Desafio de mini fics Star Wars escrita por Livia Y


Capítulo 10
O Último Jedi


Notas iniciais do capítulo

Sugestão da Estella no Facebook: "Rey filha de Luke".



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Luke Skywalker subiu os últimos degraus até o topo da ilha de pedra sob a chuva que arrefecia lentamente. O temporal, que fizera o começo da manhã parecer noite franca, transformara-se em um suave tamborilar de gotas finas, encharcando seu manto e capuz, ambos de um grosso tecido cinzento como o céu de Ach-To. Ainda faltavam pelo menos três horas até a metade do dia.

A última semana havia sido penosa, febril, carregada pelas visões de Han Solo desabando em um abismo sem fim. Morto, Luke sabia. Seu melhor amigo, seu irmão, tornara-se um só com a Força, mas Luke tinha certeza de que não fora a natureza quem clamara a vida do antigo contrabandista. Na sétima noite após seu coração apertar-se com a súbita ausência de Han nas linhas da Força Viva, Luka sonhou com Ben.

Coberto de negro como na última vez em que se viram, o rosto retorcido de angústia, o jovem dizia que se sentia partido ao meio. Pedia ajuda para libertar-se da dor que sofria. Mas, quando Luke se aproximou, Ben usou as duas mãos para enfiar seu sabre de luz no peito do tio, até o cabo.

Obrigado, Luke ainda pôde ouvi-lo murmurar antes de acordar encharcado de suor, sem fôlego, uma dor aguda entre as costelas como se realmente houvesse sido atingido pelo plasma latejante do sabre de Ben. Pensando na irmã, Luke esperou por uma trégua com a tempestade, para que pudesse meditar fora da choupana em que vivia, até sentir algo que há muito tempo não aparecia em sua mente.

Uma nave.

E era a nave de Han, aproximando-se do planeta que abrigara Luke em seu exílio voluntário, cumprindo penitência no antiquíssimo templo Jedi. Surpreendeu-se consigo mesmo ao constatar que não se importava em ter seu paradeiro descoberto: talvez quisessem apenas lhe comunicar pessoalmente da morte de Han. Mas, não era Leia quem pilotava a Millenium Falcon.

Luke podia sentir a presença familiar e amigável de Chewbacca, preenchendo a nave com sua inconfundível energia wookiee. Mas também percebeu uma assinatura na Força que se parecia tanto com a dele mesmo que Luke imaginou estar projetando as lembranças do tempo em que viajara na Falcon. Irrequieto, decidiu subir de uma vez os velhos degraus até o pico.

Ao alcançar o topo de pedra, a chuva parou por completo. Luke sentou-se diante do abismo, observando o mar calmo que o circundava até o infinito. Logo, tímidos raios de sol escaparam das nuvens, aquecendo devagar o ambiente enquanto Luke meditava, absorto, alheio a tudo ao seu redor. Sua mente vagueou sem rumo, até uma lembrança que Luke havia enterrado na parte mais remota de seus pensamentos.

Era uma brecha no tempo, um idílio em plena guerra fria após a queda do Império, vinte anos atrás. Uma mulher, de cabelos vermelhos como fogo e olhos da cor do âmbar na floresta de Endor. Um amor que se concretizou em cálidas noites de verão, curtas demais, e interrompidas pelas crescentes responsabilidades de Luke com a ordem de novos Jedis que ele havia criado.

Luke também sabia que o antigo código dos cavaleiros Jedi proibia relações como aquela, e por fim ele teve de se separar da garota de cabelos flamejantes. Aquela havia sido a mais dolorosa de todas despedidas que ele já vivenciara, e Luke passara a vida dando adeus. Eles não se viram mais, até Luke sentir que ela partira em definitivo, quinze anos atrás. E ainda doía, como se fosse tão recente quanto a morte de Han.

Quando a Falcon penetrou a atmosfera de Ach-To, a roupa de Luke já estava completamente seca. Ele pôde sentir quando, do outro lado da ilha de pedra, dois tripulantes desembarcaram, mas apenas um deles subiu os degraus sagrados do templo.

Luke pôs-se de pé e esperou, sentindo transbordar de seu peito uma torrente de sentimentos. Reconhecimento, medo, amor, gratidão, culpa... dúvida. Mas, quando a garota finalmente o alcançou, ele já sabia quem ela era, e o que viera fazer ali. A única lágrima que derramara já havia secado em seu rosto, agora envelhecido, escondido por uma barba grisalha.

Ele ouviu os passos suaves da garota na grama úmida. Ouviu sua respiração ofegante após a longa subida. Sentiu a Força nela, forte. E sentiu que havia algo de si mesmo nela, uma parte que ele julgara perdida, morta, levada pela mulher ruiva que ele fizera partir. Virou-se devagar, já sabendo o que encontraria, e ainda assim surpreendeu-se ao reconhecer a si mesmo no rosto ansioso que o encarava.

Uma filha!

Luke engoliu em seco. Sentia-se angustiado e covarde, mas não negou à garota que examinasse a face de seu pai, ainda que ele estivesse certo de que ela não fazia ideia da conexão entre os dois. Lentamente, ele abaixou seu capuz e a fitou. A jovem vasculhou algo no alforje que trazia, e estendeu um sabre de luz para Luke.

O sabre de Anakin.

A voz de um velho amigo ecoou na mente de Luke: o sabre de luz de seu pai. Esta é a arma de um cavaleiro Jedi.

Luke e a garota se encararam por um longo tempo, o vento rodopiando ao redor de ambos, o sol firmando-se quente. O ar puro de Ach-To agora rescendia ao combustível da Falcon, e não pela primeira vez Luke agradeceu pelo familiar cheiro desagradável. A menina não desviou dele seu olhar ansioso, o braço magro lhe apontando o sabre desligado.

Ao longe, o canto solitário de um porg ecoou por toda a ilha.


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Notas finais do capítulo

"At night, desperate to sleep...
you imagine an ocean.
I see it - I see the island..."



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