Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Olar, amores. Desculpem a demora. Eu estava vendo uns paranauês por aqui, uns erros ali e enfim, consegui terminar tudo a tempo.
Para quem ainda não viu e é minha leitora de Amor Ardente, eu comecei a postar a continuação. Já temos o capítulo 1. Nove ao todo e vamo que vamo.

Sem mais, boa leitura.



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Letícia foi embora na manhã do dia seguinte ao almoço com a família Carter e eu fiquei extremamente dividida entre a felicidade e tristeza. Felicidade porque eu estava me livrando da pessoa venenosa que ela costuma ser, voltando a ficar sozinha com minha privacidade, muito prezada pelo Harry, e tristeza porque, apesar de ser venenosa, ela é minha irmã e fez dos dias em que esteve aqui, únicos. Damon Lundgren voltou a Denver, nos Estados Unidos no primeiro sábado de março, porém no tempo em que ele esteve aqui, nos vimos em um dia ou outro. E apesar de ele ter ido, ainda mantemos contato. E eu tive o prazer de encontrar Holly e Frederick mais vezes do que poderia imaginar. Até saímos apenas os três para nos divertir nas noites londrinas. Ou seriam inglesas? De qualquer maneira, foi sensacional e totalmente sem igual. E o melhor de tudo foi ter cada um desses momentos marcados não apenas na memória, mas também compartilhados pelo mundo todo.

A proximidade com o casal de empresários mais poderoso do país, Holly e Fred, me permitiu descobrir o motivo de a namorada do Damon, Emily Johnson, ter terminado tudo com ele: o loiro a machucou duas vezes. Uma há mais de dez anos e outra quando ela descobriu quem ele era. Claro que George e Eleanor é um casal poderoso, entretanto, ele é empresário e ela, editora de uma revista. Mas não qualquer uma. Da Ellementary, cuja me tornei assinante.

O mês de março voou. O de abril, igualmente. Estamos no início de maio, próximos do aniversário da minha mãe adotiva e eu não tenho ideia do que lhe dar de presente. Eu jamais terei dinheiro suficiente para comprar algo à altura dela, nem mesmo com minhas economias. Já tentei achar, batendo diversas lojas no sábado da última semana, com ninguém menos que Holly Walker, porém, eu não obtive sucesso.

— Inferno! — Praguejo, baixo, enquanto empurro o carro de compras e Harry analisa as caixas de dois cerais matinais.

— O que houve? — Ele coloca uma de volta na prateleira e outra no carrinho.

— Eu não consigo achar nada para dar de presente à mamãe. E eu quero dar duas coisas, mas se eu não acho uma, quem dirá duas. — Bufo.

— Eu sei exatamente como se sente. — Harry faz uma careta e olha a lista de compras. — Eu nunca sei o que dar.

— E agora? Se você que a conhece há mais tempo, não sabe, imagina eu.

— Nem mesmo com a Holly conseguiu nada? — Ele me olha.

— Tudo o que eu quis dar, passava de cinco mil libras. Eu devo ter duas mil. — Eu também faço uma careta.

— Eu posso comprar com você. Ah, mas assim, você não vai ter nada e eu não quero que fique sem dinheiro.

— Era só o que me faltava. — Volto a empurrar o carro, parcialmente cheio, enquanto o sigo pelos corredores.

— Você não sabe quando pode precisar, Laila. — Ele me olha por sobre o ombro, indo em direção à seção das frutas. — Agora mesmo, seu saldo vai ser menos de dois mil, já que estamos fazendo suas compras.

Solto um grunhido.

Eu sou muito grata ao Harry por me ajudar com isso. Ele é muito prático, faz lista e se eu tivesse vindo sozinha, sem sombra de dúvidas, não estaria com um quinto do conteúdo desse carro. Suspiro e tento manter a calma.

