Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 22
Capítulo Vinte e Dois – Maria Alice, le petit génie




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Itália

Tudo bem. Era ridículo ela estar considerando isso. Isabela não merecia perdão.

Merecia?

Não saía da mente dela a forma como as duas haviam ficado, chorando, encarando uma a outra pelo computador. Em contra partida, Matteo aparecia em sua mente: Me promete que não vamos falar disso, até o seu último dia em São Paulo, não vamos ter essa conversa.

Acontece que ela precisava dessa conversa, ela precisava estar pronta para o que quer que acontecesse. Estava cansada de surpresas.

“A senhorita deve estar voltando ao seu país no período de no máximo três semanas. Um oficial lhe acompanhará até o avião. A senhoria tem o direito de entrar com um processo para adquirir cidadania francesa. Por ora, a senhorita não tem o direito de residir neste país.”

Mas eu vivi lá a minha vida inteira.

É tão injusto.

Não queria mais nada inesperado. Ela queria ter conhecimento de todos os seus próximos passos.

Mas parece que não seria do jeito que ela queria.

Droga.

Encarou Cheshire, deitado ao seu lado no sofá.

—E você, gato? O que vou fazer com você? – Ele pareceu entendê-la, e subiu em seu colo, miando. – Queria poder te levar. Queria poder levar tanta coisa.

—Tália! – Maria Alice saiu do banheiro com uma cara sonolenta. – Eu quero queijo. Será que você tem quijo?

—Não. Por isso, você vai trocar de roupa e a gente vai pro mercado.

—Mas eu gosto do pijama!

Itália sorriu e se levantou, fazendo Cheshire pular.

—Se estiver pronta em três minutos, deixo você ir com a fantasia de panda.

Ela arregalou os olhos e saiu correndo para o quarto.

(...)

—As pessoas aqui deviam andar mais de ônibus. Têm tantos ônibus! E tem metrô também. Olha só quantos carros. Isso não deve ser horrível pro meio ambiente? Mamãe me disse que as bicicletas estão aí para serem usadas. Aí, a mamãe disse que carros eram práticos e deveríamos ter um. Elas discutiram, mas não de verdade. Agora, nós três temos lindas bicicletas. A minha é azul, a da mamãe é verde, e a da mamãe é laranjada. E gosto de azul. É como queijo. Você tem uma opinião sobre o azul? E sobre queijo?

(...)

—Ok. Nós precisamos de macarrão pra sopa, e de Nescau e café, café, café.

Maria Alice andava na frente do carrinho, pegando as coisas que Itália listava.

—Olha só essas pessoas. Elas nem olham umas pras outras. Comprar comida! Cozinhar! Alimentar meus filhos! Trabalhar! Ganhar dinheiro! Comprar comida! Cozinhar! – Ela tentava engrossar a voz, e falhava miseravelmente.

—São pessoas ocupadas vivendo suas vidas. Leite, duas caixinhas. Hum, olha esse chocolate.

—Eu quero um! E não acho que estejam vivendo. Parecem cansadas. Trabalhar! – Ela riu, de repente. – Lá se trabalha o dia inteiro, lá são escravos do dinheiro, a vida é boa, eu vivo a toa, aqui no mar!

Nos últimos dias, Itália descobrira duas das grandes paixões de Maria Alice: A Pequena Sereia (e o Príncipe Erick) e Miraculous Ladybug. Itália até mostrou para a menina a versão original deste último, que era francesa, e ela adorou, mesmo não conseguindo acompanhar as legendas.

—Olha, queijo! – Ela correu em direção a área de frios. Todos a olhavam, provavelmente por estar vestida de panda. Alguns encaravam Itália como se pensassem “o que está fazendo com essa criança?”

—Cheddar, Gorgonzola, ah, tem cheiro ruim! Car... Cam... Tália, como se diz isso aqui?

Camembert.

—Ah. Bem. Eu não vou falar isso. Podemos levar? Vamos fazer uma festa de queijo!

—Não podemos levar todos estes queijos. Você tem um gosto bem peculiar.

Ela pegou uma embalagem pequena de queijo parmesão.

—Então podemos levar só esse e comer com doce de leite?

—Claro.

Mali colocou o queijo no carrinho e foi saltitando até o outro corredor.

—Era isso que eu queria. – Ela disse.

(...)

—Eu só acho que esses cachorrinhos devem ser muito tristes, sabe? Pense, eles não estiveram sempre na rua. Com certeza teve uma primeira pessoa que decidiu abandonar um, e então uma segunda pessoa pensou que, como já havia um na rua, não seria nada demais ela abandonar o seu também. E aí eles tiveram filhotinhos, que nasceram na rua! Alguém adotou os filhotinhos, mas então eles cresceram e não pareceram mais tão atrativos e abandonam eles adultos. E cahorros não se viram bem como os gatos, já percebeu?

