A União Fujoshi escrita por Creeper


Capítulo 10
Nancy


Notas iniciais do capítulo

Oiiiie! Chegooooou!
Boa leitura ^-^! Espero que gostem!



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Nancy
"Família"
A lua estava cheia e coberta por uma névoa no céu escuro sem estrelas, os carros passando pela avenida, as lojas fechadas, o cheiro do centro comercial invadindo minhas narinas, as luzes fracas dos postes. Cenário perfeito.
Coloquei as mãos no bolso do moletom, meus fones estavam no volume máximo, andava despreocupada pelas ruas, até chegar em um beco completamente escuro.
Um gato vadio remexia as caçambas e arrepiou o pelo ao me ver.
Andei silenciosamente até o meio que era a distância entre uma caçamba e outra.
Bati na porta devagar. Uma fresta foi aberta.
—Senha?-a mesma voz rouca de sempre perguntou.
—Eu não preciso de senha, já sou da família.-disse convencida.
—Nancy?-a voz perguntou.
—Oi, Neko.-acenei.
Ela abriu a porta por completo, me deixando entrar.
—Por que está aqui tão tarde?-perguntou de modo apático.
—Porque tenho assuntos a tratar com seu líder.-arranquei os fones de meus ouvidos.
Segui caminho pelo corredor estreito e escuro.
Cheguei a salinha dos mangás, ninguém por lá. Coloquei as mãos na cintura e pensei.
Atrás do balcão havia uma escada em formato de caracol que dava para o segundo andar. Dei de ombros e subi lá.
Cheguei a um quarto, a porta estava entre-aberta. A abri sem cerimônias.
Quem estava lá eram Hunter e Nezumi. Eles me encararam.
Que? Achou que eu os chamaria pelo nome? Ainda não!
Eles estavam conversando.
Hunter estava com a cabeça deitada no colo de Nezumi.
Presumi que não deveria atrapalhar. Apenas acenei brevemente e continuei andando em frente.
—O que você quer aqui?-Nezumi perguntou de maneira fria.
Parei de andar.
—Ver seu líder.-o olhei por cima do ombro.
—Pretende assassina-lo para ursupar o cargo dele como líder da A.F.?-Nezumi sorriu maléfico.
—Ah, sim, tenho uma faca na mochila.-revirei os olhos.-Mas ela não vai ser cravada na garganta dele...-o fitei nos olhos.-E sim na sua.-sorri diabólica.
Nezumi era completamente diferente de sua irmã, Neko.
Ele era implicante comigo.
—Você não está no seu QG, não se esqueça, então não seja petulante...-Nezumi me olhou com deboche.
—Eu ainda te quebro, Taylor.-estreitei os olhos.
—Não me chame assim!-Taylor cerrou os dentes.
—Acha que tem escutas aqui?-debochei abrindo os braços.
Hunter se levantou e olhou de mim para Taylor.
—Nancy...Não quebre a regras.-Hunter falou baixinho.
—Olha, fala sério...Não tem ninguém aqui! Até de noite vocês precisam se esconder?! Entendo que durante o dia, lá embaixo é o trabalho de vocês! E vocês querem manter segredo sobre isso! Por isso cobrem a cara e usam codinomes! Mas...Tá na hora de sair dessa! Vão viver! Saíam desse QG!-falei seriamente.
—Aqui é nossa casa.-Nezumi se levantou.-Literalmente.
É, os andares de cima eram quartos. Aquele prédio era uma espécie de apartamento.
Porém, só moravam eles ali. Quem tomava conta de todos era a Mila, que já era maior de idade.
E...Por que? Porque nenhum tinha pais.
Tecnicamente era um orfanato.
—Era a sua casa.-Hunter disse sem me olhar.
Suspirei pesadamente.
Antes de ser adotada novamente, eu matava aula e vinha aqui brincar. Afinal, eu entendia como eles se sentiam, eu era como eles, eu era um deles.
Não tinha família. Não tinha um lugar que me sentisse bem. Não tinha com quem contar.
Eu, assim como eles, encontrei refúgio naquele lugar.
A.F. siginifica Aliança Fudanshi.
E eles vendem mangás pra ter uma renda para o orfanato. Mila que os consegue na livraria que trabalha e pela internet.
Neko é a única garota do orfanato.
