Mudança de Planos escrita por Honeyzinho


Capítulo 8
Capítulo VIII • Estranha amizade


Notas iniciais do capítulo

Olá pra você que, certamente, pensou que eu nunca mais voltaria! ♥

Mas óh: eu voltei euheueh

Sinto muito por toda essa demora pra postar. Vou tentar dar satisfação nas notas finais, caso tenham interesse em saber o motivo do meu sumiço.

Mas por hora, meu único desejo é que gostem desse capítulo.

Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707467/chapter/8

 

Se eu cheguei mesmo a cogitar a ideia de ter uma amizade compreensível e estável com Robert Müller, de fato foi por pura insanidade – ou idiotice. Depois de me encher de vodca – e muitas outras bebidas alcoólicas –, ele sequer foi capaz de se mostrar um cara responsável e me ajudar quando o meu estômago resolveu botar tudo o que eu bebera pra fora.

E, ok, não sou tão ingênua ao ponto de pensar que ele se veria na obrigação de me socorrer. Porém, aproveitar da minha ausência para enfiar a língua na boca de outra garota sendo que eu era a sua convidada fora um pouco demais para a minha consciência.

Não que o convite representasse um pedido para enfiar a língua na minha boca e não na dela. Não que eu quisesse, também, ter a língua de Robert Müller na minha boca – isso jamais.

No entanto, e sinceramente, eu esperava sim um pouco de consideração da sua parte.

Felizmente, por conta de todo esse transtorno e frustração eu conheci Fred, e não conseguia parar de olhá-lo escorado num dos canteiros logo na entrada no nosso colégio, enquanto ele lia uma apostila de Matemática, mordiscando o polegar.

Talvez eu estivesse me tornando pervertida como o Müller e esse pensamento só me fez concluir que eu devia, em definitivo, me afastar do capitão da equipe de Natação e focar em garotos altos, de ombros largos e cabelos escuros, como o Fred.

Se fosse para fazer amizade com alguém, eu precisava que isso acontecesse com um ser humano educado, inteligente e prestativo, que não te deixa “sobrar” numa festa repleta de gente insana e que te acompanha em copos e mais copos de refrigerante.

— Meu Deus, então era verdade! – uma voz feminina soou logo atrás de mim e eu nem precisei me virar para concluir que aquele comentário tinha saído da boca de Samantha Gray.

— O que você quer? – perguntei, sem entender do que ela estava falando.

— Você está apaixonadinha pelo Fred! – ela praticamente gritou histérica e eu arregalei os olhos, me esquivando e tentando sair de perto dela o mais rápido possível.

Eu havia entendido bem?

Estavam falando por aí que eu estava gostando do Frederick Anderson?

Pensava repetidas vezes no fato de que aquelas pessoas realmente não sabiam o significado de limite e respeito, quando a Gray segurou em meu braço, forçando-me a um contato visual tenebroso.

Ela era uma tremenda cobra. Pronta para o bote.

— Não seja ingênua, sua nojenta – ela falou com o seu ar superior – Você não faz o tipo dele... Aliás, não faz o tipo de nenhum cara.

Senti meu semblante se fechar e meu estômago se transformar numa geleira. Meus joelhos tremiam, enquanto meu cérebro trabalhava para processar o que ela acabara de dizer. Estava me esforçando como jamais fiz para não levar aquilo a sério.

Eu podia sim fazer o “tipo” de algum cara. Ela estava enganada.

Totalmente.

Respirei fundo, ainda olhando dentro de seus olhos. Céus, ela era bonita de verdade e, perto dela, era como se eu sequer existisse. Porém, Sam não valia nada. Nunca valeu.

Soltei meu braço de seus dedos com um solavanco e caminhei sem nem olhar para trás, indo em direção a qualquer lugar que fosse longe o bastante daquela garota.

Meu coração batia rápido e eu respirava fundo para tentar me acalmar. Tornei a pensar nos possíveis boatos e fiquei com vergonha do que Fred poderia estar pensando àquela altura do campeonato.

Meus pensamentos estavam concentrados nisso, até que senti um garoto passar por mim como uma tempestade, pisando tão forte, que parecia obstinado a abrir buracos no chão, maiores que as crateras da Lua. E bom, logo percebi que se tratava do Müller.

Ele parecia furioso.

