Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 31
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridas.
Mesmo com o dedo machucado, eu vim aqui.
Para quem não lê Sempre Na Minha Mente, que eu acabo de atualizar, eu tive uma tarde estressante ontem e finalizei com uma queimadura de segundo grau no indicador direito.
Doeu como o inferno.

Sem mais, boa leitura.



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Apesar de ter decidido tudo de última hora, a ida à casa noturna de sempre foi maravilhosa, exceto pela parte em que Harry resolveu me interrogar. O ponto alto da noite foi quando ele me disse que havia terminado com Olivia. Ela passara dos limites, mas eu não me importei em saber o que ele quis dizer com isso. Eu sei que não deveria ficar feliz. Eu não estou, totalmente, todavia, saber que ela finalmente saiu do meu caminho, é bom demais para ser verdade. Olivia tem algo que não me agrada e não é porque Harry e ela estavam juntos. A personalidade dela me incomoda. A reação dela diante do que aconteceu na casa do Harry, o fato de ela ter me xingado...

Duas batidas contra a porta me fazem olhar na sua direção. Eu realmente dormi na cobertura do Damon e estou no quarto de hóspedes, com Bob ao meu lado e eu não poderia ter companhia melhor. Não tenho noção das horas e nem mesmo recebendo diversas notificações no meu smartphone, eu o peguei.

— Entre — digo e a porta é aberta.

Damon me parece sonolento e caralho, ele é lindo demais. Se não fosse tão apaixonado pela Emily, sem dúvidas eu daria em cima dele ou roubaria um beijo, pelo menos. Ou tentaria. Ou não. Eu não tenho essa coragem toda. Mas talvez tivesse. Qual é? Foca nesses olhos levemente inchados e azuis. Não que a cor seja mais linda do que as demais, mas fica tão bem nele que eu sei que desconcerta centenas de mulheres. Esse sorriso preguiçoso acelera o coração de qualquer mulher, eu aposto. Sentir essa barba roçando por qualquer parte do corpo deve deixar a calcinha úmida.

— Bom dia. — Ele amplia ainda mais, me desconcentrando.

— Bo-bom dia. — Dou sorriso tímido.

— Dormiu bem? — E se recosta contra a parede ao lado da porta e eu concordo.

— Perfeitamente bem, obrigada. — Eu sento e Bob se acomoda em meu colo. — E você?

— Também, obrigado O folgado deu espaço? — Ele cruza os braços.

— Sim. — Sorrio e afago a cabeça do filhote. — Melhor companhia.

Damon está sem camisa e eu tento manter os olhos nos seus. A sua calça moletom é preta, destacando ainda mais a sua pele alva.

— Eu vou preparar algo para comermos. — Ele se vira, sai do quarto e fecha a porta atrás de si.

— Bob. — Eu chamo, baixinho e ele me olha. — É sempre assim, não é? Sempre que alguma mulher o vê? Ainda mais sem camisa? Socorro! — Eu deito outra vez e me agarro ao filhote de coleira preta.

Até que eu decido ir ajudar, afinal, Damon me acolheu aqui quando mais precisei. Eu aproveito estar de pijama decente para sair do jeito que estou, então lavo apenas o meu rosto para me livrar das secreções no canto interno dos olhos. Seco o rosto, pego o elástico do nécessaire que deixei aqui e prendo os fios num rabo de cavalo.

Calço minhas pantufas, abro a porta e assobio para que Bob me siga. Desço a escada e entro na cozinha, ouvindo não apenas o som das unhas do cachorro contra a madeira, como também o de algo batendo contra o vidro. Vejo Damon de camiseta preta, com os cabelos bagunçados, de costas, batendo algo.

Bob passa por ele, indo ao que acho ser a área de serviço e o loiro se vira, revelando estar com um fouet em mãos, preparando o que eu acho ser massa para omelete.

— Está tudo bem?

— Vim ajudar. Eu não sou a melhor cozinheira que você respeita, mas não acho que posso ficar de braços cruzados enquanto você trabalha.

— Então prepara as torradas, por favor?

— Claro. — Eu me aproximo da pia para lavar as mãos. — Aqui é lindo e imenso.

— Seu apartamento tem um bom tamanho. Eu nem sei porque comprei esse lugar.

