Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Olar, amores. Peço desculpas por não ter atualizado dia 25, mas eu estava sem o notebook. Também quero pedir desculpas por ter trocado o nome da Laila pelo da Leslie duas vezes na última atualização. Eu não sei se lembram, mas eu falei que estava tombando de sono, algo desse tipo, então acabei confundindo. Eu ando dormindo pesadamente pelos cantos...
Eu sei que devem estar se mordendo e querendo me matar por não ter colocado esses dois juntos, mas eu garanto que não vão se arrepender se esperarem o tempo certo.
Eu disse que tenho muita coisa para esse casal, e ainda teremos o casamento do Bruno, aniversário dela, a preparação para a prova para entrar na universidade, mais alguns desastres para essa peixinha lunática, mas também algumas cenas de provocações que só vai colocar mais lenha na fogueira.
Acreditem, quando esse dia chegar, vai ser bafônico, porque eu já o imaginei perfeitamente. Eu estou tão ansiosa quanto vocês, acreditem, mas pelos deuses, esperem.

Sem mais, boa leitura.



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— Vai passar o resto da vida sem falar comigo? — questiono, enquanto Harry mantém os olhos na estrada.

Estamos indo encontrar o senhor e a senhora Carter num restaurante diferente, por isso, vamos de táxi. Eu solto uma lufada. Já se passou dois dias desde o episódio em que eu me submeti a ver um filme de terror, onde eu quase morri de medo. Harry ficou chateado e disse que ele não valia tal esforço. Discutimos. Mas, nada tão grave. Algo mais como uma discussão de irmãos superprotetores, coisa que eu não fiz questão de dizer para que não piorasse a situação. Enfio o rosto na curva do seu pescoço, um dos meus lugares favoritos de estar, depois de ter o corpo recostado contra o dele, e encho de beijinhos. Ele ri um pouco e, ainda assim, eu me permito o deleite que é ouvir esse maravilhoso som. Eu me aninho ali quando ele para e eu inalo o seu perfume.

— Que essa tenha sido a última vez.

— Eu prometo. — Afasto-me e roço o nariz no seu. — Nunca mais vejo algum filme de terror.

— Você teve pesadelos, Laila!

— Desculpa. — Faço beicinho. — Desculpa. — Peço, manhosa, e quase ronrono para ele.

— Vou pensar no seu caso.

Fecho a cara e sinto o carro parar. Harry paga a corrida e nós saímos. Na calçada, ele segura firme em minha mão; o calor da dele na minha é de aquecer o meu coração.

— Você é um chato, sabia? — Solto-me dele e mostro a língua, numa atitude extremamente madura, finalizando com um cruzar de braços. Emburrada, eu marcho, sendo guiada pelo salão, por um Harry de sorrisinho na cara.

— Meu amor, o que houve? — Eleanor me abraça.

— Seu filho. — Retomo o beicinho assim que me afasto. — Ele está fazendo um péssimo papel de irmão mais velho. — Provoco e o olho por sobre o ombro a tempo de ver seu sorrisinho se desfazer, cumprimentando George em seguida.

— Eu não sou e nunca serei o seu irmão — diz, de cara feia e eu dou de ombros. — E quando eu contar o que ela fez, vocês vão me entender.

É minha vez de me desfazer do meu sorrisinho. Harry cumprimenta os pais e me acomodo à mesa depois de George puxar a cadeira para mim e eu lhe agradecer. Eles não demoram a se sentar e Harry narra o acontecido de dois dias atrás.

O garçom anota os nossos pedidos e se afasta.

— Amor, não deveria ter feito isso. — Ellie segura a minha mão, sentada à minha frente.

— Mas eu quis. — Defendo-me. — O Harry tinha visto um gênero que não era do seu agrado por mim.

— Laila, amor, há uma diferença — diz George. — Uma coisa é não gostar. Outra, extremamente diferente, é ter medo.

— Eu já pedi desculpas, mas ele não quer me desculpar, esse velho ranzinza.

Eleanor ri, sendo acompanhada de imediato pelo marido.

