“We all need someone to hold

You've been fighting the memory, on your own
Nothing worsens; nothing grows
I know how it feels being by yourself in the rain
We all need someone to stay
We all need someone to stay

Hear you, falling and lonely, cry out
Will you fix me up? Will you show me hope?
At the end of the day you were helpless
Can you keep me close? Can you love me most?”

Someone To Stay- Vancouver Sleep Clinic

Lydia se viu perdida no meio da cozinha e nem conseguia lembrar o porquê tinha ido até lá. Consumida por uma melancolia repentina, cedeu a vontade de dobrar as pernas e sentar no chão frio, apoiando os cotovelos no chão de modo que a coluna ficou inclinada, parte do cabelo tocando o piso.

Apesar de parecer algo exagerado e sem razão, assim que Scott e Stiles saíram de casa, Lydia se sentiu tão sozinha que não conseguiu suportar. De repente seu corpo se tornou oco, como se alguém tivesse arrancado seus órgãos e tudo que que ela pode fazer foi encarar o piso gelado, clamando em silencio para que a dor sumisse.

Mesmo exausta por causa da noite que passou em claro, os olhos de Lydia se recusavam a fechar. Tudo que ela queria era chorar, se livrar do aperto insuportável no peito, se libertar de todo e qualquer sentimento.

Lydia queria lembrar. Não apenas de alguns vultos, algumas sensações, ela queria, precisava, lembrar de tudo. O buraco em seu peito só aumentava, mas ela tinha uma fraca esperança de que se lembrasse, se tivesse certeza sobre tudo que Stiles tinha dito, ela voltaria a se sentir inteira, a se sentir bem.

Perdida nos próprios pensamentos, sufocada pelo silêncio berrante da casa, Lydia não teve noção de quanto tempo passou com ela imóvel naquela posição desconfortável, sofrendo por um vazio que ela nem sequer conseguia entender.

Em algum momento ela levantou. Os olhos arregalados presos no vazio, os lábios espremidos em uma linha reta de tensão. Desejando chorar, porém, lutando para manter cada lágrima presa dentro de si, Lydia saiu de casa sem se preocupar em pensar para onde ia.

Nem olhou para si mesma para saber qual roupa usava, ela apenas saiu. Presa em um transe, infelizmente algo já habitual por ser banshee, seus pés cansados se moverem sem rumo, a guiando por vontade própria, sem permissão da consciência de Lydia.

Quando Scott e Stiles voltaram para a casa da Martin, já no inicio da noite, não encontraram Lydia. Antes de se dar conta do desaparecimento da garota, o Stilinski tinha um sorriso imenso dominando o rosto, realizado e aliviado porque as pessoas que ele amava tinham tido grandes progressos na recuperação das lembranças durante o dia.

Após gritar repetidas vezes o nome de Lydia e procurá-la em cada canto da casa, o sorriso de Stiles se transformou em uma expressão de horror e preocupação. Encarou Scott em busca de explicação, mas o lobisomem também parecia assustado.

— Ela disse que ia para algum lugar?! — Stiles perguntou mesmo sabendo qual seria a resposta.

— Stiles, ela pode só ter saído para comer alguma coisa ou algo assim... — O lobisomem respondeu para tentar acalmar o rapaz. — Não podemos ficar desesperados só porque ela não está em casa.

— Liga para ela!

Vendo o receio de Stiles, Scott nem pensou em discutir. Tirou o celular do bolso e ligou para Lydia. Em questão de segundos ambos os jovens ouviram o toque conhecido do celular da Martin, denunciando que tinha deixado o aparelho em cima do sofá.

— E se tiver acontecido alguma coisa?! E-eu vou procurar por ela! — Stiles falou com pressa, aflito, pulando no lugar mesmo com a dor ainda presente em cada centímetro do seu corpo.

— Stiles! Nem pense nisso. — Scott segurou os ombros de Stiles com força, impedindo que ele andasse em direção a porta. O Stilinski até tentou lutar contra o toque restritivo, mas o McCall não teve dificuldade em resistir. — Você passou por muita coisa hoje, fica aqui enquanto eu procuro por ela!

— Não, Scott! Eu vou com você, não vou ficar aqui enquanto a minha... — A voz de Stiles morreu quando percebeu que estava prestes a dizer a palavra namorada. Desviou o olhar para o chão e engoliu em seco. — Eu só quero ter certeza que ela está bem. E se tiver tendo uma das crises de banshee andando nua pela floresta?!

Scott franziu o rosto pelo exemplo especifico que Stiles deu. Se lembrou de quando Lydia passou por aquela exata situação, andando nua pela floresta e sem conseguir lembrar de nada. Buscou em sua memória algo que mostrasse que Stiles estava com eles naquela situação, naquela época.

— Eu que sou o lobisomem aqui, Stiles. Tenho muita mais chance de encontrar a Lydia. — O humano negou com a cabeça repetidas vezes, o que fez Scott suspirar impaciente e acrescentar: — Tenho faro, força e você ainda está todo...