— Eu amo meu apartamento. — Pego o pão que está embalado sobre a mesa e inicio.

A cozinha é lindíssima e muito bem equipada. Parece ser coisa de restaurante e eu me surpreenderia totalmente se não tivesse visto algo dessa grandeza na casa dos meus pais. É branca, ampla, confortável e eu não me importaria nem um pouco de passar o dia todo cozinhando. Deve ter, pelo menos, três vezes o tamanho da minha. Esse apartamento é de oito a nove vezes o tamanho do meu.

— Eu gosto. O lado ruim é que muita coisa me lembra o pouco tempo que Emily e eu estivemos aqui.

— Foi no aniversário da sua empresa, eu suponho. — Coloco dois pães na torradeira.

— Sim. — Ele concorda, preparando a omelete.

— Você ainda a ama?

— Demais, Laila. Sexta-feira eu falei com ela.

— Mesmo?

— É. Foi seu aniversário. Ela me deixou extremamente confuso. Disse que só faltava eu lá. Como se eu fosse a cereja do seu bolo.

E eu aposto que você é. Eu dou um gritinho quando o som de que as torradas estão prontas soa.

— Desculpa. — Eu pego uma e coloco num prato. — Eu entendo como se sentiu.

— E você e Harry?

Eu o olho e encontro seus lindos olhos em mim.

— Eu não sei. Eu o amo tanto, sabe? Quase o tanto quanto a mim, mas o amor que eu tenho por mim é ainda maior para que eu me permita ficar sofrendo.

— Você sabe que esse amor não é fraterno, não sabe? — Damon coloca as omeletes num prato e este sobre a mesa.

— O que quer dizer?

— Laila, eu entendo que você seja desligada e talvez não seja coisa de signo. Vamos deixar esse seu excesso de peixes no mapa de lado por um momento, está bem?

— Sim. — Concordo.

— Então, eu não sei se percebeu. Eu não queria estar te contando isso, mas parece que Harry é teimoso demais para admitir e você, ingênua demais para perceber. — Ele escolhe algumas laranjas do cesto e começa a amassar um pouco na mão. — Eu demorei a dar o braço a torcer com relação a Emily. Eu sabia que já estava apaixonado porque, no instante em que eu a vi, eu já a quis. Era algo canal, de início. Queria só transar com ela numa baia qualquer, a ouvir gemer o meu nome... Estou falando isso porque, apesar de ser virgem, você é adulta e madura o suficiente para me entender.

— Continue.

— Então. Eu cheguei a passar duas semanas sem a ver, cheio de trabalho e problemas para resolver e foi foda. Quando eu a vi, eu descobri que era disso que eu precisava para ficar bem e então demos o nosso primeiro beijo. Nesse instante, eu senti algo dentro de mim nunca experimentado antes. E desse dia em diante, eu passei a ter uma ligação muito intensa com ela. Demorei duas semanas, mas vocês estão demorando demais. Talvez esse tempo que você vai ficar na França resolva esse mal-entendido.

— Está me dizendo que eu amo o Harry como homem? Tipo, para me relacionar e tal?

— Você ainda não percebeu?

Eu mordo o lábio inferior, ponderando suas palavras.

— Vamos deixar esse tempo de distância resolver as pendências — digo, por fim. — Obrigada por me contar isso.

— Foi doloroso, devo admitir, mas é sempre bom lembrar o que vivi ao lado da mulher maravilhosa e que eu tanto amo.

Eu sorrio e volto à atividade, enquanto ele espreme laranjas manualmente.

***

— Eu espero que essa seja a última vez, Harry. Sério. Eu estou cansada de ficar dessa forma.

— Eu prometo que vou fazer o possível, Laila. Eu te amo demais para agir como se eu não me importasse.

Harry me abraça, diante da porta da casa dos Carter e eu sinto meus músculos relaxarem. Eu tive um café da manhã maravilhoso com Damon, ouvindo mais sobre seu relacionamento com Emily. Fiquei extremamente curiosa com o que ele falou de “ligação”. E ele me contou que só se sentia seguro e confiante nos braços dela, por isso só conseguia dormir com ela e que hoje em dia precisa de medicamentos para tal. O que é lamentável, mas Damon me garantiu que deu um tempo no sonífero, depois de conversar com sua psicóloga e que agora só toma o chá que sugeri e tenta relaxar ao som de música clássica.

