Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 6
Capítulo Seis - Presque une réunion, mais pás um échec


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas que leem isso aqui! Se estão acompanhando, devem ter percebido que estou postando um capítulo a cada final de semana, certo? Vou tentar manter essa programação. Então, todo sábado ou domingo, esperem por um capítulo direto do forno, heim? Enfim, espero que estejam gostando ♥



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Matteo

—Você o quê? – Flávia questionou, descrente, enquanto Thiago estava ocupado se engasgando.

—Chamei ela pra sair. – Ele respondeu, simplesmente.

—Assim, do nada? – Foi Thiago quem perguntou dessa vez, depois de um acesso de tosse.

—Queria o quê? Que eu esperasse três anos, como você fez? – Matteo disse, debochado, fazendo Thiago encarar Flávia com as bochechas vermelhas.

—Bom, pelo menos, com três anos desenvolvendo um relacionamento...

—Três anos apaixonados e se enrolando com esse papinho de melhores amigos, você quis dizer. – Matteo corrigiu a loirinha, que pareceu ignorá-lo completamente.

—...ele teve certeza de que o sentimento era recíproco. Já você, não faz a menor ideia do que essa garota quer! Sinceramente, Niara, aposto que não tem ideia nem do que você mesmo quer.

É claro que ele sabia. Queria conhecê-la, queria saber o que ela queria e, se descobrisse que não era nada do que esperava, e daí? Não seria a primeira vez.

—O que foi, amiguinhos? Estão com medo de que eu parta o coração da francesa? – ele fingiu uma voz tristonha. Era engraçado. Matteo sentia que não poderia fazer isso nem se quisesse.

Afinal, eles o conheciam, sabiam que era algo que Matteo fazia com certa frequência, com desconhecidas por aí. Mas não era isso que os intrigava. Flávia e Thiago se entreolharam, apreensivos, tendo uma conversa silenciosa. Já disse que Matteo odeia quando eles fazem isso?

—Não é bem isso, sabe... Você viu o que ela disse para a presidente do grêmio ontem? – Flávia se pronunciou.

—Não foi nada gentil. Se quer saber o que eu acho, foi meio ignorante da parte dela. – Completou Thiago.

—Aquilo com a Julia? Não, ela só estava nervosa. Itália não é assim. Vocês tinham que ver as duas ajudando Débora no dia que Marcos foi expulso. E viram que ela faltou hoje? Deve estar arrependida.

Realmente, aquela cena não foi nada agradável. Matteo tinha certeza de que algo estava errado com a garota. Hoje mesmo, descobriria o que.

—Ou humilhada. Talvez esteja cuidando da ferida no orgulho dela.

Não se preocupavam com Itália tendo o coração partido por Matteo. O que os preocupava, era essa situação ao contrário.

(...)

Os serviços comunitários começariam no próximo fim de semana, assim, todos precisavam entregar as fichas dizendo o que ensinariam até quinta feira. O professor Eduardo disse a Matteo que as crianças que eles ajudariam eram pobres, e não poderiam pagar guitarras. Matteo disse que podia comprar algumas para uma turma razoavelmente pequena. Afinal, ele podia. Já não ganhava mais sua própria mesada fazia dois anos, mas falando com a mãe sobre a causa e com o pai puxando seu saco por causa de todo o processo da separação, ele conseguiria. Seus pais doavam para o colégio todos os anos.

Como o bom observador que é, viu que Julia ficou com a cabeça escondida entre os braços boa parte das aulas (ele supôs que ela estava dormindo), e Leonardo parecia inquieto, olhando para trás o tempo todo, como se o fato de Itália não estar ali fosse impossível, e ela pudesse aparecer a qualquer momento. Na verdade, ela parecia presente o tempo todo, apesar de não estar.

No caminho pra casa, depois de passar um tempo com Thiago e Flávia em frente a casa do amigo, Matteo passou em frente ao Café da Lili. E ela estava lá, servindo algumas bandejas, com um sorriso forçado e conversando com o garçom que à hipnotizara outro dia. Parecia cansada. Estressada, ele diria.

Começou a andar mais devagar quando se viu cercado de crianças e mães que o olhavam feio. Ah, qual é, ele não estava tão ruim hoje. O que era, seu novo piercing no lábio?

—Você pode parar de encarar os meus amigos? É constrangedor.

Sentiu seu moletom sendo puxado para baixo, e ali se deparou com as pequenas mãos responsáveis pelo ato.

—Eu estava só vendo o quanto todos eles são mais legais que você, moleque. – Matteo disse, sorrindo e bagunçando o cabelo do irmão.

—Vamos embora logo. – Pedro resmungou, pegando a mão do mais velho.

Pedro era um garoto esperto de nove anos, que gostava de livros, super heróis e odiava quando Matteo resolvia jogar videogame no horário de seus desenhos. Também odiava a guitarra dele.

—Você andou usando a minha câmera, não foi? – Pedro perguntou assim que começaram a andar por uma rua mais tranquila.

