Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 3
Capítulo Três - La salle de bain garçon




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Itália

A semana foi tipicamente relaxada, como toda primeira semana de aula. O professor Marcos não apareceu mais, mas ouviram-se boatos de que ele iria voltar.

Itália conversou com Julia algumas vezes, se deram muito bem. Ela é inteligente, como Leo mencionou. Sabe falar de qualquer assunto.

Na verdade, todas as vezes em que as duas acabaram conversando, significava que Itália havia falhado em sua missão de deixar Julia e Leo sozinhos. Mas a festa era hoje, então, ela podia tentar de novo.

—Isso é a conclusão... – Itália falava sozinha, enquanto pendurava m quadro na parede da cozinha. – Da minha glória!

Dizia isso porque assim que colocasse o quadro, a organização de seu novo apartamento estaria terminada.

Não que eu seja muito organizada...

Mas o interfone a atrapalhou, e ela derrubou o quadro. Uma voz conhecida soou.

Itália? É a Julia, eu estou subindo, tudo bem?

Itália encarou o botão, desconfiada e surpresa.

—Hã, claro, sobe aí.

É claro que Julia não ficou lá para ouvir a mensagem, e logo estava batendo na porta de Itália.

—Como é que você sabe onde eu moro? – Perguntou ao abrir a porta, sem se preocupar com o receptivo “Oi, como vai?”.

Julia deu de ombros, sorrindo.

—Conheço um cara. Além do mais, te mandei uma mensagem.

Itália tirou o celular do bolso. E ali estava uma mensagem de um número não encontrado em sua lista de contatos.

—E como é que você tem o meu número? Anda me perseguindo, Barcellos? – Ela deu passagem para Julia, que logo entrou no minúsculo apartamento.

—Como eu disse, conheço um cara. – Respondeu, olhando ao redor. Julia viu o quadro no chão e o pendurou em seu lugar, que não era onde Itália colocaria. Mas observando bem agora, ficara bem melhor ali.

—Então, um cara anda me perseguindo. – Julia riu.

—Doidinha. O Leo me disse onde você mora, e me passou o seu número. Pensei em nos ajudarmos com a roupa pra hoje à noite! – A amiga disse, entusiasmada. – A não ser que você já saiba o que vai usar...

—Não, eu nem pensei nisso, na verdade. Estou meio distraída ultimamente. Quer dizer, eu sou distraída, mas... – Itália olhou para suas unhas roídas.

—É só o estresse da acomodação. Foi sua primeira semana aqui, e tinha tanta coisa pra organizar... Podia ter pedido ajuda, sabe? – Julia seguiu para o quarto de Itália, e começou a vasculhar o guarda roupa enquanto a dos olhos coloridos se jogou na cama de casal.

—Sou meio orgulhosa quanto a favores. Por falar nisso, acho que a professora Amanda me arranjou um emprego! Vou dar uma olhada amanhã. – Itália disse, olhando para o seu próprio teto enquanto pensava se podia pintar ou colar alguma coisa nele. Parecia tão branco.

Julia jogou uma saia nela, e começou a analisar os sapatos da garota.

—E você vai sozinha pra um lugar que não conhece? De ônibus? Em São Paulo?

—Hm... É o que eu estava planejando. – Itália se sentou e analisou a saia.

—Mas não mesmo! Eu vou contigo. Digo, eu adoro a Amanda, e confio nela, mas você não conhece nada ainda e...

—É a oportunidade perfeita para conhecer, não?

—Claro, claro. Mas eu vou contigo mesmo assim. – Itália assentiu, vencida. – Vamos lá, coloca isso.

Itália olhou para sua saia favorita. Sorriu, e foi até o guarda roupa.

—Se vai escolher minhas roupas, vou escolher as suas.

—Legal!

(...)

—A gente já vai, Duarte! – Itália reclamou para o amigo apressado.

—Que coisa vocês duas. O táxi já vai chegar. – Ele vasculhava a geladeira dela.