Eu adoro a Tiffany. Não que eu tenha muita coisa... o que eu tenho, ganhei de presente de aniversário. É como se nenhuma marca de joia fosse o suficiente para Eleanor. Se bem que ela deve ter uma infinidade de joias, então qualquer coisa que eu pensar em dar se torna algo pequeno se comparado ao que ela já tem. Eu a vi com rubis, esmeraldas, diamantes das mais variadas cores, além de ouro, ouro branco e rosé e platina. Bolsas? Das melhores marcas, de A a Z. Sapatos? A maioria Christian Louboutin, mas tem também Jimmy Choo, Aperlai... Estive no closet dela há um tempo, do tamanho do meu apartamento, repleto de roupas, sapatos e bolsas, tudo de tirar o fôlego.

É frustrante. Simples. Olho a hora no relógio que ela me deu e suspiro outra vez. Nem mesmo algo da Piaget eu poderei dar a ela. No dia do passeio com Holly, descobri o preço e fiquei pasma. Não que eu estivesse interessada em saber, claro que não. Nunca me ative a preço de nada, mas foi porque a loira sugeriu e quando eu apoiei a mão sobre o mostruário, a vendedora soltou: doze mil e quatro centos euros. Eu senti minhas pernas fraquejarem, enquanto a loira que me acompanhava, comprava algo que custava quase vinte mil euros. Eu juro que tentei não converter em reais, mas a minha mente foi mais rápida do que eu pensei e não fiquei muito feliz em saber que Ellie comprou um relógio de mais de quarenta mil reais para mim. Que Holly levasse a loja. Ela trabalha para comprar tudo da melhor qualidade para ela, como prova, em reais, seu relógio custou quase sessenta mil.

Guio o carro com as compras em direção a um dos caixas. Meus dias de compra são nos cinco primeiros do mês. Claro que reduzi a quantidade de alguns itens. Sem Letícia, se fez necessário.

— Caramba! — Harry exclama, de repente, me fazendo o olhar.

— O que foi? — Eu paro atrás de uma senhora.

— Eu estou vendo a primeira garota de quem eu gostei. — Ele me olha. — Eu estou surpreso com isso.

— Por que não vai lá? — Sugiro.

— Ir lá? — Harry indica por sobre o ombro. — Não. Eu aposto que ela nem vai me reconhecer.

— Deixa de ser bobo. Eu vi umas fotos suas e não vi mudança alguma a não ser o fato de seus cabelos terem crescido e você também, claro.

— Tudo bem, então. Deseje-me sorte.

— Você nasceu com ela. — Dou-lhe uma piscadela e ele beija a minha bochecha.

— Volto logo. — E se afasta.

Faltam poucos minutos para as oito da noite. Tivemos um dia cheio na empresa, graças ao fato de que estamos fazendo uma nova franquia em outro estado. Eu devo admitir que, apesar de já ter quatro meses, eu fico surpresa com a confiança que os Carter têm em mim e eu me sinto extremamente lisonjeada e orgulhosa. A última coisa que eu quero na vida é decepcionar algum deles na mesma proporção.

George tem sido mais presente nos nossos almoços semanais e é sempre tão atencioso e carinhoso que o carinho e respeito que tenho por ele só têm crescido. Se tornou o homem que eu sei que o meu pai é. Gustavo é sensacional. O problema é que se deixa influenciar pelas ideias sem nexo e conservadoras demais da Jessica.

— Acorda — diz Harry e eu desperto, enquanto ele começa a colocar as minhas compras na esteira.

— Já?

— Passei meia hora ali. — Ele me olha. — Você quem se perdeu em devaneios. No que pensava? — E volta a colocar os itens na esteira.

— Gustavo.

— Quem é esse? — Harry me olha outra vez e de imediato.

— Meu pai, esqueceu?

— Ah, sim. — Seu meio sorriso me desconcerta.

— E como foi com a sua garota?

— Ela não é minha garota. A Olivia é apenas uma que reencontrei depois de vinte anos e nada mais.

— Como foi?

— Eu disse que ela não ia me reconhecer. Tive que mencionar o sobrenome. Ela está ainda mais linda, mas nem se compara a você.

— Ah, Harry. Para você ter gostado dela, a mulher deve ser capa de revista.

— Você nem é e eu te amo.