— Não, Scott. Você não lembra, não tem como entender! — Stiles interrompeu o melhor amigo, voltando a falar com afobação e a voz saindo grave demais. — Ela é minha, ok? Ela é minha. — Repetiu aquela pequena sentença por não poder se referir a Lydia como algo a mais. — Se eu estou assim preocupado, é porque aconteceu alguma coisa! Nós temos uma conexão, sempre tivemos! Já tinha falado para ligar para ela horas atrás, mas você veio com o papo de que eu precisava me concentrar...

Stiles continuou falando. O nervosismo fez com que tagarelasse demais, até por ter reconquistado o suficiente da confiança de Scott para poder agir daquela forma, mais como ele mesmo. Quase como se nada tivesse mudado na amizade entre eles. Quase.

Por mais que Scott acreditasse em Stiles, por mais que durante todo aquele dia os jovens tenham se empenhado em falar com o máximo de pessoas sobre o Stilinski, ainda tinha algo errado.

O xerife pareceu ter uma espécie de deja vu quando encarou o filho, Malia murmurou algo sobre ter tido alguém que a ajudava a se manter humana. Todos parecerem ter algum reconhecimento, alguma lembrança, mas nenhuma certeza, nada concreto.

Havia uma parte de Stiles, uma parte vital, que continuava esquecida por aqueles que antes o amavam. Algo ainda precisava ser lembrado, ser ressuscitado dentro das pessoas para que de fato tudo voltasse e Stiles pudesse viver em paz novamente.

— Stiles! Você e a Lydia... — Scott interrompeu o discurso infinito do garoto com o assunto desconfortável para ambos os jovens. — Vocês dois... você. — O McCall não conseguiu terminar a frase.

Desviou o olhar como se de repente fosse muito constrangedor encarar o garoto de feições tão conhecidas. A partir do momento que Scott começou a lembrar, que passou a acreditar em Stiles, ele começou a se sentir estranho em relação a Lydia.

— Não vamos falar sobre isso agora, Scott — Stiles disse arrependido das palavras que usou ao se referir a Lydia. Fechou os olhos, abaixou a cabeça e coçou o cabelo. — Agora precisamos focar em Lydia, tudo bem? Pelo amor de Deus, só precisamos encontrá-la!

Apesar do pedido e da ansiedade de Stiles, o alfa continuou parado no lugar. Levou uma mão receosa até o Stilinski e o segurou de leve no braço, tomando coragem para encará-lo nos olhos apesar do constrangimento ainda presente em toda a situação.

— Você é... você é apaixonado por ela, não é? — As palavras saíram emboladas, confusas e repletas de culpa. — E-eu, eu estou namorando a garota que meu melhor amigo gosta?

Em outra situação, Scott ter chamado Stiles de melhor amigo teria sido o suficiente para o humano sorrir em plena alegria.

— Não, Scott — Stiles sussurrou com certeza, a voz firme, os olhos focando no rosto moreno. — Não é só uma paixão, eu amo a Lydia e isso é totalmente diferente. — Por mais que fosse difícil dizer aquelas palavras, o garoto nem sequer parou para respirar: — Eu sumi por muito tempo, mas você estava aqui por ela. Só quero o bem dela e se vocês começaram a se gostar durante esse tempo, se são felizes juntos, está tudo bem.

Scott arregalou os olhos, surpreso com as falas tão inesperadas. A sinceridade e o pesar no rosto de Stiles eram atordoantes.

— Sempre amei a Lydia e por isso nunca a prendi comigo, nunca tentei a forçar a algo que ela não quisesse ou não se sentia pronta. Não vou mudar agora. Pode ser difícil para mim, mas nunca ficaria magoado com ela, ou com você. — A cada palavra proferida, Stiles se dava conta do quanto aquilo era verdade. — Como poderia ficar magoado? Vocês são meus melhores amigos, minha família. Vocês têm todo o direito de se amar de outra forma.

Após falar, os jovens ficaram em um silêncio perplexo. De imediato, Stiles se sentiu mal pelo quase beijo com Lydia naquele mesmo dia que teria se concretizado se não fosse por Scott entrando na casa.

Stiles tomou a decisão de que depois que encontrasse Lydia, daria espaço a ela como deveria ter feito assim que soube que ela namorava. Não ia tentar nada além de fazê-la lembrar de sua existência.

Ele sabia que aquilo seria difícil, insuportável. Toda vez que olhava para Lydia ele sentia saudades, desejo e acima de tudo, amor. E exatamente por esse amor que Stiles sabia que se necessário, seria capaz de enfrentar a tortura horrível de vê-la com seu melhor amigo, desde que isso a fizesse feliz.

Se ainda restava alguma dúvida em Scott, ela se desfez no segundo em que ouviu o que Stiles tinha para dizer. Ele não amava Lydia, não daquela forma, com aquela intensidade que o humano demonstrou com poucas palavras.

A consciência de que ter começado a namorar com Lydia tinha sido um erro, aumentou ainda mais o desconforto que sentia diante Stiles. Ele precisava terminar com ela assim que a encontrasse.

Decidiu isso, mas não expôs em voz alta.

— Vamos logo procurar pela Lydia — Scott disse após o silencio constrangedor, cedendo a vontade de Stiles.