Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Olar, amores. Quero desejar boas vindas às novas leitoras.
Agradecer ao carinho de algumas em acompanharem não apenas essa história, mas às outras que escrevo. Vocês são maravilhosas.
Não esqueçam que para Olivia Davies, eu escolhi a Keke Palmer.
O nome do restaurante "La Fleur D’or" é meu, dado pela minha amiga, que significa A Flor Dourada em francês.

Sem mais, boa leitura.



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Eu quase não dormi essa noite. Saí da cama cedo e fui fazer meus exercícios, a fim de esvaziar a cabeça. Essa coisa toda de achar um presente para Eleanor está me matando. E ainda teve a conversa com Matheus. Claro que depois que Harry foi embora, achando que eu tinha dormido, eu aproveitei para puxar a orelha da minha amiga, mesmo que à distância. Eu adoro a Marcela. Ela é linda, forte, determinada, confiante e não se deixa intimidar por nada nem ninguém, além de ser empoderada e feminista. Só que eu não estou conseguindo aceitar o que ela fez. Eu sei que devia uma conversa franca ao Matheus, mas fazer isso na frente do Harry foi estranho.

Agora estou aqui, sob o chuveiro, lavando meus cabelos molhados de suor. Sim, eu suei malhando mais cedo, porque depois de três meses, estou começando a sentir o resultado. Talvez seja por isso que eu ando abusando dos croppeds. O que tem irritado Harry sempre que alguém vem fazer entrega e ele não me permite atender. Eu nunca fui o tipo de garota que se preocupa demais com a aparência. O problema é que andei abusando do chocolate quente, já que preciso de algo para aquecer o meu interior, então, eu acabei ganhando uns quilinhos e resolvi me manter em forma.

Eu saio do banheiro, com os cabelos enrolados numa toalha, como se fosse um turbante e no closet, procuro o que vestir. Pego uma camisa de mangas e decote redondo, uma jaqueta de couro pretos, uma saia em suede de cintura alta e um pouco justa caramelo e um conjunto de lingerie preto da gaveta. Visto-me rapidamente, deixando a jaqueta sobre a cama e vou cuidar dos cabelos, secando um pouco com o secador. Penteio e prendo num coque. Calço botas de cano médio preta e saio do quarto, encontrando Harry entrando.

Eu já perdi as contas de quantas vezes o vi de terno e gravata, mas é sempre lindo de se ver e como se fosse a primeira vez. A partir da próxima semana, estarei me juntando a ele nessa forma mais séria de se vestir, se tratando do fato de que eu me tornarei uma funcionária e não apenas uma assistente. Eu adoro dividir a sala com Harry, mas infelizmente terei que ir para a minha.

— Bom dia, meu doce. — Ele me dá um meio sorriso, já com os cabelos presos num coque.

— Bom dia. — Termino de descer a escada e o cumprimento com dois beijos.

— Não dormiu bem? — Harry afaga a minha olheira e eu nego.

— Cabeça cheia. Embolei na cama centenas de vezes.

— Por que não me pediu para ficar? Eu teria o maior prazer em te fazer companhia.

— Você precisava dormir. Tivemos um dia longo ontem. Vamos comer. O dia de hoje não será muito diferente.

***

Por que eu não a olhei ontem? Eu me questiono no exato momento em que Harry para para conversar com ninguém menos que Olivia Davies. Ela tem a minha altura, os cabelos pretos compridos e levemente ondulados. O sorriso dela é formidável, ela é negra e magra. Provavelmente é modelo, do contrário, eu não tenho ideia do que ela faz. E se veste tão bem, apesar de estar de jaqueta de couro marrom, jeans e camiseta branca por dentro. Sua maquiagem é discreta, os olhos castanhos e os lábios volumosos.

Estamos diante do restaurante que descobri ser de Damon em sociedade com a chefe, Bella Turner, La Fleur D’or, onde costumamos almoçar e é um lugar divino. O que é de se esperar, já que é uma propriedade do Lundgren. Eu decido entrar, enquanto ela dá toda a sua atenção a ele e sou guiada até a mesa de sempre.

Eleanor está entretida numa conversa com o marido. E tão linda que dói. Claro que ela está usando um terninho preto, com camisa interna branca, mas isso só melhora a situação.

— Oi, mãe, oi, pai.

Ambos levantam e me cumprimentam.

— Cadê o Harry? — Eleanor volta a sentar, e eu me acomodo antes que George puxe a cadeira para mim.

— Lá fora, com a Olivia Davies.

— Como é?

— Eu vou embora. — George se afasta, mas a esposa segura em seu punho a tempo e ele a olha.

— Você não vai me deixar aqui sozinha.

— Ele a trará e eu não quero.

— Vocês têm algum problema com ela? — Questiono, de cenho franzido.

— Você não pode fazer isso comigo ou Laila. Pela nossa filha, fique.

Ele suspira e senta.

— Eu não estou entendendo.

— Vai entender em breve, querida. — Ellie segura em minha mão, de frente para mim.

E Harry não demora a entrar com a mulher com quem conversava lá fora.