Eu sinto minhas maçãs pinicarem e fito os meus pés, sem graça. Harry e eu nos aproximamos ainda mais, como se fosse possível. Os nossos amigos nos classificaram como namorados que não se beijam. Eu acho isso ridículo, mas quem sou eu para argumentar se depois de Ellie, George, Holly e Fred terem dito o mesmo?

Ao fim, colocamos as sacolas no carro de compras e saímos do supermercado. Harry e eu colocamos as compras no porta-malas do seu Land Rover e logo estamos pegando o trajeto para a nossa casa.

Após guardar as compras, ele vai para casa, tomar um banho e eu faço o mesmo. Estive conversando com Marcela, minha melhor amiga do Rio de Janeiro e mundo todo e apesar da distância, é delicioso saber que continuamos as mesmas. Eu saio do banheiro enrolada na toalha, pego o MacBook Pro de dentro da bolsa que utilizo para levá-lo ao trabalho e ligo. Enquanto isso, vou ao closet, onde procuro o que vestir. Pego uma camiseta de alças finas, preta e curta, short jeans justo e curto e uma calcinha. Visto-me rapidamente, pego o Mac, calço minhas pantufas e desço a escada com a toalha no ombro.

Deixo o notebook sobre a mesa de centro, estendo a toalha na área de serviço e solto os cabelos, refazendo o coque e prendendo com o elástico. Sento no sofá, apoio os pés na mesinha de centro e abro o Skype a fim de saber dos babados com Marcela.

— Glamorosa, rainha do funk. Poderosa, olhar de diamante. Nos envolve, nos fascina, agita o salão. Balança gostoso, requebrando até o chão. — É assim que ela me recebe.

— Poderosa é você, querida.

— Olha só que lindeza. — Ela mostra a praia e eu sinto uma vontade imensa de chorar, com saudades. — É, meu amor, morra de inveja de mim. Estou em Copacabana.

— O que faz aí? — Questiono.

— Cheguei, meu doce — diz Harry e eu o olho.

Harry usa uma camisa regata, em degrade do preto para o branco, num tamanho maior do que o normal, cavada o suficiente para expor sua tatuagem. Sim. Ele fez uma há um tempo, na costela, um pouco abaixo do peito. É uma frase, numa fonte grande, mas nada exagerado. Se tornou a minha tentação. Como se ele já não fosse. “O que o coração possui uma vez, nunca deve ser perdido”. Eu ainda não sei o motivo de ele ter feito, mas sei que em inglês, ela é impactante.

Os cabelos dele estão úmidos e soltos, jogados suavemente para o lado. Ele aparou o bigode, sem sombra de dúvidas. A calça preta contrasta com o branco da parte inferior da camisa. Ele usa chinelos, o que é divertido, já que sempre está de sapato social brilhoso.

— Laila! — Marcela exclama e eu olho a tela do Mac.

— O que dizia?

— Harry chegou?

— Oi, Marcela. — Ele se aproxima e senta ao meu lado, beijando a minha bochecha.

— Oi, Harry, seu gostoso. — Ela dá uma piscadela.

— Tudo bom?

— Sim, e com você?

— Estou um pouco cansado, mas bem, obrigado. O que vai querer para jantar? — Ele me olha.

— O que você pedir, para mim, está ótimo.

— Certo. Vou dar uma olhadinha no armário e qualquer coisa, peço.

— Certo. — Repito e ele se levanta e vai à cozinha.

— Olha só quem apareceu aqui — diz Marcela e eu a olho, encontrando Matheus.

— Laila! — Ele exclama.

— Matheus. — Dou um sorriso sem graça. — Oi.

— Oi. Como você está?

— Bem, obrigada e você?

— Também. Que linda você está.

— Obrigada. Eu não acho que mudei muito.

— Talvez signifique que sempre foi linda.

Sorrio, sem graça.

— Obrigada.

— O que deu em você? Nem parece a garota de sempre. Eu sei que terminamos, mas eu não acho que signifique que não possamos ser amigos, não é?

— Desculpa. É que faz tempo que não nos falamos... — Eu coço o pescoço, ainda sem graça. — Mas você tem toda razão.

— Eu esperava que você fosse voltar. Eu sinto sua falta.

