Desafio de mini fics Star Wars escrita por Livia Y


Capítulo 4
O Nome


Notas iniciais do capítulo

Desafio da querida amiga Lu: "Quero pedir que escreva uma história com final feliz para Rey e Kylo"



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— E você tem medo... de que nunca será tão forte... quanto Darth Vader!

Recostado contra a porta da sala de interrogatórios, Kylo Ren tremia de ódio, de frustração, de medo. As palavras de Rey ecoavam dentro dele, como uma profecia inescapável. Como aquela simples catadora de sucata havia conseguido entrar na mente dele? Ele, tão poderoso na Força, o escolhido de Snoke para liderar a vingança do Lado Sombrio? Arrancou o sabre preso à cintura e a lâmina faiscou, iluminando-o com seu vermelho latejante. A respiração entrecortada do cavaleiro de Ren, amplificada por seu elmo, era o único som na ante-sala vazia.

Entretanto, em vez de destruir o equipamento ao seu redor em mais um ataque de fúria, Kylo saiu apressado pelos corredores. Sua mente fervilhava, de pavor e de angústia, e ele pensou em procurar Snoke. A Força parecia enovelar-se ao redor de sua prisioneira, e ele podia senti-la reverberando atrás de si. Andou sem rumo, tentando apenas se afastar daquilo, do poder que Rey emanava, cru e indomado.

Mas não chegou até a sala do holo, onde poderia contactar o Líder Supremo. Acabou trancado em seus próprios aposentos dentro da base, amedrontado e trêmulo conforme a raiva dava lugar ao ressentimento. Retirou seu capacete negro num gesto rápido, e só então deu-se conta de que ofegava, lutando para respirar. Sentou-se, buscando se acalmar, e voltou-se para o único objeto que parecia capaz de conter sua ira. Cuidadosamente, ergueu diante do próprio rosto o elmo destruído de Darth Vader.

Tentou imaginar o que o avô pensaria ao vê-lo daquela forma, se o julgaria fraco, se teria um conselho sobre o que deveria ser feito. Sentia-se tão só. Tocou com delicadeza o durasteel derretido, tentando formar em sua mente a lembrança do guerreiro que nunca conhecera, mas que tão arduamente tentava imitar. Sua mãe o odiava, o tio também não falava dele. Mais de uma vez Snoke mencionara o quão perfeito Vader fora, até se deixar levar pelo sentimentalismo e colocar tudo a perder. Kylo então jurara resgatar o legado do avô.

— Ben...

Kylo Ren ergueu-se num pulo, deixando o elmo cair, mas recuperando o precioso objeto graças a seus reflexos quase perfeitos. Quem poderia estar usando aquele nome? O nome que ele esquecera há tanto tempo, enterrado na parte mais obscura de si mesmo. Seria a garota, presa na sala de interrogatórios? Mas como? Armou-se outra vez com seu sabre, o feixe escarlate fulgurando em forma de cruz. Aquela assinatura na Força era familiar, mas ele não conseguiu identifica-la de início. Era poderosa, e se aproximava rapidamente de onde ele estava, atravessando as paredes da base, uma onda quente e inexorável avançando até ele.

As luzes do quarto tremerem e falharam, seu sabre desligou com um chiado. Por um instante ele mergulhou numa escuridão estranhamente cálida, acolhedora. Quando tudo voltou ao normal, uma figura etérea e azulada estava de pé diante dele. Seu rosto era cortado por inúmeras cicatrizes, até mesmo no crânio sem cabelos. Seria uma imagem terrível, não fosse pelos olhos bondosos e argutos que encaravam Kylo Ren. O jovem podia ver através do corpo do estranho homem o que restara do capacete de Vader.

Antes que a criatura falasse, o choque do reconhecimento atravessou Kylo Ren como um sabre de luz. Ele caiu de joelhos, os olhos fechados para conter as lágrimas que ameaçavam rolar por seu rosto pálido.