— Muito engraçado. — Harry volta a fechar a cara, o que não é novidade. Ele faz isso tantas vezes quanto eu me perco em devaneios.

— Mas, ainda assim, eu te amo e muito. — Sorrio para ele, ao meu lado esquerdo.

— Eu também te amo. — Ele me dá um sorriso surreal de tão lindo.

Eu não vou negar que, em alguns momentos, eu me sinto extremamente atraída por ele. É como se, todas as células do meu corpo, positivas, se atraíssem pelas dele, que, graças ao seu humor de cem anos, são negativas. Eu considero surreal. Nunca me senti assim, então, eu fico embasbacada. Quando sorri, passa a mão pelos cabelos, está com eles molhados, focado no seu trabalho e de camisa preta. Sei lá. Acho que eu entendo quando a Amelia ficou furiosa por me ver ao lado dele. Aposto que é apaixonada por ele. Harry é um homem extraordinário, apesar de ranzinza. Somos tão incríveis juntos que eu não consigo me imaginar sem ele.

Um toque suave em minha mão me desperta e eu faço uma careta.

— Desculpem. Eu me perdi em devaneios.

— Percebemos — diz George, ainda segurando em minha mão. — Está tudo bem?

— Sim. — Dou um pequeno sorriso.

— Eu disse que é costume dela — diz Harry.

— Mas a carinha dela de sonhadora é linda. — Ellie afaga o meu rosto e eu aumento ainda mais o sorriso para ela.

***

Dessa vez, Harry fez questão de vir comigo. Ontem, eu tive que vir sozinha, como no dia anterior, e encontrei o gostoso do Ethan. Tivemos uma conversa maravilhosa, que se estendeu para o notebook, via Skype, e como Harry chegou tarde, não fez sua cena desnecessária de ciúmes. E nós estamos no táxi, com nossas mãos entrelaçadas, minha cabeça apoiada em seu ombro e ele ainda faz carinhos em mim, deixando-me sonolenta. Graças ao filme de terror, eu não consegui dormir bem, mesmo tendo me perdido em devaneios mil vezes. Eu ouvia sons horripilantes, o que sempre me despertava após a minha teimosia em fechar os olhos. Depois do terceiro ou quarto pesadelo, eu desisti e fiquei acordada, trabalhando na papelada que trouxera mais cedo e que fora embaralhada graças ao grosso do trem, sem ter coragem e nem mesmo vontade de encarar a minha família. Eu sei bem que Jéssica, a minha mãe, vai me fazer todo um teatro quando eu entrar em contato; cancerianos dramáticos e manipuladores... Se bem que ela já anda fazendo nos e-mails que me manda, questionando se eu não a amo mais.

— Meu doce?

— Eu não estou dormindo. — Abro os olhos que nem notara que havia fechado e o táxi para.

Saímos e continuamos de mãos dadas até o elevador, e na cabine, Harry me abraça.

— Vai dormir cedo? — questiona, preocupado.

— Eu vou tentar. — Aninho-me em seus braços. — Parece que esse lugar foi feito especialmente para mim.

— Eu não sei se foi. — Saímos. — Mas fica ciente de que ele é todo seu.

Eu sorrio e o abraço de lado.

— Vai comigo?

— Já estou indo, meu doce. — Ele pega as suas chaves.

Harry abre a porta e somos cercados pela risada da minha irmã. Eu entro e encontro-a sentada à minha mesa.

— Qual o motivo de tenta felicidade? — questiono, me aproximando.

— Ela chegou — diz Letícia, olhando a tela do notebook dela.

— Mãe? — indago, de cenho franzido, enquanto a mulher que me deu a origem, o mesmo tom de cabelos, paixão por dança, me encara de volta.

— Como você pode fazer uma coisa dessas comigo, Laila Maria? Não basta você viver subindo aquele maldito morro para ir ficar se esfregando com um e outro naqueles bailes funks? Não basta você se rebelar contra os nossos ideais? Misturar-se com aquela gentinha de favela que beija pessoas do mesmo sexo? Trate de pegar o primeiro voo de volta para casa agora mesmo.

