A União Fujoshi escrita por Creeper


Capítulo 2
Bárbara


Notas iniciais do capítulo

Oie!!! Pessoal, os capítulos são em ordem alfabética, certo? Começamos pela Bárbara!
Boa leitura ♡!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707060/chapter/2

Bárbara
Assim nasceu uma união!
Como de costume, estava em meu quarto o qual dividia com minha irmã mais velha, com a janela fechada, deitada em minha cama, escondida debaixo do cobertor, lendo um mangá yaoi cuja as páginas eram iluminadas por uma mini lanterna que eu segurava entre os dentes. Aquilo era o que eu mais fazia quando estava sozinha.
–To entrando!-ouvi a voz de Nancy avisar, ela tentou girar a maçaneta várias vezes, mas sem sucesso.-Por que isso daqui tá trancado?!-parecia brava e indignada.
–N-Nancy?-me assustei, cuspindo a lanterna e atirando o cobertor no chão, derrubando também algumas de minhas pelúcias que eu colecionava.
–Quem mais seria? Abre isso aqui, Bárbara!-Nancy bateu na porta com força.
–Só um segundo!-pedi. Olhei para os lados desesperada, com o mangá em minhas mãos, cerrei os dentes e fitei com atenção o colchão. Minha cabeça deu um estalo, acabei por esconder meu precioso debaixo do colchão, corri até a porta e a destranquei, dando de cara com uma Nancy bufando impaciente.
–O que estava fazendo?-Nancy arqueou uma sobrancelha, desconfiada.
–N-Nada!-respondi rapidamente sentindo meu rosto esquentar.
Ninguém podia saber da minha secreta paixão por Boys Love! Nem mesmo Nancy!
Nancy podia ser minha irmã e minha melhor amiga, mas esse era um segredo que eu preferia conservar e guardar para mim mesma. Quem sabe o que ela poderia achar? O que iria pensar de mim? E pior...E se me entregasse aos meus pais?
Era melhor não arriscar!
–É sua vez de fazer o jantar!-Nancy disse entrando e desabotoando sua camisa xadrez que era maior que seu tamanho.-Mamãe vai passar a noite na casa da vovó e papai só vai sair do trabalho mais tarde...-acabou de desabotoar e jogou-a em sua cama, por baixo vestia uma regata preta.
–Ah, Nancy...-fiz manha.
–Deixa de reclamar!-Nancy revirou os olhos.
–Bem, é minha vez de fazer o jantar, mas é sua vez de arrumar nosso quarto!-cruzei os braços e lhe mostrei a língua em um ato infantil.
–Tudo bem, eu arrumo!-Nancy disse prendendo os cabelos pretos em um coque bagunçado no alto da cabeça e começando a dobrar umas roupas que estavam espalhadas pelo chão.
Era sempre assim, dividiamos as tarefas, trabalhando em equipe.
☆☆☆
Acabei de fazer o jantar, ao desligar o fogo e tampar as panelas, dei uma olhada pela janela que ficava acima da pia, observei nosso quintal e desviei meu olhar para o céu. O sol estava se pondo rapidamente e as nuvens negras carregadas de chuva tomavam controle.
–Vai cair um belo temporal...-voltei meu olhar para o quintal, as roupas lavadas balançavam no varal com o vento, como se fossem cair a qualquer momento, aqueles pregadores não iam ser capazes de segura-las.
Suspirei e andei até o quarto, ia pegar uma muda de roupa e minha toalha para que pudesse tomar banho.
–Nancy, você precisa recolher as roup...-falei ao empurrar a porta que estava semi-aberta. O quarto estava um brinco! Metade era branco com decoração de pandas (parte da Nancy) e metade era rosa com decoração de unicórnios (minha parte), nos chame de infantis, mas pelo menos somos felizes. Tudo perfeitamente ajeitado, dava até orgulho daquela desleixada que conseguiu arrumar direitinho.
Apesar de tudo, eu não conseguia achar aquela garota, olhei ao redor, começando de sua cama (uma beliche, porém não havia colchão na parte de cima, somente na de baixo) e indo até o outro lado do quarto, onde ficava a minha (de solteiro).
Arregalei os olhos e recuei alguns passos, assustada.
Nancy estava sentada em minha cama, lendo meu mangá que eu havia escondido! Ela estava tão fixada que nem me viu!
Acabei esbarrando na porta, dedurando minha presença, só assim ela me olhou.
–Bárbara...-Nancy levantou o olhar, me encarando séria.-Isso é seu?-balançou o mangá.
–Não!-menti nervosa, ficando endurecida no lugar.-É...D-De u-uma...Amiga! Estou...A-Apenas guardando para e-ela!-gaguejei.
–Amiga, é?-Nancy estranhou, voltando a ler.-Sabe...-riu.-Ela tem um bom gosto!-disse satisfeita.
–T-Tem...?-perguntei confusa.
–Você precisa me apresenta-la! Temos gostos parecidos!-Nancy sorriu se levantando e andando em minha direção, me entregando o mangá e dando tapinhas amigáveis em minhas costas.
Ela acabou saindo dali, me deixando sozinha, surpresa. Eu achei que fosse cair ali mesmo!
–Nancy disse que eu tenho bom gosto...-sussurrei admirada. Olhei para o mangá em minhas mãos.
–É...Bárbara?-Nancy voltou, me assustando, acabei dando um pulo e me afastando.
–O-Oi?-sorri nervosamente, ajeitando meus cabelos loiros que estavam soltos e perfeitamente penteados.
–Coincidência.-Nancy comentou cruzando os braços e se apoiando no batente da porta, dando um sorriso debochado.
–O q-que?
–Coincidência essa sua "amiga" também se chamar Bárbara, né?-arqueou uma sobrancelha, ainda sorrindo, me encarando. Ela puxou o mangá de minha mão e o abriu, apontando para meu nome escrito com caneta gel rosa na contra capa.-A caneta dela tem até o mesmo cheiro de limão da sua! Nossa, que coincidência!-se fez de tonta, tentando parecer inocente.
