Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Estou na corrida aqui, pois já pediram o notebook.
Acabo de escrever o capítulo e estou sem tempo para revisar.
Tudo vai se resolver.

Sem mais, boa leitura.



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Eu canto parabéns para Eleanor, com a voz de quem acaba de acordar. Claro que eu chorei numa grande parte da noite, recusei as ligações do Harry, até que desliguei o aparelho e agora estou querendo adiar o meu começo de dia. Minha caixa de mensagens tanto de voz quanto de texto estão cheias, graças ao fato de Harry ter enchido o meu saco. Eu sequer vou malhar hoje somente para não ter o pretexto de ir a empresa com ele. Eu seguro a vontade de chorar, somente para não estragar o início de um dia tão especial.

Obrigada, querida. — Seu tom de voz choroso me faz derramar algumas lágrimas.

— Não precisa agradecer, mãe. É o mínimo depois de tanto que você fez por mim, uma completa desconhecida.

Você é minha filha agora. E nada nem ninguém pode mudar isso.

— Eu te amo.

Eu te amo, querida. Pode vir tomar café da manhã comigo? Ou eu estou pedindo demais?

— Eu vou me trocar aqui e estarei indo.

Certo. Eu te amo.

— Eu te amo.

Encerro a chamada, fito a tela do iPhone e mordo o lábio inferior. Começo a ouvir as mensagens de voz que Harry deixou, onde, em todas elas, ele me pede perdão pelo que aconteceu. Como se fosse ele quem devesse pedir. Eu não estava fazendo nada de mais. Ou estava? Relembro de tudo o que Harry e eu fizemos ontem à noite. Vimos Punho de Ferro, enquanto comentávamos e comíamos pizza. Quatro episódios depois, eu fiz pipoca e em pouco tempo, comecei a ficar sonolenta. Que foi quando eu me recostei no Harry para cochilar.

Então Olivia chegou daquele jeito.

Arrumo a cama. Eu vou ao banheiro, onde lavo o rosto, vou ao closet e pego um cropped de alças finas, levemente folgado e de estampa quadriculada, uma jeans preta de cintura alta e justa e um par de botas de cano médio de mesma cor. Visto-me, prendo o cabelo num rabo de cavalo, pego um blazer e uma bolsa e arrumo. Faço uma maquiagem somente para esconder as olheiras, não querendo preocupar Eleanor. Visto a última peça, pego meu smartphone, óculos escuros e saio do quarto.

Abro a porta do apartamento e algo cai aos meus pés. Surpreendo-me ao ver que é um corpo, do Harry para ser mais específica. Passo por ele e dou duas tapinhas em seu rosto, o despertando.

— Laila?! — Ele senta, num sobressalto.

— Dá licença? Eu quero fechar a minha porta.

— Eu... me perdoa. — Ele levanta e eu simplesmente fecho a porta e me afasto, indo em direção à escada e colocando os óculos.

— Não é você quem deve fazer isso. — Abro a porta e entro, sem me importar com mais nada.

A quem eu estou querendo enganar? A cena se repetiu na minha cabeça por uma grande parte da madrugada. As palavras ofensivas da Olivia igualmente. Eu saio do prédio e gesticulo para o primeiro táxi que passa e pensar que são apenas cinco e meia.

São seis e dez quando eu chego à mansão Carter, sendo recepcionada por ninguém menos que Grace, a governanta.

— Bom dia, senhorita Vidal.

— Bom dia, Grace.

— Por favor, entre.

E eu só faço porque ela pediu.

— Deveria perder essa mania — diz Eleanor, descendo a escada.

Como essa mulher pode ficar linda usando apenas um robe? Como pode ficar linda a essa hora do dia? Isso é demais para mim. Eu me aproximo da escada e a cumprimento com dois beijos e um abraço em seguida. Ganho um beijo na cabeça e Eleanor me aperta um pouco mais.

— Eu não consigo. — Retiro os óculos. — Ainda não. Bom dia.

— Bom dia, amor. Retire o blazer. Fique mais à vontade.

Eu retiro a peça e Grace o pega.