— Senhor e senhora Carter. Que prazer os rever depois de tanto tempo — diz ela.

— Como vai, Olivia? — O tom de voz da Eleanor é contido.

— Bem e a senhora?

— Também, obrigada.

— Senhor Carter.

George simplesmente acena com a cabeça, ao meu lado direito. O garçom coloca uma cadeira para a negra e ela me olha.

— Oli, essa é a Laila — diz Harry.

— Sua governanta? — Ela pergunta.

— O quê? — Ergo as sobrancelhas.

— Como se atreve a questionar uma coisa dessas? — Ellie, dessa vez, se altera.

— Está tudo bem, mãe. — Tento a reconfortar.

— Não está nada bem, Laila. — Ela fuzila a Olivia com os olhos semicerrados.

— A Laila não é minha governanta, Olivia. Ela é minha vizinha, melhor amiga, confidente e meu tudo. — Ele me olha e sorri.

Desvio os olhos dos seus, sem graça, mas logo ergo a cabeça. Governanta. Era só o que me faltava.

— Desculpe, Laila. Eu te vi com ele fazendo compras ontem à noite e me precipitei. — Ela senta.

Fazemos os nossos pedidos. Quer dizer, Ellie pede para mim, já que é sempre assim.

— Harry estava me ajudando. Ele é tão organizado e controlado que é de grande importância que esteja comigo nessa tarefa, por mais simples que possa parecer. Ah, mãe, e o que vamos fazer para comemorar o dia mais importante do mundo? — Mudo de assunto.

— Que dia é esse? — Ellie me dá um meio sorriso.

— O dia dez de maio.

— O meu aniversário é tão importante assim para você?

— Sem sombra de dúvidas.

— Ah, querida. — Ela me pede a mão e eu lhe dou, recebendo um afago no dorso.

— Eu estive procurando algo para lhe dar, entretanto...

— Eu já tenho tanta coisa, amor. Você não precisa me dar absolutamente nada. Até porque, você já me deu.

— O quê?

— Depois que tive Harry, meu sonho era ter uma filha, todavia, não pude ter. Então depois que você me acolheu como sua mãe, eu tive o sonho realizado.

Eu sinto meus olhos marejarem.

— A senhora a adotou? — Olivia questiona e Ellie concorda.

— George e eu fizemos.

— Você é de onde? — Ela me olha.

— Brasil — digo.

— E nós não poderíamos ter feito coisa melhor na nossa vida. — Ellie continua.

— Acho bom parar antes que eu chore aqui. — Faço beicinho.

— E não apenas meus pais a acolheram na família, como todos os Carter — diz Harry, orgulhoso. — Principalmente depois de Laila ter feito a Alexis voltar a falar.

— Como? Contando alguma piada? — Olivia me olha outra vez.

Eu fico calada.

— Mais uma dessa, Olivia, e eu retiro você da minha mesa. — Dessa vez, é George quem vem em minha defesa.

— Calma. É que dizem que no Brasil é muito comum ter humoristas. Achei que ela também fosse uma.

— Se você soubesse da importância desse ato, não continuaria com suas piadinhas. — Ellie a repreende sem hesitar.

O garçom traz nossos pedidos.

— Ih, tem anchova? — Questiono ao ver e o homem concorda. — Desculpe. Eu tenho alergia.

— Eu não sabia, querida — diz Ellie. — Eu quem devo pedir desculpas.

— Eu posso trazer outra sem a anchova — diz o garçom, pegando o prato.

— E sem pimentão, pois eu também tenho alergia. Desculpe por isso, senhor.

— Não precisa se desculpar.

— Pode, por favor, pedir a Bella que faça algo mais simples? Eu sei que posso estar abusando...

— Eu vou pedir que ela venha aqui.

— Oh, não. Não a atrapalhe.

— Acredite, vai ser melhor assim. Com licença. — Ele se afasta.

— E o que vamos fazer para comemorar seu aniversário, mãe? — Volto ao assunto.

— Fui praticamente intimada a fazer um coquetel — diz ela. — A Elena Champoudry estará presente.

— E quando vai ser? — Eu tento me controlar.

— Na sexta-feira à noite.

— Com licença — diz Bella, se aproximando. — Laila, querida, desculpe pelo erro.

— Por favor, não se desculpe. Eu não olhei os ingredientes. A culpa é toda minha.

— Soube que deseja algo mais simples.

— Pode ser somente uma salada de tomate e alface.

— Pode deixar. Eu vou cuidar para que não venha mais nada com anchova ou pimentão para você.

— Muitíssimo obrigada pelo carinho e atenção.

— Amiga do Damon é amiga minha. — Ela me dá uma piscadela — E, acredite, eu não ia ficar muito feliz se você tivesse dispensado a minha presença.

— Desculpe.

— Não precisa se desculpar nem agradecer. Seu pedido será trazido em breve. Com licença.

E Bella se afasta.

— Tem chefe mais atenciosa que ela? — Olho para os meus pais e eles negam.

— Mais uma vez, querida, me desculpe. Você sempre confia seu pedido a mim.

— Está tudo bem, mãe. Sério. Fica tranquila. Eu quem sou muito fresca.