Senti meu coração falhar uma batida, arregalei os olhos e engoli em seco. No começo do ano, eu e Nancy havíamos ido a uma feira, eu comprei uma caixa com 12 canetas gel, aquelas que a cor condizia com o cheiro. Por exemplo, a roxa devia ter cheiro de uva. Devia. Aquelas canetas eram falsificadas, a minha favorita, a rosa, ao invés de ter cheiro de morango, tinha cheiro de limão.
Nancy me encarou, esperando por respostas.
–Bem, a não ser que seja minha imaginação, né...-ela disse irônica, dando de ombros e me devolvendo o mangá. Novamente, Nancy saiu dali, respirei fundo, tomando coragem, um pouco hesitante a segui até o quintal. Ela começou a tirar as roupas do varal e colocar em um cesto.
–Nancy...-comentei sem graça.
–Diga, maninha.-Nancy disse colocando um pregador na boca.
–Essa minha amiga...E-Ela...-olhei para os lados nervosa.-Ela é fujoshi, sabe?
–Interessante.-Nancy fez pouco caso, de costas para mim.
Ela nem vai me perguntar o que é isso?
–E...Ela...Bem, ela tem medo do que os outros vão pensar sobre isso!-falei.-O que você acha?
–Eu acho que ela não deve ligar pra opinião alheia, ora!-Nancy deu de ombros, virando para mim.-Se ela gosta disso, que seja feliz!
–E...N-Não é errado?-pisquei os olhos várias vezes.
–Se fosse um crime...-Nancy suspirou pegando o cesto e passando por mim.-Eu teria pegado pena de morte!-olhou pra mim por cima do ombro e me mandou uma piscadela.
Me surpreendi, correndo atrás dela, fechando a porta atrás de mim, lá dentro estava abafado, diferente de lá fora, que ventava bastante.
–O q-que quer dizer?-a observei colocar o cesto no sofá e começar a dobrar as roupas desleixadamente.
–Minha inocente irmãzinha...-Nancy sorriu largando a camiseta que dobrava e se colocando na minha frente, levando uma mão a minha bochecha.-Não sabia que vive debaixo do mesmo teto que uma fujoshi?
Engasguei com a própria saliva, tossindo e botando a mão no peito, sentindo as batidas de meu coração.
–Você...-sussurrei.-Por que está me contando? Não tem medo que eu te dedure pros nossos pais?
–Maninha, se isso acontecer, eu sei onde você dorme...-Nancy disse sorrindo de maneira psicopata.
Fiquei quieta. Nancy suspirou e voltou a dobrar as roupas.
Ainda tentando raciocinar tudo, me virei pronta para ir tomar banho.
–Bárbara.-ela me chamou, a olhei por cima do ombro.-Vou te ensinar uma técnicas fujoshis, você tá precisando.-me mandou uma piscadela e estalou a língua.
–H-Hein?!
☆☆☆
–Então quer dizer que você já sabia?-perguntei com a boca aberta. Havíamos acabado de tomar banho e jantar, fomos para o quarto, onde me sentei na cama de Nancy.
–Uma fujoshi sempre reconhece a outra!-Nancy bateu com o indicador na ponta de seu nariz e colocou uma das mãos na cintura.-Irmãzinha, você tem muito o que aprender.-sorriu.-Como por exemplo...-olhou ao redor e fixou seu olhar na cômoda ao lado da porta.-Eliminar qualquer suspeita!-fez um sinal para que lhe seguisse.
Ajoelhamos em frente a cômoda e Nancy abriu a última gaveta, onde haviam livros didáticos do ano passado, perfeitamente alinhados, o que era estranho vindo da parte dela.
–Você foi muito descuidada escrevendo seu nome no mangá!-Nancy balançou a cabeça com desaprovação.-Aqui!-me deu um corretivo. Comecei a apagar meu nome da contra capa do mangá.-Está vendo isso?-pegou os livros e jogou no chão, deixando a gaveta vazia, em seguida com muita habilidade conseguiu tirar uma fina tábua de madeira que estava camuflada. Um fundo falso!
Pisquei os olhos várias vezes, surpresa. Desacreditada. Oi? Como assim?
Haviam algumas revistas, na verdade, se assemelhavam muito ao formato de um mangá, mas a capa não condizia com nenhum assunto ligado ao tal.
–Hã...-peguei um em cada mão.-"Estou perdendo cabelo e me sinto menos atraente. Como superar?"-encarei a capa do primeiro, tinha um homem velho e mal sucedido ilustrado.-"Andei ganhando uns quilinhos a mais. O que fazer?"-olhei o outro, havia uma moça bem gordinha e triste.-O que são essas coisas?-franzi a testa encarando Nancy.
–Abra!-ela sorriu animada.
Dei de ombros e abri, dando de cara com um mangá yaoi, o primeiro eu queria há muito tempo, me surpreendi com o segundo, era meu, achei que tinha o perdido, estava até mesmo com meu nome (riscado)!
–Não entendi!-falei confusa.
–Do jeito que papai e mamãe são orgulhosos e confiam em sua auto estima, nem que estivessem mesmo passando por esses problemas, ousariam tocar nesses livros!-Nancy esfregou a palma das mãos uma na outra em um gesto maligno.-É simples, imprimi a capa da internet e colei no mangá, o disfarçando! Nossos pais querem distância desse conteúdo!
–Uau!-sussurrei admirada.
–Debaixo do colchão não é um bom esconderijo, sabe?-Nancy riu apontando com o polegar para minha cama.
–Poxa...-ri sem graça.
–Não se preocupe, enquanto estivermos juntas, seremos imbatíveis!-Nancy me estendeu o punho cerrado, estendi o meu também, tocando o dela.
