As Inutilidades de Um Sapato escrita por Silver Lady


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Observações: Eu não sou dona de Avatar, senão Azula teria morrido de sarna. Esta fic se passa no Livro da Água, antes deles chegarem ao Pólo Norte.



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As (In)Utilidades de Um Sapato

_Eu não acredito, Sokka! Durante o tempo todo que passamos na feira você ficou discursando que como era raro a gente ter dinheiro devíamos gastá-lo só em coisas práticas. Você nem me deixou comprar aquele lindo colar de madeira... e agora me aparece com ISSO!

Sokka era a imagem da incompreensão, enquanto dava um passo rápido para o lado:

_Pra que você precisa de mais um colar? Você tem o colar que foi da mamãe e aquele que o Aang fez pra você com A MINHA linha de pesca! Eu precisava de botas novas, olha como as minhas estão gastas!

_Mas isso não são botas... são sapatos, e horríveis! E que utilidade vão ter na nossa viagem?

Realmente, era um pouco difícil de ver beleza ou praticidade nos tais sapatos novos. De couro preto, tinham o bico fino e pontudo, com bordados em verde, amarelo e laranja, e cheios de pedrinhas brilhantes do tamanho de amoras.

_Claro que eles vão ser úteis... Assim vou poupar as minhas botas. A gente vive encontrando gente importante nesta viagem, e nunca estamos devidamente arrumados. Quando me virem tão bem vestido vão me tratar com respeito... Sai pra lá!_ deu um pulo para o outro lado, escapando de novo das mãozinhas de Momo, que estava fascinado com as pedrinhas.

_Tão bem vestido... _zombou Katara, cruzando os braços_ Sapato novo com roupa velha.

_Eu acho uma boa idéia, Sokka _meteu-se Aang_Quando a gente precisar fazer truques de novo pra ganhar dinheiro, esses sapatos vão ficar perfeitos para o seu papel de palhaço.

Vindo de qualquer outra pessoa que não o Aang aquilo seria a mais pura maldade... Mas a carinha sorridente e o tom natural deixavam óbvio que ele estava falando sério, o que deixou aquilo ainda mais engraçado. Katara explodiu numa gargalhada, seguida pelo jovem avatar. Sokka fez um bico enorme:

_Vocês não têm bom gosto! E eu não era o palhaço! Eu recitava poesias!

_Pois enganou o pessoal de Kien-Si direitinho... _Katara riu mais ainda, lembrando como as trapalhadas do irmão haviam feito mais sucesso que a sua dobra de água ou os malabarismos de Aang. Quanto mais Sokka se indignava, mais os outros riam, e até os bichos pareciam acompanhá-los.

_Me lembrei de uma coisa..._ disse Aang, depois que recuperaram o fôlego, e tirou alguma coisa debaixo de seu mantô _Pra você.

_Oh! O colar da feira! _ os olhos da garota brilharam _Mas como foi que você comprou. se não sobrou dinheiro?

_Foi fácil. Troquei por uns brincos de penas coloridas.

_P-Penas coloridas? _ Sokka olhou confuso, como se lembrasse de alguma coisa, depois arregalou os olhos, olhou a sua mochila e então levou tragicamente as mãos à cabeça:

_MINHAS IIISCAAAS!

* * * * *

Ao acamparem (pra variar, numa floresta), deram a sorte de achar um lago, para alegria dos dois dobradores de água. Há muito tempo evitavam acampar perto de rios por causa dos navios da Nação do Fogo. Mas Sokka fincou o pé (dolorido) no chão:

_Podem esquecer! Nada de dobrar água enquanto eu estiver pescando pro jantar! Vocês sempre espantam os peixes. _ virou-se na direção de Appa, que fez “aaaaaahhh” _E nada de banho pra você também, peludão! Vai ficar no acampamento.


_A gente podia pegar peixe com dobra de água. _ofereceu Aang.


_Ah, siiim, sim. Vamos pescar com dobra de água, esqueçam os métodos antiquados do Sokka, coitado, que ainda pesca com linha e arpão. Oops, não consegui segurar a dobra de água e o Sokka ficou todo molhado!_ enquanto falava, Sokka ia ilustrando suas palavras com gestos e expressivíssimas caretas _Não, obrigado! Prefiro pescar do meu jeito, que pelo menos funciona, e SOZINHO. Já vai ser difícil sem as minhas iscas, que foram trocadas pelo “lindo” colar da Katara!