Entretanto, estava cansada e atrasada demais para continuar me preocupando com os populares e o todo o seu mundo de infantilidades. Tinha que colocar a minha cabeça de volta ao eixo e estudar.

A semana de provas finais logo chegaria e eu devia estar pronta. Minha mãe exigia, no mínimo, cinco aprovações em universidades renomadas e, pelo menos três delas, em Direito. Eu ia precisar de paciência, foco e muito autocontrole para lidar com tal grau de responsabilidade.

O horário do lanche não é, definitivamente, minha parte preferida do dia letivo. Todos tem um lugar em alguma mesa, junto de algum grupo em específico. No entanto, essa não é a minha realidade.

Como não sou a pessoa mais popular do colégio, também não tenho uma mesa fixa com quem eu possa me sentar, lanchar e debater sobre assuntos de interesse em comum.

Não é drama de uma adolescente problemática. Simplesmente é melhor e mais seguro ficar longe do refeitório.

Entretanto, em vez de fazer como nos clichês americanos e comer no banheiro – o que é extremamente nojento –, eu sigo até o distante jardim do Instituto Dimsdalle e me sento, com a minha bandeja em mãos, de baixo da única macieira que lá existe e torno as coisas um pouco mais fáceis e melhores pra mim.

E, sim, foi exatamente isso o que eu fiz.

No entanto, mal me acomodei no meu lugar de costume e vi um garoto passar pelo grande portão do refeitório, atravessar o pátio e o gramado, caminhando em minha direção.

Era ele.

Tentei não fazer contato visual, porque eu não queria ter de estabelecer uma comunicação com Robert Müller. Não mesmo.

Mas obviamente, todas as tentativas de fazê-lo desviar para qualquer outra direção usando a força da minha mente foram em vão. Ele estava mesmo empenhado em me encontrar e, bom, encontrou.

No entanto, e estranhamente, quando ele percebeu a minha presença, parou e engoliu em seco. Por sua postura, concluí que ele não estava atrás de mim, afinal de contas. Então, o que ele fazia ali?

Nós não estávamos tão próximos, porém pude notar que seu rosto estava meio avermelhado e... Molhado?

Quando abri a boca para perguntar se ele estava bem, o garoto deu meia volta e começou a caminhar em direção à área de treinos poliesportivos.

Ou sua partida era um milagre, ou eu tinha adquirido talentos telepáticos. Só que, independentemente disso, eu não fiquei feliz por não ter de conversar com o maldito Robert Müller. Na verdade, eu me preocupei bastante.

Por algum motivo, ele, o grande astro adolescente do Instituto Dimsdalle, estava chorando. Chorando de verdade. E, por um momento, eu esqueci de toda a merda que ele aprontara comigo no final de semana e me levantei, deixando minha bandeja na grama, pegando apenas a minha mochila e indo atrás dele.

— Robert, espera! – tentei falar mais alto, torcendo para que ele me ouvisse e parasse de andar.

Ele não parou, o que só me deixou mais aflita.

— Robert, o que houve? – corri em sua direção, repetindo a mesma pergunta diversas vezes. Ele continuava avançando, quando consegui alcançá-lo.

Coloquei minha mão direita em seu ombro e, felizmente, ele parou. Fiquei de frente com Robert, que estava cabisbaixo. De fato, seu rosto estava vermelho, inchado e molhado.

— O que houve com você? – perguntei, perdida diante aquela cena. Eu jamais o imaginaria chorando daquele jeito.

Ele permanecia calado, quando finalmente olhou para mim. Seus olhos pareciam muito mais azuis, pois contrastavam com a vermelhidão de todo o seu rosto. Ele mordia os lábios sem parar, segurando o choro quando, inconscientemente, levei a mão até sua bochecha.

— Não chora mais, por favor – pedi e ele respirou fundo – Não precisa falar nada, se não quiser, mas por favor, pare de chorar.

Engoliu em seco mais uma vez e balançou a cabeça em sinal afirmativo, tentando secar seu rosto com as costas das mãos. Eu me afastei dele um pouco, já com a minha mão descontrolada em seu devido lugar, e fiquei esperando ele se recompor.

— Meus pais vão se divorciar – revelou, após um longo tempo de silêncio. Sua voz estava embargada e muito mais baixa do que de costume. Entretanto, ele não precisou explicar mais nada para que eu entendesse sua dor.

