Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olar. Essa é a partida.
História em processo de criação.
Cada capítulo equivalerá a um dia.

Sem mais, boa leitura.



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Valeu a pena passar horas estudando sem me dar ao luxo de me divertir. Concluí o ensino médio com louvor em todas as matérias. Sorrio, satisfeita e orgulhosa demais de mim, por mais que mais ninguém esteja. Observo meu boletim e me aninho à poltrona da classe econômica de um avião a caminho de Londres. E pensar que eu estou saindo do Brasil. Ou melhor, já saí. Fiz minha última escala e tenho que dizer que a vida de quem vive de avião em avião, fazendo escalas é terrível. Calma, Laila. Você está mais perto do que nunca. Foram meses de aulas de inglês numa escola particular e praticando à distância com ninguém menos que Bruno, melhor amigo de infância da minha irmã mais velha, que rumou para fora do Brasil e prometeu me ajudar. Como eu sabia que ele é um homem de palavra, me preparei para tal momento. Juntei todas as minhas economias, trabalhei numa lanchonete perto de casa, a fim de ter mais algum trocado, já que eu sabia que meus pais jamais apoiariam tão decisão, dei aulas particulares de todas as matérias, trabalhei como babá. Tudo nos horários depois da escola, quando meus pais me libertaram da árdua tarefa que era vigiar os gêmeos. Não foi nada fácil, mas, eu gosto mesmo é do desafio

E eu sei que começar uma vida nova, num lugar novo, vai ser um dos maiores da minha vida, se não estiver no topo da minha pequena lista. Ao sair do meu país, decidi jogar tudo para o alto e passar a focar mais em mim. Ser a filha do meio, cercada por quatro irmãos, não é a coisa mais fácil. Toda a preocupação da família estava sobre os dois primeiros e os dois últimos. E eu, sobrei completamente. Nunca fui o tipo de garota que dá trabalho. Só precisava despertar para a vida e agarrar as oportunidades que a ela me desse.

E a permissão para sair do país, algumas pessoas me questionaram e eu devo dizer que foi a coisa mais fácil que consegui na vida. Eu sou maior de idade. Esperei exatamente pelo meu aniversário, onde eu pedi roupas. Eu não queria me despedir; nem tinha tempo para me dar ao luxo, então deixei uma carta. Só espero que eles não mandem as forças armadas. Sinceramente, eu acho que não. Pelo menos é uma boca a menos na casa para alimentar, uma pessoa a menos para se preocupar. Isto é, se é que se preocupavam comigo.

Saltei tanto de avião em avião que, depois do segundo, decolar e aterrissar nem me incomodei mais. Ao cruzar o portão de desembarque, a primeira coisa que vejo, é o meu nome em vermelho numa folha branca. Balanço a cabeça em negativa e corro até Bruno, como uma retardada, graças a mochila nas costas, abraçando-o com força. Foram 5 longos anos longe desse cara, que tanto me ajudou. E eu sinto meus olhos marejarem.

— Lalinha, não chora. — Ele me aperta, enquanto eu fungo.

— Senti tanto a sua falta, Bru. — Faço beicinho.

— Estamos aqui, agora. Juntos, pequena. — Bruno afaga meus braços.

— Caramba! — Afasto-o. — Como você está gostoso. Vou te roubar para mim.

Bruno ri alto, me abraça de lado e nós vamos pegar as malas que eu trouxe, além de uma bolsa esportiva. Em seguida, vamos direção ao estacionamento do Aeroporto da Cidade de Londres. Conto-lhe como foi a viagem até ali e algumas coisas que aconteceram desde a última vez que nos comunicamos. Sequer consigo acompanhar a paisagem lá fora, porém vejo os prédios elegantes serem substituídos por casas de fachadas incríveis e por fim, uns prédios decadentes.

— Não se assuste — diz Bruno. — Ninguém por aqui se preocupa muito com a fachada e sim, com o interior. Você vai ver do que eu estou falando.

