Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 7
Capítulo Sete - Unendo i legami




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706833/chapter/7

Matteo

Quando Itália saiu do quarto, com calça de moletom e regata, umas duas horas atrás, já estava mais tranquila. Porém ainda abatida. A pizza havia chegado e Matteo acabou encontrando um aparelho de som em perfeito estado, que no momento tocava Radiohead.

When you were here before (quadno você esteve aqui)

Couldn’t look you in the eyes (não conseguia te olhar nos olhos)

Your just like an angel (você é como um anjo)

Your skin makes me cry (sua pele me faz chorar)

 

Ela prendeu o cabelo, e ainda não devia ter encontrado suas lentes de contato (ou se dado o trabalho de procurar), pois os óculos repousavam em seu rosto, agora menos embaçados. Matteo não se lembrava mais do momento em que começara a observá-la, só sabia que não conseguia mais parar.

Pare de ser um psicopata. Seu idiota.

—Por que você precisa de óculos? – Ele perguntou, tentando afastar os pensamentos. Ele esperava não estar tocando em mais alguma ferida.

—Meus olhos sempre foram sensíveis. Mas eu não sabia disso até ficar cega por, tipo, dois minutos. Eu acabei tendo a visão restaurada num oftalmologista que me disse que a minha pequena falha tinha algo a ver com a heterocromia. – Ela apontou para os dois olhos, querendo indicar a diferença de cor. – É parecido com astigmatismo. Eu preciso deles desde então. Mas uso mais em casa.

Matteo assentiu, sem muito a dizer sobre o assunto.

—Acho que uma hora meu irmão vai precisar de óculos. Ele lê demais.

—Ah, isso é ótimo!

Isso o fez olhar para as prateleiras acima de seu computador, e reparar que haviam mais livros jogados por ali.

You float like a feather (você flutua como uma pena)

In a beautiful world (em um mundo tão belo)

I wish I was special (eu queria ser especial)

You’re so very special (você é muito especial)

Sentia-se um intruso. Ele não leu aqueles livros, não viu os filmes dos pôsteres emoldurados nas paredes. Ele pelo menos conhecia as músicas que tocavam. Itália soltou um suspiro pesado enquanto mexia nos copos, na cozinha. Matteo se dignou a acabar com a situação estranha, e foi até a bancada, sentando-se em um dos banquinhos.

—Você quer falar mais, não quer? – Ele pronunciou-se, e ela se virou, como se soubesse o tempo todo que ele estava ali. Apoiou as mãos na pia, nervosa.

—Não. Eu estou bem.

—Itália.

Matteo.

Roma! – Ele exclamou, com um sorriso divertido.

—Hã? – Itália arqueou as sobrancelhas, visivelmente confusa.

—Matteo é um nome italiano. Meus bisavós maternos eram italianos, porém, a família do meu pai tem descendência africana. Daí o Niara. E você?

But I’m a creep (mas eu sou um verme)

I’m a weirdo (eu sou uma aberração)

What the hell am I doing here? (que diabos estou fazendo aqui?)

I don’t belong here (eu não devia estar aqui)

—Eu o que, maluco? – Ela riu, colocando refrigerante em ambos os copos. Segundos atrás ele estava querendo que ela desabafasse mais, e agora estava falando sobre si mesmo com a maior naturalidade do mundo. Como tinha essa facilidade?

—Seu nome é Itália, você é francesa, e está morando no Brasil. Sabe alguma coisa sobre as suas origens? – Talvez tenha soado um pouco como um insulto. Mas não era pra ser. Itália se sentia ignorante sobre as próprias raízes desde... Sempre. Mas o importante não seria o que ela é agora?

—Me chamam de Itália por causa da história do colar. – Ela disse, fechando a cara. Como eu disse, se sentira insultada. – Eu não sei se esse é mesmo o meu nome. Mas é quem eu sou por enquanto.

I don’t care if it hurts (eu não ligo se isso machuca)

I wanna have control (eu quero ter o controle)

I wanna a perfect body (eu quero um corpo perfeito)

I wanna a perfect soul (eu quero uma alma perfeita)

I want you to notice (eu quero que você perceba)

When I’m not around (quando eu não estiver por perto)

You’re so fucking special (que você é especial pra caralho)

I wish I was special (queria eu ser especial)

 

Matteo mordeu um primeiro pedaço de pizza. Cara, estava tão bom.