— Ah, que maravilha ver vocês dois assim — diz mamãe e Harry e eu nos afastamos somente o suficiente para a olhar. — Pelo amor que sentem por mim, não briguem outra vez, por favor.

— Eu prometo, mãe. — Harry beija a sua testa, já que é um pouco mais alto que ela.

— Vocês são os amores da minha vida. Venham. — Ela me puxa e me abraça, beijando minha bochecha, pois quase não temos diferença de tamanho. — Estamos conversando um pouco.

Entramos os três e vamos até a sala de estar. Eu cumprimento meu pai, Elena e Benjamin, me sentando, com Harry em seguida ao meu lado.

— Olha, eu vi que o trabalho dele é maravilhoso. Estivemos conversando por vídeo-chamada — diz o fotógrafo. — Ele ensinou muito bem aos seus alunos e seria muito bom se ele viesse trabalhar comigo.

— Acha que ele aceitaria? — Mamãe questiona e Benjamin dá de ombros.

— O pior que eu não tenho ideia. — Ele passa a mão pelos cabelos. — Ele me disse que ama demais o que faz e pelo que eu pude entender, ele não está confortável diante da ideia de deixar a namorada dele sozinha na escola onde orientam.

— E qual é o problema? — Eu me pego questionando sem nem ao menos saber sobre quem estão falando.

— Eles dois se reencontraram recentemente, depois de vinte anos separados.

Eu deixo o meu queixo cair e resisto à vontade de olhar para Harry. Eu não suportaria passar tantos anos assim longe dele. De maneira alguma. Eu não quero pensar nessa possibilidade.

— Vinte anos?! Eu entendo perfeitamente a hesitação dele — diz o meu vizinho.

— Hugo é um fotógrafo maravilhoso. — Elena comenta. — Eu me apaixonei perdidamente pelas fotografias de paisagem que ele fez. Se Ben não conseguir nada com ele, vou tentar fazer uma exposição. A namorada dele é lindíssima. Precisam ver. Ela é ruiva de olhos azuis, tem sardas no rosto, colo e ombros.

— Ela é fotógrafa também? — Questiono.

— Não. Bailarina. Fui a uma apresentação dela. Sabe aquele casal que você sabe que tem que ter um filho o quanto antes? Eles dois.

— Como se você e Benjamin não fosse esse tipo de casal.

Elena ri e balança a cabeça em negativa.

— Eu realmente preciso deixar alguém nesse mundo para assumir meus negócios, mas não quero pensar nisso agora.

— Eu vou preparar o almoço — diz mamãe, se levantando.

— Deixe-me ajudá-la, por favor. — Benjamin junta as palmas das mãos.

— Eu também quero — diz Elena.

— Vamos, vamos. — Eleanor vai em direção à cozinha, levando o casal.

***

Eu estou deitada de lado na minha cama, finalmente olhando as minhas redes sociais, enquanto descanso a vinda da casa dos meus pais. O almoço foi tão bom; nos divertimos e rimos e eu gostaria de repetir, porém, eu vou estar indo a Paris dentro de dois dias. George disse que estava com absolutamente tudo em mãos para a minha viagem, desde documentos a passagem, o que inclui dinheiro suficiente para me manter por lá, que ele transferiu para a minha conta. Essa última parte não me agradou muito, porém, eu não posso fazer nada a não ser tentar, ao máximo, usar somente o que é meu, graças ao meu salário.

Eu digito o nome de Hugo Castanheira na barra de pesquisa do Instagram e suspiro de imediato, enquanto me viro para ficar de costas. Ele tem os olhos azuis, marcantes, os cabelos castanhos bagunçados e... Meu Deus! Que homem é esse? Eu aproximo o aparelho do rosto, a fim de ver melhor a sua foto do perfil, mas eu abro e fico feliz ao ver que não é privado. Vejo a ruiva que Elena mencionou e sorrio imensamente. Que mulher linda. Sem dúvidas devem deixar um filho nesse mundo.

As fotos são maravilhosas, em preto e branco, sépia e coloridas. Todas de tirar o fôlego e só então eu entendo o motivo de Benjamin o querer tanto na sua empresa. Eloísa Brandão é o nome dela. Brasileira, bailarina apaixonada, virginiana. Eu rio.