Dou de ombros e o espero estacionar diante de um prédio de 4 andares. Não tenho ideia do que pode ter sido antes de ele começar a morar. Aparentemente, o local é grande e eu espero que valha a pena.

Bruno sai do carro e vai abrir o portão, deslizando-o para o lado. Espero-o voltar e quando ele estaciona por ali, eu retiro o cinto. Saímos e eu pego minha mochila no banco de trás, colocando-a nas costas rapidamente. Fecho a porta e Bruno pega as outras malas, ativa o alarme do seu carro de modelo popular. Ele fecha o portão e eu pego uma mala de rodinha, enquanto ele traz outra e a bolsa esportiva. Sigo-o pelo local mal iluminado.

— Isso é assustador. — Desvio de umas correntes penduradas.

— Depois você se acostuma. Tem apenas uma semana para isso. É o seguinte. — Ele abre as portas de um elevador industrial. — Você tem apenas uma semana para se acostumar com as coisas por aqui, saber onde é tudo. Sabe que o meu casamento é em pouco menos de um mês e acho que a Skye não vai ficar tão confortável assim com sua presença no meu apartamento.

Eu concordo e entro. Bruno fecha a porta.

— E onde eu vou morar? Depois que casarem, claro.

— Amanhã vamos assinar os papeis onde eu te passo o galpão. — Ele aperta o botão para o último andar. — Eu te disse que ia ser seu.

O troço faz um barulho assustador e começa a subir. Eu arregalo os olhos e Bruno ri.

— Imagina isso de meia noite. — Comento.

— Os galpões estão com revestimento acústico. Veja se consegue um inglês por aqui e casa. Assim não precisa voltar ao Brasil quando o seu período de estudos acabar.

— Eu não sei. — Aperto a alça da mala.

— Vou te deixar descansar. — E assim que o elevador para, através das grades, eu vejo um homem de cabelos negros, compridos, acima dos ombros, e desgrenhados, sem camisa, com jeans preta e um cigarro preso nos lábios, recostado contra o batente da porta. Uma loira escultural sai dali, com um vestido vermelho com paetês e saltos prateados altíssimos. Ele entrega um bolo de dinheiro a ela, mantendo os olhos em mim e eu prendo a respiração. — Quando o jet lag te pegar, você vai chorar. — Continua meu amigo. — Harry.

— Bruno.

Eu desvio os olhos dos dele e sigo meu amigo em direção ao fim do corredor. Sequer me atrevo a olhar por sobre o ombro e Bruno abre a porta de metal vermelha. Entro rapidamente e me deparo com uma decoração espetacular.

— Nossa! — exclamo, surpresa com o tamanho do local. — Bruno! — Olho-o e ele sorri, deixando as chaves no aparador azul celeste. — Nunca mais eu saio daqui.

Ele ri.

— Será completamente seu dentro de uma semana. — E se larga no sofá modular azul marinho.

— É sério que você vai colocar no meu nome? Sabe que não precisa. — Sento-me na poltrona preta e muito confortável.

— Eu comprei uma casa com a Skye. Não precisa se preocupar. Será seu.

Prendo os lábios numa linha rígida e bocejo.

— O que vamos jantar? — questiono.

— Gosta de comida chinesa?

— Acho que nunca comi.

— Vamos comer frango xadrez, então. Sem segredos. Então, recomendo que tome um banho quente e relaxante.

Faço uma careta.

— Odeio banho quente. — Cruzo os braços, como uma criança birrenta.

— Depois de um tempo, você vai implorar por eles. Basta subir a escada. Viu como o pé-direito é alto? — Ele indica, deixando o lado arquiteto falar mais alto. — Dividi aqui para poder fazer uns quartos. Depois faremos um tour.

Eu concordo e subo a escada.

— Em qual porta devo entrar?

— A segunda. A decoração é simples, mas, com o tempo, melhoraremos.