Creeper não conta, pois ela tem família, porém prefere ajudar os amigos aqui na A.F.
—Eu só acho que...-relaxei os ombros.-Vocês deviam sair mais. A vida de vocês é só esse prédio. Da escola pro prédio, do prédio pra escola. Isso não é viver. E sei que Mila pensa como eu.-os encarei.-Vocês deviam visitar a A.U.F...-dei um sorriso fraco.-Bem, quero dizer...Quando ela estiver unida novamente.-coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Respirei fundo. Dei as costas e andei até uma porta, a abri e entrei.
Era um quarto. Tinha uma beliche, uma cômoda e uma mesinha de estudos com um notebook .
—Eu estou ocupado.
—Arranje tempo para mim, David.-fechei a porta e joguei a mochila no chão.
—O que você quer?-David estava mexendo no celular na cama debaixo da beliche.-Estou trabalhando.
—Quero saber o que você está tramando.-cruzei os braços.-E você sabe do que estou falando.
David suspirou e se levantou. Estava com o mesmo moletom de sempre, um vermelho com a sigla "A.F." no meio feita a mão.
—Meu novo alvo é ela.-ele me mostrou a foto de Grazi no celular. David estava fazendo cara de tédio quanto a isso.
—Pois quebre o "contrato" agora. Eu não quero que a Grazi sofra mais.-franzi a testa.
Eu estava tendo consideração pelo Gray.
—E quando foi que eu machuquei alguém?-David cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha.-Tenho que agradar ambos os lados, mas isso não significa que eu traía um para satisfazer outro. Jurei para você não machucar seus amigos mesmo dando idéias para Letícia sobre o que fazer contra os tais.
—Tá, mas...-fiquei sem fala.
—Fica tranquila.-David bocejou. Ele estava com olheiras piores que as minhas.
—Bem, eu quero dar uma lição na Letícia.-falei.
—Eu já disse que estou planejando...-David disse com a voz um tanto arrastada.
—Você está morto!-o segurei pelos ombros preocupada.-Há quanto tempo não descansa direito?
—Eu não tenho que descansar.-David me olhou sério.
—Claro que tem! Você só trabalha, trabalha e trabalha! Nem saí desse quarto! Só fica nesse celular!-apertei mais seus ombros.
—Eu tenho que trabalhar!-David se livrou de mim.
—Tudo pelo dinheiro? A Mila ganha o bastante pra sustentar vocês, além de ganhar uma quantia dos avós de vez em...-falei indignada.
—A Mila tá doente, tá legal?!-David me encarou irritado.-Ela precisa comprar remédios e pagar o tratamento! E mesmo que ela não goste...Estamos trabalhando!
Arregalei os olhos assustada.
Todos ali tinham mais de 15 anos, mas ainda assim eram crianças frágeis.
—Por favor, descansa.-pedi.
—Não dá...Eu preciso ajudar.-David relaxou os ombros.-Preciso te ajudar. Não quero ninguém ferindo seus amigos por minha ajuda e saindo impune.
—Não tem importância. Me viro sozinha.-eu disse suspirando.-Não quero você se desgastando.
—Mas eu quero te ajudar! Eu estou pensando em algo. E prometo não ferir a Grazielly.-David deu um sorriso fraco.
—Só dorme, tá?-pedi sorrindo.-E...Troca esse moletom.-revirei os olhos.
—Mas é um presente seu.-David fez biquinho.
Retirei meu moletom preto e joguei na cara dele.
—Bem, vou deixar você ficar na paz. Volto outro dia.-suspirei.-Mande "oi" pra Mila.-dei um sorriso fraco.
—Você devia aparecer mais por aqui, Ghost.-David sorriu segurando meu moletom.
—Estou com tempo agora que...Bem...-respirei fundo.-Boa noite.-sorri e lhe dei um soquinho amigável no ombro.
☆☆☆
Eu nem conseguia me concentrar mais nas aulas. Minha cabeça doía.
A A.U.F. continua desunida. Todo mundo com frescura de pedir desculpas um pros outros! Até eu! Até eu pedi! E olha que meu orgulho é do tamanho da Muralha da China! Mas...Me senti arrependida de verdade.
Só queria que tudo voltasse como era. Sentia falta daquelas the monias fazendo barulho na casa da árvore.