— Obrigada. — Guardo os óculos na bolsa.

— Vem, vamos conversar.

Eleanor me puxa pela mão em direção ao escritório e nós entramos. Vamos até o sofá branco no canto e nos sentamos.

— Eu ainda não encontrei o seu presente. — Faço beicinho.

— Por que não veio com o Harry?

— Ele tinha acabado de acordar quando eu estava saindo e eu não quis esperar. Estava ansiosa para vir. — Dou um pequeno sorriso.

— Certo. Então, daqui a pouco ele chega. — Ela afaga o meu rosto. — Eu posso te contar o motivo de George e eu termos adotado você?

— Por favor.

— Eu tive um pouco de dificuldade para engravidar do Harry e foi uma gestação bastante complicada, ainda mais porque eu tive eclampsia na hora do parto. — Ellie segura a minha mão. — Eu tentei ter outro filho e até engravidei, mesmo com o meu médico me dizendo que toda gravidez seria de risco, eu resolvi assumir. — Ela seca uma lágrima e eu prendo os lábios numa linha rígida, não querendo chorar. — Era uma menina, mas ela veio a óbito assim que nasceu. Tínhamos absolutamente tudo para a nossa filha, e, infelizmente, não pudemos desfrutar da sua companhia.

— Eu sinto muito, mãe. — Seco suas lágrimas, enquanto as minhas já escorrem livremente.

— Eu sei que sente, querida. — Eleanor me dá um pequeno sorriso. — E, quando eu te vi pela primeira vez, pensei que minha filha teria esse mesmo jeito. E me apaixonei por você e seu jeito de imediato. A nossa Ava pode não ter resistido, mas eu sei que ela está feliz por eu ter encontrado alguém tão maravilhosa para chamar de filha.

Eu a abraço de imediato, sentindo o peso da responsabilidade nas costas.

— Eu só espero não decepcionar vocês — digo, quando nos afastamos.

— Não vai. De maneira alguma. — Ellie afaga o meu braço. — O que foi isso? — E o puxa para mais perto de si, me desequilibrando, enquanto olha a minha pele. — Quem lhe arranhou? — Ela me olha.

Eu hesito. E agora? E agora? E agora?

— Hã... Foi um... um incidente.

— Quem fez isso, Laila?

— Olivia.

— O quê? — Seu tom de voz soa alterado e eu me encolho no sofá. — Por que ela fez isso?

— Ela chegou no apartamento ontem, enquanto Harry e eu víamos série na Netflix. E já foi chamando palavrão e me ofendendo. Eu sequer tive tempo de me defender. — Meus olhos marejam. — Eu estava recostada no Harry, quase dormindo e ela... Eu não sei o que ela pensou que estava acontecendo. Mãe, eu juro pelo amor que sinto por você que Harry e eu não fizemos nada de mais.

— Eu acredito, querida. — Ela me abraça outra vez. — Eu vou ter uma conversa séria com aquela garota.

— Não... — Eu me interrompo diante do olhar que a minha mãe adotiva me dá e encolho os ombros.

— Do que ela te ofendeu?

— Vagabunda e vadia.

— E o que Harry fez?

— Pediu que ela me pedisse desculpa e retirasse o que disse, mas eu saí do apartamento dele antes de as coisas piorarem.

Eleanor se coloca de pé, com uma expressão de poucos amigos, até que ela sai e eu vou logo atrás.

— Como você pode ter permitido que aquela insolente tratasse a minha filha daquele jeito? — Ouço-a questionar e vejo papai descer a escada.

Eu me apresso até Ellie e vejo Harry diante dela.

— Eu conversei com ela. A Olivia vai pedir desculpa a Laila, mãe.

— Eu aposto que se não tivesse visto os arranhões no braço da minha filha, isso passaria despercebido ou ela me contaria alguma desculpa, mas fique ciente de que aquela mulher caiu no meu conceito. Eu não quero vê-la nunca mais enquanto vida eu tiver. Fui clara?

— Que arranhões, Eleanor? — George questiona.

— Olhe o braço direito da Laila. — Ela se vira e ele faz.