— Oh, Robert – sussurrei – Eu sinto muito. Muito mesmo.

Ele deu de ombros e voltou a caminhar, mas dessa vez lentamente, permitindo que eu o acompanhasse. Nós não falamos nada, até chegarmos à pista de corrida, onde nos sentamos no chão mesmo.

— Eles têm brigado muito – ele contou e me encarou. Seu rosto estava seco, mas seus olhos continuavam úmidos. E intensamente azuis.

Eu mal podia imaginar que Robert Müller tivesse problemas em sua vida pessoal. Tudo o que ele fazia, tudo o que ele representava no colégio tinha a ver com a perfeição. Infelizmente, saber que essa não era a realidade, além de me deixar chocada, com certeza me deixou bem mais chateada do que eu esperaria ficar.

— Talvez o divórcio seja a melhor saída, Robert – falei e ele assentiu, sem se pronunciar – O tempo passa, as pessoas mudam... Você tem o direito de ficar triste, ok? Mas talvez essa decisão faça bem para os seus pais.

Dessa vez seu olhar permaneceu fixo em mim por alguns minutos a mais. Fiquei realmente nervosa e com medo de ter dito alguma coisa errada, porém isso era o que fazia sentido para mim. Eu estava sendo franca com ele e comigo mesma.

— Você é uma boa companhia – ele afirmou, pegando-me de surpresa com seu comentário – Eu te devo um pedido de desculpas. Ou vários.

— Relaxa.

— Eu fiz merda com você e, mesmo assim, é você que está aqui comigo – ele disse e olhou para o chão, respirando fundo – Sou um idiota, imbecil.

— Ei, para com isso – comecei a dizer. Não que eu não concordasse, mas era meio cruel fazer autodepreciação na situação em que ele se encontrava. Cruel e muito injusto – Você aproveitou a festa. Eu é que não devia ter ido.

— Claro que devia – ele disse – E nós precisávamos ter ficado juntos.

O que ele queria dizer com juntos?

— Estão dizendo que você e Fred... – ele comentou e olhou em meus olhos. Parecia estar implorando por algo – Você sabe, que vocês dois...

— Oh, não!— neguei, esganiçada. As pessoas estavam realmente pensando que eu e um atleta bonitão estávamos saindo. Não que eu fosse reclamar, mas era ridículo. E, não sei explicar, porém era como se eu quisesse que Robert entendesse que a ideia de Fred e eu num relacionamento era muito ridícula – Claro que não. Ele só foi simpático comigo na festa, entende?

— Sim – Müller falou e me deu um meio sorriso.

— Sabe, a gente podia fazer algo legal. Você triste assim não se parece nada com o garoto prepotente, arrogante e galinha que eu conheço – falei, tentando soar brincalhona, dando um soco leve em seu braço.

Nossos olhares se cruzaram pela milésima vez naquele dia e, finalmente, ele abriu um sorriso satisfatório.

— Claro, eu topo – falou convicto – Mas nada de festas desta vez.

— Esqueça as festas – disse e pensei um pouco. Não que eu precisasse, já tinha a solução para a sua tristeza na ponta da língua – Eu vou cozinhar pra você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? ♥

Espero que SIM, porque gente, foi tão difícil decidir o contexto desse capítulo 8...

Bom, como eu disse, vou tentar explicar o que rolou comigo nesse meio tempo e já adianto que não foram dias muito bons.

Meio que eu tenho sérios problemas emocionais e vivo em constantes explosões com as pessoas com quem convivo e... Isso me afetou completamente nesse tempo que passei sem postar. Uns dias eram ok, super tranquilos, mas a maior parte deles estava sendo terrível, o que só colaborou para o meu bloqueio criativo.

Então, em vez de tentar escrever a todo custo e correr o risco de divulgar algo que não estaria, de fato, bom, eu preferi tirar um tempo para colocar minha vida no lugar. Minha cabeça no lugar.

Mas agora, felizmente, estou melhor e dei o meu melhor pra conseguir atualizar Mudança de Planos. Sinto que o próximo capítulo não vai demorar a sair, porém caso eu esteja enganada, tenham paciência comigo.

Até breve! ♥ Beijinhos.