Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 23
Capítulo Vinte e Três –Tutto ciò che dobbiamo fare




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Matteo

Eu sou estranho.

Todo errado.

—Matteo, o que ta fazendo? Vamos logo!

Ele se olhou no espelho novamente. Tudo ok por fora.

—Será que eu pego o ônibus ou será que eu compro uma goiaba? – Ele cantarolou.

—Você entra na van, retardado.

Delicada como sempre.

—Já vou Alice, mas que merda. – Reclamou e a empurrou pra fora.

Estava tudo ok mesmo?

Esse é um show importante.

Respirou fundo.

Ela não vai estar lá em todos os seus shows. Este é só um deles. Ela tem que cuidar da Maria Alice.

Então ele pegou a guitarra e saiu.

(...)

Era um momento bonito.

Matteo idolatraria aquela van pro resto da vida dele.

Lucy estava cantando!

Todos estavam, incluindo Julia e Thiago lá atrás, mas a voz da Lucy era uma novidade.

Certamente não dava para ouvir direito com todas as vozes e o rádio, mas ela estava bem ali, cantando We Are the Champions a plenos pulmões.

Quem não cantaria?

A van era de Alice. Ela mesma comprara e agora era parcialmente o meio de transporte da Lua. Ela era azul.

Era simplesmente incrível pegar uma van pra fazer shows pela cidade. Incrível e inacreditável. Quase tão inacreditável quanto ver Lucy cantando.

—Ah não. – Téo murmurou.

—O quê? – Questionou Alice.

—A próxima é I Want to Break Free.

—Não vejo o problema aqui. – Matteo arqueou uma sobrancelha.

—Espera só.

E então todos ficaram quietos durante a introdução, esperando a grande decepção pela qual Téo ansiava.

O primeiro verso foi cantado maravilhosamente por Freddie Mercury e Téo pareceu surpreso. Até que uma voz se misturou a dele.

—I WANT TO BREAK FREE FROM YOUR LIES, YOU’RE SO SELF SATISFIED, I DON’T NEEEEED YOU!

Lucy deu um pulo tão grande que bateu a cabeça no teto.

—Pelo amor de Deus, Julia!

Téo começou a gargalhar.

—GOD KNOWS I WANT TO BREEEEEAK FREE! – E Julia não estava nem aí para os comentários alheios.

—Acho que ela assustou até as pessoas nos outros carros. – Alice comentou do banco da frente. Téo dirigia.

Então Thiago se atravessou entre os bancos da frente e mudou de música, só para levar um tapa de Julia.

—Exibido. – Ela resmungou. Todos olharam para trás, incluindo Téo pelo retrovisor, e então Thiago tirou uma foto.

(...)

Alice abriu o show naquele dia.

Não era uma casa de shows, nem um bar ou restaurante. Dessa vez era um festival de verdade, com várias bandas e cantores solo locais. Cara, era incrível. Eles teriam cinco músicas; o solo de Alice, três covers e encerrando com uma autoral.

Tired of all the troubles (estou cansada de todos os problemas)

They’ve been wasting my time (eles têm sido perda do meu tempo)

I don’t wanna fight (eu não quero lutar)

Gonna live it behind (vou deixar isso pra trás)

Taking on faith (tomando fé)

Now I’m ready to fly (agora estou pronto pra voar)

I’m in the middle of a starting over (estou no meio de um recomeço)

A música original era na verdade muito mais animada do que o arranjo que Alice preparara. Mas era perfeito assim. Ninguém sabia lidar com aquela voz de anjo dela.

Back to the beginning (de volta ao início)

Gonna hit rewind (vou rebobinar)

Chance to do it over (tenho a chance de fazer tudo de novo)

Get it right this time (vou fazer certo desta vez)

Life gives you pennies (a vida te dá pedras)

Turn them into dimes (transforme-as em moedas)

I’m in the middle of a starting over (estou no meio de um recomeço)

I’m in the middle of a starting over (estou no meio de um recomeço)

Se a banda um dia se separasse, seria por Alice.