_Pelo menos meu colar é mais bonito que os seus sapatos, e não me deixa de mau humor porque está me apertando!

_MEUS SAPATOS NÃO ESTÃO ME APERTANDO! Eles são novos, só isso, precisam de tempo até se amoldar na forma dos pés. Foi o que o vendedor me disse.

_Ou os pés se amoldarem na forma deles, o que é mais provável...

_Deixa pra lá, Katara. _ apaziguou Aang _A gente leva água pra praticar num dos jarros que compramos na feira. Podemos apanhar frutas com o chicote de água.

Finalmente sozinho, Sokka respirou aliviado. A verdade é que queria pescar sozinho para poder mergulhar os pés descalços na água fria sem que os companheiros vissem suas bolhas. Já não estava tão seguro de que havia feito uma boa compra. Longe de ser tratado com respeito, havia sido alvo de risadas nos lugares por onde haviam passado. As crianças apontavam pra eles, alguns cachorros até o seguiram, aparentemente por causa do cheiro de couro mal-curtido que o calçado novo expelia. Além disso, os bicos finos apertavam seus pés acostumados às botas largas e confortáveis. Mas era orgulhoso e nunca admitiria que havia jogado dinheiro fora.


Equilibrou-se em duas pedras, posicionou-se com muito cuidado e levantou o arpão. A água era bem clarinha, e os peixes passavam perto dele. Hoje nada ia dar errado.

Aquele grandão ali ficaria ótimo assado no espeto. Preparar... Atenção...

Um barulho quebrou sua concentração. Sokka apenas ergueu os olhos.


_MOMO!_ o que viu foi tão horrível que deixou cair a lança, perdeu o equilíbrio e caiu sentado dentro d´água.

O diabólico lêmure tentava arrancar as pedrinhas de um de seus preciosos sapatos. Indiferente ao grito, ele só parou quando Sokka saiu do lago, fervendo a água que pingava dele:

_Seu orelhudo de uma figa! Vou arrancar a sua pele!

O bicho deu um pulo, deixou cair as pedras que havia conseguido tirar e voou com o calçado nas patinhas. Sokka recolheu o produto do roubo e foi mancando atrás de Momo enquanto calçava o sapato remanescente.

_VOLTA AQUII!!! Me devolve!

Não chegaram a ir muito longe. Subitamente, Momo se assustou com alguma coisa e deixou cair o sapato. Sokka praticamente jogou-se no chão atrás dele.


_Ah, desistiu, hein?

Então alguma coisa na frente bloqueou toda a luz. Lentamente, o rapaz ergueu os olhos, meio que adivinhando o que ia ver.

Botas, botas e mais botas.

*****

Pouco depois, encontrava-se numa situação que nos últimos meses começava a ser muito comum, ou seja: de mãos amarradas, cercado de soldados da Nação do Fogo e com aquele desagradável Príncipe Zuko na sua frente. Estavam agora na beira de um rio(como tem rios nessa terrinha, hein?).

_Pela última vez: onde está o Avatar?

_Escuta: por que não esquece o Aang e vai fazer alguma coisa, sei lá, deixar crescer o cabelo em volta desse rabo de cavalo e paquerar algumas garotas? Sei que parece meio difícil, mas acredite em mim, tem mulher que acha que cicatriz dá um charme...


O príncipe arreganhou os dentes e sua cicatriz ficou mais enrugada do que já era. Felizmente, antes que explodisse, um soldado os interrompeu:

_Encontramos o acampamento deles _ mostrou um vasinho de barro _ Mas nenhum sinal do Avatar.

Zuko suspirou resignado. Aquilo também estava ficando muito comum.

_Levem o prisioneiro para o porão do navio. Seus companheiros virão atrás dele...

_Na verdade... _ disse uma voz vinda de cima _ Os companheiros dele já estão aqui!