Mon Dieu, você não desliga nunca? – Itália riu ao deixar as sacolas em cima da bancada.

—Não! Eu posso ver os seus desenhos?

—Claro, vai lá.

Itália então começou a guardar as compras, enquanto Maria Alice cantarolava alguma coisa.

—Cadê aquele da árvore com a guitarra? Eu gosto da árvore com a guitarra.

—Eu dei ele pro Matteo.

—O seu namorado? Ah, eu posso pegar de volta?

—Não, não. Pra você eu tenho um muito melhor. Você quer ver?

O rosto da menina pareceu se acender. Itália foi até sua mesa de trabalho e vasculhou entre as pastas coloridas, até tirar de lá uma folha.

Uma garotinha, de longos cabelos escuros e encaracolados, sentava-se numa rocha bem no meio do mar. Na frente dela, Ariel apoiava os cotovelos nos joelhos da garotinha e conversava com a mesma. A menina, por sua vez, brincava com um io-io vermelho de bolinhas pretas e usava uma máscara de mesma estampa nos olhos.

—Eu quero mandar uma foto pras mamães! E... Eu quero pôr num quadro! Podemos pôr num quadro? Eu adorei, adorei, obrigada!

Mali praticamente se jogou em Itália, que precisou de muito equilíbrio para segurar a garota e não cair.

(...)

Leo estava ali.

Ele estava bem ali, ao vivo e em cores como nunca.

Como nunca mesmo. Seu cabelo estava mais comprido. E não porque ela ficara tempo demais sem vê-lo, apenas porque ele decidira parar de cortar. A pele estava mais clara, apesar de o inverno por ali não ser assim tão frio. Ele devia ter terminado o campeonato, passado mais tempo em casa.

—Será que eu posso entrar?

Era tão bom ouvir sua voz.

Sem dizer nada, ela simplesmente deu passagem para ele entrar.

—Ei, olá. Eu sou a Maria Alice.

Leo franziu o cenho e encarou Itália.

—Faz só duas semanas e você já tem uma filha? – Ele disse. – Oi, Maria. Eu sou o Leo.

—Maria Alice! Eu não gosto só de Maria. É comum demais.

—Então tá bom, Maria Alice.

A garota sorriu e voltou para a bancada da cozinha, onde usava o notebook de Itália para assistir desenhos.

Leo sentou-se no sofá.

—Eu acho que foi exatamente aqui que... VOCÊ FICOU BRAVA COMIGO SEM MOTIVO.

Itália sorriu.

—Eu não estou brava contigo.

—Ah, e esse gelo de duas semanas significa o que na sua língua? Porque por aqui...

 —Leo, eu não estou brava! Senti raiva, sim, quando lembrei de como disse aquelas coisas, mas depois eu só fiquei com vergonha!

—Mas que coisas? Eu só disse a verdade! Além disso, no dia seguinte você não foi pro show no Hush e... Espera. É o quê?

—Fiquei com vergonha, Le-o-nar-do. – Falou pausadamente, como se explicasse a uma criança. – Foi a primeira vez que fiquei bêbada. Foi a primeira vez que eu sequer ingeri uma gotinha de álcool!

—Pra tudo tem uma primeira vez. – Ele agora estava tendo uma crise de risos.

—Não com dezesseis anos!

—Não tem melhor idade.

Itália andou de um lado pro outro cinco vezes, exatamente. Leo contou. Depois, se jogou no sofá, ao lado dele.

—Sabe, ta tudo meio errado desde aquele dia.

Leo tirou os sapatos e colocou os pés no sofá, virado para ela.

—Conte mais.

—Além de você não ter sido uma presença constante nos últimos dias, Matteo tem estado meio carente. Quer dizer, ele sempre foi, mas... Não sei, é diferente. Eu também falei com a Isabela. Não falei direito, ela contou umas coisas e nós duas choramos e eu não consigo nem contar. Olha. – Ela estendeu as mãos para ele, as palmas pra baixo. – Eu nunca fui de roer unhas, mas já faz um tempo que tenho feito isso. É involuntário. Ás vezes, não quero acordar. Não quero levantar da cama. Eu perguntei ao Matteo o que faremos quando eu for embora e ele me disse pra não pensar nisso, e que ele não queria conversar sobre isso, mas, sabe, eu quero. Eu quero saber o que vai acontecer. Eu tenho me forçado a sair da cama todos os dias porque a Maria Alice está aqui, mas continuo com medo, o tempo todo, medo de algo inesperado. Medo de eles aparecerem e dizerem que eu tenho que ir embora. E se for a Índia dessa vez? E se...

Perdemos eles. Se foram dormindo, juntos, em paz.