Eu me desculpei com a Izzy sem Yuki se descupar comigo. Afinal, não podia ficar esperando os outros para que eu tomasse "prumo" para concertar minhas burradas.
Bem...Alguém devia um pedido de desculpas pra Yuki fazia tempo.
—Que cê quer?-Gray disse de mau humor ao abrir a porta de seu quarto. Ele havia acabado de acordar.-Espera...Como entrou aqui?-franziu a testa.
—Detalhes...-falei entrando no quarto dele. Gray fechou a porta e se jogou na cama. Me sentei na cadeira giratória da mesinha do computador.-O que quero? Que você se desculpe com uma certa japinha!
—Eu já disse que quero que a...-Gray começou.
—QUER QUE A BÁRBARA SE DESCULPE?! Você quem disse que o namoro está uma porcaria por culpa dela e do Nath!-rosnei.-Do Nath pode até ser, mas da minha irmã não!
—Acha que é certo ela me culpar? Afinal, da onde ela tirou isso?-Gray franziu a testa.
—Que?-arqueei uma sobrancelha.-Achei que soubesse!-o encarei.
—Soubesse o que, pelo amor?-Gray estava confuso.
Peguei o celular de Bárbara, havia o levado comigo. Aos sábados ela ficava na reunião do grêmio estudantil, não ia precisar do celular. Coloquei nas mensagens e o entreguei pro Gray.
—Sua irmã.-falei séria. Mesmo achando aquilo bem falso. Bem falso mesmo.
Gray leu e ficou pasmo.
—Eu não fiquei de gracinhas com o Nath coisa nenhuma! E...Eu não posso acreditar que Grazi inventaria isso! Não foi ela!-Gray cerrou os dentes.-Não mesmo! Ela não ia querer arranjar intriga com a sua irmã!
—Então. Esse é o ponto. Se não foi a...-arqueei uma sobrancelha.
—Foi aquela cobrinha. Naquele dia ela estava procurando o celular com Grazi! Só pode ter sido!-Gray parecia bravo.
—Pensei nisso.-falei tranquila.-Não foi a Grazi. Mas, a Bárbara se deixou levar. Eu não impedi...
—E por que não?!-Gray se levantou.-Permitiu que ela jogasse a culpa em mim e no Leo?
—Opa, calminha aí! Isso é pro bem dela. Ela tem que crescer.-cruzei os braços.-Nada contra vocês dois. Só queria ver onde ia dar. E outra...Bárbara não me daria ouvidos.
—E depois diz que é uma irmã boa!-Gray bufou.
—Gray...Eu não posso proteger ela sempre. Infelizmente, não posso.-suspirei pesadamente.-Ela tem que aprender a se virar sozinha, começando por assuntos da adolescência, como amores platônicos...Eu não quero que ela cresça, mas ela tem.-virei de costas para que ele não visse minha expressão de dor ao dizer essas palavras com tanto pesar.-As vezes temos que deixar as pessoas que amamos tropeçarem no meio do caminho...Errarem...Pois elas vão aprender com os erros.
—Entendo.-Gray suspirou.-Grazi também está passando por isso, não? Só que...Eu deixei de protegê-la muito cedo...Ela ainda é frágil.-Gray disse compreensivo. Me surpreendi, esperava que ele me expulsasse dali.
Suspirei e prendi meus cabelos.
—Olha...A Letícia vai ter o dela. Acredite em mim. Mas...Temos assuntos mais importantes a tratar. A A.U.F.-disse séria, segurando em seus ombros.
Gray franziu a testa.
Tirei do bolso da calça um papel arrancado de um bloquinho de anotações, ele era rosa e cheio de desenhinhos "fofos" nas bordas. O joguei na mão de Gray.
—"Gray, me desculpe. Eu não devia te culpar assim. Talvez você tenha razão, nosso namoro vai mal por nossa causa. Sou infantil e joguei a culpa em você, porque no meu mundinho, Nath é perfeito e eu também."-Gray leu em voz alta.-Tem cheirinho de limão...-riu cheirando o papelzinho.
—Não é oficial. É um rascunho. Achei no bloco dela e decidi te dar. Bárbara é tão organizada que estava roteirando um pedido de desculpas.-sorri orgulhosa.
Gray ficou encarando o papel.