—E os seus amigos, heim? Você estava aqui chorando desesperada umas horas atrás e eles não estão aqui? – Matteo provocou. Ele sabia o que estava fazendo, e estava adorando. – Que tipo de amiga te da um tapa? E o Leonardo, que nem estava lá na hora?

—E você estava, por acaso? – Ela respondeu, no mesmo tom. – A Julia vai falar comigo quando se sentir a vontade pra isso. E o Leo estava aqui mais cedo, Matteo, muito antes de você chegar. Você não me vê falando dos seus amigos, vê?

Matteo riu. Riu alto. Gargalhou.

But I’m a creep (mas eu sou um verme)

I’m a weirdo (eu sou uma aberração)

What the hell am I doing here? (que diabos estou fazendo aqui?)

I don’t belong here (eu não devia estar aqui)

—É tão fácil te irritar! – Itália estreitou os olhos, ainda mais irritada.

—E eu que estava prestes a me desculpar por arruinar o encontro. – Ela deu um grande gole no seu guaraná, não se deixando abalar.

—Não, não, eu quis dizer que é fácil te fazer falar! – Ele se apressou em explicar, ainda não conseguindo conter o riso. – Quer dizer, dá pra ver que você odeia ser contrariada. Vai rebater sempre.

She’s running out again (ela está fugindo novamente)

She’s running out (ela está fugindo)

She run, run, run, run (ela corre, corre, corre, corre)

Run (corre)

Whatever makes you happy (seja lá o que te faça feliz)

Whatever you want (seja lá o que você deseje)

You’re so fucking special (você é especial pra caralho)

I wish I was special (queria eu ser especial)

—E você chegou a essa conclusão como, gênio? – Ela ainda estava um pouquinho revoltada, mas também sorria.

—Você está brincando? Eu me virei do avesso pra te convencer a dançar comigo, você não pensou duas vezes em confrontar a Julia, e nem se fala no que você fez na aula do Marcos. Com um ar de indiferença, Itália. Como ser não fosse nada. Você é impulsiva.

—E isso me faz fácil de controlar? – Matteo fez que não com a cabeça.

—Pelo contrário. – Itália sorriu abertamente, como se aquilo fosse o maior dos elogios.

—Desculpe por arruinar o encontro.

I’m a creep (mas eu sou um verme)

I’m a weirdo (eu sou uma aberração)

What the hell am I doing here? (que diabos estou fazendo aqui?)

I don’t belong here (eu não devia estar aqui)

(...)

—Me desculpe. – Itália disse, pela vigésima vez naquela noite.

—Eu já disse que as suas desculpas são desnecessárias, não disse? – Matteo respondeu, com os olhos cravados no último pedaço de pizza.

—Se você simplesmente aceitasse logo as desculpas, talvez eu parasse de repetir! – Ela insistiu. Matteo suspirou, com um sorriso de canto no rosto. Que garota teimosa.

—Claro, Itália, eu te perdôo por qualquer coisa que você pense ter feito errado.

—Ótimo! – Ela exclamou, dando um pulo de repente. – A última é minha! – E arrancou da caixa o desejado último pedaço de pizza.

Droga!

—Foi genial da sua parte me distrair assim. – Foi tudo que ele comentou, se lamentando por dentro. – Mas de qualquer forma eu não consigo parar de olhar para você.

Ela sorriu.

—Devem ser os óculos. – Brincou.

—Bom... Acho que eu vou pra casa. – Ele disse, se espreguiçando. Os dois haviam feito uma pequena maratona de seis episódios seguidos de Agent Carter, e assim que viram que já estava tarde, Matteo fez Itália jurar por todas as suas aquarelas que não veria os dois últimos episódios da temporada sem ele. Matteo esticou o braço e fechou o notebook, para depois ser atingido por vários soquinhos que ele não teve certeza se eram pra doer.

—Você ta ficando louco? O player ainda estava aberto! Não se fecha o notebook com o player aberto! Tem que fechar todos os navegadores, imbecil! – Ela falava, com raiva, abrindo o notebook novamente.

—Eu sempre faço isso...