Não porque ela gritava com todo mundo (esse era o Téo), mas porque ela era a mais propensa a uma carreira solo. Ela tinha tudo: a voz, o carisma, o conhecimento musical. Ela sabia compor e sabia deixar músicas que já existiam melhores. Ela certamente conseguiria.

Mas para a sorte de todos, Matteo achava que ela estava se apegando também.

Ela estava no meio de um recomeço. Não era novamente a garota de quem Matteo um dia havia gostado, mas era melhor que isso.

Ele se lembrava de passar noites discutindo com a garota só para se divertir, ás vezes só para ouvir a voz dela. Alice era apaixonante e sempre seria. Mas algo havia mudado. Parecia que tudo estava entrando nos eixos, todo mundo estava mudando.

Mas precisava mesmo mudar?

(...)

Itália tinha cabelo castanho.

Castanho claro, macio e sem pontas secas.

Fora ela quem disse.

Mas na cabeça de Matteo, ele ainda se encontrava num estado entre o azul e o roxo, e o desbotado parecia quase verde. Era perfeito assim. Ela não entendia que era perfeito assim?

—Maria Alice foi embora.

—Seu cabelo.

—Ela foi embora e levou o cheiro de perfume cítrico com ela.

—Itália, Itália, seu cabelo.

—Ela foi embora e então eu saí e comprei um removedor de tinta e um condicionador e um hidratante e essa sou eu.

—Itália...

—Eu já entendi que você não gostou. – Ela disse como quem diz “eu gosto de pudim” e fechou a porta atrás de si. – Vamos.

Itália vestiu o casaco, ignorou o elevador e desceu as escadas, sendo seguida por Matteo.

—Vai me dizer agora que... Você comprou um sofá novo? Mudou de emprego? Não gosta mais de desenhar, agora você faz dança escocesa? Pintou o Cheshire também, agora ele é cor de rosa de bolinhas brancas? – Ele falava com a voz alterada como se simplesmente não acreditasse naquilo

—Quer calar a boca?

—Não, não quero! Por que isso assim de repente?

—Matteo, é só cabelo.

—Não é só cabelo, é o seu cabelo! – Matteo tocou o rosto dela e afastou algumas mechas. – Eu amo o seu cabelo.

—Então é SÓ o meu cabelo e se me desse vontade eu arrancaria ele todo da minha cabeça! – Ela gritou.

Matteo se calou e sentou-se num degrau da escada.

—Como pôde mudar tanto em uma semana?

—Uma semana? – Ela riu com desdém. – Sete meses. Eu mudei em sete meses, Matteo. Porque uma pessoa muda quando os pais dela morrem e ela muda quando vai morar num país diferente e fala uma língua diferente e conhece pessoas diferentes!

Ele não disse nada, e ela sentou ao seu lado.

—Ela muda quando descobre uma Jasmim, e ela muda quando começa a pensar que se talvez tivesse sido Jasmim desde o começo; ela estaria no Brasil desde o começo. E não precisaria ir embora dele.

—Mas de que merda você ta falando!?

—De mim, Matteo. É dessa merda que eu estou falando. – Itália se levantou e começou a subir os degraus. – Quer saber? Esquece. Saímos outro dia.

Estou cansado dos problemas, eles têm sido perda do meu tempo.

Estou no meio de um recomeço. Estou no meio de um recomeço.

—Espera. – Ele subiu os degraus atrás dela. Itália parou e se virou. – Desculpa. Eu não ligo pro seu cabelo. Eu ligo pra você, Itália. – Matteo suspirou e subiu mais um degrau. – Você está bem?

—Eu cansei de ser um arco-íris. Talvez eu só precise ser a chuva por um tempo, pra depois poder ser o sol. Um de cada vez.