— Desde que tenha cama... — Abro-a e me estreito os olhos tamanha claridade.

O quarto é grande, com as paredes de tijolinhos velhos, e a diante da porta, possui uma janela imensa, que vai de um lado a outro. Sob ela, uma mesa de estudos, com espaço para livros de cada lado. A cama é de cabeceira acolchoada, bege, com as cobertas brancas e impecáveis. O piso é de madeira de cor de cerejeira, porém não sei se é apenas a cor. Espero que ele tenha alguém para ajudar com a arrumação daqui. Porque não deve ser algo fácil de fazer. Entro, deixo a mochila sobre o recamier diante da cama, a mala ao lado e decido analisar mais o local. Até aqui o pé-direito é alto. Sinceramente, eu não preciso de muito para me sentir confortável; umas luzes de natal sobre a cabeceira, umas plantinhas, uns porta-retratos coloridos...

— Suas malas. — Bruno as coloca ao lado da porta. — As que mandou anteriormente estão no closet. Chegaram intactas.

— Obrigada. E aqui é lindo.

— Não tem de quê. Vou fazer o pedido.

Bruno sai e fecha a porta.

Vou até a parede diante da cama e encontro uma porta ali. Abro-a e me deparo com um closet. Uau. Eu espero ter roupas para ocupar um lado. Imagina lotá-lo com umas de frio? Vejo outra porta ali e abro, encontrando o banheiro.

A área do banho, separada pelo box, é revestida de azulejo de tijolinhos brancos, com uma faixa preta há um metro do chão, aproximadamente. Esta, circula todo o cômodo e abaixo, mais azulejo de tijolinhos. O piso é de cimento queimado, o box, de vidro transparente, possui um contorno de alumínio preto. Esse estilo industrial é mesmo incrível.

A iluminação, além de partir de uma janela alta e comprida, vem de umas lâmpadas penduradas pelo fio, que foram enrolados em canos pretos. Também tem delas sobre a pia, dando uma claridade sem igual ao espelho que tem por ali. Sob a pia, três prateleiras, presas também por canos de metal. A bancada ali é de cimento queimado.

— Certo. Talvez eu nunca me acostume com esse local.

Fecho a porta e dispo-me, aproveitando o fato de ter umas toalhas alvas nas prateleiras sob a pia e entro no box, descalça. Abro primeiro uma torneira, de onde sai uma água extremamente gelada, então abro a segunda, o que resulta num aquecimento. Ajusto a temperatura e então, tomo o meu banho. Utilizo o sabonete líquido que há por ali e não demoro a sair. Passo um tempo ainda dentro do box, esperando que a água escorra um pouco e então saio, pegando a toalha e enrolando no meu corpo. Não me atrevi a molhar os cabelos, já que o sono está me deixando atordoada.

Saio do banheiro, do closet e tranco a porta do quarto. Abro a mochila, despejando meus trapos sobre a cama, e vasculho por algo apresentável; de presente para meu último aniversário no Brasil, pedi a uma tia que trouxesse, dos Estados Unidos, roupas de frio de lá. Simples mesmo, como casacos de lã, suéteres. Bruno havia mandado uns trocados, que deu para ela comprar, pelo menos, quatro de cada um deles. Minha família me deu umas calças jeans e de calçados, eu trouxe apenas uns novos. Porém, como aqui dentro é aquecido, eu uso uma calça moletom, que furtei do meu irmão mais velho, Felipe, uma camiseta de Educação Física da minha antiga escola e um conjunto de lingerie novo.

Vou até o espelho, desfaço meu rabo de cavalo e o refaço, domando meus cabelos castanhos. Calço chinelos Havaianas com estampa da Branca de Neve, pego a toalha e saio do quarto, descendo a escada.

— Gostou do seu quarto? — questiona Bruno.

— É divino! Caramba! E aquele closet? E o banheiro?

Encontro-o sob o mezanino, arrumando a mesa de jantar.