—Você é rico e tem notebooks que não ficam travando. E se algum ficar travando, você pode comprar outro. Eu ganho menos que um salário mínimo, que ainda não foi recebido! – Itália voltou a socá-lo, apenas para ser impedida, com Matteo segurando seus pulsos e a olhando com um sorriso debochado. A expressão de raiva se desfez no rosto dela, desnorteada com a proximidade.

Estava tão perto...

Tão simples...

Matteo podia sentir sua respiração. O sorrisinho debochado também se desfez. Ele fora atingido.

Itália prensou os lábios, se livrando das mãos de Matteo e desligou devidamente o notebook. O garoto pigarreou.

—Você vai pro colégio amanhã, né? Ou vai ficar aqui se afogando em lágrimas de novo? – Ele fez a piadinha de mal gosto, apenas para quebrar o clima.

—Eu vou, eu vou. – Itália disse, impaciente.

—Olha que eu venho te buscar!

—Vai sonhando. – Ela mordeu a bochecha por dentro, evitando o sorriso.

Matteo se levantou e foi em direção à porta, virando-se para a menina de olhos coloridos mais uma vez.

—Boa noite, Itália.

—Boa noite. – Ele fechou a porta, que ela ficou encarando por mais algum tempo. – Matteo.

Mas ele a levaria para casa amanhã depois da escola. E não chegaria sozinho.

(...)

 

—Ah, eu sou genial, não sou? – Matteo anunciou para o mundo ao abrir a porta de casa. Clara estava ali, passando pano (mesmo que fosse quase duas horas da manhã, o que significa que Pedro havia derrubado alguma coisa) e levantou a cabeça para olhá-lo com uma expressão confusa. Matteo correu para abraçá-la, fazendo a menina rir. – Eu sou genial, Clara!

—Certo, certo. Você é brilhante. Você é um gênio. Pode me pôr no chão? – Ela disse, com aquela voz adorável, e Matteo atendeu seu pedido.

—Me diz, que horas são na França?

—Sete da manhã.  – Ela respondeu. Clara era tipo o Google para Matteo, nas horas vagas. – Por quê?

—Tenho que mandar umas mensagens... – Ele sorriu, maroto. – Pedro está dormindo?

—Está na cama. Talvez tenha fingido pra mim que havia dormido. Ele estava fungando com o nariz mais cedo. – Matteo franziu o cenho diante da informação.

—Nesse calor?

—O verão está acabando, isso é normal nas trocas de estação. – Explicou o Google. – Mas seria bom vocês checarem a temperatura dele amanhã de manhã, viu? Ah, a sua mãe já chegou. Deve estar no banho.

Geovanna – vulgo mãe – havia saído bem cedo para uma reunião em uma das empresas pertencentes à família no dia de hoje, numa cidade vizinha. Já o pai havia viajado anteontem, para uma negociação com alguém na Colômbia.

Enfim, ele ainda estava raciocinando a possibilidade de Pedro estar com febre.

—Você vai embora agora? Está tarde, fique no quarto de hóspedes.

Clara mordeu o lábio, pensativa.

—Não, eu acho que...

—Ei, ou você fica ou eu te levo, é perigoso. – Ela riu.

—Sempre prestativo, heim? Tudo bem, não vou te fazer dirigir. Boa noite, Matteo. – Clara desejou antes de seguir para o quarto de hóspedes, com o qual ela já estava acostumada. E Matteo correu para o seu próprio quarto.

Certo, vamos fazer isso.

Eu: E aí, francês? Você fala português, né? A Itália fala. Ela melhorou bastante. Então, eu sou o Matteo, um amigo dela daqui. Sabe, não estou querendo menosprezar a sua responsabilidade nem nada,e entendo que a vinda da Itália pra cá foi de última hora, mas você não acha que deveria ter vindo passar um tempo com ela, até ela se adaptar? Ela tem surtado frequentemente, e eu sei que muita gente que passa a morar sozinho está sujeito a depressão. Venha pra cá. Eu pago a sua passagem. Ela precisa da família.

E aí ele dormiu com a consciência limpa.

 

(...)

Adrien não reclamou. Não disse coisas como “quem é você pra dizer alguma coisa?”, ou “você acha que a conhece melhor que eu?”.

Adrien: Eu chego aí mais ou menos na hora do almoço de vocês.