Certo. Eu, sinceramente, não preciso olhar para trás para saber que Harry está atento a nós. Por que Marcela deixou o smartphone com ele? Onde essa biscate se meteu?

— Eu não pretendo voltar enquanto não fizer a minha graduação aqui.

— Foi por isso que terminou comigo? Porque, até hoje, você não me deu explicação.

— Matheus, eu não acho que esse seja o momento para falarmos sobre isso.

— E quando vai ser se você veio me evitando? Agindo como se eu não existisse? E o que vivemos ao longo dos dois anos de namoro? Não significou nada para você?

Eu olho por sobre a tela, sem saber o que dizer.

— Eu planejava vir para cá desde o início do ensino médio. — Volto a atenção para ele. — Sei que não deveria ter me envolvido com você, mas eu fiz uma meta: te fazer feliz enquanto estivéssemos juntos.

— E eu fui muito feliz com você. Caralho, Laila, você não tem ideia de o quanto fui e como prova, eu sinto a sua falta.

Matheus está com a pele mais alva do que quando eu saí do Rio. Aposto que é resultado do estágio somado à universidade. Por ser mais velho do que eu, conseguiu entrar para o curso de odontologia. Talvez tenha sido daí que Letícia achou que eu faria o mesmo. É lindo. Pelo que recordo dos nossos momentos juntos, ele deve ser um pouco mais alto do que Harry, mas poucos centímetros. Os cabelos castanhos claros estão mais compridos do que o seu usual corte militar, jogados para o lado. Os olhos são escuros e ele tem uns poucos sinais no rosto.

— Pelo menos eu fiz a minha parte.

— Da melhor maneira que alguém poderia fazer.

— Eu não poderia continuar num namoro à distância.

— Por que não me disse que pretendia deixar o Rio? Talvez eu pudesse ir com você.

— Não queria que deixasse sua vida de maneira brusca por minha causa.

— Eu faria com o maior prazer e sem pestanejar, Laila.

Que saia justa. O toque da campainha me desperta e eu vejo Harry ir até a porta.

— Não poderia deixar você fazer isso. Não seria justo. Eu saí porque isso não ia fazer diferença na minha família, mas sem sombra de dúvidas faria na sua.

— Eu não me importo com nada além de você.

— Matheus... não alimente esse sentimento tão lindo que tem por mim.

— Por quê? Você disse que é lindo.

— Mas não vale a pena. Eu não vou voltar amanhã ou depois, e sim dentro de quatro ou cinco anos. Então, você vai se impedir de conhecer, sair com outras pessoas para me esperar?

— Não vejo problema.

— Não. Matheus, sério, não.

— Você conheceu outra pessoa aí?

— Conheci dezenas de pessoas, mas eu não quero que se machuque dessa forma, está bem? Eu posso me envolver com alguém por aqui e não acho justo.

— Você não me ama?

— Eu só não sei se da mesma forma. — Mordo o lábio inferior. — Eu preciso ir. Vou jantar.

— Mas você não vai continuar se mantendo distante, vai?

— Não. — Sorrio. — Não vou e desculpe por isso.

— Tudo bem. Cuide-se.

— Você também.

Encerro a chamada, decidida a discutir com Marcela em outro momento e fecho o Mac, deixando na mesinha. Passo a mão pelo rosto e balanço a cabeça em negativa. Por que eu adiei tanto essa conversa com Matheus? Mais de seis meses, já que eu terminei dois antes de vir.

— Você vai jantar? — Harry questiona.

— Eu não sei. — Recosto-me e escondo o rosto em mãos.

— Você ainda o ama? — Ele senta ao meu lado e eu o olho.

— Namoramos por dois anos. Claro que eu sentia algo por ele. Que o amava, mas não sei se tenho o mesmo sentimento, sabe?

— Vem comer algo. — Harry levanta e me puxa pela mão.

Vamos, abraçados, em direção à mesa de jantar. Ele puxa a cadeira para mim e eu beijo sua bochecha e me sento, tentando organizar as ideias, a fim de ter uma refeição tranquila.


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Notas finais do capítulo

Para a Olivia, eu escolhi a Keke Palmer.
Até dia 20.
Beijos.



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