—Agora...Se desculpe com Yuki. É uma ordem.-falei ameaçadora.-Sabe...Yuki merece. Você a tratava muito mal, ela aguentou muito desaforo. O mínimo que você pode fazer é ter decência.-falei soprando alguns fios de cabelo rebelde de minha franja que caía sobre meus olhos.
Gray fechou a cara.
—Pelo bem da A.U.F.-sorri lhe entregando sua pulseira vermelha que guardei desde o dia da discussão.
Ele arregalou os olhos ao encara-la, a pegou um pouco hesitante.
—Meu pulso ficou vazio sem ela...-Gray riu.
—Depois de falar com a Yuki...Pode entregar para o Leo por mim?-sorri maliciosa, entregando a pulseira azul de Leo para Gray.
—Nancy, para. Corta essa. Meus sentimentos estão no passado.-Gray pegou a pulseira e me olhou sério.
—Será que estão mesmo, loirinho?-falei desconfiada.-Aquela paixão é difícil de esquecer!-ri bagunçando seus cabelos.
Gray inflou as bochechas coradas.
Dei um sorriso sincero.
—Vocês estão destinados um ao outro!-fiz um coração com as mãos e saí dançando pelo quarto. Gray me acertou com um travesseiro e me expulsou dali.
☆☆☆
—Então...Tudo certo?-Lya me perguntou, estávamos no parque tomando sorvete.-Tipo...Com os integrantes da A.U.F...
—Devolvi todas as pulseiras jogadas no dia da discussão...Todo mundo aceitou...E...Parece que todo mundo está de bem...-falei encarando o céu, era uma tarde quente, sem brisa nenhuma, podia ouvir as cigarras fazendo aquele barulho incomodativo e os passarinhos cantando, o cheiro de grama misturado com margaridas e o cheiro de morango da Lya invadia minhas narinas.
Observei os ciclitas pedalando pelo parque, as pessoas fazendo caminhada, as crianças brincando perto do lago.
Eu escutava a música que tocava dos fones de ouvido das pessoas que estavam caminhando durante os poucos segundos que elas passavam por nós.
Observava tudo atentamente, mesmo que por fora eu aparentasse estar entediada.
Eu faço isso desde que me conheço por gente.
Sou atenta a tudo ao meu redor: a paisagem, os cheiros, as pessoas.
Por isso meus reflexos são excelentes, meu ofalto aguçado e minha audição...Não consigo pensar em um adjetivo.
—Aquela menina de vestido rosa...Ela vai tropeçar e cair na beira do lago.-deixei escapar. Estava olhando as crianças pelo canto do olho.
E isso aconteceu mesmo. A menina começou a chorar por seu vestido estar molhado.
—Uau.-Lya riu.
Suspirei. Aquilo era óbvio, ela estava correndo com os tênis desamarrados.
Eu tive tempo pra praticar. Durante a minha infância e adolescência, tudo foi monótono e apático, sem nada de novo acontecer. Precisava de uma distração.
Senti meu celular vibrar no bolso da bermuda, o peguei e li a mensagem.
"Já foi tudo feito. Daqui uma semana, ao meio-dia, na construção abandonada perto do colégio que o Grayson, a Dannielly e a Bella estudam. Apareça e assim terá sua vingança.
Anônimo."
—Ei, quem é?-Lya tentou espiar.
—Confira seu celular, gatinha.-falei guardando o meu.
Lya pegou o dela e leu a mensagem.
—Quem é esse, Nancy?-Lya franziu a testa, me encarando.
—Você vai descobrir.-me levantei.-Algum dia...-murmurei.
—Nancy! Você mesmo não gosta que escondamos as coisas de você!-Lya se levantou.-Você o conhece?!
Respirei fundo.
—Tudo bem. Eu vou te contar. Mas, não hoje.-a encarei.
—O que vai acontecer nessa construção abandonada?-Lya franziu a testa.
—O que mais queremos em relação a ruiva.-estralei meus dedos da mão como se fosse socar alguém.
Lya deu um meio sorriso de canto.
—Interessante.
—Me faz um favor?-comecei a andar.-Pode chamar as meninas para casa da árvore hoje a noite?
—Reunião de União?-Lya sorriu.
—Isso.-ri.
☆☆☆
Cheguei em casa, tomei um banho, coloquei uma roupa confortável e comecei a arrumar meu quarto.
