Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 9
Capítulo Nove - Résponses




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706833/chapter/9

Itália

Ser órfão é sentir que falta um pedaço. Um pedaço da sua história, não da sua família.

Itália ouviu uma história. Adrien lhe contou uma história, devagar e detalhadamente, porque ele percebeu que “eu encontrei a sua mãe” não era uma simples frase. Por trás da frase precisava haver explicações.

Historinha!

Adrien sempre soube que Oliver e Marjorie conheciam a mãe de Itália, que eles haviam sido amigos um dia. Quando a mulher decidiu que estava pronta pra lidar com uma criança, ela os procurou. Foi quando Itália ganhou o precioso colar, mas decidiu que não queria conhecer a mãe biológica. Adrien estava muito bem com isso.

Mas quando Itália precisou ir para o Brasil, ele percebeu que era injusto. Era injusto porque foi na França que ela cresceu, e isso a faz mais francesa do que qualquer outra coisa. Era injusto porque ele acabara de perder os pais e agora tinha que se afastar da irmã por um erro que simplesmente não era dele. De nenhum dos dois. Então ele procurou por Isabela.

Encontrá-la não foi difícil. Oliver e Marjorie tinham muitas memórias da amiga, que – veja só - , ainda vivia na França. Bem, não exatamente. Ela tinha um lugar na frança para ficar. Assim como tinha um lugar na Itália. E em Portugal. Lugares simples, com mais de uma pessoa, porque ela nunca estava no mesmo lugar. Isabela Videira. Era o nome dela.

Adrien a encontrara numa de suas passagens repentinas por Paris.

—Eu expliquei tudo pra ela, Itália. Ela... Argh. – Ele fez uma careta. Claramente Isabela não era a pessoa mais agradável do mundo. – Ela disse que se eu conseguir um advogado, me ajuda a te levar de volta, provar que você tem todo o direito de ficar na França. Afinal, você nasceu lá. Ela te registrou como brasileira porque é a nacionalidade dela, e o seu pai não queria estar na certidão. Eu vou conseguir, Itália. Um advogado. Você vai voltar. Eu prometi, e não volto atrás numa promessa.

Adrien sorriu e depositou um beijo na testa da mais nova, que ainda não havia dito nada.

—Tem mais uma coisa.

Itália assentiu devagar com a cabeça, para que ele continuasse.

—Isabela disse que, se você quiser respostas, ela pode te contar tudo. Só não está mais disposta a ser... Mãe.

E quando ela esteve?

—A única mãe de quem precisei já fez o seu trabalho. Eu não preciso que ela seja minha mãe. A única coisa que eu preciso dela, são respostas.

(...)

 

—Neste mês iniciaremos o projeto de caridade, como todos já sabem. Na última aula de hoje, todos vocês vão receber as instruções de quais aulas serão usadas nas suas oficinas e a chamada com os nomes das crianças que vão ensinar. Como sabem todos os sábados, todas as oficinas deverão estar funcionando. – O professor Eduardo estava sempre com cara de sono. Mas, hoje especialmente, suas olheiras pareciam maiores, o que fez Itália desenhar zumbis na contracapa do caderno de matemática. - Agora... Sentem em duplas pra fazer os exercícios.

Quando Itália se virou para trás, já havia perdido.

Débora fisgou Leo. É claro. Ele é muito bom em matemática, e Itália é lenta demais pra consegui-lo primeiro.

Ela olhou na direção de Julia, sabendo que era em vão. Ela já tinha alguém. É claro. Todo mundo pensa que ela é boa em tudo. Inclusive Itália.

Quando se acomodou na cadeira novamente, pensando em fazer sozinha mesmo, Matteo estava ali.

Parecia que ele sempre estava ali pra ela.

—Você é de exatas, né? – Ele tinha um de seus típicos sorrisinhos no rosto.

Itália ficou o encarando, talvez por tempo demais.

A argola em seu lábio hoje não era preta, e sim prateada.

Ele tinha pintinhas nas pálprebras.

—O que foi? – Matteo arqueou uma única sobrancelha. Era uma expressão engraçada. Itália sorriu.

Ela se inclinou e deixou um beijo em sua bochecha, deixando-o claramente surpreso.

—Obrigada. Só achei que devia dizer.

—Não sei o que eu fiz, mas acho que seria bom se fizesse de novo.

Ela riu e colocou o caderno sobre a mesa, começando a montar os exercícios.

Matteo desceu o olhar dos olhos dela para a boca, antes de rir também e se concentrar no livro.

(...)

 

—Henri, o que você vai fazer no sábado? – Amanda perguntou durante o expediente, enquanto ele fritava coxinhas. Ela lançou um olhar sugestivo para Itália, que retribuiu com um confuso.

—Trabalhar. Por que, ta me dando uma folga? – O loiro sorriu.

—Sabe, estamos precisando de voluntários no projeto de caridade da escola.

—Estamos? – Questionou Itália, organizando dois pedidos em sua bandeja.

—É. – Amanda confirmou, com a maior naturalidade do mundo. – Você podia dar uma passada lá. Está convidado. As oficinas vão acontecer o dia todo, então...

—Posso dar uma olhada.

—Ótimo!

—Se você quiser, Henri. – Itália acrescentou, confusa com a atitude da professora.

—Mas é claro que eu quero. – Ele a olhou como se sentisse ofendido.

Itália deu de ombros e foi entregar os pedidos.

Matteo estava lá.

Ela lhe serviu café, como fazia com todos os clientes antes mesmo que pedissem.

—Recepção nova? – Ele perguntou ao olhá-la.

—Sou uma boa funcionária. – Sorriu e olhou para os cadernos sob a mesa. - Matemática?