Aang vinha voando com o seu planador. Desviou-se habilmente das rajadas de fogo atiradas por Zuko e pelos soldados:


_Sokka, o seu machado!_ atirou a arma, que foi desviada pelos disparos. Mas Momo conseguiu pegá-lo no ar, e entregou-a para Sokka, que o lêmure já havia desamarrado no meio da confusão.


_Onde está o avatar?


_Ali em cima!_ alguém apontou para uma árvore. De pé num galho, o garoto colocou as mãos em posição, antes que acertassem nele:

_Katara, AGORA!

Uma tromba d´água causada pelo esforço conjunto dos dois dobradores caiu sobre os soldados. Vários deles foram levados para o rio. Por pouco Sokka (desamarrado a tempo por Momo) não foi arrastado junto com eles.

_Achamos você pelo brilho dos seus sapatos _explicou Aang, enquanto o amigo subia para terra firme por uma raiz onde havia se pendurado _Quando o sol bate neles, dá pra ver de longe!

_Aposto que foi assim também que a Nação do Fogo o achou! _ replicou Katara, derrubando um grupo de soldados. Os poucos que não haviam sido levados pela enxurrada foram nocauteados por troncos de árvore empurrados pelos ventos de Aang, ou afugentados por um furioso Appa, que chegou no último instante. Mas Zuko era bem mais difícil de se deter. Logo iniciou-se um duelo entre ele, Katara e o Avatar.

Aparentemente, o príncipe estava concentrado em Aang; porém Sokka logo reparou que, entre uma rajada de fogo ou um pulo para se desviar de sopros e chicotes de água, ele ia gradualmente se aproximando de Katara. Num momento em que a moça baixou a guarda, ele conseguiu derrubá-la com um chute e imobilizou-a, colocando-a à sua frente.

_Larga ela, covarde!

_Escute, Avatar: eu não quero os seus amigos. Prometa vir comigo e eu os deixarei em paz.


_Acha que nós somos bobos? Não escuta ele, Aang! Se você se entregar, ele vai levar a gente do mesmo jeito, pra você não fuja!

_Cale a boca!


_Olha como fala com a minha irmã, seu malcriado! _esquecido por todos, Sokka girava um dos preciosos sapatos no ar, e atirou-o com toda a força no príncipe. O bico acertou em cheio no olho do dobrador de fogo, que gritou escondendo o rosto nas mãos. Aquilo deu tempo a Katara de acertar-lhe uma cotovelada no estômago e Aang terminou o serviço soprando Zuko contra uma árvore.


Quando os soldados que haviam fugido finalmente trouxeram reforços, encontraram seu príncipe pendurado por um galho, com as mãos amarradas e presas dentro de um pote de barro.

***

Muito mais tarde e a quilômetros dali, os três viajantes saborearam merecidamente um delicioso peixe assado.

_No final das contas, os sapatos do Sokka acabaram sendo úteis. _ Katara admitiu.

_É mesmo! _ riu Aang _ São uma ótima arma! Pena que você os perdeu na briga.


_Oh, não faz mal. Tive tempo de tirar deles o que importava _o jovem guerreiro exibiu orgulhoso as novas iscas de pedrinhas brilhantes.


Em sua cabine, Zuko apertava furioso uma compressa no olho. Fora por pouco, dissera o médico. Além de desfigurado, quase ficara caolho! Pior, perdera o Avatar mais uma vez.

_Como é que você pode estar tão alegre, tio? _ esbravejou com o velho, que cantarolava num canto da cabina.


_Não é pra ficar?_mostrou os sapatos que achara no campo de batalha _Este é um belo artesanato típico da cidade de Kien - si! Pena que estão faltando algumas pedrinhas... Mas não é nada que eu não possa remediar com uma boa visita à feira...

_AAAAAAAAAAAAAARRRRRRRGGGHHHHHHHHHH!!!!!!!


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Notas finais do capítulo

Faz tempo que eu queria escrever uma fic de Avatar e não tinha idéias, até que este Desafio veio a calhar. Acho que todo mundo já passou por isso, de comprar por impulso alguma coisa que acaba sendo uma completa inutilidade.

Eu bem que gostaria de ter incluído a Toph, mas teria sido bem mais difícil escrever uma luta contra Azula, Mai e Ty Lee (só com o Zuko já ficou bem tosquinha). Quem sabe na próxima.



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