Desafio de mini fics Star Wars escrita por Livia Y


Capítulo 6
Uma Nova Dança (Universo Alternativo)


Notas iniciais do capítulo

Outro desafio da Lu: "Gostaria de ver meu querido casal Rey Ben aqui na terra, no nosso tempo. E queria que ela fosse bailarina huehuehue"



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Eram exatamente nove horas da manhã, e o sol entrava pela janela do salão no segundo andar formando um facho de luz, como se um holofote amarelo iluminasse o palco.  Ela já estava lá quando cheguei, fazendo alongamentos sentada no chão, bem debaixo da luz. Eu podia vê-la se movimentando quase em câmera lenta. O corpo dela era esguio, com as poucas curvas de uma bailarina clássica, mas sem o ar mortiço das garotas que ficam doentes de magreza. Ela parecia saudável e forte, a pele branca com um leve bronzeado, as bochechas coradas. Ela costumava prender seus cabelos castanhos em três coques detrás da cabeça, e com a claridade de hoje eles pareciam dourados, brilhantes, cheio de fios soltos ao redor de seu rosto. Partículas de poeira também brilhavam sob o sol, como se ela estivesse no meio de uma nuvem de purpurina.

Sei que já deu para notar que eu sou um cara dramático, mas acredite quando eu digo que ela era a garota mais linda que eu já tinha visto na vida. E eu poderia passar o resto da minha existência, que já era bastante contemplativa, apenas observando Rey dançar. Juro que meu coração parou quando ela notou minha presença e sorriu para mim, e só voltou a bater quando eu me virei de costas para ela, para ligar os ventiladores. Pois é, ela piorava minha arritmia cardíaca, e se eu não morrer brigando com meus pais, certamente morrerei de infarto no meio de um treino de pliés e jetés.

E hoje o sorriso dela me atingiu como uma espada... tentei sorrir também, mas tenho certeza que ela deve me achar deficiente mental, porque eu nunca consigo rir de volta. É frustrante ter orelhas gigantescas, dentes enormes, e ficar pensando que você pode matar de susto a próxima pessoa para quem sorrir. Às vezes eu até tentava falar algo, mas minha voz morria na garganta antes mesmo que eu conseguisse articular um “bom dia”. Aquela garota, a aluna mais aplicada do pequeno estúdio de dança do meu tio materno, era a criatura que eu mais desejava na Terra (na galáxia, no universo!), e eu simplesmente não era capaz sequer de cumprimentá-la! 

Eu nem queria ter começado a trabalhar aqui, para falar a verdade. Mas minha mãe me obrigou. Disse que eu passava tempo demais em casa, que não queria me ver as férias inteiras abraçado ao vídeo-game, e que deveria ter pelo menos alguma experiência além de “especialista em PlayStation” no currículo que enviaria para tentar admissão na universidade. No início não pareceu tão ruim: eu cuidaria da recepção, controlaria as luzes e a ventilação, varreria, providenciaria água, esse tipo de coisa. No fundo, passaria a maior parte do dia atrás do computador do estúdio, e ainda arrumaria uns trocados. Meu tio até já tinha uma garota que fazia tudo isso em troca de aulas mas, com a proximidade de um festival de dança, ela precisaria de ajuda para poder passar mais horas treinando.

Pois é, você adivinhou. Eu só soube que passaria o verão inteiro me sentindo o pior homem do mundo quando ele me apresentou à mocinha pobre que pagava as aulas com trabalho. Eu mal fui capaz de dizer meu nome (uma sílaba, três letras) quando a vi, e provavelmente ela deve se referir à mim como “o sobrinho retardado do professor Luke”.

— Ei, Ben. Será que você pode me ajudar?

Ben? Ela sabe. Meu nome. Continuei imóvel, sem saber o que fazer.

— Ben?

Meu Deus, que coisa terrível, ela deve achar que eu sou surdo, e essas orelhas tornam a coisa tragicômica. Engoli em seco. Seja homem, seu moleque! A força mental necessária para virar meu corpo na direção dela poderia ter movido uma tonelada.

— Senhorita?

SENHORITA? O que estou fazendo? Deus, me mate agora.

Uma risadinha. Ela continuava sentada no chão, as duas pernas estendidas para a frente.

— Pode me chamar de Rey, não tem problema.

Alguém chame uma ambulância, vou ter um ataque cardíaco.

— É... Rey. Sim.... Rey, do que você precisa, Rey?

Quantas vezes você vai repetir o nome dela, estúpido?

— Será que você podia me ajudar com meu alongamento?

Tocar. Em você.

— Hum... Rey... meu tio já está chegando. Você... ah... não quer... então... esperar? Rey?

Olha o que uma vida sofrendo bullying faz com você. Dezessete anos e não consegue conversar com garotas.

— Já quero estar aquecida quando ele chegar.

Eu não tinha mais objeções, subitamente meu QI tinha caído uns 50 pontos. Era melhor não falar nada, e só fazer. Sentei diante dela, pequena e toda vestida de branco. Eu tenho mais de 1,90m e meu armário só tem roupas pretas, para desespero da minha mãe. Deixei que Rey me guiasse. Eu tinha que segurar seus pés, ajudá-la a flexionar os joelhos, um de cada vez, e a tomar cuidado com sua respiração.

Enquanto fazia sua rotina, ela começou a contar como era bom ter alguém ajudando com o estúdio, ainda que fosse apenas para o festival. Era difícil dançar, trabalhar e estudar. Ela estava sempre com fome, ou com sono, ou as duas coisas juntas. Ela era órfã, mas isso não importava, porque não se lembrava de seus pais. Dançar era a melhor coisa do mundo, e ela sabia que era uma das melhores alunas, e que não iria decepcionar meu tio. Ela iria provar que o patinho feio (você está louca?) do estúdio dançava melhor que qualquer patricinha metida. E que agora que nós éramos amigos (éramos?) eu deveria ir ao festival. Era bom ter com quem conversar, ela explicou. Viver sozinha é muito ruim, e as meninas do estúdio não gostavam muito dela. Talvez porque ela estivesse sempre com fome. Ou com sono. Ou as duas coisas juntas...

Além de passar a vida assistindo Rey dançar, eu também poderia passar o resto dos meus dias ouvindo-a falar, alegre e empolgada.

Quando ela terminou, levantou-se num pulo, ágil e elegante, e me estendeu a mão. Levantei meio sem jeito, e consegui balbuciar com um pouco mais de coerência que iria sim, claro, vê-la dançar no festival.

— Não falte, Ben Solo. Eu sei onde você trabalha!

Ela se ergueu na ponta dos pés, me segurou pelo pescoço e deu um beijo estalado na minha bochecha. Devo ter ficado mais vermelho que um tomate maduro.

— Não quer comer algo hoje, depois que fecharmos o estúdio? – Precisei de toda a coragem do mundo para falar essa dezena de palavras.

Ela já estava rodopiando quando eu perguntei, e respondeu sem parar de girar:

— Sorvete! Achei que você nunca fosse perguntar...


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Notas finais do capítulo

"A menina dança sozinha
por um momento.

A menina dança sozinha
com o vento, com o ar, com
o sonho de olhos imensos..."

Mário Quintana, no poema "Dança"