— Isso não é frescura. É coisa séria.

— Certo. Voltando ao assunto: eu não tenho roupa para o seu coquetel.

— Podemos ir às compras depois do almoço. Ainda não fizemos um programa de mãe e filha.

— Tem toda razão, mas eu tenho que fazer umas coisas na empresa. Estou quase andando com minhas próprias pernas. O problema é que quando eu menos espero, encontro Harry segurando a minha mão.

— É para que você perceba que jamais estará sozinha — diz ele.

— Eu não me sinto só desde que você entrou na minha vida, meu amor. — Beijo a sua bochecha. — Mas seus dias estão contados.

— Eu ainda não consigo aceitar essa ideia. — Harry olha para o pai. — Por que a Laila não pode continuar dividindo escritório comigo?

— Porque você é o vice-presidente e a Laila vai começar a andar com a próprias pernas definitivamente. — George sorri para mim e eu pego o meu copo de suco. — Quem sabe, mais na frente, você não ocupa o meu lugar e ela o seu?

Eu me engasgo com o suco.

— Laila! — Harry se apressa a me ajudar, enquanto eu tusso.

— Eu... eu estou bem — digo, tentando regular a respiração. — Pai! — Bebo da água, a fim de refrescar a garganta ardida. — Ei, de onde tirou essa ideia?

— Você tem se dedicado tanto que, se permanecer desse jeito ou melhorar, claro que vai chegar à vice-presidência. Questão de tempo.

— E de estudos. Não quero chegar lá sem o doutorado, no mínimo.

— Certo. Vai ser o seu prazo.

***

— Eu posso pegar os meus pertences na empresa? — Questiono, quando estamos na calçada, esperando trazerem o carro do papai. — Além do mais, preciso escovar os dentes. Não abro mão dessa mania brasileira.

— Meu amor, você pode tudo. — Eleanor afaga o meu rosto.

Olivia puxa Harry para longe, antes que ele fale alguma coisa. Ellie me abraça e beija a minha cabeça. É tão maravilhosa a sensação que ela me passa que, por mim, eu ficaria o resto da minha vida. Quando eu menos espero, Olivia está beijando Harry. Eu fecho os olhos, querendo evitar ver onde isso vai parar e mamãe me guia para o banco de trás. Eu entro sem pestanejar, coloco o cinto e logo estamos saindo da frente do melhor restaurante francês de Londres. E, quiçá, do mundo.

Na CCC, eu saio do carro e abro a porta para Eleanor. Vamos os três em direção ao elevador. Ellie segura na mão do esposo e eu estou abraçada a ela. Entramos na cabine e no andar da presidência, eu me apresso ao escritório do Harry. Pego o meu chaveiro da sua gaveta, meus pertences e vou escovar os dentes. Como viemos de carro e ele foi andando, provavelmente terei um tempo de sobra. Eu apenas espero não o encontrar mais por hoje.

Somente quando estou dentro do carro da Eleanor é que eu me sinto relaxar. Eu vejo Harry se aproximar da entrada da empresa, porém coloco meus óculos escuros como se não o tivesse visto.

— Você está bem?

— Estou, mãe. — Apoio a cabeça em seu ombro e ela segura em minha mão.

— Entendeu por que George e eu não gostamos muito da Olivia? Ela é uma pessoa linda, mas as atitudes dela e palavras descabidas não me agradam nem um pouco.

— Você acha que tem alguma chance de ela e Harry namorarem?

— Sinceramente, eu não sei.

— Eu apenas espero que ele não se afaste de mim.

Logo estamos parando no estacionamento do shopping. Meu smartphone toca e eu o pego de dentro da bolsa, vendo o nome do Harry junto com sua tela. Eu silencio, espero pelo fim da chamada e coloco no modo silencioso. Saio do carro quando o John abre a porta para mim.

— Obrigada, John. — Dou um pequeno sorriso.

— Não tem de que, senhorita Vidal.

Caminho com mamãe, de braços dados, em direção ao interior do shopping, ciente de que o motorista nos segue.

Eu realmente me privei de certas coisas na minha vida durante o ensino médio. O que irritou a Marcela. E quando eu subia para a casa dela, não tinha como a convencer de me deixar ir descansar, depois de um dia cheio onde eu me dividia entre estudar, ser babá dos meus irmãos e ainda trabalhar.

E agora me bateu um leve arrependimento de ter terminado com o Matheus. O ruim é que eu realmente não ia conseguir manter o relacionamento à distância. Até porque, esta começou a surgir quando passei a me dedicar ainda mais aos estudos para não ter problemas para vir.

Mas por que eu estou pensando nisso? Por que eu vi o Harry beijando outra? A vida é dele. Harry é solteiro. Tem mais é que aproveitar a vida mesmo. Eu apenas não sei quando vou começar a fazer isso. Não posso voltar a me privar. Já sou maior de idade, independente e empoderada. Vou curtir a minha vida do jeito que deve ser.


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Notas finais do capítulo

Devem estar putas com o Harry, não é? Calma. Calma. Tudo vai se resolver.
Se confiarem em mim, não vão se arrepender.



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