–É tão bom saber que posso contar contigo!-a abracei.
Ela riu e me abraçou de volta.
–Duas fujoshis sob o mesmo teto...-Nancy riu colocando as mãos sobre meus ombros e me afastando delicadamente. Ela riu maleficamente.
–Ei...-pensei segurando o queixo com o indicador e com o polegar, formando um "L".-Por que apenas duas, quando...
–Podemos recrutar mais?!-Nancy completou animada, arregalando os olhos e sorrindo.
–É isso aí!-estalei os dedos.
–Já sei...-Nancy olhou para seu braço coberto por pulseiras de borracha com cores diversificadas, havia as comprado na mesma feira que comprei as canetas, um pacote com mais de 100.-Só receberá essa pulseira quem é digna de tê-la!-tirou de seu pulso uma rosa e me entregou.-Ou seja...Nossas irmãs de outras mães! As denominadas fujoshis!-se levantou determinada.
Sorri e coloquei a pulseira em meu pulso.
–Vamos em busca delas!-Nancy parece ter se esquecido que estava de noite e ia cair um pedaço do céu e saiu correndo.
Tentei para-la, chamando por seu nome, ela só voltou quando um trovão assustador foi ouvido, seguido da queda de energia, me arrancando um grito de medo.
–Vou pegar as velas!-Nancy riu, só ouvia sua voz distante.
☆☆☆
Uma semana depois, eu e Nancy estávamos correndo lado a lado, desesperadas, havíamos nos atrasado, tínhamos que pegar o ônibus para ir ao colégio.
Só faltava mais um quarteirão e chegaríamos ao ponto, porém, ouvimos o que parecia ser uma discussão, vinha da direção de uma escola. Nancy parou de correr imediatamente e ficou parada na esquina, olhando ao longe, um grupo de garotos e garotas incomodando a uma única garota.
–Nancy, temos que ir!-a apressei lhe puxando pela mão, mas ela se negava a se mover.-Nancy!
–Não posso deixar aqueles idiotas mexerem com ela!-Nancy cerrou os dentes e punhos, correndo até lá. Bufei e balancei a cabeça com desaprovação, a segui com cautela, sem a mesma pressa. Porém, Nancy parou, prestando atenção, se escondendo atrás de um poste.
Uma garota, a qual debochava da outra, deu os passos necessários para ficar frente a frente com ela e a empurrou, a fazendo cair sentada no chão, arrancando dela um gemido de dor.
–Vejam só, parece que gatas borralheiras não caiem de pé!-a garota riu colocando uma das mãos na cintura e olhando para o grupo.
–EU ODEIO VOCÊS!-a caída no chão gritou com ódio, cerrando os dentes.
–Nós te odiamos mais ainda!-a mesma garota voltou a falar.
Nancy se irritou, bufando, jogando sua mochila no chão e saindo detrás do poste, andando a passos pesados, porém curtos, até o grupo que gargalhava com a maldade.
Nancy parou atrás da garota caída no chão, falando de modo assustador:
–Metam pé daqui.
A garota olhou para trás assustada e se surpreendeu ao encarar minha irmã, mais alta que todos ali, com uma pose de autoridade.
–E se não quisermos?-um menino desafiou cruzando os braços e arqueando uma sobrancelha.
–Eu mandei saírem. E se continuarem a mexer com essa garota, vocês todos estão ferrados!-Nancy voltou a falar com a voz ameaçadora enquanto mostrava o punho cerrado como se fosse bater neles, visivelmente irritada.
–Ai, que medo!-um outro garoto provocou.
–A começar por você!-Nancy andou na direção dele e simplesmente o empurrou assim como haviam feito com a garota.-Você não vai querer que a situação fique feia, né? -ameaçou, o garoto arregalou os olhos, chegava a tremer de medo.-VAZA!-gritou.
Todos saíram correndo com medo, o garoto principalmente, parecia um gato fugindo do banho.
–O-Obrigada.-a menina sussurrou surpresa.
–Não a de que!-Nancy sorriu gentilmente enquanto estendia a mão para ajudar a garota a se levantar.
–Por que me ajudou?-ela perguntou pegando na mão de Nancy e se levantando.-Nem nos conhecemos!
–Ora, não precisamos nos conhecer, para nos ajudar! Uma fujoshi sempre protege outra amiga fujoshi!-Nancy mandou uma piscadela para a garota, se abaixou e pegou um caderno aberto que estava jogado no chão, nele haviam algumas folhas avulsas as quais estavam desenhos de BL.
Me surpreendi. Nancy deve ter radar, só pode!
–Você é fujoshi?!-seus olhos brilharam esperançosos.
–Prazer, Nancy.-minha irmã sorriu lhe devolvendo o caderno.-Ouvi aqueles pirralhos metidos a besta te importunando, tsc! São uns ridículos...-balançou a cabeça com desaprovação olhando ao redor verificando se eles haviam sumido mesmo.
–Meu nome é Danny!-a garota sorriu ajeitando a alça da mochila no ombro. Danny aparentava ter 13 anos, tinha os cabelos castanhos lisos a altura do queixo, os olhos grandes da mesma cor, ela parecia até ser uma adolescente bem normal na maneira que se vestia.
–Bem, Danny, foi bom te conhecer.-Nancy disse dobrando a manga de sua camiseta xadrex super larga. Minha irmã tinha um jeito bem largado de se vestir: camiseta larga, calça desbotada, All Star sujo e o cabelo com um penteado bem louco que mudava todo dia. Diferente de mim, que optava por seguir seu estilo, mas de uma maneira mais arrumada, com roupas do meu tamanho e limpas, e o cabelo sempre bem ajeitado. Nancy e eu éramos muito diferentes nesse aspecto.
Ao dobrar a manga da camiseta até o cotovelo, observei Danny olhando admirada para o pulso de Nancy com as várias pulseiras de borracha colorida. Eu permanecia atrás do poste o tempo todo, como se nem as conhecesse, apenas me concentrava em ouvi-las.