Me lembro de quando achei o mangá yaoi da Bárbara debaixo do colchão. Eu já sabia há tempos que vivia debaixo do teto de uma fujoshi. Meu radar apitava feito louco. Só esperei por uma brecha.
Achei uma caixa rosa debaixo da cama da Bárbara...Tinha fotos dela com o Nathaniel e cartinhas de amor. Falando nela, ela estava na biblioteca estudando.
—Eu não gosto dele.-murmurei fechando a caixa.-Não gosto mesmo.
O QG da A.F...Podia sentir o cheiro do Nathaniel lá.
Franzi a testa ao pensar nisso.
—Besteira!-resmunguei.
Recolhi as roupas do varal, fiz o almoço e por incrível que pareça...Fiz os deveres de casa que passaram na escola.
Estava no quintal, me alongando, treinando alguns golpes de luta de rua. Olhei para a casa da árvore.
Ninguém entrava lá desde a briga...
Respirei fundo, escalei a árvore e fiquei parada em frente a porta, hesitando. Peguei a chave pendurada em meu pescoço por um cordão e destranquei a porta.
Senti a poeira saindo de lá de dentro, tossi e entrei.
Coloquei as mãos na cintura e olhei ao redor.
—Vamos lá!-sorri me preparando para dar uma geral naquele lugar todo bagunçado.
☆☆☆
A noite chegou, com isso, as meninas também. Todas estavam trocando olhares e dando acenos tímidos umas para as outras.
—Então...Se chegarmos a um acordo...-falei em bom e alto som.-Gostaria de reunir A União Fujoshi.-dei um sorriso fraco e olhei pro rosto de cada uma.-Afinal...Acredito que nossa discussão tenha sido idiotice...-coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.-E...Eu estava estressada. Me desculpem.
—Acredito que todos tenhamos errado.-Bárbara abraçou a si mesma.
—É...-Gray desviou o olhar.
—Me desculpem. Eu...Nunca mais irei guardar segredos de vocês. Pois...Somos uma família...-Danny cerrou os punhos.
—Desculpa. Você não tem que se forçar a contar algo que te deixe mal.-Izzy falou de cabeça baixa.
—Foi mal ter culpado você e o Gray...-Bárbara olhou para Leo.
—Foi mal ter gritado com você.-Leo me olhou vagamente.
—Estamos todos de bem?-perguntei.
—Não aguento mais ficar separada!-Bella disse.
—Nem eu! Eu sinto saudades de todos!-Yuki falou ruborizada.
—O que estamos esperando?-Lya sorriu se levantando e me abraçando.
—Abraço de reconciliação!-abri os braços e sorri de orelha a orelha.
Nos juntamos todos em um grande e apertado abraço, sentia falta daquela sensação de conforto e do carinho das pessoas que são importantes para mim.
—Amo muito vocês!-sussurrei.
Finalmente...Depois de tanto tempo...Estávamos todos reunidos.
Eu odiaria que tal laço se partisse para sempre. Porém, lá no fundo eu acreditava que não se partiria, pois todos nos amávamos demais para que jogassemos tudo fora por uma briga irrelevante, além disso...O Yaoi também nos mantinha unidos.
Todos iríamos dormir na casa da árvore naquela noite. Fizemos as coisas que costumávamos fazer, como nos velhos tempos, todos amigos novamente. Foi divertido. 
E...Era impressão minha ou Yuki e Leo estavam distantes? Intuição.
Depois perguntaria para Lya.
☆☆☆
De madrugada, acordei porque Danny ficava me chutando enquanto dormia. Decidi ir tomar um ar fresco, saí da casinha e me sentei no tronco podre no meio do quintal e fiquei encarando o céu. Estava consideravelmente frio.
—Nancy?-ouvi a voz de Lya atrás de mim.
—Oi.-sussurrei sem encara-la.
—Danny também estava quase quebrando suas costelas?-ela riu sentando-se ao meu lado, estava ouvindo música.
—É...-encarei a lua.-Que bom que A União Fujoshi voltou a ser o que era.-sorri.-Graças a iniciativa de você e da Bella, mandaram bem.-dei um soquinho de leve em seu ombro.
—Valeu, senhorita líder.-Lya riu me devolvendo o soco.-Mas...Me deve uma informação, não é?
—Sim...-suspirei.-Tudo começou...
