A União Fujoshi escrita por Creeper


Capítulo 11
Yuki


Notas iniciais do capítulo

Heeeey! Boa leitura ♡!
Hã...Último cap? Ou penúltimo? É o último de lembranças! Após esse é o epílogo e depois o Bônus!



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Yuki
"Coração"
—Mandou bem, Yuki!-Bella me parabenizou após minha luta com um garoto durante o treino de muay thai.
—Ah, o-obrigada!-sorri cansada, a respiração ainda se estabelecendo.
—Olha lá o Leo!-Bella sorriu olhando por cima do meu ombro.
Arregalei os olhos e olhei para trás. Leo estava conversando com outro garoto e com o treinador, não havia nos visto.
—Vamos lá falar com ele!-Bella me puxou animada.
—Melhor não...-a puxei de volta.
—Mas...É seu namorado.-Bella ficou confusa.
—É que eu estou com dor de cabeça! Quero muito ir pra casa, por favor...-mordi o lábio inferior e senti uma dor no peito.
—Tudo bem...-Bella pegou minha mochila e minha garrafa de água.-Então, vamos, vou te levar pra casa.
Sorte que a saída era do lado oposto.
☆☆☆
Estava na minha casa, deitada em um puff, brincando de cama de gato enquanto esperava as meninas chegarem.
—Ah...-suspirei tristemente.
Eu estava triste por causa do término do namoro com Leo.
Sentia falta dele.
A pessoa de quem ele gosta deve ser muito sortuda.
Acho que Tany merece alguém com mais atitude, alguém mais interessante, alguém no nível dele...
Eu sou tão sem graça.
—Gray seria perfeito para ele...-pensei com pesar, dando um sorriso fraco.-Ele é bem melhor que eu.-afundei o rosto nas mãos.
Se Leo está melhor com o nosso término, tudo bem, não irei ficar chateada. Quero que ele seja feliz, seja comigo ou não, afinal, ele merece.
—Yuki, Bella já está aqui, se apresse!-mamãe avisou com calma batendo na porta de meu quarto.
—Já vou.-falei me levantando.-Só falta colocar os tênis!
Abri a gaveta da cômoda tentando encontrar um par de meias.
—Onde estão...-sussurrei encarando fixamente cada par de meia dobrado como uma bolinha.
—Yuki?-mamãe abriu a porta, apenas uma brecha e colocou a cabeça para dentro, me olhando.
—Mãe, você viu minhas meias longas?-perguntei preocupada.
—Devo ter lavado.-ela deu de ombros.-Mas tem que ser exatamente aquelas? Olhe quantas você tem!-entrou e se colocou ao meu lado.
—São curtas, essas são usadas com tênis normais, preciso das longas, são as certas para usar com meu tênis de cano alto!-expliquei apontando para meu par de tênis azuis, alinhados perfeitamente em cima do tapete em frente a minha cama.
—Certo, Yuki.-mamãe riu começando a procurar. Andei até o guarda-roupa e procurei por lá, sem sorte, depois segui para o cesto de roupas dobradas e passadas que mamãe havia deixado ali noite passada e eu devia ter guardado em seu devido lugar.
—Encontrei uma!-sorri pegando uma das meias e imediatamente a vestindo.
—Que tal essa?-mamãe me mostrou uma meia só, era longa e rosa.
—As cores precisam combinar.-balancei a cabeça negativamente e olhei para meia em meu pé da cor branca.
—Mas ninguém verá.-mamãe tentou me convencer.
—Mas eu vou saber.-sentei em minha cama e balancei meus pés como uma criança.
—Sabe, Yuki...-mamãe sorriu gentilmente.-Dizem que quando uma meia some, é travessura de um duende!
—Duende?-arregalei os olhos.-Ah...Mãe...Não sou tão criança.-ri.
—Sim, os duendes estão te castigando, sumindo com uma das suas meias! Isso é um sinal de que seus pézinhos estão te levando para um caminho onde não devia ir!-mamãe disse maleficamente tentando me deixar com medo.-Anda sendo uma mocinha desobediente?-colocou as mãos na cintura e me encarou com autoridade.
—N-Não, mãe!-balancei a cabeça negativamente, desesperada. Senhor, que ela não descubra que eu vou todos os dias pra A.U.F.!
—Eu sei, filha.-mamãe apertou meu nariz e riu.-Se apresse, as meninas estão lá embaixo esperando!-bateu palmas como se fosse pra me animar.
Enfim, depois de procurarmos, encontrei a meia que faltava dentro da fronha do meu travesseiro, me lembrei que ela me dava sorte e eu dormia com ela para que o dia seguinte fosse vitorioso, quando provavelmente eu teria alguma competição de muay thai.
—Desculpem a demora!-disse para Bella e Danny que estavam sentadas no sofá da sala conversando.
—E aí, YuYu!-Danny acenou.
—Oi, Yuki!-Bella sorriu.
—Cara ou coroa?-Danny me perguntou.
—Coroa...-respondi.
Ela jogou uma moeda no ar, porém ela caiu no chão antes que Danny a pegasse.
Me abaixei para pega-la e iconscientemente desviei meu olhar para os pés de Danny. Arregalei os olhos vendo que ela usava um tênis de cano curto roxo, mas suas meias eram médias, uma toda estampada com coelhos azuis dentro de discos voadores atirando com lasers em formato de cenouras e a outra preta.
—Algum problema?-Danny pareceu incomodada. Me levantei, lhe entregando a moeda.
—Yuki no seu lugar surtaria, não consegue usar meias diferentes.-mamãe explicou, colocando uma mão sobre meu ombro, rindo.
—Ah, é que eu sempre perco uma, então...-Danny riu.-É estilo!
—Bem, vamos?-Bella sorriu se levantando.
—Bora!-Danny disse animada.
—Tchau, mamãe.-a olhei.
—Se divirtam!-mamãe sorriu acenando.-Yuki, não volte tarde!-advertiu.-E cuidado, lembre-se dos duendes!-me mandou uma piscadela.
Assenti com a cabeça e sorri minimamente.
—Duendes?-Danny franziu a testa.-Ela tá te falando indiretamente para não usar drogas?
—Não é bem isso...-ri um pouco.
☆☆☆
Durante o caminho até a A.U.F., Danny puxou assunto:
—Vocês receberam uma mensagem estranha?