–Uau!-Danny sussurrou.
–Ah, isso?-Nancy olhou para o braço cheio de pulseiras.-Quer uma? Tenho milhares delas.-perguntou, Danny assentiu como quando perguntam se macaco quer banana.-Vejamos...-analisou as pulseiras.-A roxa!-tirou de seu pulso uma pulseira roxa e lhe deu.-Combina com você! -sorriu.-Até mais!-acenou e andou até mim.-Quem sabe não nos vemos por aí?-a olhou por cima do ombro.
–Eu adoraria!-Danny assentiu alegre. Nancy sorriu e confirmou lentamente com a cabeça, voltando a andar até o poste.
–Prontinho!-Nancy bateu uma mão na outra e sorriu satisfeita.
–Incrível!-falei.
Desde pequenas, Nancy se metia em brigas que nem eram dela para defender alguém, eu principalmente, por sempre estar sendo incomodada por meus "colegas" no jardim de infância, ela já enfrentou muito por mim.
–Bem, vamos? Se corrermos chegaremos a tempo!-falei ajeitando minha bolsa.
☆☆☆
No dia seguinte, não teríamos aula, por conta do conselho de classe entre professores repentino. Nancy me arrastou até a escola daquela garota, cheia de esperanças e determinada que encontraria Danny.
Sentamos na calçada e ficamos esperando a hora do sinal de saída.
–Devíamos ter matado aula ontem e a seguido!-Nancy comentou.
–Nancy!-a repreendi.
Ficamos comentando sobre papo de fujoshi, jogando conversa fora. Como eu nunca pude me dar conta que minha irmã era como eu?
Poucos minutos depois, o sinal bateu, e o portão foi aberto, os alunos foram saindo aos montes, o grupinho do dia anterior passou todo animado, mas ficaram quietos ao notarem a presença de Nancy, passando reto e o mais rápido possível. Olhei ao redor, acabei fixando meu olhar em uma garota de costas, com os cabelos curtos, uma mochila cinza e lilás.
–Ei, não é aquela?-cutuquei Nancy e apontei para Danny no meio da multidão. Nancy se levantou de repente, me puxando e correndo.
–Danny!-Nancy chamou.-Danny!
Danny um pouco desnorteada virou a cabeça e encarou a mim e a Nancy correndo feito loucas em sua direção, ela parou de andar e acenou sorrindo.
–Nancy!-Danny sorriu sonhadora.-É tão bom te ver de novo!-ajeitou a alça da mochila em seu ombro.
–Digo o mesmo.-Nancy sorriu de canto.-Danny, essa é minha irmã, Bárbara!-apontou para mim. Danny me olhou curiosa, me analisando, sorri sem jeito e acenei timidamente.-Ela também é uma fujoshi!-sussurrou botando a mão ao lado da boca e olhando para os lados desconfiada.
–Oh, sério?!-Danny se animou e deu um pulinho de alegria.-Vocês parecem tão legais!-não conteu o sorriso.
–Ei, aqueles idiotas não mexeram mais com você, né?!-Nancy disse brava. Danny balançou a cabeça negativamente, assustada.-Ótimo!-disse satisfeita botando as mãos na cintura e erguendo a cabeça.-E, vai me contar o por quê deles terem feito aquilo contigo ontem?!
☆☆☆
Acabamos ficando em frente a padaria que ficava na mesma rua da escola, comendo pão de queijo, sentadas na rua, vagabundiando.
E, papai nos disse assim antes de ir trabalhar de manhã: "Se estão sem aula, nem pensem em ficar na rua, vão é limpar a casa! Sua mãe vive falando que não criou filha pra ser preguiçosa!"
Dei de ombros. Vai dar tempo.
–Foi assim...-Danny disse triste.-Ontem eu havia tomado a decisão de me declarar para um garoto de quem eu já gosto faz um longo tempo, admitiria isso em forma de carta, a qual entreguei pra ele ma frente de todo seu grupinho...Mal dei as costas que as garotas começaram a botar coisas na cabeça dele, inventando que eu estava espalhando mentiras que ele ficava com outro garoto apenas para que eu completasse meus gostos fujoshis! É estanho como sempre fomos todos amigos e de uma hora para a outra, ah...-Danny suspirou derrotada abaixando a cabeça.-Me revoltei com as mentiras, a essa altura ele havia rasgado minha carta sem ao menos ler, além de me dizer que não queria nada, falando que garotos tinham honra e que andar comigo diminuiria a reputação de cada um...-ela cerrou os punhos e dentes, olhando fixamente para baixo.
–Isso é horrível!-comentei de boca aberta, chocada.
–Já devia estar acostumada...-Danny deu de ombros, chateada.
–Acostumada? Acostumada?!-Nancy se levantou, respirando fundo e assumindo uma pose de autoridade.-A gente devia era achar a casa de cada um e botar fogo!
–Eu não me importo mais com o que falam, sério...-Danny olhou para Nancy com uma expressão triste.
–Isto, é! Não devemos ligar! Mas também não devemos aceitar! Ora, eles bem que merecem ouvir umas poucas e boas!-Nancy começou a andar de um lado para o outro, tagarela.-Gosto é gosto e não se discute, pelo menos o nosso é bom, já o deles, nem se fala...-parou de andar, cruzando os braços e olhando de soslaio para o lado com desprezo.
–Pode contar conosco se eles mexerem contigo, viu?-olhei para Danny e sorri solidária fazendo sinal de positivo com a mão.
–Quebramos eles de jeito e...-Nancy voltou a andar, falando sozinha, vez ou outra aumentando a voz, uma louca no meio da rua.
–Vocês são muito legais!-Danny admitiu, me olhando e sorrindo sem graça. Também sorri.
Porém, por dentro estava pensativa...Que falta de aceitação por parte dos colegas, hein! Se é que ainda merecem esse título...