"Aos 13 anos, antes de me declarar para a garota que eu gostava no colégio, eu costumava matar aula com frequência. Ficava na rua, sem rumo. O centro comercial era meu lugar favorito, eu adorava invadir os becos para ficar pulando o muro, as caçambas de lixo, as cercas...
Um dia, entrei em um beco e fiquei pulando de uma caçamba para a outra, até que dei um passo em falso e caí no chão, no meio que distanciava ambas. Só então notei uma porta de ferro ali, era bem velha. Pensei que aquele lugar talvez estivesse abandonado, uma aventura.
Não havia maçaneta. Comecei a chutar a porta bruscamente e tentar abrir com muito esforço.
Provavelmente, só dava pra abrir e fechar por dentro. Devia haver outra porta que abrisse por fora, então. Me sentei atrás de uma caçamba e fiquei pensando no que fazer.
De repente, alguém entrou no beco, espiei e notei que era uma mulher. Ela bateu na porta delicadamente, em seguida foi aberta e ela entrou.
Fiquei de boca aberta, me levantei animada e fiz o mesmo. Uma fresta foi aberta.
—Qual é a senha?-uma voz infantil perguntou.
—Senha?-arqueei uma sobrancelha.
—Se não sabe a senha, vá embora.-a porta foi fechada na minha cara.
—Que?!-arregalei os olhos e soquei a porta.-Ei, me deixa entrar! Isso é tipo uma união secreta? Um clube misterioso?! Como posso entrar?!
—Você sabe o que é yaoi?-novamente uma fresta foi aberta, porém dessa vez era uma voz masculina.
—Não...-franzi a testa.
—Então o que quer aqui?
—Eu quero conhecer o que tem aí dentro!-falei travessa.
—Se indentifique.
—Nancy.-tombei a cabeça para o lado.
—Nancy de...?
—Sou órfão...Não tenho sobrenome...Mas, antigamente era Dantas.-lembrei do sobrenome que me deram quando fui adotada junto de Bárbara.
—Órfão?-a voz infantil refletiu.
A porta foi aberta por completo, e o garoto saiu, porém seu rosto estava coberto.
—Tem escutas?-ele perguntou me rodeando como um leão rodeia a presa.
—Tá louco? Aonde vou arranjar isso?-franzi a testa.
—Seu celular está com o GPS ligado?-ele perguntou.
Franzi a testa e bufei. Peguei meu celular e tirei a bateria.
O garoto estava atrás de mim, me arrepiei ao sentir sua respiração quente em meu pescoço, eu estava paralisada. Ele ia me dar um golpe nas costas, porém desviei rapidamente, me virando e me preparando para chuta-lo, só que ele segurou meu pé e riu.
—E agora? Posso te dar uma rasteira!-ele provocou.
—Me larga!-comecei a me debater, tentando manter o equilíbrio.
—Seus reflexos são bons...Mas nem tanto...-ele me largou, me fazendo cambalear para trás, batendo com as costas em uma das caçambas.
—Adoraria quebrar tua cara.-sorri desafiadora.
—Tsc. Pirralha.-ele riu com desdém.-Deixa ela entrar, Neko.-me empurrou pra dentro.
Era um lugar escuro e muito quente, aquele garoto foi me guiando pelo que parecia ser um corredor bem apertado.
Confesso que fiquei um pouco assustada.
Chegamos em um sala, essa era iluminada, havia estantes vazias e caixas fechadas no chão.
—Que lugar é esse?-sussurrei.
—Milaaaa!-o garoto gritou.-A propósito, me chame de Nezumi.
—Nezumi?-franzi a testa.
—O que houve?-aquela moça de antes apareceu.-Quem é essa gracinha?-sorriu docemente para mim.
Franzi a testa e inflei as bochechas, sentindo meu rosto esquentar.
—Não sou uma gracinha.-murmurei abaixando a cabeça.
—Que fofa!-Mila riu.
—Ela está curiosa quanto a esse lugar...-Nezumi cruzou os braços atrás da cabeça.-Já a revistei.
—Você não a machucou, né?!-Mila me olhou preocupada.
—Não...Eu acho!-Nezumi riu sádico.
—Bem, eu sei quem pode te explicar melhor sobre esse lugar!-Mila colocou as mãos na cintura.-Nezumi é um pouco grosso...Neko não é comunicativa...Hunter é tímido e eu estou ocupada preenchendo as estantes...-ela pensou.