Matteo sorriu com satisfação ao ver a primeira mensagem daquela manhã. Depois vinha uma de Débora: você fez os exercícios de matemática? E por fim, várias de Thiago da noite anterior: Como foi o encontro? Uau, visto por último as 20:46? Deve estar bom, heim... Eu tenho certeza que vc ñ conseguiu passar a noite na casa dessa garota, será que dá pra responder então ô viado?

Matteo riu e respondeu qualquer bobagem ao amigo, depois mandou foto dos exercícios de matemática para Débora.

Saiu do quarto, ainda um tanto desnorteado. Então se lembrou de Pedro e correu até o quarto do pequeno, para encontrar sua mãe lá, com a mão na testa dele – o qual estava com o nariz vermelho e uma expressão dengosa – e falando baixinho com o mesmo.

—Não, mamãe, eu estou com frio! – Pedro reclamou, tentando se cobrir novamente com o cobertor.

—Eu sei, filho, mas não e bom com essa febre.  – Respondeu carinhosamente Geovanna, acariciando as bochechas de Pedro.

—Bom dia! – Exclamou Clara atrás de Matteo, fazendo ele pular de susto. Ela passou por ele e se abaixou, ao lado de Geovanna, com uma xícara na mão. – Ei Pedrinho, eu fiz um chá pra você.

Pedro fez uma careta, sentando-se na cama.

—Obrigada, Clara. – Agradeceu Geovanna, sorrindo para a menina.

—Desculpa de novo por não ficar com ele hoje, Geo.

—Tudo bem, eu cancelei a reunião. É até melhor, já não aguento mais aquela gente... – Ela riu fraco. – Vou ficar com o meu pequeno. Além disso, você tem mais é que estudar enquanto pode mesmo! Vai lá, está tudo bem.

Clara sorriu, agradecida, e tascou um beijo na testa de Pedro antes de levantar. Ao passar pela porta, bagunçou os cabelos de Matteo.

—Tchau, moleque.

Matteo riu. Ele achava cômico o fato de ás vezes ela tratar-lhe como ele tratava Pedro, mesmo sendo apenas três anos mais velha.

Ele olhou comovido para a mãe, parada ali cuidando de Pedro como há tempos ele não a via fazendo.

—Conseguiu se livrar da aula, né? – Ele disse, se aproximando, apenas para ser respondido com Pedro lhe mostrando a língua. Abaixou-se e deu um beijo na testa da mãe. – Amo você.

—Eu também, meu amor.

Geovanna sempre fora bastante carinhosa. Ela só não tinha muito tempo para eles, no fim das contas. Depois do divórcio, Matteo desconfiava de que ela gostaria de ficar com uma parte menor da rede de empresas, para não estar sempre tão ocupada. Seria uma mudança positiva para ela.

 

(...)

 

—Você está me seguindo por que mesmo?

—Estou procurando sinais de culpa no seu rosto. Sei que se você terminou de ver Agent Carter deve estar se sentindo culpada.

—Ah, pelo amor de Deus... – Itália riu, indignada. Ela quase deixara cair o livro de química, logo resgatado por Matteo. – Viu o que você faz?

—Te deixo boba? – Ele sorriu com o canto da boca, fazendo a garota cravar os olhos na argola em seu lábio.

—Metido.

—Mudou de assunto.

—Pretensioso.

—Menina das palavras difíceis.

—Eu já não era a menina dos olhos coloridos?

—Isso também. Viu só? Eu te deixo de bom humor. – Prepotente, Matteo, sempre prepotente.

—E eu tenho que ver a Amanda! Se me dá licença... – Ela virou no corredor,em direção à sala de orientação, deixando o garoto encarando o espaço onde antes ela estava, com um sorriso débil.

Amanda. Orientadrora. Isso o fez lembrar que precisava ver o Jorge essa semana ainda. Ele revirou os olhos, pensando que histórias ele usaria para enrolá-lo dessa vez. Aliás... Droga! Esquecera de perguntar à mãe o por que de ela pedir para continuar com as sessões.

—Ô estátua viva, vai querer o chocolate ou não? – Flávia balançava uma barrinha muito atrativa de Sneakers na sua frente.

—Muito gentil da sua parte. – Ele diz com um olhar desconfiado e pega o chocolate, enquanto Flávia morde o seu próprio. – Tá querendo o quê?

