Para Dominique Weasley, estar sonhando e estar acordada costumavam ter o mesmo significado; ela passava o dia encarando ao redor, com um sorriso ingênuo e deliciado, presa em detalhes impossíveis, tentando ler todos os pensamentos que as pessoas ao seu redor tinham.

— Você ao menos prestou atenção no que eu acabei de dizer? – sua prima com cabelo negro crespo, chamada Rose perguntou, em seu tom levemente agudo e instável de uma habitual manhã de segunda. As duas estavam sentadas na extensa e farta mesa da Grifinória; Rose com várias pilhas de uma espécie de café bruxo que Dominique não fazia ideia do que era, enquanto a loura se preocupada em apenas brincar com as uvas verdes sem caroços em seu prato.

Ela, no auge de seus quinze anos, tentando ao máximo esconder sua parte veela com maquiagem pesada que os trouxas da televisão costumavam usar, sem o cabelo arrumado e com roupas maltrapilhas, entregou um sorriso de desculpas a sua prima, que bufou e virou-se, impaciente, para conversar com Alice Longbottom, que parecia entretida em algo que James Potter dizia sobre o time de Quadribol da Sonserina.

Sonserina.

Casa da ovelha negra dos Potter; Albus Severus, que parecia estar animado por algo que Scorpius Malfoy, seu melhor amigo, dizia com um grande sorriso, revelando seus dentes tortos. Tentou prestar atenção, vendo que, sempre que o esquisito filho de Draco Malfoy e o do grande Harry Potter soltavam risadas, o pessoal do resto de sua casa virava seus narizes e os ignoravam por completo.

Dominique sorriu. Albus olhou para ela, acenando, com direito até mesmo música romântica no fundo. Suas bochechas se coraram ao que a loura fechou os olhos, a mente flutuando para longe, mas parecia tão real...

Albus Potter se levantou da mesa da Sonserina, caminhando pelo mar de alunos até ela, com um sorriso encantador e parecendo bem cheio de confiança. Ele começou a cantar, fazendo uma cara séria e determinada, os olhos verde esmeralda brilhando intensamente cheios de carinho.

Estendeu a mão. Dominique aceitou. Segurou sua cintura, começando uma dança lenta. Os dois pareciam unidos, em uma espécie de bolha mística e especial, apenas nos dois. Dele e dela. Suspirou apaixonada, vendo que o cabelo de Albus balançava dramaticamente e a pele do Sonserina parecia perfeita mesmo; sem a oleosidade, sem espinhas, sem olheiras, sem nada. Apenas, perfeição. Ela sorriu, presa naquele jeito único que Albus estava agindo. Dominique aceitou tudo o que estava acontecendo, balançando a cabeça no ritmo da música. Tão real...

— O que você tem? – ela virou seu rosto ao sentir suas costelas sendo cutucadas. Louis, seu irmão dois anos mais novo a encarava com descrença. Estava sozinha, percebeu, desapontada, encarando ao redor, vendo que todos da mesa da Grifinória a encaravam segurando risadinhas e comentários ácidos. – Você está bem, mana?

Balançou a cabeça e enfiou uma uva em sua boca, para que Louis se controlasse com as perguntas. Ele a mandou mais um olhar preocupado e voltou a puxar conversa com o irmão de Rose, Hugo, que estava mais vermelho que o normal com toda aquela atenção enquanto folheava um livro trouxa muito famoso que sua mãe vivia mencionando.

Albus Potter ainda conversava com Scorpius, todo descontraído e animado como sempre ficava ao redor daquele loirinho divertido e esquisito. Os dois se aproximaram e trocaram um desajeitado encontro de bocas. Tão real... Dominique mordeu sua língua, querendo sumir, o coração parecendo mais devagar à medida que ia se partindo aos poucos. Uma mão tocou em seu ombro e ela se virou.

Lílian Potter, a namorada de Scorpius Malfoy, sorriu na sua direção, o uniforme da Sonserina perfeitamente arrumado e justo em seu corpo perfeito. Ela balançou o cabelo e, sem medo algum, sentou-se ao seu lado, empurrando alguns Grifinórios com seus quadris.

— Por que está olhando para o Scorpius e o meu irmão com essa cara tão triste? – a sua melhor amiga ruiva questionou, com seu tom seco e rouco por ter, obviamente acabado de acordar.

— S-Scorpius e A-Albus, eles... – gaguejou a virou-se para encarar os dois. Agiam como se não tivesse rolado nada. Como se Dominique tivesse imaginado a coisa toda.

— Eles estavam conversando sobre alguma coisinha no mundo dos trouxas – disse a ruiva sardenta e popular, cantarolando o final. – Eu não ligo, só sei que eles não mencionaram super-heróis, então... Chato!

Dominique voltou a encarar seu menino Potter e o melhor amigo Malfoy. Os dois apenas gargalhavam juntos; nada de beijo, apenas sorrisos e comentários altos e irritantes para os Sonserinos. Ela se encolheu e Lily a cutucou com o garfo:

— Você vai comer essas uvas?