—Estranha como?-Bella perguntou.
Danny pegou seu celular e nos mostrou.
—De um tal Anônimo.-ela disse.
—Recebi...Pensei que fosse uma brincadeira de mau gosto ou spam.-Bella disse reflexiva.
—Também pensei a mesma coisa!-eu disse.
—Bem...Ele sabe nossos nomes.-Danny mordeu o lábio inferior.
—Devíamos perguntar para Nancy!-Bella disse incerta.
—Eu não acho que seja uma boa idéia ir!-falei.-Nem que Nancy permita...
—Yuki, você tem que se aventurar mais!-Danny passou o braço por meus ombros.-Também estou com um pouco de medo! Afinal, é um desconhecido nos chamando para um lugar fechado e nada movimentado!-riu um pouco nervosa ao reparar no que havia acabado de dizer.
—Isso não te assusta ou preocupa?-arregalei os olhos.-E...D-Deveríamos ir logo pro QG!-tremi os lábios.
—Japinha, qual seu medo?-Danny passou a mão por meus cabelos.
—Eu...-abaixei a cabeça.-Não sei. Realmente não sei.-encolhi os ombros.
Só sei que eu tinha um medo absurdo de ficar sozinha. Medo de ir aos lugares sozinha. Medo de ir a lugares novos ou desconhecidos.
Acho que foi trauma...
Afinal...
Quando eu era menor, estava no supermercado com minha mãe, deixei ela na sessão dos cereais e fui na sessão dos doces sozinha pegar algo para mim.
Lá estava eu, com um pacote de gomas sortidas, toda alegre, saltitando pelos corredores cantarolando, até que notei que estava perdida.
Então, um cara mal vestido e mal cheiroso aproximou-se e agarrou meu braço. Me chamou de garotinha e de gracinha, perguntou se eu estava perdida e se queria que ele me ajudasse a sair do supermercado. Disse que me daria carona até minha casa.
Aquele cara fedia a álcool e esgoto.
Fiquei assustada e gritei desesperada, tentando me soltar, mas ele não me largava. Ele cobriu minha boca com aquela mão imunda. Continuei a gritar, mesmo que o som saísse abafado.
Minha gritaria atraiu a atenção de um guarda que foi ao meu socorro. O guarda prendeu o cara que, pelo que entendi, já havia feito isso com outras crianças. Ele encontrou minha mãe e me entregou a ela.
Eu estava em prantos, assustada, afinal, eu era apenas um bebê crescido.
Foi desde aquele dia que eu não tinha mais cabeça para ficar sozinha. Tinha medo daquilo voltar a acontecer. De não ter nenhum guarda para me salvar novamente.
Eu queria aprender a me defender, então papai me colocou nas artes marciais bem cedo e hoje em dia sei até como usar uma katana.
O problema é que...Eu não tenho coragem de usar o que sei. Nunca aconteceu uma situação que fosse realmente necessário, porém, psicologicamente, eu não tenho coragem! Lutar virou um hobby! Uma diversão! E não uma forma de defesa! Eu não quero machucar ninguém, nem mesmo aqueles que estão tentando me ferir!
☆☆☆
Fomos até a A.U.F., passar a tarde lá já que ninguém tinha outro compromisso. Ficamos lendo mangás, escutando música, conversando e desenhando.
Leo estava lá, ao lado de Danny. Não trocávamos olhares, isso me deixava apreensiva, pois as garotas iam perceber e questionar.
As garotas...
Me lembro como as conheci e o que achei delas! E se parar pra pensar, são todas completamente diferentes.
Bella foi a primeira que conheci, logicamente por ser da minha família. Ela é gentil, amigável e prestativa! Muito confiável e educada! Me sinto tranquila com ela.
Depois, conheci Danny! Ela é travessa, gosta de se aventurar e é companheira! Me divirto com ela.
Bárbara. Ela é a mais arrumada, é certinha e organizada!
Nancy! Ela é briguenta, porém usa sua força para defender suas amigas, as vezes é mandona, porém cuida de nós do jeitinho dela. Me sinto protegida!
Gray...Ele é convencido e arrogante. Na maior parte do tempo me trata mal quando eu só queria ser amiga dele como ele é de todo mundo. Eu não consigo me sentir bem perto dele.
Lya! No começo, ela foi fria. Porém depois mostrou-se uma grande amiga, bem determinada e chega a me assustar com seus métodos malucos pra tudo! É legal ficar com ela!
Leo...Ele...Era tão legal comigo! Era gentil! Apaixonante! Me fazia rir e eu me sentia bem e amada com ele! Os momentos com ele foram mais que valiosos...Foram os melhores da minha vida. Com ele, esquecia todos meus medos e fraquezas. Me sentia nas alturas.
Leo foi meu primeiro amor...Meu primeiro amigo garoto...Meu primeiro namorado...Meu primeiro beijo. Ah...
Izzy! De algum modo, a gente se entende! Eu a acho fofa e a admiro desde o dia das apresentações, quando ela se superou no palco, apesar de estar com medo!
Viu? Sou diferente de todas elas! E...Eu me sinto até mesmo...Chata. Sem graça.
—Pensativa hoje, japinha!-Nancy disse.
—Ah, é.-ri sem jeito.
—Pode ir comigo até a cozinha pegar os lanches?-Nancy sorriu.
—Lanches?! Deixa que eu vou!-Danny disse animada.
—Não! É a Yuki!-Nancy a cortou.-Esfomeada!
—Tudo bem.-não vi problema.
Descemos e fomos até a cozinha, Nancy abriu a geladeira e tirou de lá uma travessa cheia de pães recheados com maionese, presunto, queijo e alface.
Fiquei parada perto da pia.
—Pode colocar eles em um prato para mim enquanto faço suco?-Nancy pediu gentilmente.
Não que ela não seja gentil, porém estranhei.
—Claro.-assenti, pegando um prato no escorredor de louça. Lavei as mãos adequadamente com detergente e comecei a transferir os lanches da travessa pro prato.
—Yuki...Posso perguntar-lhe algo?-Nancy disse pegando uma jarra vazia e uma garrafa de água gelada.
—Sim.-assenti lentamente.
—Desculpa se for pessoal, mas...Você e o Leo terminaram?-Nancy perguntou sem me olhar.
Paralisei e arregalei meus olhos.