—Me livro dos mais difíceis primeiro. Não quer me ajudar? – O garoto lançou-lhe um olhar estrategicamente dengoso.

Não me faça dizer não pra você!

O valor de X é quatorze. – Ela deu uma piscadela e serviu café para outros clientes antes de voltar pra cozinha.

Amanda desligava o telefone, suspirando.

—Liliana vai vender um dos Cafés.

Há mais de um?

—Outro? – Perguntou Henri, surpreso.

Amanda esfregou as costas da mão na testa.

—É, vamos ficar com três agora.

Cinco filiais. Uau.

—Vocês não acham que o movimento está ruim? – Pronunciou-se Itália. – Podíamos fazer umas... Mudanças.

Ela conseguiu a atenção dos dois.

—Algo dentro do orçamento. – Ela concluiu.

—Posso pensar em alguma coisa. – Amanda disse.

—Todos nós podemos. – Henri sorriu, animado. Parecia cheio de ideias. – E se nós quatro nos reunirmos aqui na segunda? Apresentamos o que pensamos e vemos o que dá certo.

—É uma boa. – Itália sorriu também, feliz por ter sugerido.

—Vou falar com a Lili. – Amanda também sorria. – Estejam aqui segunda!

(...)

 

Adrien não parava de colocar coisas estranhas no carrinho.

—Ei, ei, o que é isso aí? – Itália fazia careta.

—Feijão.

—Mas é preto.

—Pois é, né? – Ele parecia muito feliz com isso.

Os dois andavam pelo mercado e discutiam entre si falando francês, o que atraía alguns olhares. Era engraçado.

—Feijão é ruim.

—Eu ouvi dizer que o feijão daqui é muito bom. Você pode pôr outras coisas nele.

—Tipo o quê?

—Tipo... Bacon.

—Hm... Tá. E você sabe como cozinhar?

—Você tem internet, não tem?

—Você me frustra, Adrien.

 

(...)

Finalmente era sábado.

Tinham muitas meninas na classe de Itália.

Minha classe. Eu nunca pensei em ser professora, olhe só.

—Que tipo de nome é Rayssa?

—Você não vai fazer essa pergunta pra criança, vai? – Adrien estava checando um portal de notícias no computador.

—Não, não, claro que não. Que isso.

Ela analisava sua chamada, que era mais para que a mesma soubesse o nome de todos eles. Não é como se pudessem reprovar por falta.

Rayssa tinha oito anos. As crianças mais velhas da turma tinham doze.

—Você não deveria ter ido pra lá de manhã?

—Eu não fui a única a querer ensinar desenho. Tem um garoto lá de manhã, eu vou ás duas.

—E o trabalho?                             

—Não trabalho no sábado. O que é muito ruim. Tô pensando em ser babá por aqui também.

—Pode ser uma boa.

Itália sorriu.

—Vou fazer um anúncio.

(...)

Ela sempre foi boa com crianças.

Crianças são fofas, e Itália adora fofura. Quem é que não adora? Crianças falam. Falam bastante e fazem muitas perguntas. Ajudar uma criança a formar opiniões é um pouco assustador, mas também te faz uma pessoa melhor. Você está a ajudando a pensar.

Ela sempre foi boa com desenhos.

Desenhos são simples. Distorcem a realidade. Melhoram ela. E quem não gostaria de melhorar a realidade? Fantasiar um pouco. Brincar com cores, dar vida a cenas, era como fazer mágica.

Combine as duas coisas.

Ela estava ensinando crianças a desenhar.

—Quero ver esse estilo livre de vocês, heim? Vou colar no mural. Lá no pátio. Sintam-se intimidados!

Ela sorria. Não para deixá-los tranqüilos ou parecer gentil. Apenas porque queria sorrir enquanto estivesse ali. Era bom sorrir.

—Não saiam daqui, eu volto já.

Sua oficina era numa sala pequena, por não ter tantos alunos.

O colégio estava barulhento.

Uma garota dava aulas de bateria. Uma outra, de teclado. E um garoto que tinha um baixo, ensinava canto.

É claro que o baixo não tinha nada a ver com isso, mas ele tinha um baixo.

Guitarra, voz, bateria, teclado... Estava bem ali. Soluções.

Ela passou na sala de Amanda, que estava aberta porque Jorge estava na escola aquele sábado.

Quadros. Elvis, Beatles, Queen, e bandas que Itália não conhecia. Deviam ser brasileiras.

Soluções.

Itália tivera uma ideia maluca. Que levaria tempo para ser concluída. Mas bem, era uma ideia. E a alma da ideia seria Matteo Niara.

(...)

A guitarra dele era vermelha.

As dos alunos eram pretas.

Exibido.

Os dedos do garoto deslizavam pelas cordas com maestria, e todas as suas expressões... Bem, elas expressavam. O que ele quisesse expressar.

Os alunos de Matteo eram mais variados. Garotos, garotas, dos seis aos quinze anos.

Quer saber de algo interessante? Todas, todas as crianças em todas as oficinas no colégio inteiro todos os sábados, eram órfãs. Todas.

Mas bem, vamos voltar ao momento em que os alunos estão saindo (quando os de Itália já haviam ido embora) e Itália esperava Matteo do lado de fora da sala.

—Olha só que surpresa boa. Veio aprender a tocar guitarra?

Seu sorrisinho convencido parecia mais vivo hoje.

—Preciso da sua ajuda em algo.

—O que quiser.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo curto e sem grandes acontecimentos. Porém (olha o spoiler), preparem-se para Isabela!

E é bem possível que o capítulo dez seja postado antes do próximo fim de semana. Até lá!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Herdeira da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.