— Sabia que você ia gostar.

— Eu amei, querido. Onde eu estendo?

— Na área de serviço. — Ele indica o espaço sob a escada. — Segunda porta.

Vou até lá e encontro uma máquina de levar, secar, umas prateleiras, cestos e varais. Estendo e assim que volto, a campainha ecoa.

— Pode ver quem é? — Bruno me olha.

— Claro.

Vou até a porta e abro-a, encontrando o tal Harry. Seus cabelos parecem mais desgrenhados, porém estão presos. Ele está mais apresentável. A pele é de um tom de cappuccino, lindo demais. Ele usa uma camisa de estampa quadriculada vermelha e preta, e a mesma jeans, eu acho.

— Bruno? — questiona.

Indico-o por sobre o ombro.

— Quer que eu o chame ou você entra?

— Entra, Harry — diz Bruno. — Trouxe os DVDs?

— Com licença.

Gesticulo e ele entra, indo em direção à localização do meu amigo. Fecho a imensa porta e me sento no sofá, esperando que eles resolvam o que têm para resolver.

— Vem, Lalinha.

Apresso-me até a mesa de jantar e então Harry levanta.

— Espero que sirvam — diz.

— Gosta de filmes de terror? — questiona Bruno.

— Não! — exclamo. — Sabe que morro de medo.

— Então não vão servir. Eu acho que alguma ex esqueceu algo meloso lá em casa. Posso pegar para você. — Harry me fita com os olhos escuros.

— Não quero ver romance. Desculpe decepcioná-lo.

— Qual o seu gênero?

— Ação.

— Eu já trago.

— Não demora que eu estou faminto. — Bruno o acompanha até a porta. — E pode entrar sem formalidades.

— Ele vai jantar conosco? — questiono, assim que o vizinho sai.

— Sim. Sempre jantamos juntos, quando a Skye não está aqui.

— Espero que, quando você se mudar, o leve junto. — Cruzo os braços e Bruno ri.

— Engraçadinha... — Ele volta e me abraça.

— E onde está a sua noiva?

— No hospital. Tem plantão hoje.

— Ela é médica?

— Residente. — Bruno abre um imenso sorriso alvo, orgulhoso.

— Ah, sim. — Sorrio e olho a mesa. — Isso é frango xadrez? — Indico o prato.

— É. Já comeu?

— Não. — Faço uma careta.

— Desconheço essa mania de recusar um alimento apenas ao olhá-lo — diz Harry, entrando.

Mantenho a boca fechada e então nos acomodamos à mesa. Eles começam a conversar sobre futebol europeu, e, por mais que eu ame e entenda do assunto, permaneço na minha. Estou cansada demais; a viagem foi longa e chegar aqui num horário, como se tivesse voltado no tempo, é estranho. Sempre fui fã de geografia e quando o assunto era fuso-horário, eu me jogava de cabeça e tirava todas as dúvidas, porém, uma coisa é teoria, outra é a prática.

Ao fim da refeição, eu cuido da louça, depois de muito insistir, enquanto eles sentam no sofá, a fim de estender mais a conversa.

— Rapazes, eu estou indo dormir — digo e percebo o vizinho me olhando de cenho franzido.

— Ela está indo dormir — diz Bruno, em inglês, e só então eu percebo que saiu em português. Faço uma careta.

— Desculpa. — Prendo os lábios numa linha rígida. — Até mais.

Vou em direção à escada.

— Mas, e o filme? — questiona Harry e eu o olho.

— Outro dia. Desculpa. Cruzar o Oceano foi cansativo. — Dou um pequeno sorriso.

— Tudo bem, então. Durma bem.

— Obrigada.

Entro no meu quarto, arrumo minha bagunça e vou escovar os dentes. Quando, enfim, me deito, não demoro a apagar.


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Notas finais do capítulo

Espero vocês nos reviews.
Relembrando, cada capítulo equivale a um dia.
Esse foi o primeiro dela.



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