Então ele a abraçou e ficou assim. E nenhum morador apareceu para subir as escadas.

(...)

Ali estavam eles.

Téo tocava Wake me Up When September Ends enquanto Alice cantava. Lucy estava sentada na mesa de centro de madeira, usando a mesma para fazer a percussão. Julia estava mexendo no cabelo de Téo.

Thiago e Leo conversavam animadamente sobre futebol, enquanto Flávia fazia trancinhas no cabelo – castanho – de Itália.

 —Matteo, o que você tem contra Simple Plan? – Flávia perguntou.

—Dramático demais pra mim.

—Fui eu quem coloquei Simple Plan nos papeizinhos aquele dia. – Itália confessou. – A gente sempre teve gosto musical parecido, fiquei bem triste quando você quis recusar. – Ela riu.

—Ah, mas eu já te contei que adoro aquela, é... This song saved my life...— Ele cantarolou, engatinhando até elas.

Now it’s just too late. — Flávia cantou outra música deles em resposta. Matteo sorriu.

I’m sorry, I can’t be perfect. — Matteo retrucou.

Nothing is gonna change the things that you said! — Itália finalizou antes de os três desatarem a rir.

Aquele era o grupo deles. Deveria ser pra sempre.

—Gente. – Itália anunciou após algum tempo. – Quero falar com vocês.

Todos prestaram atenção. Exatamente como no dia em que a banda foi criada.

—Vou embora em outubro. – Ela soltou de uma vez.

Leo deixou cair o copo que segurava.

—Mas, Arco-Íris, isso é em três meses. – Ele disse.

—Eu sei.

—Você chegou em fevereiro. Pensei que fosse ficar um ano. – Julia contestou.

—Na verdade eu cheguei na metade de janeiro. – Itália rebateu. – É que a minha... Digo, a Isabela e o Adrien conseguiram abrir um processo. Se tudo correr bem eu posso ganhar a minha cidadania em novembro, mas eu vou ter que estar lá pra isso.

A voz dela estava trêmula.

—E se você ficar? – Lucy pediu. – Tecnicamente você é brasileira. Você pode ficar.

—Lucy, eu... Aqui não é o meu lugar. – Ela olhou de um a um, para as expressões cabisbaixas de todos. – Pardon.

—Você prometeu pra mim que não íamos falar disso. – Matteo finalmente pronunciou.

Itália abriu a boca para responder, mas desistiu.

—E sobre o que ela quer, Matteo? – Leo disse. – Talvez ela precise falar sobre isso. Ela precisa saber... – Então ele voltou a olhar para a melhor amiga. – Que vamos estar aqui pra ela nesses três meses e que vamos fazer ela passar pelo melhor tempo da vida dela. Ela precisa saber que não vamos esquecê-la e que não vai esquecer da gente. Certo, Arco-Íris?

Itália sorriu e assentiu com a cabeça.

—Bolinho! – Flávia gritou e então todos se jogaram em cima da francesa, rindo feito idiotas.

Eles se levantaram e começaram a conversar sobre as coisas que deviam fazer e quando ela podia voltar e sobre as visitas que fariam uns aos outros. Alice pegou o violão e voltou a cantar.

As flores de plástico não morrem.


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Notas finais do capítulo

Tivemos muuuuuuuitas músicas nesse capítulo! Vamos fazer uma listinha:

Músicas que eles cantaram na van: We Are The Champions - Queen
I Want to Break Free - Queen

Música que a Alice canta no show: Middle of a Starting Over - Sabrina Carpenter

Música que Matteo canta pra dizer que não odeia tanto o Simple Plan: This Song Saved My Life- Simple Plan

Música que Itália e Flávia usam para rebatê-lo: Perfect - Simple Plan

Música que Alice canta no fim: Flores - Marisa Monte e Titãs

Ufa, acabou!

Perguntinha: vocês preferem Itália ou Jasmim?

Até a próxima!



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