A menina revira os olhos. – Desde quando eu preciso te agradar pra conseguir um favor seu?

Claro, porque Matteo era o distribuidor de favores do grupo. Sempre atencioso – ou trouxa, como Flávia gostava de chamar.

—É que, sabe, o carinhoso da relação é o Thiago. Eu tenho motivos para desconfiar. Falando nisso, cadê ele?

—Foi falar com o professor Eduardo sobre o nosso projeto. – Flávia dá de ombros, sentando em uma das mesas do refeitório. Matteo faz o mesmo.

—Ah, os orfanatos! O que vocês vão fazer?

—Bom, vamos visitá-los toda semana. Eu propus que arrecademos dinheiro de diferentes formas a cada mês, e, dependendo da quantidade, podemos colaborar com comida, livros, brinquedos... Essas coisas.

Matteo sorriu. Na metade do ano, ele estaria fazendo todas essas coisas.

—São boas ideias. Muito boas.

—Não é triste que temos nos esforçado para ajudar crianças carentes e, só começamos por causa das notas? Acho que não devia valer pontos na média. Devíamos fazer pela satisfação de ajudar alguém.

—Seria interessante se o mundo funcionasse assim.

—Não seria bom? – Ela arqueia uma sobrancelha. Matteo tinha dinheiro. Ele sempre fora altruísta por conta disso. Flávia não o via achando apenas interessante que as pessoas ajudassem mais umas as outras.

—Não ficaríamos frustrados quando não houvesse mais a quem ajudar? – Ele impõe.

—Sempre há quem ajudar.

(...)

 

E o aluno não saiu pra estudar, pois sabia, o professor também não tava lá!

A música de Raul Seixas anunciava o fim do dia letivo.

Em meio ao mar de alunos, Matteo avistou Itália, andando rápido e rindo. Um pouco atrás, Leo tentava alcançá-la, com Julia ao seu encalço, tentando desesperadamente falar alguma coisa para ele.

Certo, isso era estranho.

As duas se reconciliaram?

E por que era Julia quem estava correndo atrás de Leonardo, e não o contrário?

O que diabos estava acontecendo?

Matteo não se deu o tempo de responder ás próprias perguntas, apenas tentou alcançar Itália.

Só o conseguiu já do lado de fora.

—Esperando alguém? – Ele disse, por trás dela, em seu ouvido. Pôde ver os pêlos na nuca da garota se eriçarem, e isso o fez sorrir.

—Eu acho que não... – Concluiu Itália, olhando para a entrada do colégio, á procura do amigo.

—E então, vai uma carona? – Ofereceu, como planejado.

—Qualquer coisa é melhor que o ônibus. Até você. – Ela disse, com um sorriso brincalhão.

Ha. Ha. Ha.

—Certo. Vamos.

(...)

 

—Não me lembro de te convidar para subir. – Comenta Itália quando Matteo segue com o carro em direção ao estacionamento do prédio.

—Sei disso. – Ele diz simplesmente, esperando que ela mostre sua chave ao porteiro, que logo abre o portão.

—Então... Veio ver um amigo ou algo assim?

—Algo assim.

—Hum. – Ele segura o riso. O que seria esse silêncio? Estava sendo divertido decifrá-la aos poucos.

Permaneceram em silêncio, do estacionamento, à recepção, ao elevador. Matteo estava começando a ficar nervoso. E se ele não estivesse lá?

—Está tudo bem? – Itália pergunta, após ele secar o suor das mãos pela terceira vez na calça.

—Você não é cardíaca, é? – Ele perguntou por precaução, mesmo achando que Itália fosse difícil de surpreender. Ela balançou a cabeça negativamente, achando graça.

—Não que eu saiba.

As portas do elevador se abriram, e ambos seguiram silenciosamente pelo corredor. O apartamento de Itália era a primeira porta assim que virassem a direita no próximo corredor.

Quando isso aconteceu, ali havia um rapaz, acompanhado de suas malas no chão e uma mochila nas costas. Ele estava encostado na porta, e seu jeans tinha manchas de tinta de todas as possíveis cores. Matteo lembrou-se que a calça jeans que Itália usara no primeiro dia de aula se encontrava no mesmo estado.