–Danniely!-Nancy voltou, se colocando na frente de Danny e apontando para seu rosto.-Cordialmente, lhe convido a fazer parte da...-pareceu pensar, com a mão livre segurou o queixo com o indicador e o polegar, formando um "L".-Da...Bem, uma união! Fujoshis unidas! Depois pensamos em um nome! Quer se juntar a união das fujoshis anônimas?-lhe mandou uma piscadela, e ao invés de apontar para seu rosto, abaixou a mão estendida, esperando que ela a pegasse.
–Oi?! Uma união de fujoshis?!-Danny sorriu animada, os olhos brilharam como se um sonho tivesse sido realizado.-Isso seria incrível!
–E sairemos nessa jornada em busca de fujoshis! Desde os tipos mais comuns as mais raras!-botei pilha, também me empolgando.
–Exatamente!-Nancy sorriu.
Danny assentiu confiante, pegando na mão de Nancy, a apertando, selando um acordo.
–Então, a partir de hoje, oficialmente você faz parte dessa união, Danniely.-Nancy fez uma reverência tentando ser graciosa.-Isso me soa interessante...-sorriu travessa, olhando para os lados, pensando em alguma coisa que eu sabia que não era boa...
Lá vem...
☆☆☆
Um mês se passou, nossos horários de escola não se batiam, o que dificultava nossos encontros, as vezes quando nossos pais permitiam, saímos a noite, indo na casa de Danny, ou se a mãe dela deixasse, ela vinha na nossa.
Eram 18:30, havia ficado até mais tarde na escola, na biblioteca, fazendo um trabalho com o grupo da minha sala. Nancy era um ano mais velha, tinha 14 anos de idade, então foi por esse pouco que não caímos na mesma sala. Ela saiu assim que as aulas acabaram, me deixando lá com minha turma, disse que eu devia me virar para ir até a casa da Danny.
–Até amanhã, Bárbara!-uma integrante de meu grupo se despediu, acenando e tomando seu caminho, já estávamos todos em frente ao portão da escola, cada um indo por seu rumo. Já estava escurecendo, as luzes dos postes já acesas, o céu perdendo a coloração laranja, tudo ficando azul escuro, a lua já alta, as estrelas já espalhadas.
–Melhor correr!-falei apavorada, apertando com força a alça de minha mochila em meu ombro, dou um longo suspiro. Sempre era acostumada a estar com Nancy, então não gostava de andar sozinha.
Foi necessário pegar um ônibus, o qual quase perdi, por sorte cheguei a tempo...Bem, digamos que eu tive que gritar pro motorista me notar e praticamente me jogar na frente do veículo.
O homem me olhou com uma cara de poucos amigos, tentei dar um sorriso amigável para amenizar, mas nada...Suspirei aliviada ao me sentar, tendo a consciência tranquila por ter conseguido e não levar uma bronca de Nancy, sorte que as pessoas não costumavam ir por aqueles lados, então tinha pouca gente ocupando os assentos.
O ônibus iria parar no ponto próximo a escola de Danny, dali eu iria de a pé até sua casa, uns 5 a 10 minutos de caminhada.
De repente, mais algum indivíduo se colocou na frente do ônibus, gritando.
–É hoje que eu não saio daqui!-o cara disse revirando os olhos, mau humorado.
Fiquei olhando pela janela, até desviar o olhar para minha mochila, abri o zíper e de lá tirei um mangá novinho, o cheiro de recém-saído da loja era maravilhoso...Recém-entregue da internet quero dizer...Ah, vocês me entenderam. Era sobre um garoto apaixonado por outro que era bem popular, mas não se gabava por isso, ele acaba se declarando na noite de ano novo ao achar que o amor estava bêbado e não se lembraria de nada, mas a verdade era que ele estava sóbrio, carregava o cheiro de bebida por seus amigos terem o abraçado, aí acaba rolando uma declaração, momentos muito love...Sem spoilers. Esse é um dos mangás da coleção que acompanho: "Contos Yaoi"!
Distraída demais com a leitura, nem me dei conta que a tal pessoa sentou-se ao meu lado, um garoto, parecia até calmo para quem correu tanto. Fiquei o encarando durante um tempo, os olhos e cabelos castanhos escuros, talvez tenha deixado óbvio que o olhava, pois ele me encarou como se eu fosse uma esquisita.
–Se quiser, eu tiro uma foto com você...-falou irônico.
Revirei os olhos, voltando a ler, esquecendo sua presença.
–O que está lendo?-puxou assunto, tentando espiar meu mangá.
–Se quiser, mando por e-mail...-falei sem tirar os olhos daquelas preciosas páginas.
–Ai, Jesus, uma fujoshi...-me olhou de soslaio.
–Não vou nem perguntar quem é você...-murmurei me encolhendo um pouco e tentando esconder meu mangá. É cada estranho que encontro no ônibus...
Minha cabeça deu um estalo.
–Me chamou do que?!-o olhei surpresa.
–Fujoshi...Olha, não pensava que se mostrassem em público.-debochou.-Achava que viviam em cavernas no subterrâneo se escondendo da humanidade, não tendo vida social, mas veja bem...Eu estou vendo uma aqui! Posso tirar uma foto e levar para o museu? Os guias vão te apresentar como uma nova raça, descendentes de alienígenas!
–Cara, quem você pensa que é?!-franzi a testa, fechando meu mangá, o segurando firmemente, bufando furiosa e cerrando os dentes. Eu não aceito esse tipo de insultos!
–Achei que não fosse perguntar...-deu um sorriso cínico.-Nathaniel.-deu uma jogada na franja para o lado, tirando os cabelos dos olhos.
O olhei de cima a baixo, estreitando os olhos, brava.
–Não vai me dizer seu nome?-me estendeu a mão.