—E se eu perder Adrien dessa vez? Oliver e Marjorie estavam velhinhos e mesmo assim a morte me pegou de surpresa. E se a surpresa for Adrien? Ou Amanda? Ou você, ou... Ou Cheshire!

É a sua mãe, Itália. Isabela. Ela está aqui, ela quer te ver.

—E se ela aparecer outra vez? Eu chorei quando tinha sete anos e chorei quando a vi alguns dias atrás. Eu vou chorar de novo?

Você quer ir com ela?Você pode ir com ela, se quiser.

—Pros braços de quem eu vou correr?

Ela percebeu que estava com a voz trêmula e que Leo a envolvia com os braços. Era um bom abraço. Ela sentira falta daquele abraço.

Percebeu também que estava roendo as unhas naquele exato momento.

—Mamãe diz que rôo as unhas porque fico ansiosa. Ela diz que é normal. – Falou Maria Alice.

Ela também estava ali agora, com Cheshire no colo, sentada em perninhas de índio sobre o tapete.

—Mas uma vez ela disse que estar sempre ansioso faz muito mal pra gente. – Concluiu a garotinha.

Leo olhou de Mali para Itália, e então encarou a amiga nos olhos.

—Devia falar com a Amanda.

(...)

“Oi, Matteo.

Eu sei que estou escrevendo isso muito antes de você ler, então... Qualquer coisa, é só desconsiderar.

Acabei de decidir que vou salvar essas coisas num pendrive e deixar aqui, com vocês. Além de levar um comigo, é claro. Para mim a pasta se chamará “Brasil”, mas vocês podem chamar como quiserem.

Eu vim dizer que te entendo. Talvez eu acabe te dizendo mesmo, na sua frente uma hora dessas, mas agora senti vontade de escrever.

Eu tenho trocado mensagens com Isabela e ela me disse que tem TOC, e que ela suspeita que meu pai já tenha sido depressivo.

Adrien é cleptomaníaco. É, ele rouba coisas. Não acho que eu tenha esquecido meu colar lá na França. Acho que ele pegou. E me trouxe de volta, afinal.

Estou querendo dizer que todo mundo têm a cabeça um pouquinho errada, sabe? E se a sua for um pouco mas, não tem nada, porque você continua sendo o Matteo. E eu... Continuo sendo a Itália.

Isabela me disse que ela queria que meu nome fosse Jasmin.Talvez eu prefira Jasmin. Talvez eu prefira um monte de coisas agora, que não preferia antes. E talvez eu mude de ideia amanhã.

Mas não importa, porque eu ainda sou a Itália.

Você sabe que ainda sou a Itália, não sabe?Mesmo se fosse Jasmin, continuaria sendo Itália.

Então se eu for Jasmin, vai gostar de mim do mesmo jeito?Como eu vou gostar de você do mesmo jeito se a sua cabeça for um pouquinho mais errada, vai gostar de mim se a minha também for?

É difícil compreender essas coisinhas que a gente não consegue enxergar. Coisinhas chatas!

É difícil, mas eu compreendo. Compreendo você. Afinal, me apaixonei por você.

Enfim, só queria dizer que te entendo.

Talvez um dia não entenda, mas, agora, entendo.”


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Notas finais do capítulo

Oi pessoinhas que moram no meu coração!
Queria pedir desculpas pela demora e, também pedir desculpas com antecedência porque o próximo capítulo talvez demore um pouquinho mais também. Mas não se preocupem, vou estar aqui!
Eu planejei mais ou menos trinta capítulos para HDL, então... Estamos na reta final! Yay!
Mas como sei que trinta capítulos não serão suficientes para conseguir me livrar desses personagens, além no Epílogo, teremos capítulos bônus, narrados em primeira pessoa por alguns dos personagens secundários. Agora sim, yay!
Não estou demorando pra postar porque quero, gente, acontece que tenho encontrado uma certa dificuldade pra escrever e entregar qualquer coisa não é comigo não. Espero que me perdoem!

Enfim... Ah, é mesmo. Eu e a Julipter estávamos conversando e percebemos que os casais da história não tem nomes de shipp!

Nós tentamos criar alguns, mas fomos um desastre. Então, ajudem a gente!

Itália e Matteo
Itália e Henri
Itália e Leo (eu sei que vocês shippam)
Julia e Téo
Julia e Leo (alguém ainda shippa isso, gente?)
Alice e Lucy (será?)
Alice e Matteo
Lucy e João (mais secundário que o João é impossível, mas já que ele está aí...)
Lucy e Henri
Flávia e Thiago

Amanda e Liliana (elas são incríveis, merecem um nome!)

Eu acho que é isso aí! Tem mais alguém que vocês shippam?

Até mais!



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