—E-Ele te c-contou?-me desesperei.
—Não, mas deu pra perceber.-Nancy suspirou, pegando umas laranjas na geladeira e começando a espremer com a ajuda de um espremedor e um coador.
—D-Deu?-ruborizei, abaixando a cabeça.
—Yuki...Vocês dois eram juntinhos, não desgrudavam um do outro. Até peguei vocês se beijando. E agora, simplesmente nem se olham!-Nancy disse.-Você está o evitando, não?
—S-Sim...-tremi os lábios.
—Por que terminaram, se me permite?-Nancy continuou a espremer as laranjas.
—Eu não s-sei exatamente. M-Mas...Acho que ele g-gostava de mim, mas n-não como n-namorada...-encolhi os ombros.-E...T-Tenho a impressão de que ele gosta de o-outra pessoa.-falei tristemente.
—Sei como é.-Nancy suspirou pesadamente.-Esses lanches, coloque no micro-ondas, por favor!-pediu.
Fiz o que ela disse, fiquei ao lado do micro-ondas esperando os segundos acabarem.
—Você está abalada...-Nancy me olhou por cima do ombro.-O amava, não?
—S-Sim...-engoli em seco.-Porém, q-quero que ele seja feliz!
—Yuki, você é tão pura.-Nancy balançou a cabeça e riu sem graça.-Enfim, eu posso fazer algo pra te animar?
—N-Não. Estou...B-Bem.-forcei um sorriso.
—Yuki...Eu conheço as pessoas, você está quase desabando.-Nancy acabou de espremer as laranjas e jogou o suco dentro da jarra com água, mexendo com uma colher em seguida.
—D-Desabar?-senti um nó na garganta, meus olhos arderam e meu coração estava doendo como se alguém estivesse o esmagando.
—Pode chorar.-ela virou-se para mim.-Você precisa, não?-cruzou os braços.-Eu te entendo.
O micro-ondas apitou e sem que eu quisesse, as lágrimas brotaram no canto de meus olhos e começaram a deslizar por meu rosto descontroladamente.
Afundei o rosto nas mãos, enxugando as lágrimas.
O Leo era meu mundo. Ele era a pessoa que mais me fazia sentir bem e segura. E quando terminamos...Tudo acabou. Tudo mudou.
—Japinha...-Nancy segurou em meu queixo, me fazendo encara-la nos olhos.-Chorar é um alívio pra alma. Não que eu goste de ver uma de minhas filhas tristes, mas...Você precisa disso.-acariciou meu rosto molhado pelas lágrimas.
—E-Eu sou f-fraca, eu sei.-falei com a voz embargada.
—Claro que não! Você é forte, garota!-Nancy tocou meu peito com o indicador, na área de meu coração.-Muito forte!-sorriu.
Continuei a chorar e impulsivamente, a abracei. Nancy correspondeu, passando a mão por meus cabelos, os alisando.
Ela não disse uma palavra, porém seu silêncio era aconchegante.
Eu sentia falta do Leo.
—Nancy...-ouvi a voz de Gray quebrar aquele silêncio.
—Vaza.-ela disse séria.
Gray havia me pedido desculpas após a discussão...Só não sei se foram sinceras...Ele parecia estar engasgado com as palavras. Afinal, ele é orgulhoso. Porém, me senti bem ao ouvir ele se desculpando e talvez, provavelmente, estando arrependido.
☆☆☆
Após terminar de chorar, o que levou certo tempo, Nancy voltou a cuidar do suco e eu dos lanches.
Coloquei cada lanche em um guardanapo e Nancy colocou açúcar e gelo no suco.
—Agora...Um assunto mais importante.-Nancy disse séria.-Eu vou conversar com todas as meninas depois na casa da árvore, porém quero falar particularmente com você.
—Sim?-a olhei.
—É sobre a mensagem do Anônimo.-Nancy disse séria.-Você recebeu, não é?
—S-Sim...-respondi.
—Vai rolar briga. Treta. Barraco. Soco. Pancada.-Nancy cruzou os braços. Arregalei os olhos.-E eu sei como você se sente em relação a violência.
Engoli em seco.
—Você não precisa ir se não quiser. Eu e Lya podemos cuidar de tudo sozinhas. Não queremos meter vocês.-Nancy disse séria.
Fiquei quieta.
—É uma decisão sua.-Nancy deu de ombros.-Se você for, irei protegê-la.
Assenti com a cabeça.
Violência? Eu não estava certa se queria ir.
☆☆☆
Voltamos pro QG e começamos a comer.
Nancy ficou de pé no meio de todos, sendo o centro das atenções.
Sentei entre Gray e Leo não sei como, coisa que me deixou tensa. Me concentrei em meu lanche, não olhava pra outra coisa a não ser aquelas duas fatias de pão de forma com o queijo derretido saindo pra fora junto com o alface.
—Cuidado, vai se sujar!-Leo riu.
Abaixei a cabeça e não o encarei.
—Todos receberam uma mensagem do Anônimo.-Nancy disse.-Vocês podem confiar. Não é spam ou trote. É real.
—Ele está do nosso lado por acaso?-Gray perguntou.
—Talvez.-Lya tomou a palavra.
—Quero saber...Quem vai até o local marcado?-Nancy perguntou.
Ergui a cabeça, Lya levantou a mão.
—Se minha maninha vai, claro que to com ela.-Leo disse sorrindo desafiador.
—Também vou.-Gray cruzou os braços.
—To dentro!-Danny sorriu com a boca cheia.
—Não acho uma boa idéia, Nancy.-Bárbara advertiu.
—Nem eu...-Izzy falou.
—Tudo bem, ninguém é obrigado a ir.-Nancy relaxou os ombros.
—O que exatamente vai acontecer lá?-Bella perguntou.
—A Letícia vai ter o dela.-Nancy estralou os dedos da mão.
—Quem é esse Anônimo?-Danny perguntou.
—Um informante.-Nancy respondeu.-Podem confiar. Não é amardilha, nem nada.
☆☆☆
Os dias passaram-se lentamente.
No dia seguinte, as meninas iriam até a construção abandonada brigar.
Eu estava com Danny, na casa dela, a ajudando a estudar.
—Fazer o oitavo ano novamente é dureza...-Danny reclamou enfiando a cara no caderno.
Ri.