Adrien era pouca coisa mais alto que Matteo. Ele tinha cabelos castanhos, e a barba estava por fazer. Era encorpado e tinha olhos verdes.

O cara tinha olhos verdes.

Será que todo mundo era bonito mundo á fora?

Não que Matteo se achasse feio... É claro que não. É óbvio que não. Ah, qual é, ele se achava maravilhoso.

O rapaz sorriu. Era um sorriso triste. Um sorriso culpado.

Salut,Heiress Lune. — Adrien saudou.

Salut. Olá? Matteo deduziu que fosse olá. Mas não dava para deduzir nada do que veio depois.

Itália ficou estática por vários segundos, antes de sorrir largamente e pular nos braços do irmão.

—Adrien! – Ela exclamou, mas saiu algo mais como Adrrrrrian!Que faites-vous ici? Porquoi ne pas me dire? Et ces sacs? Allez vous rester? Mon Dieu, s’il vous plâit, allons!

Três palavras: mas o quê?

Matteo era muito bom no inglês. Não fluente, mas muito bom. Se virava no espanhol. Mas no momento ele sentia que um dos dois franceses podia insultá-lo ali mesmo e ele só soltaria uma risadinha nervosa.

Itália estava histérica. E quando digo histérica, quero dizer histérica mesmo.

Ela começou a caçar sua chave na mochila.

—Itália, você guardou nos bolsos da calça. – Matteo informou. Ela o olhou confusa, como se estivesse esquecido que ele ainda esatava ali. Então sorriu, agradecendo.

—Ah, é verdade! – Seu sotaque saiu bem carregado. – Caramba, estou confusa agora. – Ela pigarreou, tentando corrigir a voz, que parecia soar mais rouca em francês.

Era estranho. Mas não deixava de ser encantador para Matteo.

—Vamos, entrem! – Itália ordenou, assim que conseguiu finalmente abrir a porta. – Ah, Deus... Adrien, se importa de falar português? Eu preciso me acostumar. E sabe, você ainda não respondeu as minhas perguntas! – Ela estava animada.

—Bem, o seu amigo aqui... – Adrien dirigiu o olhar para Matteo, pronto para explicar que tivera algumas verdades jogadas na sua cara através do Whatsapp.

Mas algo o interrompeu.

Ah, é claro. A porta ainda estava aberta.

—Julia, é sério, eu ainda não acho que seja uma boa hora...!

—Me deixa fazer a coisa certa dessa vez, Leonardo! – Gritou a menina que invadiu a sala como um furacão, seguida por Leonardo, que parou na porta, encarando um por um todos os que ocupavam o pequeno lugar.

—Mas que festa é essa aqui!? – Ele questionou, agora olhando diretamente para Itália.

Que bagunça.

—Itália, eu preciso falar com você. Por favor? – Julia pediu, ignorando os demais presentes. – Eu não quero brigar. Podemos conversar a sós?

Itália passou a mão pelos cabelos, um tanto perdida.

—É que... O meu irmão acabou de chegar e... – Adrien a interrompeu, olhando para Julia com uma expressão sugestiva.

Ela usava suspensórios hoje, sobre uma camiseta toda florida. Matteo desconfiava que Julia não tivesse calças em seu guarda-roupa.

—Tudo bem, maninha. Vamos ter bastante tempo. Vai falar com a sua amiga.

E assim, sem mais impasses, as duas se trancaram no quarto. Adrien se sentou no sofá, Leo fez o mesmo, e Matteo se dirigiu a um dos banquinhos da cozinha.

Era uma situação bizarra.

—Então... – Leonardo manifestou-se, passados alguns minutos. Ele foi até uma das gavetas da grande mesa no canto da sala, e tirou de lá um baralho. – Vocês sabem jogar cacheta?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oláaaaaaaaa! Como prometido, dentro do prazo, né? Ou quase. Já passou de meia noite? Desculpem, caiu uma chuva daquelas aqui esses dias, e um raio queimou a placa do meu pc. Enfim, não vou atrasar mais!

*Que faites-vous ici? Porquoi ne pas me dire? Et ces sacs? Allez vous rester? Mon Dieu, s'il vous plâit, allons!

*O que você tá fazendo aqui? Por que não me avisou? E essas malas? Você vai ficar? Meu Deus, entre, vamos!