— Avô!

— Ben, meu neto... levante-se. Olhe para mim. Eu tive de atravessar um universo de iniquidade e escuridão para conseguir alcançar você.

O jovem guerreiro ergueu-se, enxugando os olhos com as costas da mão, como um garotinho faria.

— Snoke só quer usar você por causa do seu poder. Não se deixe destruir... – o rosto do homem contorceu-se num esgar de dor, mas ele continuou a falar. – Não se deixe destruir como eu fiz. Eu destrocei todos a quem amava, e para quê? Não é este o meu legado. O que eu deixei foi o perdão que pedi a Luke, à sua mãe...

— Darth Vader... – Kylo balbuciou, mas o homem ergueu a mão, interrompendo o cavaleiro.

— Não, Ben. Meu nome é Anakin Skywalker. Vader já não existe há muito tempo, e quisera eu que nunca tivesse existido. Há esperança para você. Vá embora. Abandone Snoke. Liberte a garota, e juntos vocês salvarão a galáxia.

Anakin voltou-se tristemente para o elmo retorcido. Olhou-o por um longo momento, e tornou a encarar seu neto.

— O domínio que Snoke tem sobre você termina aqui. Faça jus à sua herança. Volte para a Luz.

O homem fechou os olhos e Kylo Ren sentiu algo dentro do peito, um facho de luz irrompendo a partir de seu coração, engolfando-o em pura luminosidade. A Força, que na percepção dele sempre parecera turbulenta, uma ferramenta a ser dominada, era agora um véu plácido de serenidade e completude. Era como nascer de novo, deixando para trás a carcaça do homem cruel que ele tentava ser. Sentiu-se despertando de um longo pesadelo, acordando outra vez como ele sempre fora, e como quem deveria ter sido durante todo este tempo.

Um clarão iluminou tudo de repente, e quando acabou Anakin Skywalker também esvanecera. Ben olhou para o sabre de luz em sua mão, e largou-o como se tivesse recebido um choque. Deixou seu antigo quarto sabendo que jamais retornaria àquela prisão, construída não apenas por Snoke, mas também por ele mesmo. Havia muito perdão a ser implorado, e ele começaria pela garota na sala de interrogatórios.

* * *

Rey ergueu os olhos sobressaltada quando ouviu a porta se abrir. Era ele, Kylo Ren. Ela podia sentir a presença do monstro... mas havia algo estranho. Antes que ela pudesse determinar o quê, as algemas em seus braços e pernas se abriram. Ela tombou para frente, mas seu algoz a amparou. Rey desvencilhou-se, imaginando que tortura ele planejava para ela.

— Pode fazer o que quiser comigo, eu não vou trair meus amigos!

—Eu não vou machucá-la. Você vai fugir.

A boca dela se abriu de espanto.

— Você vai fugir, e eu vou com você.

— O quê?

— Meu nome é Ben.

Ele suspirou, e então acrescentou:

— Ben Solo. Como meu pai.

Rey o encarava, perplexa. Ben segurou a mão da catadora e abaixou o corpo, muitos centímetros mais alto que o dela, fazendo com que a garota relutantemente tocasse sua testa. Ela o observou fechar os olhos, e foi como mergulhar no lago que ela vira em Takodana – a não ser pelo fato de que as águas eram a própria mente de seu captor. Aos poucos, ela entendeu. Lágrimas rolaram pelo rosto de Rey, mas desta vez não eram de medo, e sim de compaixão. Quando tudo terminou, ela abraçou o novo companheiro, perdoando-o pelo que Kylo Ren lhe fizera. Ele correspondeu ao abraço timidamente, envolvendo-a em seus braços fortes com cautela, como se nunca houvesse abraçado alguém antes.

Juntos, Rey e Ben saíram da sala de interrogatório de mãos dadas.


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Notas finais do capítulo

"Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade"

Antero de Quental, no poema "Evolução"