—Nossa, que legal!-notei umas folhas soltas, haviam desenhos de penteados, todos coloridos.
—Ah, valeu...-Danny sorriu sem jeito.-É meu sonho ter as pontas pintadas!-balançou os cabelos curtos.
—Sua mãe não deixa?-perguntei fechando meu caderno de anotações.
—Nah...Deixar, ela não deixa. Não deixar, ela nunca disse nada. Então!-Danny deu de ombros.-JÁ SEI!-gritou empolgada.-Me ajuda! Vamos pintar meu cabelo!-segurou em minhas mãos e olhou fundo em meus olhos.
—Que?!-arregalei os olhos, assustada.-Não, Danny! Não é boa idéia!-falei medrosa.
—Ah, Yuki!-Danny fez manha.
—Sua mãe vai brigar!-eu disse.
—Por favor, YuYu!-Danny fez cara de cachorrinho pidão.
—O-Okay...-disse sem jeito e incerta.
—Precisamos só da tinta!-Danny se levantou do sofá.-A vizinha da rua de cima tem, ela é cabeleleira! Bora lá!
Ao sairmos, demos de cara com um garotinho de cabelos castanhos avermelhados.
—Danny-Senpai!-ele disse animado.
—Gui! Chegou em boa hora! Me ajuda a pintar o cabelo?-Danny sorriu.
—Claro, vai ser um prazer poder tocar no seu cabelo e te ajudar!-Gui disse com os olhos brilhando.
—Meu garoto!-Danny o abraçou e afagou seus cabelos.
—Ainda acho que não é uma boa idéia...-comecei a alisar uma mecha de meu cabelo com nervosismo.
Fomos até a casa da cabeleireira, ela nos recebeu super bem. Seu nome era Regina, ela tinha um salão de beleza no centro comercial.
—Tinta? Sua mãe deixou você fazer isso?-Regina perguntou.
Não!
—Sim!-Danny segurou o riso.
—Tudo bem então...Aqui, leve e veja o que te agrada.-Regina lhe entregou um caixa de sapato decorada por fora, cheia de tubos de tinta por dentro.-É o que tem aqui em casa, o resto deixo no salão.
—Já tá ótimo!-Danny disse sorrindo de orelha a orelha.
Regina explicou para Danny os procedimentos certinhos para descolorir e pintar o cabelo.
—Valeu, Regina!-Danny agradeceu.
—De nada, linda, depois vem aqui pra me mostrar o resultado.-Regina riu.
E lá fomos nós de volta pra casa da Danny. A mãe dela estava trabalhando.
Ai, Deus...Tomara que ela não brigue com a gente.
Ajudei Danny a fazer a mistura de água oxigenada com o pózinho e a aplicar no cabelo dela, depois enrolamos as mechas com papel alumínio.
—Danny-Senpai é tão ousada!-Gui disse sorrindo.
—Isso é loucura!-Danny não continha o sorriso enquanto girava em sua cadeira giratória que foi colocada no quintal ao lado do tanque de lavar roupa.
—Qual cor vai ser?-perguntei analisando os tubos.
—Preto azulado!-Gui opinou.
—Eu gostei desse roxo...-falei sorrindo de canto.
—Tem verde não?-Danny perguntou.
—Tem não!-Gui disse mexendo na caixa.
—Amarelo!-Danny pegou o tubinho amarelo. Amarelo mesmo.
—Amarelo?!-eu e Gui nos entreolhamos.
—Não! Já sei o que quero!-Danny disse determinada.-Vermelho!-pegou o tubo e pressionou contra o peito.
Depois de um tempo, tiramos o papel alumínio e...Percebemos que descolorimos mais da metade do cabelo dela ao invés de somente as pontinhas (Quando a conheci, seu cabelo era na altura do queixo, porém agora estava no ombro). Danny nem se importou, eu sim.
Peguei umas luvas de silicone debaixo da pia da cozinha.
—Então...-falei tremendo os lábios, hesitante.
—Manda ver!-Danny disse.
—Gui, você pode...-olhei o garoto.
—Claro!-ele sorriu prestativo. Lhe entreguei as luvas.
—Melhor eu só enxaguar.-sorri tombando a cabeça de lado e cruzando os braços atrás das costas.
Gui pegou a tinta e começou a passar delicadamente no cabelo de Danny.
—Danny...-chamei.-A tinta não vai dar...-notei que já havia acabado. Os tubos não estavam cheios.
—Vai ter que misturar, eu acho...-Gui disse.
—Então...Roxo!-Danny disse.
—Yuki, você pode passar agora?-Gui me entregou as luvas.
Assenti com a cabeça.
Passei a tinta roxa que misturamos com creme para pentear, essa cobriu mais que a vermelha, porém ainda restou mechas loiras.
—E agora?-Gui perguntou.
—Azul!-Danny disse sorridente.
E lá fui eu pintar as mechas que restaram de azul.
—Que carnaval!-brinquei.
—Bora enxaguar!-Danny levantou da cadeira.
—Não!-eu e Gui gritamos, a puxando de volta.
—Se você enxaguar agora, vai tirar toda tinta, não escutou o que a Regina disse, Danny-Senpai?-Gui franziu a testa.
—Ah...-Danny ficou com cara de paisagem.
Ficamos lá esperando.
Até que Danny pegou o tubo de tinta roxa, encheu de água, chacoalhou e simplesmente jogou na cara do Gui.
—Ah, é assim?-Gui riu, pegando o tubo azul e fazendo o mesmo que Danny, jogando a água em sua roupa.
Arregalei os olhos e tentei me esconder, mas ambos acertaram meu cabelo.
Começamos a pegar os tubos com tinta, sem misturar com água e jogar uns nos outros.
No final, estávamos todos pintados, o cabelo da Danny ganhou mais cores, assim como nossas roupas. Meu Deus, pareciamos um arco-iris ambulante!
Eu estava rindo. Porque realmente me diverti! Foi tão divertido! Me senti viva!
—Mamãe vai me matar!-ri olhando pra minha roupa.
—Bora se lavar!-Danny pegou uma mangueira, conectou na torneira do tanque e abriu. Gui teve a idéia de jogar sabão em pó em nós como se fosse sabonete.
Tomamos banho de mangueira e usamos sabão em pó para nos limparmos.
Nem reparei como o tempo passa rápido quando nos divertimos com amigos.
