Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridas.
Tive um dia cheio hoje, com cinco primos aqui, mais João, meu sobrinho.
Um barulho só. Eu até tinha esquecido que hoje é dez.
Mesmo sendo "feriado" na minha cidade. Entre aspas porque só funciona para escola e alguns estabelecimentos específicos.
Esse capítulo se fez necessário, para que enfim, possamos voltar a Londres, foco da história, onde tudo vai ser definitivo.

Sem mais, boa leitura.



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Eu me espreguiço, sentindo minhas pernas fraquejarem. O motivo disso? Pulei corda com as crianças até a hora do jantar. Eu sorrio. O dia foi tão maravilhoso e eu me senti tão bem com todos ali que, apesar de mal ter parado, eu tirei centenas de fotos. Fui marcada em tantas no Instagram, postei outras tantas, que nem mesmo os tios de Damon se safaram dos cliques. Depois do almoço, enquanto descansava, eu conversei um pouco com os avós dele, de ambas as famílias e eu nunca senti tanto amor na minha vida quanto naquele momento. Hoje, eu vou acompanhar Damon na GAT e tentar fazer algo da CCC. Por isso, eu nem vou ligar para o Harry agora.

Eu saio da cama, do quarto, lavo o rosto e volto. Como minhas roupas já estão devidamente arrumadas no armário, eu pego uma jeans clara e justa, uma camisa branca com listras azuis e um blazer branco. Visto-me, deixando a última peça sobre a cama, calço os tênis também brancos e saio do quarto outra vez, indo para a cozinha dessa.

— Bom dia, Laila. — Valerie sorri para mim, enquanto arruma a mesa.

— Bom dia, Valerie. — Sorrio de volta.

— Como foi o dia ontem?

— Melhor impossível. — Eu olho Jamal diante da entrada da cozinha. — Bom dia.

— Bom dia, senhorita Vidal.

Eu ajudo Valerie terminar de arrumar e Damon entra, nos desejando bom dia, completamente de preto. Pelo amor de Deus, esse homem precisa voltar com Emily. Estou quase procurando um método de resolver isso, porque é lindo demais.

Sentamo-nos à mesa, tomamos nosso café da manhã comentando sobre o dia de ontem e ao fim, eu volto ao quarto. Pego meu nécessaire, escovo os dentes e termino de me arrumar. Visto o blazer, arrumo os cabelos, a bolsa, pego meu smartphone, notebook, óculos escuros e saio.

Encontro Damon na sala, me despeço do Bob, da Valerie e nós saímos. Na garagem, entramos no Chrysler e somos levados para a empresa que Damon tem em sociedade com o Harry daqui.

— Falou com Harry? — Ele questiona e eu nego.

— Ainda não. Eu vou falar na empresa, pois quero trabalhar.

O toque do smartphone dele ecoa e Damon o pega, olhando a tela.

— Oi, Camila. — Ele atende.

Assim que chegamos ao andar da presidência, Damon é colocado a par da sua agenda. Ele me acomoda à sua mesa, na parte mais estreita. O escritório dele é lindo, tendo meia parede de vidro, justamente atrás da mesa da sua secretária. A dele é em L e eu abro meu notebook na parte mais estreita e ligo.

Observo os porta-retratos, enquanto o loiro se prepara para ir a uma reunião. E assim que ele sai, eu pego o que tem ele, Summer e Emily. Até parece que eles são os pais da menina. Eu coloco no lugar e pego o que está somente o casal.

— Eles formam um casal tão lindo, não é? — Questiona Paige. Eu a olho e a encontro diante da porta e eu concordo, devolvendo o porta-retratos. — Damon já foi para a reunião?

— Sim.

— Obrigada.

Paige sai e eu abro meu Skype. Harry me chama de imediato.

— Meu Doce! Que saudades de você.

— Nem me fala de saudades. — Faço beicinho e ele sorri imensamente. — Como você está?

— Além de morrendo de saudades de você, eu estou bem, obrigado e você?

— Igualmente.

— E como foi o dia ontem?

Eu desato a tagarelar, então lembro que Harry está na empresa e eu também.

— Depois eu te conto mais coisas. Eu preciso que me mande alguma coisa para fazer.

— Cadê Damon?

— Numa reunião.

— Eu vou ver o que tenho por aqui.