–Bárbara.-falei um pouco incerta e de mau gosto, com a boa educação que ganhei de meus pais e foi retirada por andar com uma certa irmã mais velha, fiquei pensando se apertava sua mão ou não. Me surpreendi, Nathaniel simplesmente puxou meu mangá com a mão que estava estendida.
–Fascinante...-Nathaniel comentou o folheando.-Minha irmã tinha estantes cheias dessas coisas com minha idade...Eu sou experiente nesse assunto...-mostrou a língua e cruzou os braços.
–Pelo menos, ela parece ser gente boa, DIFERENTE DE VOCÊ, né...-falei pegando o mangá de suas mãos e o guardando em segurança na minha mochila, já pirando por ele ter sido segurado por reles mãos de humanos normais. Não se preocupe, meu bebê, vou te desinfectar.
–E eu não?-Nathaniel arqueou uma sobrancelha, me olhando.-Gente boa é essas que você conhece em busão, não sabe o rumo, não sabe de onde veio ou pra onde vai, nem precisa saber muita coisa, pois sabe que nunca mais verá essa pessoa na vida, então, siga o roteiro, apenas demonstre estar interessada.-explicou indignado.-Por exemplo...-pensou.
Notei que o ônibus estava prestes a parar.
–É meu ponto, prazer te conhecer, agora tchau!-disse brevemente pegando minha mochila e me levantando, falei a palavra "prazer" com armagura.
–Coincidência, vou descer aqui também!-Nathaniel sorriu, se levantando e me seguindo, nos seguramos nas barras de ferro amarelas esperando o ônibus freiar.
–É sério?-o encarei incrédula, o ônibus parou, desci sendo acompanhada por ele.
–Mentira, era só pra continuar te enchendo o saco. Depois basta andar umas três quadras e chego na minha casa!-Nathaniel sorriu convencido cruzando os braços atrás do pescoço.-Vou dar o exemplo...-olhou ao redor.
–Já não estamos mais no ônibus! E mamãe me ensinou a não conversar com estranhos!-falei apertando o passo.
Eu, hein!
–Olha, aquele garoto!-ele apontou pra um garoto, que parecia estar levando uma bronca de uma moça.-Eu nunca o vi na vida...-se interrompeu arregalando os olhos.-Meu Deus, é o amor da minha vida!-aparentou reconhecer o garoto.
Olhei para ambos atentamente. Nathaniel andou até o garoto, colocando as mãos na cintura e olhando para a mulher.
–O que ele fez dessa vez, tia Jéssica?-Nathaniel fez uma voz fofa.
–Ai, Nathaniel, acabei de vir do colégio dele lá no centro, estou até com dor de cabeça...Gray foi expulso!-a mulher balançou a cabeça com desaprovação.-Quero só ver o que seu pai vai te falar!-tirou as chaves da bolsa e andou na direção de um carro parado um pouco mais distante.
–Bárbara, pode vir aqui.-Nathaniel chamou calmo. Mordi o lábio inferior, apertei a alça da mochila com força, e olhei para a direção que devia seguir. Já estava muito tarde e não podia enrolar mais!
Olhei bem para a cara dos dois...Tá, são apenas amigos...Mas...Por que meu sentido fujoshi está tão desconfiado?!
Respirei fundo e me aproximei, o tal Gray se demonstrava quieto, com as mãos no bolso da calça, um dos fones no ouvido, o outro caído dentro da camiseta, estava bem nem aí pra vida.
–Esse é o meu...-Nathaniel disse passando o braço pelos ombros de Gray.-Namorado!-deu um sorriso.
Arregalei os olhos, surpresa.
–Eu já mandei parar de brincar com essas coisas, idiota!-Gray cerrou os dentes de leve, ficando vermelho e virando o rosto.
Oh, aí tem coisa...Aí tem coisa!
–Sua mãe vai te mudar de colégio, então?-Nathaniel cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, lançando um olhar pra mulher que conversava no celular, apoiada no carro.
–Infelizmente!-Gray suspirou derrotado.-Eu vou sentir falta dos...
–Fale esse nome e você estará...-Nathaniel ameaçou.
–Gêmeos!-Gray falou dando um sorriso de canto.
–Sei que não é do casal de gêmeos! Fala sério! Eu sei que é apenas ele!-Nathaniel bufou e revirou os olhos.
–Dela também, oras! Esqueceu que ela é MINHA MELHOR AMIGA desde pequenos?!-Gray o encarou.
–E eu não esqueço suas segundas intenções com aquele garoto! Meu Deus, Gray!-Nathaniel parecia bravo.
Acabei sorrindo de orelha a orelha. Isso que vejo é ciúmes?
–Segundas intenções? Nathaniel, quando em sã c-consciência eu...E-Eu...Eu gostaria de...M-Meninos?!-Gray vacilou um pouco, o tom de voz alternava entre aumentar ou abaixar.-Eu não gosto de garotos e pronto, acabou!-cruzou os braços respirando fundo.
Eu estava meio invisível no meio dos dois. Meio não. Completamente.
–O que você acha, fujoshi do busão?-Nathaniel me lançou um olhar desconfiado.
–Como se ela fosse saber!-Gray disse bravo me encarando e depois encarando Nathaniel.
O que eu acho? O que eu acho? Querido! Em primeiro lugar, o Gray parece gostar desse tal garoto, Nathaniel tem ciúmes desse garoto e gosta do Gray, Gray não quer admitir ser gay, Nathaniel sabe que ele é, os dois se amam, se casam e são felizes para sempre! Perfeito!
Coração de fujoshi nunca se engana.
Meu celular começou a tocar, arruinando meu sonho, me assustei com o toque alto, pegando de modo desesperado o aparelho na mochila, o atendendo imediatamente.
—VOCÊ SE PERDEU?!
Foi necessário afastar o celular do ouvido para não ficar surda com o grito de Nancy. Isso deixou Gray e Nathaniel de olhos arregalados.
–Não, não...Acabei de sair do ônibus.-falei.