Ajudei Danny a lavar bem o cabelo com shampoo, depois secamos com o secador da mãe dela. Acabou que o roxo virou rosa e o azul ficou esverdeado. Apenas o vermelho permaneceu.
Por fim, penteei o cabelo dela até ficar lisinho e Gui ajudou a fazer cachos enrolando as mechas com creme em um lápis e passando spray.
—O que achou?-Gui perguntou enquanto Danny olhava-se no espelho do banheiro. Ela estava quieta e séria.-Sabe...Achei que você ficou linda!
—EU ADOREI!-Danny gritou feliz da vida e nos deu um baita abraço de urso.-Vocês são ótimos! Os melhores amigos que eu podia querer! Obrigada mesmo!
Ri.
—Só amigo?-Gui ficou tristonho.
Danny riu e beijou a bochecha dele, o deixando vermelhinho.
Voltamos pro quintal, jogamos bola, mesmo que eu não soubesse nem o que fazer, eles tiveram paciência comigo e me ensinaram.
Ensinei alguns golpes de muay thai para eles, Gui ficou impressionado.
Por fim, deitamos na grama, suados e cansados, e ficamos olhando as nuvens, vendo seus formatos engraçados.
O dia foi incrível!
☆☆☆
Bem, o dia da briga chegou.
E...Eu estava em casa. No meu quarto. Pintando as unhas.
Era 11:40 A.M.
Eu estava tremendo e meu coração batia rápido, não sabia o por quê.
Engoli em seco ao encarar o relógio da Hello Kitty que ganhei da Bella.
—Eu não tenho que ir...-respirei fundo, me concentrando em passar o esmalte branco em minhas unhas.
—Yuki?-mamãe apareceu, a porta estava aberta.-O almoço já está quase pronto. Pode colocar a mesa pra mim?
—Claro.-assenti.-Só me deixe terminar isso rapidinho.-falei tampando o vidrinho de esmalte e balançando as mãos para que as unhas secassem mais rápido.
—Certo.-mamãe sorriu, indo embora.
—É...Mãe...-chamei, ela me olhou.-Posso ir andar de bicicleta?
—Sozinha?-mamãe arregalou os olhos.
—S-Sim...-abaixei a cabeça.-E-Está sol, mas a b-brisa é fresca. Estou sem n-nada para f-fazer. E...É b-bom para n-nã-não...P-Perder a p-prática.-senti meu rosto esquentar e minha garganta secar.
—Por mim tudo bem, só não quero que vá muito longe, fique pelo bairro ou ligue para Bella ou para alguma de suas amigas para te acompanhar.-mamãe assentiu.
Assenti, sem olhar em seu olhos.
Terminei de secar as unhas, troquei de roupa (já que estava com uma de ficar dentro de casa) e fui arrumar a mesa para o almoço.
—Bem...Não vou a-almoçar. Já vou i-indo.-falei olhando para o relógio em meu pulso, indicando que faltava 10 minutos para o meio-dia.
—Certeza?-mamãe me olhou surpresa.
—Não estou com f-fome.-forcei um sorriso.
—Tome cuidado e volte antes das duas horas.-mamãe beijou o alto da minha cabeça.
Assenti e já ia saindo.
—Ah, filha...Faz tempo que Leo não vem te buscar para o treino de muay thai. Aconteceu alguma coisa?
—N-Nada...-mordi o lábio inferior.
☆☆☆
Peguei minha bicicleta e fui pedalando até a construção abandonada perto do colégio de Bella.
O que eu estou fazendo? Por que estou indo? O que deu em mim?
Eu menti pra minha mãe. Eu estou sozinha.
Comecei a olhar ao redor, as pessoas andavam normalmente, com expressões comuns, tendo suas vidas diárias. Mesmo assim, eu estava apreensiva e nervosa, pedalava o mais rápido que conseguia e não direcionava o olhar para nenhum estranho.
Meu coração parecia que ia explodir, eu estava endurecida e suava frio.
Cheguei até a construção, desci da bicicleta e pensei seriamente se entrava ou não. Respirei fundo, tremendo os lábios, as pernas bambas, eu estava arrepiada de medo.
É melhor eu ir embora...
—Você é a Miyuki, não é?-uma voz masculina perguntou atrás de mim, antes que eu pudesse me virar, meu braço foi torcido atrás de minhas costas e minha bicicleta caiu no chão.
Arregalei os olhos desesperada e antes que gritasse, ele cobriu minha boca com a outra mão.
—Eu não vou te fazer mal.-ele sussurrou.-Não se preocupe.
Meu coração falhou uma batida.
Senti meus olhos arderem, eu devia estar pálida de medo, estava paralisada.
O QUE EU FAÇO?! EU NÃO SEI!
Minha cabeça girava.
Fechei os olhos com força e cerrei os dentes.
Por impulso, com minha mão livre, peguei o palito que estava prendendo meu cabelo em coque e espetei a garganta daquele cara. Ele me soltou no mesmo instante. O ouvi assoviar impressionado.
Já livre e podendo encara-lo cara a cara, lhe dei um chute, o afastando de mim. Dei alguns passos para trás.
Ele não revidou. Ele era mais ou menos do tamanho da Nancy, vestia um moletom vermelho com duas letras no meio: "A.F."
Minha respiração estava irregular e meu cabelo havia soltado, deixando alguns fios desalinhados caírem sobre meu rosto. Eu tremia. Meu coração sambava.
Por favor...Alguém me ajude.
Eu devia correr? Minhas pernas não moviam.
Eu devia gritar? Minha voz não saía.
Arregalei os olhos e encarei minha bicicleta caída na calçada.
—Boa garota.-ele disse.-Suas amigas estão te esperando.-apontou para a construção abandonada.
Assustada, corri para dentro da construção pela parte de trás para evitar ter que pular o muro ou passar pelo buraco coberto por madeiras, abandonei minha bicicleta junto daquele garoto. Ao entrar, joguei meu capacete e minhas cotoveleiras no chão de terra.
Olhei ao redor e avistei as garotas e os garotos da A.U.F. sentados nos materiais de construção, como madeiras e tijolos.
Andei até elas lentamente, ainda hesitando, tirando minhas joelheiras.
—Yuki?!-Danny surpreendeu-se ao me ver.-Você aqui?!
Assenti...Séria.