***

Damon entra no escritório, depois de quase duas horas de reunião. Eu estou entretida no meu trabalho, fazendo as devidas retificações no contrato que Harry me enviou por e-mail. Claro que ele poderia fazer, mas tinha uma reunião com o pessoal responsável por uma construção em Londres, então eu não medi esforços. Ainda falei com George, brevemente. Damon levanta e vai até a porta e eu olho, encontrando Logan.

— O que você faz aqui? — Ouço-o questionar e salvo meu arquivo, enviando para Harry em seguida, após o finalizar. — Você não costuma vir aqui a essa hora. Aconteceu algo com vovô?

E prendo a respiração.

— Eu vou deixá-los.

— Você pode ficar — diz Logan. — Papai faleceu.

Meus olhos marejam de imediato e eu permito que minhas lágrimas escorram. Escondo o rosto em mãos, tentando parecer mais firme e conter o choro, mas é impossível. Tento secar as lágrimas, mas elas não param.

— Ele... vovô faleceu?

Damon abraça ao pai, que chora e me chama. Eu escondo o rosto em suas costelas. Ele afaga minhas costas, como se tentasse me conformar, mas essa perda, por mais que não seja de alguém da minha família, é dolorosa.

Sem contar que é difícil de acreditar. Ontem Casper parecia tão bem. Damon afaga meus cabelos.

— Damon? — Questiona Jodie e eu continuo chorando.

— Traga dois chás calmantes, por favor.

— Co-com foi isso, senhor Lundgren? — Eu me pego questionando, tentando conter as lágrimas.

— Ele não acordou — diz, simplesmente. — Chamamos a ambulância, mas já era tarde até mesmo para tentar fazer algo, então, devem estar fazendo a autópsia.

— E vovó? — Damon questiona, preocupado.

— Parece ter aceitado melhor do que qualquer um.

Jodie aparece com uma bandeja com três xícaras. Damon me serve e ao pai. Eu bebo, querendo me acalmar um pouco, mas as lembranças do dia de ontem me vêm à mente. Eu lembro do que conversei com todos os avós de Damon, de o quanto foram carinhosos comigo.

— Feche a empresa hoje e amanhã — diz Damon.

— Como o senhor desejar. Eu sinto muito. — Jodie lamenta.

— Obrigado.

— Com licença. — Ela se afasta e eu fito o chá de camomila.

— Quando vai ser o funeral?

— Vamos fazer um velório representativo. Seu avô vai ser cremado amanhã pela manhã. Holly e Frederick já foram avisados e ela disse que vai falar com Harry para que faça companhia a Laila.

Harry.

— Ei. — Damon se coloca à minha frente. — Essas coisas acontecem, Laila.

— Eu passei tão pouco tempo ao lado dele. — Lamento.

— A vida é assim mesmo, Laila — diz o senhor Lundgren. — Eu passei a vida inteira e não estou nem um pouco feliz com isso.

— Vamos. Temos muito que fazer.

Saímos os três do escritório e eu deixo a xícara com Jodie.

***

Ao sair do carro do pai do Damon e me apresso até Summer. Minha maior preocupação desde que eu soube da notícia. Eu e pego nos braços, sem me importar com o seu peso e tamanho e ela esconde o rosto na curva do meu pescoço. Eu volto a chorar, me acomodando entre as crianças. Katherine está com o irmão, que fala com alguém ao smartphone. Eu tento confortar as crianças e para isso, me esforço ao máximo a me acalmar.

— Por que ele se foi? — Summer questiona.

— Casper estava cansado, querida. — Eu sento no banco com Summer no colo. — Ele participou de uma guerra. — Coloco seu cabelo atrás da sua orelha. — Eu estou sentindo muito, amor, mas não podemos fazer nada com relação a isso.

— É tão triste. Ele nem vai ver meu irmãozinho.

— Eu sinto muito, querida.

A quantidade de pessoas que começa a chegar é impressionante. Talvez a morte do Casper Lundgren esteja tendo essa visibilidade toda porque servira ao exército norte-americano, bem como a sua esposa. Foi um cargo alto.

***

Eu almocei a contragosto. Não estava sentindo um indício sequer de fome, mas, como saco vazio não para em pé e eu preciso me manter em tal posição, engoli sem sentir o gosto, apesar de eu saber que estava tudo maravilhoso. Meu nariz está congestionado, meus olhos, pesados, mas como a última coisa que eu quero, é descansar, eu estou me esforçando ao máximo para aparentar bem-estar.

