, levando consigo a minha consciência.

Acordei com a minha cabeça explodindo e sem noção nenhuma de onde eu estava, ou quanto tempo eu havia dormido. Machucados eram comuns na minha linha de trabalho, porém eu não me recordava de ter sentido tanta dor antes. Aos poucos a minha visão foi se focando, e eu percebi que estava na minha casa, mais precisamente na minha cama.

—Finalmente você acordou! - a voz preocupada, que me alcançou vinda da cadeira ao meu lado, atingiu os meu ouvidos alta demais e eu resmunguei em resposta.

—Você assustou todo mundo dessa vez, Ginny! - o Josh continuou em tom mais baixo - como está se sentindo?

—Estourada - falei de modo sucinto - como eu cheguei até aqui?

—Eu te trouxe, estava muito agitado lá no campo, e eu não podia usar nenhum feitiço a mais antes de saber como você está.

—Já pode usar agora! - balancei de leve a mão, indicando que ele devia dar um jeito naquela dor toda.

—Só está sentindo dor? Consegue ver, se mexer? - eu confirmei - ok - ele murmurou algumas palavras e eu senti a dor se diluindo, virando apenas um pequeno incômodo no fundo da minha cabeça.

—Obrigada - ele me ajudou a sentar, por mais que tenha me recomendado repouso por mais algum tempo - já estou ótima - rebati e ele nem tentou me contrariar.

—Quer que eu fique mais um pouco, Ginny? Pra se você precisar de alguma coisa? - as palavras dele me trouxeram de volta para a minha coleção pessoal de desespero, me recordando de que eu só estava sozinha porque o Harry ainda estava sumido.

—Não Josh, pode ir, obrigada - a verdade era que eu queria ficar sozinha, a única pessoa que eu ficaria feliz em ver, não era nem de longe ele.

—Tem certeza? - ele perguntou ainda preocupado.

—Tenho, vamos, eu te levo até a porta.

—Não precisa se levantar, eu tranco quando sair, vou só pegar a minhas coisas que deixei na sala e vou.

Eu aceitei a oferta e permanecei deitada, escutei quando ele fechou a porta alguns minutos depois. Tentei fazer como ele recomendou e descansar, porém a minha mente não conseguia parar de trabalhar. Eu acabei desistindo e indo tomar um banho, aquilo me ajudaria a tirar todo o peso do jogo de mim. Saí do box e juntei uma combinação qualquer de roupas, eu estava tentando dar um jeito no emaranhado que eram os meus cabelos, quando ouvi um barulho vindo da sala. A porta! Era a porta que tinha se aberto. Passos se seguiram e eu não consegui mais ficar no lugar. Ignorando o desconforto e o estado de desalinho em que me encontrava, eu corri para a sala.

Ali, no meio do cômodo, estava o meu marido, e foi a visão mais bonita que eu podia esperar. Não registrei nada além do fato de que ele estava inteiro ao alcance dos meus olhos.

—Harry! - eu gritei eufórica indo em sua direção, apenas para paralisar a alguns passos dele ao ver o seu olhar.

Alguma coisa tinha tornado aqueles olhos duas pedras de gelo. Eu engasguei ao ver que ele estava todo machucado e tentei me aproximar, porém, ele apenas levantou a mão esquerda onde um cachecol estava preso entre os seus dedos. O entendimento me acertou em cheio, aquele acessório, claramente masculino, tinha as inciais do Josh, bem como o símbolo dos medibruxos. Provavelmente ele tinha esquecido em algum lugar onde deixou as coisas ao me atender. O Harry não levou mais de dois segundos para entender a quem pertencia, e a tirar novamente a as conclusões erradas.

—Ele esteve aqui - foi tudo o que ele disse, o tom uma afirmação amarga.

—Harry… - eu não ia deixá-lo interpretar tudo errado novamente.

—Harry o que? - o olhar dele estava magoado.

—Dessa vez você vai me escutar direito - exigi.

—Estou cansado, de novo a mesma história - ele deu um passo para trás, e eu vi como a cor tinha sumido das suas feições, ele jogou o cachecol longe como se fosse um objeto amaldiçoado.

—Não tem história nenhuma! - eu tinha que tentar ser mais sensível, mas tudo o que eu queria era me agarrar ao pescoço dele e não largar nunca mais, eu queria o sorriso dele de volta.

—Ginny… - ele levantou os olhos em minha direção e ao chamar o meu nome, eu achei que tivesse conseguido uma brecha na armadura de mágoa que ele estava usando, no entanto as coisas fugiram rapidamente do meu controle.

Antes que eu pudesse sequer reagir, ele fechou os olhos e caiu sem hesitação no chão. Eu achava que já tinha passado por todo o nervosismo do mundo ao não saber onde ele estava, mas nada me preparou para vê-lo simplesmente desabar na minha frente.

 


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Notas finais do capítulo

E agora? O Harry voltou, mas parece que tudo ficou mais complicado ainda.... O que será que aconteceu para gerar essa briga? Não se preocupem que vocês descobrem tudo na parte final da história :)
Mas me digam o que vocês acharam! Adoro ler os comentários de vocês, principalmente para saber como ficou esse casal que eu nunca me aventurei a escrever antes.
Bjus



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