—Mas não chegou, né? – Declarou Julia, saindo do quarto.

—Itália, eu não acredito que você não tem uma TV. Ou... Um chocolate. É diabética? – Leo fechou a geladeira, enquanto Itália finalmente saiu, atrás de Julia.

—Não. Mas ainda bem que eu não tenho, porque você é! Além disso, eu tenho um notebook e um computador, que são muito mais úteis que uma TV.

Leo revirou os olhos, sorrindo, e se virou para as duas. O sorriso sumiu.

—Uau, Ju, você deve estar horrível. — Brincou Itália. – Fecha a boca, Leonardo.

Julia riu. Itália escolhera para ela um vestido azul, lindo, justo até a cintura e soltinho nas coxas, que ia até um pouco acima do joelho, com a simplicidade de um único acessório: uma pulseira vermelha, combinando com os saltos e o batom. Os cachos soltos, é claro. Ela estava deslumbrante.

Já Itália, vestia algo mais esportivo, de All Star e tudo. A saia não tão curta era verde água de estampa étnica e a regata cropped cinza com um nó abaixo do umbigo se sobrepunha por uma jaqueta preta de couro falso. No cabelo, uma faixa preta com a estampa branca no mesmo estilo da saia. Combinava com ela e com a ocasião. Julia escolheu muito bem.

—O quê? – Leo se manifestou – Não, vocês estão lindas. Digo... Mesmo. – Então, o interfone toca. – Deve ser o táxi. Vamos?

E se foram.

(...)

Desorganização.

Era a palavra que soava na mente de Itália.

Era tudo muito bonito, a casa devia ser de algum playboyzinho do colégio. Quer dizer, casa? O prédio todo devia ser dele, se aquele era o apartamento do sujeito.

O que um cara que tem tudo isso faz numa escola pública?

Leo disse que ela fazia perguntas demais. Eles foram convidados, era legal estar ali, e seria melhor dançar do que aguçar a curiosidade.

Mas era um desastre! Tinha muita gente, muita bebida, e pouca comida. Todo mundo passando a mão em todo mundo. Se quisesse ir para uma balada, pagaria por isso. Quer dizer, nem poderia, com dezesseis anos. Mas francamente, eles se acham adultos assim?

Julia dissera que o grêmio organizava festas para o terceiro ano, incluindo projetos e viagens de formatura. Pelo menos para Itália, era muito mais convidativo que aquela bagunça.

Derrotada, ela sentou num sofá da sala. Tinha um casal na outra ponta, mas é aquele ditado: vamos fazer o que, né?

So wake me up when it’s all over...

When I’m wizer and I’m older…

Todos dançavam ao som de Avicci, mas a letra era irônica para Itália, que prestava atenção. É claro que tudo bem eles estarem dançando pela melodia, mas não deixava de ser irônico.

—Tan tan, tanananan... – Leo surgiu atrás do sofá onde Itália estava, e começou a brincar com o cabelo da garota. – E aí, arco íris? Haha! Entendeu? Porque você tem um olho castanho, outro azul, e o cabelo é meio roxo...

—Ah, Leo, não me diga que você bebeu... – Ela resmungou, mas ainda riu da comparação dele.

—Confie em mim, arco-íris. Eu tô legal! Você vai ficar aí sozinha? – Ele pulou o encosto do sofá, sentando ao lado da amiga.

—O quê? Não, eu estou com um pessoal... É, na verdade eles devem estar me esperando. Por que não chama a Julia para dançar? Eu vou ficar bem, ligo pra você na hora de ir embora. – Itália mentiu. Não queria arrastá-los para casa, tinham acabado de chegar, e ele parecia estar se divertindo. Faria alguma coisa para passar o tempo.

—Tem certeza? – Ela assentiu. – Tudo bem, então. Qualquer coisa é só chamar. – Leo deu um beijo estalado na bochecha dela antes de se levantar e sumir de vista.