Eu ergo o polegar direito, lhe dando um joinha.

— Está sentada?

— Estou.

— Ótimo. Porque, esperar em pé, cansa. Eu não vou voltar. Tenho 18 anos e faço da minha vida o que eu bem entendo. Não vem tentar me manipular, pois eu não sou a Leticia e os gêmeos que sempre caem na sua teia. Eu não subia o morro para me esfregar em homem nenhum. Ia fazer o quadradinho de quatro nos bailes sim, mas somente Marcela e eu. E se ela é bissexual, isso não é da sua conta e sabe por quê? Marcela é dona do próprio corpo e os pais dela a apoiam completamente. Ela não precisa de você para nada.

— Escute aqui...

— Eu sou de esquerda sim. — Continuo, interrompendo-a depois de ela fazer o mesmo comigo. — E com orgulho, porque eu tenho que lutar pelos meus direitos. Eu não vim a esse mundo para ser submissa a homem algum. Muito menos para receber um salário inferior ao dele.

— Escuta aqui, mocinha...

— Você foi aceita na Universidade Federal do Rio de Janeiro para odontologia. — É a vez de a minha irmã interromper nossa mãe.

— Eu não lembro de ter me inscrito para a UFRJ. Muito menos para odontologia. De onde tiraram essa de que eu queria fazer esse curso? Além do mais, teve tantos problemas no ENEM de 2016 que a vontade de voltar ao Brasil e fazer superior, é mínima. Eu não vou voltar até o fim da minha graduação em negócios. E você vai me ver chegar com o diploma da melhor universidade do mundo, porque eu sei que chegarei lá. E depois que o prefeito foi eleito ano passado, eu decidi sair, mas não se preocupa, porque, eu volto ano que vem para eleger alguém que presta. Depois iremos juntas à parada gay, bater horrores de cabelo, vinhado!

Eu me afasto, passo por Harry e saio do galpão, porém, não sem antes de ouvir Jéssica gritar por mim. Desço as escadas e percebo, feliz, que ainda estou agasalhada e com minha bolsa. Saio do prédio e me recosto ao lado do portão de pedestres, frustrada. Era o que eu mais queria. Jéssica tentando me manipular. Eu sequer consigo imaginar o que estaria fazendo em casa a essa hora. Na verdade, eu consigo sim. A possibilidade de eu estar indo em busca dos gêmeos, em qualquer lugar do Rio de Janeiro é imensa. Harry me puxa para os seus braços e só então eu percebo que estou chorando. Nunca me vi inclusa naquela família. Sempre me vi sozinha, como se fosse uma figurante.

— Eu te amo. — Ele beija meus cabelos.

— Em momento algum, ela disse que sente a minha falta ou me ama. — Soluço um pouco.

— Não fica assim, meu doce. — Harry afaga meus cabelos. — Eu sei que nós estamos falando da sua mãe, mas deveria esperar, não era?

— Eu sou de peixes. Sabe que sou idiota demais.

— Não é idiota coisa alguma. — Ele se afasta e segura meu rosto em mãos. — Você é uma pessoa incrível, maravilhosa. Você conquistou o meu pai. Ele sequer gosta da Hannah. Eu te amo e odeio ver você assim, tristinha. — Ele seca as minhas lágrimas com os polegares.

— Eu me dou tanto para as pessoas e o que eu ganho?

— Isso é lindo da sua parte, meu doce. Eu gostaria de ser assim. Desde que começamos a nossa amizade, eu tenho admirado cada gesto seu. Eu me sinto mais que privilegiado fazendo parte da sua vida, tendo alguém tão doce perto de mim, que sou...

— Azedo. — Faço uma careta, como se estivesse sentindo o sabor e ele ri.

— Tem razão. Eu sou azedo, você, um doce. Meu doce. Que tal sairmos para jantar? Somente eu e você? Podemos pegar um cinema em seguida. Amanhã é sexta-feira. Depois vem o casamento do Bruno... Por falar nisso, eu não vi o seu vestido.

