The End Of The Peace escrita por Saffra Everdeen Mellark


Capítulo 10
A carta




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Dormi no meu quarto de sempre, aquele de que sempre gostei. O Finnick dormiu no quarto de hóspedes. Na verdade, não dormi, fiquei a noite toda acordada a pensar no meu futuro e nos Jogos.

 

—Bom-dia - chego à cozinha para tomar o pequeno-almoço, toda a gente se encontra na mesa, com a exceção do Ryen.

—Dormiste bem, Willow? - o meu pai pergunta enquanto eu me sirvo de sumo de laranja.

—Eis uma pergunta cuja resposta é sabida - tiro um pouco de bolo e duas bolachas, tudo feito na padaria.

—Eu também não dormi muito - confessa o Finnick.

—Bem, está na altura de eu ir indo para o funeral do Harry - toda a gente para de comer.

—Tu vais?! - a minha mãe questiona e eu assinto.

—É o mínimo que posso fazer - levanto-me e ignoro qualquer coisa que ela possa ter a dizer.

—Vou contigo - o Finnick segue-me em direção ao cemitério. - Que querias dizer com o Distrito da morte?

—Eu não sei se tens noção, mas estás a pisar terras que foram cinzas, maior parte do campo tem abaixo dele corpos em decomposição, descompostos, em alguns casos, o vento transporta cinzas de pessoas carbonizadas - ele olha para em volta. - O símbolo proibido foi criado aqui para dizer adeus aos que partiam.

—Bem visto - quando chegamos ao cemitério, os amigos dele, bem como a família, olham para mim.

—Sai daqui! Desaparece! Traidora! Assassina! - eu levanto os braços e continuo a caminhar devagar.

—Eu vim para me despedir do Harry, ele e eu éramos aliados - digo.

—Tu mataste-o! És uma assassina! Ele devia estar de volta, não vocês os dois, os queridinhos! -suponho que a mulher que chora enquanto grita, é a mãe dele.

—Eu nunca usei o Harry para sobreviver! Eu nunca o consegui salvar, mas eu fiz-lhe justiça, eu matei aquela que o matou. Para mim, o Harry devia ter ficado! Deixe-me despedir-me dele, por favor! - eu peço.

—Tens um minuto e desaparece-me da frente, não consigo sequer olhar para ti, víbora andante! - eu chego perto do caixão, está lá o corpo, começo a chorar.

—Harry, onde quer que estejas, eu nunca quis que tivesses morrido, muito menos desta forma. Tu não eras só meu aliado, não penses que te usei, eu gostava de ti e considerava-te meu amigo. Morreste a proteger-me e eu nunca vou poder retribuir, eu espero que algum dia me possas perdoar por não ter estado lá para ti quando precisaste mesmo de mim - puxam-me dali para fora, eu sabia que ninguém gostava de mim naquele Distrito, mas isto foi demais para mim.

Estou a ir com o Finnick para fora quando um rapaz vem atrás de nós a correr, pedindo para que esperássemos.

—ESPEREM! WILLOW! - ele vem com grande velocidade e vai parando gradualmente quando se aproxima de nós. - O meu nome é Caleb, sou amigo do Harry, quer dizer, era.

—Olá, Caleb - cumprimento-o.

—Eu queria dar-te esta carta, o Harry ia entregar-ta, mas foi escolhido e nunca teve oportunidade de o fazer - eu assinto e pego-lhe.

—Queres vir tomar um chá, qualquer coisa, a minha casa? - ele sorri fraco.

—Não quero incomodar - ele recusa e eu seguro-lhe no braço.

—Não incomodas nada, de forma alguma. Anda lá... - após pensar durante alguns segundos, ele abana a cabeça em forma positiva. Vamos em direção à Vila dos Vitoriosos, quando entramos reparo que ele olha para cada pormenor do local. 

—Nunca tinha estado na Vila dos Vitoriosos - a afirmação dele não me surpreende, raramente as castas mais pobres podem ter o privilégio de virem aqui. Das castas mais baixas, apenas a Posy e a Hazelle nos visitam. - Que flores são estas?

—Prímulas - sou direta. - As flores da morte.

—Convenhamos o que é que no Distrito 12 não está relacionado com mortes? - o Finnick parece surpreendido por eu não ser a única a dizer isto.

—Bem, sente-te à vontade, como se estivesses em tua casa! - ele olha em redor, parece maravilhado, não é para menos... o Bairro de Lata cai aos pedaços... 

—A tua casa é linda! - eu sorrio.

—Esta é a dos meus pais, a minha só está pronta daqui a um mês - ele assente.

—Willow, já estás em casa? - ela chega à sala. - Temos visitantes! O meu nome é Katniss, sou a mãe da Willow. Tu és...

—Sou o Caleb, amigo do Harry. É uma prazer conhecê-la oficialmente - ela dá um sorriso triste.