— Mas o que foi isso? — Papai se aproxima. — Quem fez isso com você?

— A Olivia. Mãe, está tudo bem.

— Não, Laila. Nada está bem. Avise-lhe que, se ela encostar num fio de cabelo da minha filha, ela vai se ver comigo.

Eu sinto o peso da ameaça.

— Isso não vai se repetir, mãe. Eu prometo — diz Harry, aparentemente cansado.

— Eu não sei o que faz com ela.

— Você está bem, querida? — Papai questiona e eu concordo, controlando as lágrimas.

— Mãe, vamos só tomar um café da manhã juntos. Eu vim aqui para isso. Desculpe ter estragado a sua manhã.

— Você não estragou, querida. — Eleanor vem até mim e me abraça. — Vamos comer e descontrair um pouco. — Ela me guia até a cozinha, onde a mesa de café da manhã está farta.

***

— Eu não vou com você a lugar algum — digo, firme, enquanto caminho em direção à saída da mansão Carter.

— Laila, eu passei a madrugada inteira te ligando, querendo falar com você.

— Eu estou pouco me fodendo. Como você pode ter permitido que a Olivia fizesse o que fez? Aposto que ainda está com ela. E quer saber, fica com ela. Vocês se merecem.

Saio pelo portão dos pedestres, o mesmo por onde eu entrei. Continuo sem ter ideia do que comprar para a matriarca Carter, mas, felizmente, papai se ofereceu para me ajudar. Quem sabe eu comprando no cartão de crédito dele possa encontrar algo à altura? Infelizmente, ele tem uma reunião importante agora pela manhã e me pediu que fosse à frente a fim de tentar encontrar algo.

— Perdoe-me. — Harry pede, aparecendo ao meu lado no seu carro.

— Não é você quem deve fazer isso.

Suspiro, frustrada e escondo o rosto em mãos.

— Laila...

— Afaste-se de mim! — Exclamo e o olho através das lágrimas. — Não se atreva a encostar um dedo em mim. Nunca mais, Harry Carter. Nunca mais.

E eu me afasto, seguindo o caminho até a avenida mais próxima. Ignoro as pessoas que me olham por eu estar chorando. Impressionante como a humanidade age como se o fato de você demonstrar sentimentos, é fraco. Não tenho vergonha alguma disso. Eu só tentei esconder as evidências para passar despercebido da Eleanor. Eu não queria a preocupar. Porém, todo o meu esforço foi por água abaixo quando ela viu as marcas de unhas e arranhões que Olivia deixou em mim.

Gesticulo para o primeiro táxi, sem saber exatamente para onde ir e eu fico aliviada quando o motorista passa direto. O toque do meu smartphone me assusta e eu o pego da bolsa, encontrando o nome do Damon. Eu fungo e inspiro fundo a fim de passar o tom de voz mais natural possível.

— Oi, Damon. Bom dia. — Eu atendo.

Bom dia, Laila. Como você está?

— Tentando pegar um táxi. — Dou um pequeno sorriso, por mais que ele não possa ver. — E você?

Estou bem, obrigado. Podemos nos encontrar agora?

Eu hesito.

— O quê? Por quê? O que houve?

Eu só quero sua ajuda para encontrar um presente para dar a Eleanor.

— Tem que ser agora?

Por quê? Está muito ocupada? Ainda não conseguiu o táxi? Eu posso ir te buscar.

— Não. Eu não estou ocupada. Acabo de sair da casa da Ellie... Onde eu devo te encontrar?

Eu te passo o endereço por mensagem de texto.

— Perfeito. Até breve.

Até.

Gesticulo outra vez, ficando aliviada quando o táxi para. Eu entro e peço para seguir, dando o endereço pouco tempo depois. Eu me recosto e tento reduzir a cara de choro, o problema é que eu não obtenho resultado algum. Coloco os óculos ao lembrar deles...

Diante do shopping, eu pago a corrida e saio do táxi, encontrando Damon a certa distância. Seu sorriso é lindo demais, e muito convidativo e eu me aproximo.

— Sendo sincera com você, nem eu mesma sei o que comprar — digo e o cumprimento com dois beijos.