— Qual a graça?

Eu largo o aparelho, que cai no meu rosto e eu solto um grunhido de dor. Harry se apressa até mim, enquanto meu coração bate dolorosamente em meu peito.

— Quer me matar? — Levo a mão ao peito e tento regular meus batimentos cardíacos.

— Desculpe. — Ele analisa o meu rosto. — Machucou?

— Não. — Ironizo e me deito de bruços.

— Essa é a namorada do fotógrafo de quem Elena e Benjamin falaram mais cedo? — E senta ao meu lado.

— Não é linda? — Eu ofereço meu iPhone e Harry concorda, pegando.

— Olha essa foto. — Ele seleciona e me mostra.

Ela está numa escala no ar. Na legenda da foto, o nome francês: pas de cheval. A foto está marcada com a localização na Rússia e pela simplicidade da roupa, julgo que era só um treinamento. Em preto e branco, a beleza é surpreendente.

— Divina — digo, embasbacada. — Eu preciso seguir essa mulher. — E eu faço.

— E nós vamos maratonar? Temos que acabar de ver Punho de Ferro.

— Só um segundo. — Clico no seu mais recente vídeo.

Eloísa está dançando salsa com uma leveza, graciosidade de me fazer inveja. Ela dança com um negro que faz tão bem quanto ela.

— Você vai passar o dia todo aí, não vai?

— Eita, que exagero. — Eu volto para o perfil de Hugo e o sigo igualmente. — Essas fotos de paisagem roubaram o meu coração. — Confesso. — Vou curtir todas mais tarde.

— Vamos logo que você vai passar duas semanas longe de mim, então eu tenho que aproveitar e desfrutar da sua companhia enquanto for possível.

— Não dramatiza. — Volto à minha página inicial. — Como podem essas pessoas terem tantos seguidores? — Eu sento e cruzo as pernas sob mim. — E eu? — Olho Harry.

— Eu não sei, meu doce... Vamos? O que é isso aqui? — Ele levanta meu braço esquerdo com um pouco de brutalidade. — Uma tatuagem? Diz que não é de verdade.

— Achei num chiclete que comprei. — Eu abaixo o braço.

— Quando você fez isso?

— Segunda-feira, com mamãe.

— Mamãe levou você a um estúdio de tatuagem?

— Eu quem a levei. No mesmo que você foi.

— Deixe-me ver isso direito.

Meu body é na cor malva, de alças finas e meu short jeans, de cintura alta. Meu cabelo está preso num rabo de cavalo e eu estou descalça. Eu faço o possível para não mostrar nada além da minha adorada tatuagem, em aquarela lilás. Harry toca a arte, arrepiando a minha pele e eu finjo que isso não aconteceu, mesmo tendo certeza de que ele percebeu.

— Satisfeito? — Eu o olho.

— Eu não posso acreditar que escondeu isso de mim. — Harry me prende no seu olhar.

— O que queria que eu fizesse?

Ele inspira fundo e balança a cabeça em negativa.

— Dissesse? O que acha que eu ia fazer?

— Nada, porque não tem como eu tirar e Eleanor e George aprovaram. Além do mais, ela fez uma tatuagem representando nós duas, bem como eu. — Mostro a do anelar. — E agora, podemos mataronar ou você vai me dar algum sermão?

— Vamos. — Ele sai da cama e me estende a mão.

Saio, enfio o aparelho no bolso dianteiro do short e nós saímos do quarto e descemos a escada de mãos dadas.

— Vai preparar algo para lancharmos?

— Você cuida do brigadeiro e eu, da pipoca.

— Está bem. — Beijo sua bochecha e vou aos armários, a fim de pegar o leite condensado e o chocolate em pó.


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Notas finais do capítulo

Não sei se lembram, mas eu mencionei que estava recomeçando a minha primeira história, criada em 2008. Foi quando eu entrei para esse mundo.
Estou dizendo isso porque Hugo Castanheira e Eloísa Brandão são os protagonistas.
Assim que eu conseguir o título, eu venho postar.
Sobre a outra história, cuja já soltei um trecho no grupo, eu estou esperando a capa para vir aqui.
Estou um pouco desmotivada, porque tive um problemão imenso, big, grandíssimo e espero que isso não atrapalhe a minha escrita.
Bom fim de semana.



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