Ah, vai. Não é tão ruim assim. Itália olhou ao redor. Mas essa fumaça deve estar subindo o meu cabelo.

Então, levantou e fingiu dançar enquanto desviava das pessoas, até chegar às escadas.

Um apartamento de dois andares.

Qual é, ainda pode ser chamado de apartamento?

Eu só quero um banheiro, vamos...

O andar de cima estava surpreendentemente vazio. Talvez fosse onde tinham escondido coisas que adolescentes animados poderiam quebrar. Mesmo assim, alguns casais seguiam para um corredor cheio de quartos.

Quando Itália encontrou o que deveria ser o banheiro, levou uma portada na cabeça.

E lá estava ele de novo. O gatinho do banheiro feminino, exatamente com o mesmo sorriso.

Pelo menos eu não caí desta vez, ela pensou, desviando do rapaz. Posicionou-se em frente ao espelho, e riu de si mesma, olhando para seu cabelo e logo em seguida fazendo um coque alto.

—Eu pareço a Amy Winehouse. – Falou para o seu reflexo.

O garoto continuou ali, apoiado na parede, de frente para a porta, por um tempo. Quando decidiu sair, ela se sentiu segura para fazer o mesmo.

Para seu azar – ou talvez não – seu celular vibrou, e ela estava tão concentrada em sua missão de voltar para o andar de baixo que se assustou com a notificação, e acabou derrubando o celular. Estatelou no chão, e aberto, perdeu a bateria. Itália se abaixou imediatamente.

—Por favor não esteja quebrado, por favor não esteja quebrado... – Ela pedia enquanto montava o aparelho novamente.

Perto da escada, o gatinho do banheiro conversava com outro garoto. O som de algo caindo chamou a atenção deles, que pararam de falar.

Ótimo, agora tenho que passar por eles. AH, AGORA O SEGUNDO GAROTO FOI EMBORA.

Ela tentou fazer o mesmo, mas é claro que Matteo a impediu.

—Parece que só nos encontramos assim, não? – Ela comentou, com um sorriso de canto. Talvez ele fosse inevitável.

—Em portas? – O garoto perguntou, espelhando o sorriso.

—Em banheiros! – Ele riu. – Apesar de eu estar receosa a seu respeito.

Itália se virou, pois estava de costas quando ele decidiu segurá-la de leve pelo braço.

—Acho que você sabe o que eu estava fazendo lá, né? – Ele coçou a nuca, com um sorriso nervoso.

—Hum, era pra saber? Deixa eu adivinhar, gatinho do banheiro feminino. – Ele arregalou os olhos com o apelido. – Você é gay?

—Quê!? Não! Quer dizer... Essa é a sua melhor hipótese?

—Foi mal, não é como se eu tivesse pensado nisso a semana inteira... – Itália riu. – O que fazia lá, então?

—Ah, você não precisa saber, esquece isso. Agora... – Ele passou uma mão pelo cabelo. – Gatinho do banheiro feminino?

—É como eu me lembro de você.

—Não quero essa como a primeira impressão. Permita-me apresentar, então. Matteo Niara. – Ele fez uma reverência, de forma teatral.

—Então é você o dono desse nome que eu nunca lembro onde ouvi...

Matteo mudou a expressão animada para algo quase decepcionado.

—Talvez na chamada? Sabe, sou da sua sala desde segunda feira.

Itália mordeu o lábio e pôs uma mão no ombro dele, o consolando como se não ter o notado a semana inteira fosse uma ofensa.

—Desculpa, eu não reparei! Não é pessoal, eu devo saber o nome de no máximo cinco pessoas no colégio todo, sabe, eu nunca presto atenção em nada. – Matteo riu da preocupação dela, e tomou a mão da garota, tirando de seu ombro. Itália piscou repetidamente.

—Ei, relaxa. Eu percebi a sua falta de atenção. E é melhor pra mim... – Ele abriu o sorriso. – Posso manter o agora como a primeira impressão que você vai ter da minha pessoa.