—O que veio fazer?!-Gray perguntou.-Vá pra casa!
—E-Eu...-o encarei.-N-Não sei...-encolhi os ombros e abaixei a cabeça.
—Eu disse que se viesse, eu a protegeria.-Nancy disse cuspindo no chão.-Então fique tranquila.
—Yuki...-Leo me encarou surpreso.-Você detesta brigas, não é?-disse receoso.
—Eu queria e-estar presente...-coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e encarei meus tênis sujos de terra. Ainda tentava estabelecer minha respiração.
—O que aconteceu? Seu cabelo está bagunçado, você nunca é assim!-Bárbara perguntou.
Lembrei-me daquele garoto que me atacou.
Cerrei os dentes de leve e me abracei insegura.
—É só o v-vento.-murmurei.
—Ora...Ora...Ora...-Letícia chegou sorrindo debochada.-Quem temos aqui? As fujosujas!-gargalhou com as mãos na cintura.-Quem mandou vocês aqui?
—Não te interessa!-Lya cerrou os dentes.
—Olha...Só os mais barraqueiros! Só os cães sarnentos com raiva!-Letícia estreitou os olhos.-Espera...Tem um pinscher no meio dos vira-latas brutos!-riu apontando para mim.-E um poodle!-apontou para Bárbara.-Tem gente que não sabe mesmo seu lugar!-riu.
—Tipo você!-Gray disse com os dentes cerrados.
—E aí? O que vão fazer? Me bater?-Letícia revirou os olhos.-Estou morrendo de medo!
—Deveria mesmo! Daqui você não saí inteira!-Leo ameaçou.
—Duvido muito!-Letícia apoiou-se em alguns tijolos, bem longe do nosso grupo.- Vocês todos são um bando de...
—Cala sua boca! Acha que vou ficar calada ouvindo suas asneiras contra minha família?!-Danny falou cerrando os dentes.
—Ficou corajosa, foi?- Letícia riu maldosa.
—O bastante pra arrebentar tua cara!-Danny fez menção de ir até Letícia, mas Gray e Lya a seguraram.
—Sabe, juro que pensei que a primeira que iria vir pra cima era a brutamontes!-Letícia olhou para Nancy.
—Cala essa boca!-Bárbara e Lya falaram ao mesmo tempo.
—Começo por quem?-ela fez uma cara pensativa.-Ah, você, Babs...-sorriu.-Que papelão o seu ontem, hein! Nath arrasou com você! Tem foto, sabia? Vocês viram?-olhou para todos.-Óbvio que sim! Todos viram! Como se sentiu sendo humilhada?
Bárbara ficou calada e seus olhos estavam cheios de lágrimas.
Eu não sabia do que Letícia estava falando, mas parece que todos estavam cientes.
—Ah, Lya!-Letícia olhou para Lya que a olhou superior.-Pode me dizer qual a novidade?-perguntou. Lya a olhou confusa.-Vamos! Se o Leo não fala, você tem que falar! A japinha merece saber, né?-me olhou sorrindo.
Fiquei confusa.
—Sabe, pessoas...Ou coisas que se acham pessoas.-ela aumentou o sorriso.-Leo terminou com a Yuki!
Arregalei os olhos.
Por que ela fez isso?
Todos me olharam. Nancy me olhou com pena, mordendo o lábio inferior. Gray me encarou sério, assim como Lya. Todos os olhares dirigidos a mim. Me envergonhei.
Eu não havia contado para ninguém.
—Mas, acredito que ele não contou o motivo! Eu sei!-Letícia disse animada. A olhei chocada e ela me olhou esnobe.-Ele te deu um fora, porque ele gosta de outra pessoa!
—Como você...-Leo falou sem notar e imediatamente parou de falar.
Todos ficaram em silêncio e Letícia gargalhou.
—Viram? Ah, Leo, sabe como eu sei? Simples! Reconheço uma pessoa apaixonada de longe!-ela falou friamente.-Então, Lya! Seu irmão fala tudo pra você, né? E aí? De quem ele gosta?
—Não é da sua conta maldita.-Lya cuspiu as palavras.
—Ah, então fala você, Leo!-Letícia andou até Leo e botou as mãos no ombro dele.-É uma garota? Ou um garoto? Que engraçado... Isso importa?-ela falava maldosa o olhando, parecia que Leo iria mata-la.-Não importa, né? Porque você é um maldito viado que só quer brincar com o coração dos outros!
Antes que Leo fizesse qualquer coisa, Lya puxou Letícia pelos cabelos com raiva e deu um soco em seu nariz.
Todos ficaram surpresos, eu principalmente. Arregalei os olhos e cobri a boca.
Letícia foi pra cima de Lya, a jogando no chão. Bastou isso para Nancy entrar na briga, já metendo um chute no estômago de Letícia.
Fiquei sem fala ou reação, eu não sabia o que fazer, estava gelada.
—YUKI!-Danny gritou.-Me ajuda aqui!-ela estava segurando Gray e Leo.
Enlacei meu braço ao de Leo com força, ele estava furioso.
—T-Tany...Quero dizer, Leo...-falei.-Você não pode bater nela! Ela é garota!
—Dane-se!-Gray cerrou os dentes, Danny havia o abraçado por trás com toda sua força.
—Vocês dois vão fazer um estrago maior que a Nancy...-falei desesperada.
—Eu não vou deixar barato tudo o que ela fez contra nós!-Leo me encarou, os olhos pegando fogo.
—Por favor...Se acalma...Deixa a Nancy e a Lya.-pedi com a voz embargada.
Leo piscou os olhos várias vezes e relaxou o corpo.
—Gray.-ele disse sério.-Deixa as garotas.-suspirou.
Gray ficou surpreso e parou de tentar se soltar de Danny.
Suspirei aliviada.
Voltei a olhar as três. Continuavam se batendo violentamente.
Será que tudo tem que ser decidido na violência? Elas não podiam entrar em um acordo sem contato físico? Por que elas tem que machuca-la? Por que?!
Bárbara estava do meu lado e...Chorando.
Eu também estava com vontade de chorar. Muita. Não aguentava ver aquele tipo de cena.
Nancy havia enfiado a cara da Letícia na terra, céus, ela era muito brusca.
—B-Bárbara...N-Não a-acha melhor parar?-falei baixinho.-Isso pode dar r-ruim...