Charlotte realmente parece conformada. Bem como todos os da sua família, exceto as crianças. Casper era o maior contador de história que elas conheciam e eu permaneço com elas, lembrando de algumas que ele contou. Elas me parecem melhores, narrando e interpretado.

— Ei, menina. — Chama Elena Champoudry, para a minha surpresa de modo parcial. — Vem aqui.

Eu me levanto num sobressalto e me apresso até a loira, mas, como eu sou desastrada, consigo tropeçar nos meus pés. Abraço Elena. Alguém afaga meus cabelos e eu não tenho ideia de quem fez, pois continuo nos braços da loira. Tento me acalmar e me afasto.

— É como se eu tivesse perdido alguém da família. — Fungo.

— Vovô te considerava parte dela, Laila. — Damon afaga meus cabelos e eu o olho.

— Você ainda não chorou?! — Eu me preocupo. — Damon!

— O que foi? — Ele franze o cenho.

— Isso não faz bem. Precisa colocar para fora.

— Fica tranquila. Eu vou fazer.

***

Esse dia está passando devagar demais e eu acho que é culpa da minha ansiedade para ver Harry, depois de uma semana longe dele. São cinco meses de convívio. Viemos para o apartamento do Damon há alguns minutos e eu estou com Elena no quarto de hóspedes. Ela e o namorado foram chamados para dormir na fazenda do pai do Damon, bem como o pessoal que está vindo de Londres. Claro que eu falei com meus pais, chorei mais um pouco e agora, eu converso com a loira sobre o dia de ontem.

— Mas, e aí, como está o pai do Benjamin? — Questiono.

— Foi, realmente, somente um susto. Eu só não poderia o deixar sozinho.

— De maneira alguma. Vocês se amam demais. — Eu aperto a ponte do nariz.

— Está com dor de cabeça?

— Muita. — Faço uma careta.

— Ainda vai a Paris?

— Se eu não for atrapalhar...

— De maneira alguma. Eu insisto, viu?

Duas batidas na porta ecoam pelo quarto e eu levanto da cama e abro, encontrando Damon.

— Vamos jantar. — Ele chama.

— Eu não estou com fome.

— Você precisa, Laila.

— E você precisa chorar e não fez até agra. — Cruzo os braços, a fim de o desafiar. — Tem medo?

— De maneira alguma. — Damon nega com a cabeça.

— Desculpa. — Abraço-o, voltando a chorar, preocupada com ele e tantas coisas envolvendo esse triste dia. — Minha cabeça vai explodir.

— Venha comer algo. Depois eu te dou um medicamento para a sua dor.

Elena passa por nós dois e nós vamos para a sala de jantar. Acomodamo-nos à mesa e fazemos a refeição num silêncio ensurdecedor.

— Obrigada pelo jantar, Valerie — diz Elena, quando terminamos de comer a sobremesa. — Estava divino.

— Eu quem agradeço.

— Depois eu quero a receita desse frango.

— Eu lhe darei com o maior prazer. — Val sorri imensamente.

Saímos da mesa e nos sentamos na sala de estar. Bob se senta no meu colo e eu lhe faço carinhos. Claro que ele foi afetado pelo nosso estado de espírito atual.

— Quando quiserem ir à fazenda, avisem. Meu último dia como esse tem vinte anos e eu não sabia como lidar com perdas tão bem quanto hoje.

— Estamos bem, não é? — A loira olha o Benjamin e ele concorda.

— E o seu pai? — Damon questiona. — Como ele está?

— Bem. Foi somente um susto. Obrigado por perguntar.

— É o mínimo.

— O pessoal de Londres está vindo? — Elena indaga e Damon concorda.

— Eu só quero que esse dia termine. — Ele aperta a ponte do nariz. — Eu vou tomar um banho. Estou exausto.

— Vai lá. — Ela incentiva e ele levanta.

— Com licença.

Damon sai da sala e Valerie me oferece um pote de comprimido. Eu pego um, o copo de água que ela segura e ingiro.

— Obrigada, Val.

— Não precisa agradecer, querida. Descanse um pouco.

Elena coloca uma almofada no colo e dá uma batidinha, me convidando. Eu não resisto e me deito, com Bob próximo a mim, fechando os olhos.