— Eu não sou a noiva, mas você só o verá no dia. — Faço uma dancinha louca e ele, mais uma vez, ri.

— Por que tanto mistério?

— Eu quero ser a pessoa a fechar a sua boca quando você me vir lindíssima. — Dou-lhe uma piscadela. — E quanto ao seu convite, eu dispenso. Estou sem fome.

— Não. Não. Não. Não. Não. Eu não quero que você fique assim. Meu doce, por favor, vamos jantar. Pediremos a sobremesa que você quiser.

— Mesmo?

— Sim.

— Oba! — Bato palminhas. — Mas, antes, eu preciso me livrar dessa cara de choro.

— Vamos ao meu galpão.

***

— Ser de esquerda é apoiar a igualdade social. O termo surgiu na França. — Explico.

— Eu sei qual é — diz Harry. — Então, isso também se aplica ao seu país?

— Sim. Meus pais são de direita, extremamente conservadores. — Eu estremeço. — Meus irmãos ficavam de pernas para o ar, enquanto eu me fodia de fazer serviços domésticos desde que tinha seis anos de idade. Eu não vou negar que tinha esse pensamento, até que conheci Marcela, uma feminista, bissexual, de esquerda. Ela abriu os meus olhos. O problema é que, no Brasil, eles associam a partidos políticos.

— Não acho que isso deveria acontecer, não é?

— Não, mas acontece. Pessoas alienadas. Só porque eu sou de esquerda, dizem que eu sou de tal partido. Entretanto, eu não sou. Eu estou querendo a igualdade social.

— A política é bem complicada no seu país, hein?

— Dois mil e dezesseis foi um ano... terrível para a política. — Eu lhe explico somente um terço do que aconteceu. — Se eu fosse Jesus, eu mandava um meteoro naquele país.

Harry ri. Estamos sentados no banco da praça onde costumamos fazer guerra de bola de neve. O local está com pouco movimento; um casal ou outro passa por aqui, trocando carinhos. Umas pessoas, correndo, praticando seus exercícios outras com seus cachorros. Eu gostaria de ter ido ao cinema, mas eu não estou muito bem para isso. As palavras da minha mãe ainda ecoam em minha cabeça.

— Eu tenho uma sugestão...

— Diga. — Peço, enquanto ele parece ponderar a respeito.

— Casamo-nos e você se torna uma cidadã inglesa. Depois, eu te dou o divórcio. Eu não pretendo casar com ninguém mesmo... — Harry dá de ombros.

— Vai ser um solteirão convicto?

— Tipo isso. Um George Clooney da vida real. A diferença é que eu não sou famoso.

— Mas é igualmente gostoso.

Eu sinto o rosto esquentar e fica ainda pior quando Harry gargalha. Mas, que culpa eu tenho se falei a verdade?

— Eu gosto quando você perde o filtro entre o cérebro e a boca. — Ele beija a minha têmpora.

— Acho que já está tarde... Vamos voltar?

— Claro.

Harry levanta e me estende a mão. Casamo-nos. A palavra ecoa em minha cabeça e eu meneio levemente, querendo afastar essa ideia ridícula da cabeça. Caminhamos de mãos dadas, tranquilamente.

— Eu quero ver quando você encontrar a mulher perfeita para te fazer perder a cabeça.

— Você já faz isso comigo, meu doce. — Ele afaga o dorso da minha mão. — E, acredite, é realmente perfeita. — E beija, sorrindo imensamente para mim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do pedido de casamento??
Gente, eu estou quase vomitando arco-íris com esses dois.
Sorte de eu estar namorando, apesar de ele ser um leonino, porque eu juro que, se terminássemos, eu ia em busca do meu peixinho.
Sou virginiana, como já sabem. Então, fico cheia de amores.
Fazer o Harry é tranquilo demais para mim, já que pego minha grosseria, chatice, frieza, mas a Laila realmente é um desafio. Nunca fiz uma personagem assim, lunática, mas como eu ando me perdendo em devaneio demais ultimamente, isso me ajuda a fazer o mesmo com ela.
Bom início de mês.



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