—Sinto lhe informar, Gatinho do Banheiro. Mas isso não apaga a primeira lembrança da semana.

—Não custa tentar. – Os dois riram, até que a voz de Leo os chamou a atenção, e Matteo soltou a mão de Itália.

Ela não tinha percebido que ele ainda a segurava até então.

—Temos que ir. – Leo disse, e puxou Itália para um canto.

—Temos? Bom, vamos então. – Colocou o celular no bolso.

—Não, você não precisa. Eu e a Julia. Não vamos pra casa. Julia está com problemas, eu... Preciso ajudá-la.

—Problemas? Eu vou junto! – Itália fez menção de descer as escadas, mas Leo bloqueou sua passagem.

—É melhor você ficar. É coisa de família, eu não vou ficar lá também, só vou acompanhá-la. Volto pra te buscar, tudo bem?

—Okay... Mandem mensagem quando chegarem lá. – Leo sorriu, comovido com a preocupação dela. Eram amigos há poucos meses, não havia nenhum fato que os mantesse unidos, mas assim eles ficavam.

—Eu mando. – Ele deu um beijo em sua testa. – Até depois. Ah, e tome cuidado.

Cuidado com o que, seu doido?

Itália ficou observando os cabelos castanhos meio enrolados de Leo sumirem enquanto se afastava, e antes que percebesse, Matteo estava novamente ao seu encalço.

—Tá tudo bem?

—Sim, eu acho... – Itália respondeu. – Acho que vou ficar aqui por enquanto. – Ela soltou uma risada curta, fazendo Matteo sorrir inevitavelmente.

—Você quer dançar? – Ele perguntou, depois de algum tempo de silêncio.

—O quê?

—Dançar. – Apontou para o andar de baixo, onde o som parecia não ter fim.

—É, não. – O sorriso que o garoto sempre tinha no rosto desapareceu no mesmo instante. – Digo, não é que eu não queira dançar com você, eu só não quero dançar, mas... Não, eu talvez eu queira. Na verdade, eu não sei dançar, e eu vou pisar no seu pé, e o seu pé parece legal demais para ser pisoteado... O que eu acabei de dizer? – Ela franziu a testa.

—Eu também não sei. – Matteo cruzou os braços. – Na verdade o meu ego não me permitiu ouvir nada do que você disse depois do “não”.

Itália riu, mas ele não parecia muito feliz agora.

O que quer que eu diga, Gatinho do Banheiro? Muitas garotas acreditam que o primeiro não deve ser suficiente em situações extremas.

—Eu não sei dançar, Matteo. – Ela sorriu, sem graça. Ele pareceu motivado novamente.

—Mas isso não é problema! Vamos, eu prometo ir devagar. – Beijou a ponta dos dedos médio e indicador, depois os levantou na altura de sua cabeça, fazendo um juramento.

—Só se prometer que vai ser rápido.

—Não precisa inventar desculpas se não quiser, é só uma dança.

Só uma dança. Soava quase como um desafio.

Itália agarrou o pulso do garoto e o puxou escada abaixo.

—Se eu pisar na droga do seu pé, não diga que não avisei. – Ela disse, fazendo bico. Por algum motivo seu sotaque saiu mais aparente, fazendo Matteo rir, encantado.

—Sua falta de paciência é encantadora. – Itália revirou os olhos e apoiou os braços nos ombros dele.

Matteo se sentiu vitorioso, e tirou do bolso o celular com um fone de ouvido conectado.

—O que está fazendo? – A garota perguntou, em tom mais curioso do que acusatório.

—Ah, eu até gosto de música eletrônica, mas já que as suas mãos estão quase no meu pescoço, e a qualquer momento podem colocar um funk, vou confiar no meu modo aleatório. Aceita? – Ele ofereceu um fone, e Itália aceitou sem mais questionamentos.

O som do piano de If You Ever Want To Be In Love do James Bay soou aos ouvidos dos dois, que começaram a se movimentar lentamente.