A câmera era uma das coisas mais amadas pelo garotinho. Matteo a emprestara para Thiago algum tempo atrás, porque o imbecil havia se inscrito num curso de fotografia sem ter uma câmera. Thiago usou em apenas duas aulas, até que finalmente pôde comprar uma.

—Como você sabe? Eu deixei exatamente no mesmo lugar!

—É, mas tinham fotos lá que não fui eu quem tirou. Nem você, porque estavam muito boas. – Ele cruzou os braços, emburrado. – Você podia ter me pedido. Eu ia te deixar usar. Aposto que daria um piti se eu encostasse na sua guitarra.

Aposto que você está completamente certo.

—O que você fez hoje? – Matteo desviou do assunto.

—Larissa me beijou.

—Quem fez o quê?— Ele arregalou os olhos, não acreditando. – Como isso aconteceu?

—Eu sei lá! A gente estava brincando de polícia e ladrão, e eu era um ladrão, e ela me pegou, me entregou um bilhete, me beijou e me prendeu. Depois saiu correndo para prender os outros.

—O que dizia no bilhete?

—Eu perdi. – O caçula murmurou, tristonho.

—Repete. – Pediu Matteo, segurando o riso.

—Eu perdi o bilhete! – Repetiu, desta vez mais alto.

Matteo começou a gargalhar incessantemente. Esse garoto era impossível. Ele tinha certeza que a tal da Larissa daria um belo gelo nele.

—Tá rindo do quê? Que eu me lembre, você disse que só deu o seu primeiro beijo com treze anos!

Touché, moleque. Touché.

(...)

Matteo pensara primeiro num restaurante. Tinha comida, tinha música, brechas para conversa e Itália teria uma experiência nova. Mas pelo pouco que conhecia de Itália, ele tinha certeza que ela iria querer pagar pelo menos metade da conta. E não seria bom para a garota que está morando sozinha e nem havia se estabilizado ainda.

O cinema trazia a mesma contradição. Além do mais, não havia nenhum filme interessante no momento.

E então, algo era perfeito: Jardim Botânico. Entrada agrátis. Ele podia levar comida. E seria... Não inovador, de jeito nenhum. Mas seria suficientemente impressionante pare um primeiro encontro. E cara, como ele queria ter outros.

Era isso. Estava ajeitando a touca na cabeça em frente ao espelho, quando Pedro surgiu, apoiado na batente da sua porta.

—Você está bonito. Vai ver uma garota, não vai?

Matteo deu uma olhada em si mesmo mais uma vez. Bermuda jeans, camiseta estilo polo vermelha, uma touca na cabeça preta e tênis altos também pretos.

—Isso aí, vou ver a irmã mais velha da Larissa. Quer que eu te traga um bilhete? – Matteo debochou do caçula, ainda descrente dos fatos contados poucas horas antes. Ele revirou os olhos.

—Era mentira, você está muito feio. Aposto que ela é muito feia. Aposto que vai odiar essa mão de capitão gancho na sua boca! – Pedro retrucou. – Por que eu tenho que ser mais o novo? Você é muito infantil.

Outch. As pessoas que o zoaram por conta da pequena argola preta em seu lábio inferior, agora listavam: Thiago, Flávia, professora Amanda e Pedro. Respectivamente.

—E você me ama.

—Não amo não. Você vai me deixar aqui com a Clara. Como a mamãe e o papai sempre fazem. – Ele reclamou, de braços cruzados.

É claro que Pedro andava absurdamente mais abusado ultimamente. E [e claro que Matteo estava dando a ele toda a atenção do mundo e falando para os pais o tempo todo que ele não precisa de presentes, precisa que os dois parem de brigar pela guarda dele. Mas Clara era a pessoa mais adorável do mundo, e o irmão mais velho sabia que Pedro estaria em boas mãos com a garota. Ela ficava na casa três vezes por semana e Matteo acredita que o que ela mais faz da vida é estudar. Estava mais tranqüila agora que finalmente entrara numa faculdade, mas mesmo assim. Ela era tão pequena que dava medo de quebrar ao encostar, cozinhava muito bem e enchia Pedro de abraços. Ele estaria bem com Clara. Matteo arriscava dizer que estava até melhor com ela do que com ele.

—A Clara é ótima. E pense, se só eu ficasse aqui com você, íamos comer uma porcaria qualquer. Você vai ter um belo banquete. – Matteo disse, tentando soar mais carinhoso. Ele se abaixou para ficar da altura do irmão e bagunçou seus cabelos.

—Ah, eu quero pizza! – Ele exclamou, rindo. Matteo sorriu de volta.

—Eu vou indo, ta bem? Se comporte.

—Não prometo nada.

(...)

Talvez fosse um sinal. Talvez as coincidências da vida estivessem o avisando desde o início. Entre no carro, quase o bata na primeira esquina: Matteo, volte pra casa. Pare para comprar a comida e encontre o professor Marcos na fila do caixa: Matteo, volte pra casa. Demore uma eternidade para encontrar uma vaga perto do prédio de Itália: Matteo, volte pra casa.

Encontre a garota que devia ter uma noite incrível tendo um surto: Matteo, você perdeu todas as suas chances.