—E por que não chegou aqui ainda? Quer que eu vá te buscar? Bárbara Bianca, está tarde pra você ficar na rua sozinha!
–Não estou sozinha...-senti que não devia ter falado isso.
—Com quem você está? Se for com um estranho, use aquele golpe que te ensinei e corra!
–Não se preocupe, já estou indo, Nancy.-eu disse relaxando os ombros.
—Você não está vindo, eu estou indo te buscar. Fique aí.
E ela desligou.
–Quem é?-Nathaniel sorriu cínico.
–Minha irmã!-guardei o celular na mochila novamente.-Vou de encontro com ela...-suspirei.
–Prazer conhece-la, Bárbara Bianca.-Nathaniel disse calmo.-A gente se encontra por aí...-deu de ombros. Não. Eu espero que não.
Gray ficou me encarando com uma sobrancelha arqueada, mas sem falar nada.
–Gray, vamos pra casa!-a mulher gritou ao longe, acenando e entrando no carro.
Gray suspirou, olhou para Nathaniel e com um gesto simples apontou para o carro usando a cabeça.
–E meu abraço?-Nathaniel abriu os braços e fez biquinho.
–Saí. Fora.-Gray disse pausadamente fazendo pouco caso.
Sorri de canto, disse um breve tchau e dei as costas, tomando meu rumo, já distante, sem motivo aparente, olhei para trás por cima do ombro, abri a boca e arregalei os olhos.
–Me belisca...-sussurrei já brotando um sorriso largo em meus lábios. Eu estava vendo Gray e Nathaniel se beijando ou era minha imaginação?!
Nathaniel parecia ter puxado Gray, o pegado de surpresa, isso explicava sua expressão assustada. Certo, foram curtos segundos, mas segundos que pareceram minutos, e que estão registrados em minha mente na divisão fujoshi.
–Tá louco?!-Gray gritou assustado, limpando a boca desesperadamente.-Meu Deus, Nathaniel! Vou te denunciar, socorro!-recuou alguns passos incrédulo.-Você não bate bem da cabeça! O que você pensa que está fazendo?!
–Sua mãe tá te chamando.-Nathaniel deu um sorriso cínico, acenando e parecendo satisfeito com o que fez.-Agora você pode contar pra todo mundo que eu tirei seu BV!-gritou maldoso.
Só faltava eu aplaudir. Suspirei satisfeita, ainda observando os dois. Nathaniel foi bem ousado nesse ponto...E ele aparenta ter a minha idade!
Eles nem me notaram, cada um seguiu seu caminho, Nathaniel feliz da vida, Gray desacreditado. E eu...Quando fui me virar dei de cara com uma Nancy que me pegou pelo braço e me arrastou.
–Nancy!-exclamei.
–Bárbara, o que te dá na cabeça?-Nancy me repreendeu, sem parar e me puxar.-Eu sou responsável por você e...
–Acabei de ver dois garotos se beijando!-sorri sonhadora.
–Oi?!-Nancy me soltou, me olhando curiosa.-Conta isso direito, mana! Pra onde eles foram?-olhou atenta para os lados.
Ri.
–Acho que nos encontraremos algum dia...-olhei para trás, soltando um suspiro.
☆☆☆
Era sexta-feira, Danny tinha acabado de sair da escola e eu e Nancy estávamos indo pegar o ônibus para ir para a nossa, ela iria conosco, combinou de encontrar sua mãe no centro, era a mesma rota.
Íamos conversando animadamente, trocando idéias sobre nossa união.
–Precisamos de um...Um...-Danny começou a falar.
–Quartel!-completei.-Um quartel general!
–Exatamente!-Danny estalou os dedos para mim.-Podíamos nos reunir lá...Um lugar fixo!
–Tem aquela nossa casa na árvore...-dei de ombros, foi o primeiro lugar que me veio a mente.
–Está caindo aos pedaços!-Nancy franziu a testa.-Não vamos lá desde os nove anos...-revirou os olhos.
Papai havia construído uma casa na árvore do quintal quando tínhamos 6 anos, eu e Nancy passávamos as tardes lá brincando, levando colegas da escola, até mesmo passando as noites em que estávamos com medo de dormirmos sozinhas no nosso quarto por papai e mamãe chegarem apenas na manhã do dia seguinte. Adoravamos aquela casa na árvore. Mas...Crescemos e a abandonamos. Ela foi destruída pelo tempo, a chuva apodreceu toda madeira, por dentro só há mofo, e a árvore está cheia de formigas e cupins, além de uma colméia de abelhas pendurada em um galho que cresceu em frente a porta de entrada.
–Sei lá...Só acho que seria uma boa reconstruir aquele lugar...Nossa infância está lá!-falei como quem não queria nada.
–Eu digo que não vale a pena...-Nancy suspirou derrotada.-Como líder dessa união...
–Quem elegeu isso?-arqueei uma sobrancelha.
–Eu, então cala a boca.-Nancy tentou parecer séria.-Podemos fazer uma votação no nosso novo quartel temporário...O quarto.
–Nosso quarto?-cruzei os braços.
–Lá mesmo.-Nancy sorriu.
–Por mim tudo bem!-Danny se intrometeu, sorrindo.-Mas...É mesmo...Quem te elegeu, dona Nancy?!
Demos de ombros rindo e discutimos um pouco quanto a isso.
–E quanto a recrutar mais garotas fujoshis?-Danny olhou para cima pensando.
–Tem uma a cada esquina...Mas elas conseguem facilmente se esconder dentre a multidão...-Nancy disse sabiamente.-Só que, minhas queridas, eu tenho um ofalto muito apurado, consigo sentir cheiro de fujoshi.-bateu na ponta do nariz com o indicador, feliz da vida.
A olhei como se ela fosse um ser de outro mundo.
–E que cheiro elas tem, pelo amor do santo yaoi?-falei incrédula.