As mãos de Matteo deslizaram para a cintura de Itália e ali ficaram, causando um estranho arrepio que subiu pela espinha da garota.

“Eu estarei por perto

Toda vez que você quiser amar

Eu não estou esperando, mas estou disposto, se você me quiser

Toda vez que você quiser amar

Eu estarei por perto...”

O momento pareceu eterno.

Infelizmente, não foi.

A dança parou quando a música foi substituída por Wonderwall, do Oasis. Mas eles continuaram ali, parados, sorrindo um para o outro.

—Você foi muito bem. – Ele comentou, dançando agora de forma mais descontraída.

—Mentir é feio. – Itália riu, tentando acompanhá-lo na nova dança.

—É verdade! Pode melhorar, mas você foi muito bem. – Respondeu, olhando para os pés dela. – Eaí, o que vai fazer para o super projeto do ensino médio?

—Super projeto? – Ela questionou, completamente confusa.

—Professor Eduardo.

—Esse é o de matemática? – Arqueou uma sobrancelha, mais perdida ainda.

—Filosofia! – Matteo riu, descrente.

—Eu geralmente vou pro Mundo da Lua nessa aula.

—Pois eu vou pra lá na aula de matemática. – Ele declarou. – Enfim, é um projeto de caridade. Cada ano está numa... “Categoria” diferente, vamos dizer assim. O terceiro ano vai recolher fundos para orfanatos, e visitar alguns. O nosso, digo, o segundo ano vai espalhar cultura, dar aulas de música, dança, todo tipo de arte. E o primeiro ano acho que vai fazer algo assim, mas com esportes.

—Ah. – Foi tudo o que ela disse, processando as informações. – Talvez eu... Dê aulas de desenho.

—É, você desenha bem. – E você sabe disso como? — Vou dar aulas de guitarra, até o meio do ano. Depois vou pro terceiro, então visitarei alguns orfanatos.

—Nunca estive em um. – Ela deixou escapar, depois arregalou os olhos, percebendo o que acabara de dizer. – E-eu não fui registrada como órfã. Uma mulher confiava muito em Marjorie, minha mãe adotiva, então me entregou a ela. Não a conheço, nunca a vi, então ela é só quem me deu a luz. Mas Marjorie...

—Itália. – Matteo chamou.

Então ela se deu conta de que estava olhando para baixo e falando exageradamente rápido, como fazia quando ficava nervosa.

—Não precisava se explicar. – Ele continuou, com um sorriso gentil, e colocou uma mecha de cabelo solta de Itália atrás de sua orelha. Então ela levantou a cabeça. – Tudo bem?

Itália assentiu, desnorteada, e sentiu o celular vibrar no bolso da saia.

Deve ser o Leo.

Ela se afastou de Matteo para pegar o celular, e o fone caiu de seu ouvido. Abriu o aplicativo para ler a mensagem:

Leo :3 : Acabei de deixar a Julia. Logo chego aí.

Desatou a digitar.

Eu: Eu não vou te fazer pagar mais um táxi. Vai pra casa, eu me viro.

Leo :3 : Tem certeza? Eu te arrastei pra essa festa, nada mais justo que te arrastar de volta pra casa.

Eu: Tenho certeza, pode ir, não é nada.

Leo :3 : Hm, ok. Chegue bem.

Itália suspirou e guardou o celular.

—Eu te dou uma carona. – Matteo disse, e Itália pulou de susto. Tinha esquecido que ele ainda estava ali.

—Leu minhas mensagens!?

—Não, mas pela sua reação parece que seu amigo te deu um cano.

Um cano? – Ela não conhecia a expressão. Matteo riu, isso nunca deixaria de ser fofo.

—Significa que ele te abandonou aqui.

—Ele não me abandonou. Eu sou uma boa amiga e o mandei ir pra casa. – respondeu, guardando o celular. – E aceito sua carona.

(...)

—Você dirige. – Itália comentou o óbvio, olhando para o i30 branco em sua frente.