—Também acho!-Danny disse nervosa.
—Deixe que elas façam um estrago. A dor física equivale a que sentimemos emocionalmente.-Gray disse friamente.
Isso tudo era desejo de vingança?! O que a vingança tem de bom? Ela apenas deixa seu coração escuro e amargo! O ódio deixa as pessoas cegas!
—Nancy! Já chega!-Bárbara gritou.
Nancy nos encarou, toda suada, a cara arranhada e os cabelos bagunçados. Nessa distração, Letícia se levantou, chutou Lya e socou a cara de Nancy.
Ficamos todos em silêncio, impactados.
—Você. Tá. Morta.-Nancy disse séria e simplesmente deu um chute no meio da cara da Letícia, a fazendo cair para trás.
Cobri os olhos e encolhi os ombros.
—Não quero ver...Não quero ver...Não quero ver...-murmurei.
Por que? Por que essa sede de vingança? Isso não é ruim? A violência não é ruim? Elas não estão pegando muito pesado? É errado, não é? O que eu faço? Por que eu vim até aqui?
—NANCY!-ouvi Gray gritar.-Já deu.
Meu coração batia descontrolado. Eu detesto brigas. Detesto!
—Yuki.-alguém tocou meu ombro. Tirei as mãos de meus olhos lacrimejados. Leo estava me encarando preocupado.
—Tudo bem?-ele perguntou.
Não respondi.
—Yuki...-Leo disse receoso.
—E-Estou b-bem...-me afastei um pouco.-Sério.-não o encarei. Fiquei fitando meus pés.
—É só i-isso que vocês podem fazer?-Letícia se levantou com um tanto de dificuldade, tossindo. Seu nariz estava sangrando assim como a boca. A cara toda arranhada. A roupa branquinha estava encardida.
Gray estava segurando Lya e Bárbara e Danny segurando Nancy. Ambas que entraram na briga estavam também machucadas, porém bem menos que Letícia, elas estavam apenas com arranhões, com as roupas sujas e amarratodas e cortes nos lábios.
Céus, temos que cuidar desses machucados urgentemente!
—Ah, Letícia! Cansei de você!-Danny soltou Nancy.
—Que foi? Vai me bater também? Pode vir.-Letícia riu, ela não conseguia nem ficar de pé direito.
—Eu não vou te bater! Vou falar o que você merece ouvir!-Danny disse determinada.-Você é tão desprezível! Eu não acho que você tenha merecido a amizade de Wendy e David! Eles eram bons demais para você! Você era egoísta! Não queria que David fosse feliz do jeito que ele queria! Tratou eu e Wendy mal só porque fizemos algo contra sua vontade sem nem mesmo sabermos! Você é uma pessoa tão baixa! Wendy e David nunca deviam ter te conhecido, assim a vida deles seria 100% maravilhosa! E...Eu...Eu queria poder esquecer que fomos amigas! Queria poder nunca ter sido sua amiga! Porque...Não tem como eu ser amiga de alguém tão preconceituosa e má!-ela cerrou os dentes e punhos.
Letícia arregalou os olhos.
—Cale a boca! Não cite esses nomes!-Letícia gritou.
—Você não merece ter amigos mesmo.-Danny disse com a testa franzida.-Tenho pena daquele canil que você chama de bonde. Ninguém merece te aguentar.
Letícia ficou chocada e sem palavras.
—Eu não vou mais ficar calada te aguentando, Letícia. Já chega de todas as ameaças!-Danny alterou a voz.
—Vocês...-Letícia estreitou os olhos.
—Deixa ela aí.-Nancy disse com desprezo.-Já foi o necessário por hoje.-pegou no braço de Danny.-Tenho certeza que ela não vai voltar a mexer conosco.-disse friamente.
—Vamos.-Leo segurou no meu braço.
Estávamos todos indo embora, porém notamos que Bárbara ficou para trás. Ela estava frente a frente com Letícia.
—Que foi, loira burra?! Quer me bater?! Me bate de uma vez, fracote!-Letícia gritou, seus olhos marejados.
Bárbara cerrou os dentes e ergueu a mão aberta. Ela estava chorando.
—Não se intrometa nos meus assuntos com o Nathaniel nunca mais!-Bárbara disse com raiva. Ela ia dar um tapa na cara de Letícia.
Não sei o que me deu...Algo dentro de mim queimou. Me soltei de Leo depressa e corri até Bárbara, segurando sua mão antes que ela entrasse em contato com a face machucada de Letícia.
—Yuki?!-Bárbara me encarou.
Todos me encararam surpresos.
—V-Vocês...V-Vocês...VOCÊS NÃO PRECISAM RESOLVER TUDO NA BASE DA PANCADA!-gritei o mais alto que pude. Respirei fundo.-Todos os dias...Na A.U.F., vocês me dão amor...Vocês me protegem...Vocês me deixam tranquila e segura...-dei um sorriso fraco.-Então...Por que vocês estão machucando ela?-olhei pra Letícia que estava incrédula.-Eu sei...Ela errou. Mas, errar é humano! Não posso explicar o por quê dela ter feito o que fez...Porém, todos merecem perdão...E se não tem perdão, não é preciso partir pra violência! O que vocês ganharam batendo nela? Nada! Estão satisfeitos? Não! Porque o coração de vocês está impuro!Gente...Vocês sempre me dão o exemplo de família protetora e amável. Agora, acabei de ver um lado violento dessa família que gostaria de não ter visto...-as lágrimas começaram a escorrer.-É sério...Vocês não precisam disso. Vocês são muito mais. Bater nela só vai piorar tudo! Isso se tornará um ciclo sem fim! Então...Por favor. Sem brigas.-pedi sinceramente.-Vocês são pessoas boas de corações puros que tem muito amor pra dar!
Era o que meu coração estava falando. Me senti mais leve ao dizer aquilo.
Todos se entreolharam culpados.
—Yuki...T-Tem razão.-Danny disse abaixando a cabeça.
Soltei a mão de Bárbara.
—É...Ela tem.-Bárbara virou o rosto e se abraçou.
—Essa é minha menina.-ouvi uma voz familiar. Olhei na direção do som e vi mamãe junto de Bella e Izzy.
—Mamãe?!-arregalei os olhos.-C-Como...