Nancy parecia um cachorro.
–O cheiro da purpurina do arco-íris que nasce no vale do unicórnio sem chifre onde vivem os sonhos!-Nancy disse dando um sorriso e abrindo os braços.
–Tu bebeu?! Tu fumou droga?!-falei. Nancy devia tá fumando, só pode...
Olhando para a cara de minha irmã e ela para o céu de braços abertos, nem notamos as pessoas ao nosso redor e sem querer esbarramos em alguém. Me dei conta de que se tratava de um garoto e uma garota tão semelhantes que aparentavam ser gêmeos, ou no mínimo irmãos muito parecidos.
Eles lançaram um olhar mortal para mim e para Nancy. Minha irmã retribuiu o olhar. Eu estava vendo o barraco que iria acontecer, provavelmente os três iam começar a discutir pela maneira que estavam se encarando, e tudo pelo motivo besta de um esbarrão. Não fui imatura como Nancy, sabia que estava errada, então educadamente me intrometi:
–Sinto muito, estávamos distraídas.
Assim que falei, não esperei pela resposta dos supostos gêmeos, peguei rapidamente Nancy e Danny, as arrastando.
–Hum, pfff!-Nancy murmurou.
–Sua barraqueira...-revirei os olhos.
Passamos em frente a um colégio, olhei despreocupadamente para o lado e vi a mesma mulher daquele dia, junto a Gray. Será que ele iria estudar ali?
Sem avisar, fui até ele.
–Gray, lembra-se de mim?-sorri para ele que fez pouco caso.
–Deveria lembrar?-arqueou uma sobrancelha.
–Gray, cadê a educação que eu te dou em casa?-a mulher balançou a cabeça com desaprovação.
–Hã...Eu estava com o Nathaniel.-falei.
–Ah...Ele comentou sobre você.-Gray me encarou bem, parecia acanhado.
–Desculpa me intrometer, mas...Vai se mudar para esse colégio?-perguntei curiosa.
–Estou saindo dele, fui expulso.-cuspiu as palavras, mostrando a língua azedo.
–Viemos pegar a transferência dele.-a mãe dele sorriu gentilmente para mim.-Desculpe o jeito dele, ele anda estranho nos últimos dias...Ou melhor, meses...-se mostrou preocupada.
Sorri como se não tivesse problemas.
–Ele deve estar descobrindo coisas da adolescência, normal...Paixões...Isso muda nosso humor.-dei de ombros, encarando Gray que me olhou como se tivesse visto um fantasma.
–Deve ser, mas ele nem se mostra interessado nas garotas que são tão amigas dele...-ela passou a mão pelos cabelos loiros de Gray.
–Quer parar? Não fale como se eu não estivesse aqui!-Gray cruzou oa braços.
–E garotos?-disse algo que não devia.
Sua mãe lhe olhou um pouco surpresa, Gray mordeu o lábio inferior.
–Mãe, eu só não gosto de ninguém no momento! Não sou igual aquelas suas filhas que só pensam em namorar!-Gray revirou os olhos e inflou as bochechas.-Eu estou na minha...F-Feliz sem...Estar interessado em n-ninguém...-novamente vacilou a voz como naquele dia. Eu acho que ele queria chorar...Deu até dó.
Em um ato istintivo, dei tapinhas amigáveis em seu ombro. Gray estranhou e me olhou desconfiado. Sei que sua voz está calada, colega...Não se preocupe.
Nancy acabou me puxando e me levando para longe dali, sem nem poder me despedir.
Danny acabou indo por um caminho onde encontraria sua mãe e eu e Nancy indo pra escola.
Suspirei.
☆☆☆
Durante a aula, após terminar todos os exercícios que foram passados, fiquei rabiscando em meu caderno alguns logos para nossa união, ficava refletindo também...
Gray...Pelo que será que ele está passando? Devia comentar com Nancy? Ou eu nunca mais o veria na vida então nem valeria a pena? E Nathaniel? O beijo entre os dois? Tem muita coisa ainda! Eu deveria me meter?
E...Danny? Essa garotinha tão enérgica? Que é tão interessada em videogames, jogos, computador...
Danniely acabou se abrindo conosco, contando que sonha ser designer de games, sobre sua família, bem...Isso é um pouco secreto e ela não contou muito, apenas o suficiente, já que preferia não tocar no assunto. Eu e Nancy apenas ficamos sabendo que ela não conhece o pai, que sua mãe é solteira e tende a fazer os dois papéis, ela tem um irmão, mas nem o conhece direito já que ele é criado pelo avô materno. Na maioria da vezes sua mãe não tem tempo para ela, isso a faz se sentir só e sempre diz que nós somos o refúgio dela. Não podemos decepciona-la! Nancy até mesmo disse que como integrante mais velha, é a responsável por todas as outras, e faz o papel de segunda mãe...Isso é legal da parte dela e eu confio que ela vai dar conta desse título.
Sorri quando isso veio a minha mente. Suspirei e olhei para minha folha com meus rabiscos, minha cabeça deu um estalo, virei a página, peguei uma régua e comecei a desenhar a casa na árvore, como se fosse um projeto de arquiteto! Realmente quero que esse seja nosso quartel! A gente vai transformar aquela casa em um lugar decente! Em um lugar que possamos chamar de "nosso"! Boto fé nisso!
Quem será a próxima fujoshi a se juntar a nós? E como a encontraremos? E como a traremos para o nosso lado?
Eu não sei...
–Apenas veremos no que vai dar, né?-sussurrei confiante encarando fixamente minha pulseira, assentindo com a cabeça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E o que acharam? Gostaram? Comentem, a opinião de vocês é importante!
Agradeço pelos comentários e por quem está acompanhando/favoritou, sério!
Até o próximo capítulo, semana que vem!
Próximo: Bella- Recrutando fujoshis!
Obrigada a quem leu!
Bjs ♡.
-☆ Creeper.