—Haha! O Anônimo vai ficar com o peso de cuidar dela?-Nezumi continuava a rir.
—Anônimo?-estranhei.
—Que foi?-um garoto apareceu, o rosto também coberto.
—Anônimo, pode ensinar ela sobre esse lugar?-Mila o segurou pelos ombros.
—Espera...Sequer a conhecem? Ela sabe a senha? Como ela veio parar aqui?-o garoto alterou a voz.
—Cara...Ela é como nós.-Nezumi cruzou os braços.-Não parece ser uma ameaça. Além disso, Neko acha uma boa idéia. Confio na intuição da minha irmã.
O Anônimo se calou. Mila ficou surpresa.
—Vem.-ele me puxou até atrás de um balcão, onde tinha uma escada, subimos apressadamente.
Chegamos em um quarto vazio, então ele abriu uma porta e entramos em outro quarto, esse tinha uma cama e uma cadeira.
Anônimo sentou-se na cadeira e apontou para a cama, indicando que eu me sentasse.
—Antes de mais nada...Não conte sobre esse lugar para mais ninguém, ouviu? Ou você tá ferrada.-ele disse ameaçador.-Estou confiando em você pois foi a Mila quem pediu e porque a Neko "permitiu".
Assenti lentamente.
—Nome?-ele pegou seu celular.
—Nancy.
—Idade?
—13.-respondi.
—Órfão?
—É...-encolhi os ombros.
—De qual orfanato?
—Da Senhorita Delaide.-comecei a balançar as pernas ansiosamente.
—E como veio parar aqui?
—Eu costumo ficar em becos para treinar parkour e fiquei curiosa quanto a...-fui falando.-Ei! Pra que tudo isso?!
—Porque esse lugar é secreto.
—Que lugar é esse, afinal?!-perguntei.
—Um refúgio pra fujoshis e fudanshis.
—O que é...-estranhei.
—Você não sabe, né?
—Então me ensine!-sorri.
—Me acerta.
—Oi?-arqueei uma sobrancelha.
—Se me acertar, provar sua habilidade de luta...Eu te ensino.
—Tá pedindo pra apanhar?-ri maléfica.
—É. Pode vir.-ele se levantou.
Me levantei, cerrei o punho e o soquei na cara com força, sem avisar. Ele acabou cambaleando para trás.
—Ei! Eu não permiti!-Anônimo cobriu o rosto com a mão aonde lhe acertei, ele estava assustado. Notei que seu capuz havia caído.
—Não tem essa de permissão em briga de rua! Quem bateu, ganhou! Quem apanhou, chorou!-ri vitoriosa.-Agora, me ensine!
—Argh! Você é só uma pirralha!-ele cerrou os dentes, estava ruborizado. Tinha os cabelos e olhos pretos, era bem pálido.
—Pirralha?!-cerrei os dentes.
—É! Pirralha!-ele sorriu debochado.-E tampinha!-bateu em minha cabeça como se eu fosse aqueles bonequinhos de painel de carro.
Ia lhe dar outro soco, porém ele pegou meu braço e o torceu atrás da minha costa.
—Calminha...-ele falou sério.-Fica fria.-me soltou.
Primeiro, ele me explicou que todos tinham codinomes e cobriam os rostos para ninguém os reconhecer. Eles estavam abrindo uma espécie de livraria, porém vendia-se somente um gênero de mangá: Yaoi.
Eles decidiram fazer aquilo, pois era o que amavam, gostariam de conhecer pessoas iguais a eles, gostariam que aquele lugar fosse um refúgio, um porto seguro.
A necessidade da senha era para que não corresse o risco de pessoas preconceituosas entrassem ali para estragarem tudo.
Aquele prédio pertencia aos avós de Mila, ela o transformou em um orfanato pois amava crianças.
Na época, Anônimo (14) era o mais velho depois de Mila (28), depois era Nezumi (13), seguido de Hunter (12) e Neko (11).
Juntos, eles formaram a Aliança Fudanshi.
Mila me disse que eu poderia voltar quantas vezes quisesse, que eu era bem-vinda. Talvez o fato de eu ser órfão me desse credibilidade.
Enfim...Eu voltei. Todos os dias matava aula e ia para lá.