***

— Como ela está? — Ouço Harry questionar e abro os olhos de imediato.

— Harry! — Eu sento, levanto e vou até ele, sendo incrivelmente bem recebida em seus braços. Eu enfio o nariz no seu pescoço, me deleitando com o seu perfume e sentindo como se estivesse sendo reconfortada somente por isso. — Ah, Harry. — Meus olhos marejam, enquanto ele faz um carinho em meus cabelos.

— Eu estou aqui, meu doce — murmura. — Eu estou aqui. Vai ficar tudo bem.

Eu o abraço firme.

— Que bom que você está aqui. — Eu me afasto para olhar em seus olhos escuros. — Desculpe por tê-lo feito cruzar o oceano dessa forma.

— Não precisa pedir desculpa. — Ele coloca meu cabelo atrás da orelha. — Eu cruzaria quantos oceanos fossem preciso para estar ao seu lado. — E beija a minha testa.

Eu fecho os olhos e inspiro fundo.

— Eu amo você. — Colo minha testa contra a sua e ele afaga minha maçã.

— Eu amo você.

Cumprimento Holly e Fred e nós nos acomodamos no pequeno apartamento. Eu poderia me fundir com Harry, mas somente por estar ao lado dele, eu me sinto muito melhor e o cochilo que eu tirei tem uma parcela de responsabilidade.

Holly fica diante da entrada da cozinha, conversando com Valerie sobre Damon.

— Ele ainda não saiu? — A loira questiona. — Pelo amor de Deus. Eu vou lá. — E antes que ela se mova, Damon aparece. — Eu sinto tanto. — Ela o abraça. — Isso, querido, coloque para fora.

Eu suspiro, aliviada e me sinto relaxar. Estava quase surtando com essa de Damon não ter chorado o dia inteiro.

— Você está bem? — Harry murmura e eu concordo.

— Estou — digo, no mesmo tom.

Ele coloca um braço sobre meus ombros e afaga um, me relaxando ainda mais. Eu fico ali, me deleitando com todas as sensações. Eu poderia voltar a dormir, mas aposto que o pessoal deve estar mais cansado do que eu. Mais de quinze horas de voo, somado a fuso horário e uma notícia triste dessa é para acabar com o estado de qualquer pessoa. Jamais negaria isso.

— Está melhor? — Ouço Elena questionar e desperto.

— Demorei para externar, mas fiz. — Damon responde. — Só é inaceitável.

— Tem quase vinte anos que eu perdi minha mãe e eu ainda não aceitei, Damon. Tem momentos em que eu me questiono como seria minha vida se ela ainda estivesse aqui. Então, é totalmente compreensível que não esteja aceitando.

— Que idiotice da minha parte. — Ele seca as lágrimas. — Tem esse mesmo tempo que eu perdi minha mãe também.

— Tome, querido — diz Valerie, oferecendo uma xícara e lenço ao anfitrião.

— Ainda está aqui? — Ele pega o último, seca as lágrimas e limpa o nariz.

— Não se preocupe comigo. — Ela oferece a xícara outra vez e Damon enfia o lenço no bolso da calça e pega. — Vocês desejam comer algo? Eu preparei um lanchinho. Venham.

Harry e Fred o cumprimentam e vão com Holly para a cozinha. Damon senta ao meu lado.

— Como se sente? — Ele me pede a mão e eu coloco sobre sua palma.

— Menos triste. Que bom que externou. — Sorrio minimamente.

Damon concorda e beberica o que quer que esteja dentro da xícara. Eu sinto o cheiro de camomila.

Após o lanche do pessoal, nos organizamos para poder ir à fazenda Lundgren, onde o pessoal que chegou agora, mais Elena e Benjamin, vão dormir. Eu poderia ficar lá também, mas minha preocupação é com Damon, que está ao volante, com Holly ao seu lado. O caminho até lá poderia ser silencioso, se ele não tivesse ligado para o pai e Emily não tivesse dado sinal de vida.

Apesar de não a conhecer pessoalmente, estou chateada com ela, por haver uma possibilidade de estar grávida e escondendo isso de Damon.


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Notas finais do capítulo

Acho que vai ser mais um fim de semana sem internet.
Vejo vocês assim que eu me organizar e fazer o próximo capítulo.
Até mais.



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