—Yuki...Mães sabem de tudo.-mamãe disse um tanto séria.-Fico aliviada que você não tenha entrado no meio da briga e estou orgulhosa por suas palavras.-ela se aproximou.
Bella me olhou e fez sinal de positivo com o polegar.
—Senhora Shimizu...-Leo disse sério.
—Vocês não tem que se explicar. Eu não contarei nada para seus pais. Mas, peço uma única coisa...Sigam o que a Yuki disse.-mamãe cruzou os braços.-Agora...Vão para casa.
—Mas...-Nancy tentou.
—Para casa.-mamãe repetiu.
—Falou, YuYu!-Danny me estendeu o punho cerrado, o toquei.
—Tchau, Yuki.-Bárbara deu um sorriso fraco.
—Valeu, Yuki.-Nancy me deu um breve abraço.
—Té mais, Yuki!-Lya deu uns tapinhas em meu ombro, estalou a língua e piscou um olho.
—Até, Yuki.-Gray apenas acenou.
—Valeu falou, Yuki-Chan!-Leo sorriu para mim, fizemos o toque especial da A.U.F.
Suspirei aliviada. Todos saíram dali.
—Estamos te esperando lá fora, Yuki.-Bella disse, saindo junto de Izzy.
Mamãe me olhou com repreensão.
—Eu não quero que você minta para mim nunca mais, Yuki. Entendeu?-mamãe segurou em meus ombros firmemente.-Você podia ter se machucado!-estava preocupada.
—Prometo nunca mais mentir para a senhora.-a abracei.
—Bem...Talvez você precisasse mesmo ter vindo.-mamãe me abraçou fortemente.-Estou orgulhosa. Você é minha menina.
—Obrigada...-sussurrei relaxada, precisava daquele abraço mais que tudo.-Obrigada mesmo.
A soltei e encarei Letícia que estava sentada no chão.
—Ei...Como você está?-me ajoelhei na sua frente.
—O que te interessa?!-Letícia disse chorando.-Não olhe para mim! Vá embora junto daquele seu bando!-virou o rosto.
—Você quer ajuda?-lhe estendi a mão.
Letícia me olhou desconfiada.
—Não.-ela disse friamente e tentou se levantar, porém fez uma careta de dor.
—Mamãe pode te levar pra casa...-falei.
—Eu já disse que não, me deixe!-Letícia tossiu.
A encarei por um tempo.
—Aqui.-tirei de meu bolso um lencinho branco cheio de babadinhos.
—Pra que isso?-Letícia disse rindo irônica, pegando o lencinho com grosseria.
—Para limpar o sangue.-sorri.
Letícia olhou de mim para mamãe. Mamãe assentiu.
Letícia limpou suas feridas fazendo uma expressão de dor, seus olhos estavam vermelhos pelo choro.
—Argh...Que estado deplorável...-Letícia resmungou.
Notei que havia um corte em sua sobrancelha que continuava a sangrar. Tirei de meu bolso um band-aid da Hello Kitty que Bella havia me dado e o colei no corte de Letícia com delicadeza.
—Dói!-Letícia reclamou afastando minha mão.
Fiquei quieta.
—Por que?-Letícia perguntou sem me olhar.
—Hum?-fiquei confusa.
—Por que...Depois de tudo que eu fiz...Você ainda me trata bem?!-Letícia cerrou os dentes.
—Porque você é um ser humano como qualquer outro.-sorri gentilmente.-Não merece tanta dor.
—Você é irritante!-Letícia me encarou com as bochechas infladas.
Me levantei.
—Olha...Você podia recomeçar. Ser boa...Tentar ter amizades verdadeiras...-tentei.
—Haha!-Letícia riu.-Yuki...Em um mundo tão falso como esse...Acha que ainda existe amizade verdadeira? Final feliz? Caminho do bem?
—Acho!-falei.
—Você é ingênua.-Letícia balançou a cabeça negativamente.-Eu sou um caso perdido, me esqueça. Eu vou continuar procurando o mal...-ela sorriu.
—Pra acalmar seu coração? Isso apenas o deixará mais sedento! Ouça o que eu digo!-a interrompi.
Letícia se calou.
—Quando precisar de uma amiga...Quando precisar de apoio...Quando quiser recomeçar...Ou quando quiser um abraço...Você pode falar comigo! Estarei sempre disposta!-sorri.
—Yuki...Vaza daqui. Vai caçar o caminhão da onde você caiu.-Letícia abaixou a cabeça e voltou a chorar.-Saí antes que eu te meta um tapa.
—Nessas condições você não consegue nem levantar a mão...-brinquei.
—Vamos, Yuki.-mamãe colocou a mão sobre meu ombro.
—Quer que a gente ligue pra sua mãe?-perguntei prestativa.
—Não. Eu vou ficar aqui. Preciso falar com alguém.-Letícia estralou o pescoço.
Demos de ombros e saímos.
—Minha filhona!-mamãe me abraçou toda contente na frente da turma toda.
—Bem...Vamos pra minha casa?-Nancy perguntou.
Peguei minha bicicleta, mamãe havia juntado meu capacete, minhas joelheiras e minhas cotoveleiras.
Estávamos todos andando, até que olhei para trás por cima do ombro e vi aquele garoto de antes, o reconheci pelo moletom. Ele estava sorrindo para nosso grupo.
Então, ele entrou na construção abandonada.
Será que ele ia falar com a Letícia?
Enfim...
Eu realmente acredito que Letícia possa mudar. Todos podem. Não chamem o mundo de podre, pois ele pode muito bem ser belo, basta querermos. Basta muda-lo.
Me chame de ingênua, inocente, pura, idiota ou até mesmo burra.
Mas, esse é meu jeito positivo de ver o mundo!
A paz não se alcançará com a violência, e mesmo que consiga, isso nos leva a decadência.
Essa experiência serviu para me deixar mais corajosa e não ter medo de protestar o que acho errado, expor minha opinião. E eu me sinto bem comigo mesma pelo que fiz.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentem o que acharam! A opinião de vocês é importante ^-^ ♡ !
Semana que vem é o último cap T.T !
Bem, ainda há tempo de fazer suas perguntas para o capítulo Bônus! Basta comentar sua pergunta e especificar para qual personagem é! Podem perguntar coisas para mim também XD!
Planejo postar a fic do Nathaniel em 09/04! Aguardem!
Bjs ♥
—☆Creeper



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