Foi assim que me tornei uma fujoshi!
Foram eles quem me ensinaram sobre yaoi, me ensinaram a fazer parkour, me ensinaram a lutar melhor, me ensinaram a esconder os mangás, me ensinaram tudo o que sei, me ensinaram tudo o que ensino pras meninas.
Ganhei um apelido: "Ghost".
Afinal, Neko dizia que eu parecia um fantasma, tanto na aparência quanto no jeito. Eu apareci "de repente" para eles.
Neko era uma fofa, apesar de não gostar de demonstrar emoções.
Os dias lá sempre eram divertidos e bem aproveitados. Éramos todos amigos. Meus primeiros amigos de verdade. Meus companheiros para todas as horas. Minha família.
Sim! Os considerava minha família! E ainda considero!
Eu sempre sonhava em ter minha própria A.F., queria aumentar a família!
Após o incidente da declaração, quando a diretora do orfanato pensou em me mandar para um internato fora do país, foi Anônimo quem me ajudou a entrar em contato com a Bárbara para que ela convencesse "seus pais" a me adotarem. Ele me ajudou tanto...
Acho que ele nem tem idéia do quanto me ajudou...Eu ainda, pessoalmente, estou em dívida com ele. Tenho muito o que agradecer.
Eu amo todos os integrantes da A.F.!
E eles me amaram. Fizemos um juramento de lealdade. Então, eles contaram seus nomes verdadeiros e mostraram seus rostos.
Neko chamava-se Ivy, irmã mais nova do Taylor (Nezumi).
Hunter chamava-se Steve. E Anônimo chamava-se David.
Após ser adotada, eu não podia mais matar aula, pois assim meus pais não ficariam bravos. Assim, meu tempo para ir visitar a A.F. diminuiu.
Porém, eu sempre procurei arranjar um tempo para eles.
Quando crescemos, foi que Taylor começou a implicar mais comigo...Mas, Ivy me disse que é porque ele ficou magoado por eu ter começado a ir lá com menos frequência, tê-lo abandonado."
—É isso.-suspirei cansada.
Lya estava pasma.
—CARACA! Nem fazia idéia que existia uma história por trás daquela livraria!-Lya piscou os olhos várias vezes, ainda tentando registrar a informação.
Eu contei para todos os membros da A.U.F. a localização da A.F. e como deviam fazer para entrarem. Tanto que sei exatamente que Leo foi até lá comprar o mangá no dia do treinamento.
—Bem...Vai contar para as meninas?-Lya me encarou.
—Algum dia.-sorri olhando pra casa da árvore.-Só espere. Sabe...Um dia estaremos todas reunidas contando histórias do passado.-ri.
—E a Bárbara...-Lya começou.
—Não sabe...-olhei para o lado.
—Bem...Agora entendo quem é o Anônimo. Mas, ele não está de nenhum lado, né?-Lya arqueou uma sobrancelha.
—Não sei.-sussurrei.-Só sei que confio nele. Ele é um irmão para mim.-me abracei, estava com frio.
—Então...Meio-dia na construção abandonada daqui uma semana.-Lya disse séria.
—Isso.-franzi a testa, sentindo o vento gélido bater em meus cabelos.

 


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Notas finais do capítulo

Oieee! Gostaram? Comentem o que acharam!
Está quase chegando ao final ;-; !
Lembrem-se, vocês ainda podem mandar suas perguntas para o capítulo Bônus! Basta comentar o personagem para quem é a pergunta e a pergunta! Também podem perguntar coisas para mim!

Não teve especial de niver do Drew porque não pensei em nada!
Quanto a fic do Nathaniel, está chegando! Em Abril! Aguardem!

E... Alguém se lembra do que o Nathaniel disse para a Bárbara no ônibus no cap "Bárbara" ?
Aqui está:
"[...]-Fujoshi...Olha, não pensava que se mostrassem em público.-debochou.-Achava que viviam em cavernas no subterrâneo se escondendo da humanidade, não tendo vida social, mas veja bem...Eu estou vendo uma aqui! [...]"
Frase da Nancy nesse cap:
"[...]O QG da A.F...Podia sentir o cheiro do Nathaniel lá.[...]"
Reflitam ~'U'~ !
Bjs ♥
—☆ Creeper.



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