O porteiro estava dormindo, mas o crachá dizia Cristofer. Cristofer perecia um cara legal e preguiçoso. Cristofer foi acordado por um funcionário logo depois de Matteo entrar no elevador, porque Matteo sentiu que qualquer um podia entrar ali a qualquer momento, e avisou o tal funcionário.

Ele deu três batidinhas na porta. Ouviu o som de algo caindo, mais nada. Um tempo depois, tornou a bater.

Itália surgiu com um sorriso cansado. Nada de maquiagem, com brincos longos e uma trança de lado que tinha um efeito incrível com a cor do cabelo. Ela usava um vestido rosa bem claro, marcado na cintura e que ia até um pouco acima da cintura, de alças. Encantadora. Sempre encantadora.

—Oi... – Ela disse, num suspiro. – Espere ali no sofá, e não se preocupe, eu não vou demorar. – Sorriu novamente.

—Tudo bem. – Matteo apenas assentiu, vendo-a se confinar no pequeno cômodo que devia ser o quarto.

Matteo deu ma volta pelo lugar. Pequeno, mas aconchegante. Sem TV, mas com um sofá e um canto no qual ela devia passar para o papel (ou mesa digitalizadora) toda a sua criatividade. Ali havia uma mesa que usava os dois lados de um canto da parede. De um lado, a mesa digitalizadora, tintas, lápis de todas as cores e papéis de todos os tamanhos. Do outro, um computador sobreposto por uma prateleira presa na parede, repleta de livros, até não caber mais. Ao lado do computador também havia um calendário e os livros didáticos, com um único caderno. No sofá também havia um notebook pequeno.

A única coisa que separava a "sala" da cozinha, era uma bancada, que tinha dois banquinhos de acompanhantes. Nada de mesa de jantar. Geladeira, fogão e microondas.

Era interessante. Fora o pequeno espaço criativo, ela conseguia se organizar perfeitamente naquele lugar minúsculo, e deixá-lo bonito. Matteo queria saber se o quarto era assim também. Um quarto pode dizer muito sobre alguém.

Ele percebeu que o "não vou demorar" de Itália estava começando a chegar num estágio preocupante, então arriscou bater na porta do quarto.

—Itália? Eu não quero te apressar, mas... – Outra vez, o som de algo caindo. – Está tudo bem? – Sem resposta. – Eu to entrando...

Ela andava desesperadamente de um lado para o outro, com os óculos na mão.

Itália usa óculos?

—D-desculpa. – Ela falou, com a voz trêmula. – Eu só... Não consigo achar o meu colar. Nem as... As lentilles de contato.

Suas mãos também tremiam. Itália estava prestes a chorar.

Ah, não. Não chore, eu não sei o que fazer nem quando Pedro chora. Por favor, não chore.

Itália mordeu o lábio inferior, numa tentativa falha de conter o que quer que fosse.

—Está tudo bem, venha aqui. – Ele estendeu a mão para que ela saísse do quarto, e assim o fez, com receio. Matteo a guiou até o sofá, onde ela ainda tentava se controlar. – Esqueça as lentes, você não precisa delas. – Ele disse, tirando os óculos da mão de Itália e encaixando o mesmo em seu rosto. – Viu só? Agora, como é esse colar?

—E-ele é dourado, e tem... Tem o formato de uma bota. O formato da Itália, sabe? Também tem Itália gravado nele. Eu nunca tiro, sei que nunca... – Então ela desabou. Apoiou os cotovelos nos próprios joelhos e afundou o rosto nas mãos. Matteo soube que ela queria muito gritar até ficar sem ar. – Um dia, quando eu tinha uns s-sete anos, Oliver me deu o colar. Ele disse que minha mãe gost-taria muito que eu o tivesse. Adrien brigou com ele, disse que a minha mãe era a Marjorie e somente a Marjorie. Eu sabia disso, sim, mas usei. Eu não tirei desde então.Não porque ganhei da minha mãe biológica, mas porque naquele dia, Oliver e Marjorie disseram que se eu quisesse, podia conhecê-la. Ela queria. Eu corri pros braços de Adrien e disse que não queria. – Ela disse, não de uma vez, apenas por causa dos soluços. – Eu gosto dessa lembrança. Eu gosto do colar. E eu não consigo achar! Em nenhum... Maldito... Lugar.

Assim, ela se debulhou em lágrimas. Tudo que Matteo pôde fazer foi abraçá-la, e manter-se assim até que se acalmasse. Ele sabia que não haveria mais encontro, mas não se importava. Itália se deixou surtar na frente dele, e se deixou ser consolada por ele. Ela tinha confiança nele. E por ora, isso lhe bastava.

(...)

Matteo teve uma brilhante, bela e distante ideia. Também tivera uma ideia gorda: a de pedir pizza enquanto Itália tomava um banho (pelo qual ela resistira, dizendo que havia tomado um ha poucas horas, mas ele insistiu e disse que seria bom para ela se acalmar). Ele fez isso.

Mas também executou sua primeira ideia, aquela brilhante, bela e distante. Para isso, ele precisou fuxicar o celular de Itália, a procura de um contato específico: Adrien.

 


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