— Ah, que maravilha. — Ele ironiza. — Vamos entrando?

— Claro.

— E onde está o Harry?

— Eu não sei. Deve ter ficado na casa dos pais. — Dou de ombros e nós entramos. — E Holly e Fred?

— Já devem estar trabalhando.

Damon e eu vamos de loja em loja e eu vou tentando lhe auxiliar. O medo de sugerir algo muito caro é palpável, mas é quase impossível não ter algo num valor alto demais.

Eu recebo uma ligação do George, pedindo para o esperar e vou pedir um chocolate quente para tomar com Damon enquanto isso.

— Você está bem? — O loiro questiona, quando estamos nos sentando.

— Estou, por quê? — Beberico do meu cappuccino.

— Seus olhos...

Eu suspiro.

— Eu não dormi bem.

— Não quer conversar?

Eu lhe conto o que aconteceu ontem à noite.

— E até agora as palavras dela se repetem em minha cabeça.

— Olha, Laila, eu vou ser sincero com você. Posso?

— Claro. — Concordo.

 — Eu entendo o fato de Olivia ter sentido ciúmes de você. Não a parte de ter xingado. Só o ciúme. Porque, imagina se fosse o contrário? Você namorando o Harry e ao chegar no apartamento dele, o encontrar com a Olivia recostada? Não precisava ter usado aquelas palavras. Nem surtar daquela forma. Entende?

Eu franzo os lábios, pensativa, mas devo concordar.

— Está me dizendo que eu devo pedir desculpa a ela por ter ficado daquele jeito?

— Isso cabe a você achar que deve. Analise toda a situação do ponto de vista da Olivia. Sem o xingamento, certo?

Eu concordo.

***

Eu aliso o vestido azul marinho, de alças finas e cruzadas nas costas. É reto, de decote em V, longo e tem uma fenda. Meus cabelos estão soltos, com leves ondas, compridos, o que me surpreende. Eles nunca passaram da altura dos meus seios. E agora, com eles no meio das costas, eu estou bem feliz. Assim que fui liberada da empresa, eu fui ao salão dar um jeito nos fios com a Mia, minha companheira inseparável por aqui. A maquiagem é discreta e em meus pés, sandálias de tiras e salto alto.

Eu pego a bolsa preta, jaqueta e saio do quarto e apartamento. E me deparo com Harry fazendo o mesmo. Eu caminho até o elevador e o chamo. Infelizmente, as portas da cabine são de frente para a do apartamento dele, então, eu não tenho escolha alguma.

— Você está magnífica.

Eu o olho por sobre o ombro e praguejo internamente. Ele usa um terno azul marinho, com camisa interna branca e está sem gravata. Os cabelos levemente úmidos e desgrenhados, por onde ele passa a mão e os tira dos olhos.

Volto a atenção para as portas e quando elas se abrem, eu entro e visto a jaqueta. Eu levanto a barra do vestido e espero, paciente. O lado bom é que o local é bem arejado. Eu não suportaria sentir o cheiro do perfume dele por muito tempo.

— Obrigada — digo, ao sair da cabine.

— Posso te dar uma carona?

— Dispenso. — Vou em direção ao portão e fico feliz ao ver que o táxi me espera.

Entro, dou o endereço da mansão e espero, paciente.

Diante, eu pago a corrida e saio do carro. Harry para diante dos portões automáticos e eu entro pelo do pedestre, depois de cumprimentar o pessoal da portaria. Caminho calmamente e Harry abre a porta e gesticula para mim.

— Que linda! — Exclama mamãe, descendo a escada.

Ela usa um vestido verde musgo, o que valoriza absolutamente tudo nela. Eu a cumprimento e depois ao George, que está impecável.

— Não mais que você — digo, enquanto ela fala com Harry.

— Ainda estão brigados? — Ela olha dele para mim.

— Perdão por isso, mãe — murmuro.

— Eu acredito que, no tempo certo, tudo vai se resolver. Agora, vamos conversar um pouco, enquanto finalizam o jantar.


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês nos reviews, eu espero.
Bom feriado.



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