—Não legalmente. – Ele destravou as portas.

—Então não tem carteira?

—Dezessete anos, Gatinha do Banheiro.— Ela sorriu com a imitação barata do apelido. – Eu sei dirigir, e não bebi nada lá. – Apontou para o prédio em que estavam alguns minutos atrás.

—O que eu estou fazendo com a minha vida? – Olhou para o céu dramaticamente antes de entrar e se sentar no banco do carona. Matteo  riu e fez o mesmo, ligando o carro.

—Então, onde é? – Perguntou ao sair do estacionamento.

—Água Rasa, o bairro do colégio. – Itália respondeu, ligando o rádio.

—Prático. Vai andando?

—Ônibus. – Falou com a voz cansada, como se só a palavra ônibus trouxesse todo o estresse que um ônibus de verdade pode trazer. – Então você toca guitarra?

—Modéstia a parte, eu mando muito bem. – Ele deu de ombros. Itália riu.

—Qual sua banda preferida?

—Difícil. – Mordeu o lábio, pensando. – Queen. – Ele pareceu pensar melhor. Não! Red Hot.

Itália abriu a boca em um perfeito O, indignada.

—Você não gosta de Red Hot Chilli Peppers, eu gosto de Red Hot Chilli Peppers! – Ela quase gritou, fazendo Matteo rir alto.

—Por que nós dois não podemos gostar de Red Hot Chilli Peppers?

—Porque isso tudo já está perfeito demais.

—Isso é ruim?

—De forma alguma, isso é incrível! – A frase saiu decepcionada, e ela apoiou a cabeça na janela.

—Você me confunde. – Ele concluiu, sem tirar o sorriso do rosto.

—Isso é ruim? – Itália repetiu a pergunta feita por ele.

—De forma alguma. – Matteo falou, calmamente. – Você é incrível.

Itália sorriu mais uma vez.

—Na próxima a esquerda. – Informou, e ele adentrou a rua. – Aqui. – Ela indicou onde ele deveria parar. – Obrigada pela carona, e pela noite. Fez a festa valer a pena.

—Quando quiser. – O moreno parecia nunca tirar aquele sorrisinho pretensioso do rosto. Destravou as trancas, e Itália saiu.

Ele esperou ela entrar no prédio para só então ir embora.

(...)

A primeira coisa que Itália fez depois de fechar a porta, foi tirar os sapatos. Deixou os tênis jogados na sala e foi tirando as meias no caminho para o quarto.

Ela não se lembrava de ter ficado tanto tempo numa festa como ficara nesse dia. Não que tenha ido a muitas festas, mas na França eles tinham um tempo delimitado para tudo. Foi um dos motivos para ela achar a festa de hoje desorganizada.

Depois de colocar o pijama, foi para o sofá e abriu o notebook, percebendo um e-mail de Adrien. Finalmente! Ela o abriu:

“Eaí, brasileira?

Como está aí? Conseguindo se virar?

Desculpa não ter te escrito antes, eu quis mesmo. Estive meio ocupado, e sei que você precisou mudar de número. Aliás, me passe, eu nem lembro a última vez que usei o e-mail até agora. Gosto de mensagens.

Foi bom o seu primeiro dia? Eu espero que tenha sido bom. Me mande fotos dos seus desenhos novos, tenho certeza que fez muitos!

Dei uma olhada no seu perfil e vi que já fez alguns amigos, isso é muito bom, fiquei preocupado que você ficasse sozinha.

Ah, foi a uma festa hoje, né? Sua amiga postou uma foto aí no seu apartamento. Você está linda. Espero que dê uns beijos!

Aguenta esse ano, ta? Vou trazer você de volta. Eu prometo.

Nem preciso dizer que te amo, certo? Ok, eu digo.

Je t’aime.

Me escreva logo.

 

Do seu primo irmão mais gato e legal (e o único),

Para a minha Herdeira da Lua.”

Foi assim que ela dormiu se sentindo realizada.


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