—Lamento imenso pelo Harry - ele assente.

—Eu sabia que as chances de ele ser o Peeta eram reduzidas - ele tenta brincar e causa um clima estranho. 

—Bem, já que estão em casa eu vou caçar - quando se apercebe do que disse olha para o Caleb.

—Eu também o faço - ela sai.

—Serve-te - trago comida para a mesa, ele come imensa.

—Desculpem, mas... - eu corto-o.

—Não faz mal. Felizmente, nunca passei esse tipo de dificuldades, mas a minha mãe passou imensas. Se quiseres levar para ti e para a tua família, sente-te à vontade - eu sempre gostei de ajudar as pessoas.

—Eu não posso aceitar - eu separo para ele e obrigo-o a aceitar. - Porque me ajudas?

—Porque não sou tão má pessoa como corre por aí, eu preocupo-me - além disso, dou-lhe 4 pães da padaria do meu pai. - Se precisares de alguma coisa, conta comigo.

—Ok - o meu irmão desce neste momento.

—A minha irmãzinha faz caridade agora - nota-se que já está nos copos.

—Ryen, tu não tens a Daisy? - ele começa a rir-se.

—Ela foi lá abaixo, o pai está na padaria, a mãe foi caçar, pensei que estivesse sozinho! Eu vou ver o Hayhay - ele cai ao chão e o Caleb vai ajudá-lo. -A tua irmã... eu lembro-me dela... 

—Deves estar a fazer confusão - ele engole em seco.

—Não estou nada! Ela foi a miúda que se suicidou na arena, eu conheci-a, andava comigo na escola e demos uns amassos atrás da escola - ele estava podre de bêbado.

—Eu vou com ele, Willow - o Finnick sai e leva o Ryen dali para fora.

 

 

—Desculpa pelo meu irmão, é o álcool a falar - ele olha para baixo e vejo uma lágrima a escorrer-lhe pelo rosto.

—Ela não se matou apenas a ela, matou os meus pais e deixou-me a mim com a minha irmãzinha para criar - respiro fundo e abraço-o. - Chamava-se Aria.

—Como se chama a tua irmã mais nova? - tento desviar o assunto.

—May - ele sorri ao dizer o nome dela. - É loirinha e tem olhos azuis, a luz dos meus dias.

—Adorava conhecê-la um dia - deixo escapar.

—Ela gosta muito de ti - eu fico confusa. - Nós sempre te vimos passear pelo Distrito, ela adora-te. Desde a forma de vestir, ao sorriso, ao cabelo, adora-te.

—Quem diria... Afinal ainda há alguém neste Distrito que gosta de mim - ele ri.

—Eu gosto - olho para ele com um sorriso. - Bem... eu tenho que ir buscar a May, vemo-nos por aí. Não te esqueças de ler a carta do Harry!

—Não esqueço. Vemo-nos por aí, então - sorrio e abraço-o. Ele sai e eu tiro a carta do envelope.

 

Querida Willow,

Provavelmente nunca ouviste falar de mim, nem deves ter reparado na minha existência, portanto... sou o Harry.

Não sei se te consegues lembrar de um rapaz loiro que estava sempre calado, mas eu lembro-me perfeitamente de ti e do dia em que te conheci.

Foi no primeiro dia de escola, nós éramos do mesmo ano, estávamos a dar a História de Panem e a professora falou dos teus pais, tu levantaste-te e corrigiste-a quando ela disse que eles se conheceram nos Jogos. Fiquei fascinado com a tua perspicácia, aquela coisa que eu poderia apenas sonhar em ter.

Lembro-me que tinhas o teu cabelo loiro preso numa trança, que provavelmente tinha sido feita pela tua mãe, usavas um vestido amarelo às florinhas e umas sandálias castanhas. O que mais me chamou à atenção foram os teus olhos cinzentos, incrivelmente lindos.

Desde esse dia que sempre olhei para ti na rua, o Caleb, o meu melhor amigo, farta-se de gozar comigo por fazer isso, mas eu não consigo evitar.

Tudo isto para te dizer algo que nunca tive coragem de te dizer cara a cara: gosto de ti desde o dia em que te vi e nunca mais parou.

Do pinga-amor,

Harry Dornan

 

Choro sozinha. A única razão pela qual ele me protegeu foi porque gostava de mim e eu nunca cheguei a saber disso quando ele estava vivo. Eu não posso dizer que sentia o mesmo, mas eu queria ter tido chance para falar com ele sobre isto.

Sinto que braços fortes me abraçam enquanto choro, o ser que me envolveu puxa o meu queixo para cima e apenas sou capaz de sentir os seus lábios quentes a pressionar os meus. Então, sensações fantásticas e inexplicáveis invadem o meu corpo.

O Finnick Odair voltou a beijar-me.

 

Continua...

 


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